segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nossa relação com a mediunidade...


Não anda muito boa, como desde sempre... Continuamos idolatrando médiuns, principalmente os chamados médiuns de cura. Ainda buscamos respostas para o nosso problema pessoal X e a nossa dúvida Y na via mediúnica, o que um pouco de reflexão e a leitura edificante poderiam resolver. Mistificamos salas, mesas, objetos, reuniões, como se não houvesse Espíritos por toda a parte e todo lugar não fosse criação do Pai celestial.
Nós valorizamos ainda o livro psicografado, mesmo que nele esteja um semnúmero de inconsistências; mas relegamos a segundo plano obras de encarnados fruto de longas reflexões. Confundimos as orientações mediúnicas com a vida administrativa da casa espírita; gostamos da foto daquele mentor, ilustrando as dependências da casa espírita e, ainda, fazemos filas para assistir ao maravilhoso fenômeno, como curiosos da era vitoriana.
Os Espíritos são os homens desencarnados, amigos e inimigos de ontem que se alternam conosco nas lutas da matéria. Isso Kardec já asseverava com propriedade... A mediunidade é via bendita de trabalho, na reunião mediúnica de atendimento a Espíritos sofredores, no consolo a mães aflitas, nas mensagens de esclarecimento e reflexão, como bem exemplificou na conduta mediúnica Francisco Cândido Xavier, que, apesar de suas faculdades, se mantinha a par de personalismos, na valorosa mediunidade com Jesus.
A mediunidade não é um superpoder de um herói de filme e nem uma tenda de milagres. É uma possibilidade que, se não for bem conduzida, pode enveredar para caminhos perigosos. Entretanto, o médium é ser humano, falível, com necessidades e anseios. Os Espíritos, também, homens de outras eras, estão conosco nesta caminhada evolutiva no orbe terrestre.
Por isso, insta analisarmos a nossa relação com a mediunidade, a nossa e a dos outros. O que queremos dela? O que pensamos disso? Precisamos estudar, não só os aspectos práticos e científicos da questão mediúnica, mas o seu aspecto filosófico, para não nos tornarmos vítimas de armadilhas e de ilusões.
Somente assim poderemos enxergar a mediunidade com a naturalidade que lhe é própria, ainda que requeira cuidados e preparo, como qualquer potencialidade do ser humano.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)


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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Da mágoa ao ódio


Pequena é a distância que separa a mágoa do ódio.
Basta o ofendido guardar a lembrança de um insulto recebido para, em breve tempo, transformar a mágoa em aversão e, daí, enveredar nas malhas do vil sentimento do ódio que retarda, por séculos, a oportunidade de progresso espiritual.
Compara-se o magoado ao imprevidente que vagueia, descuidado, à beira do penhasco. Ao menor tropeço, desequilibra-se, vacila, precipita-se no abismo, é tragado pela voragem do ódio.
Reter o ódio no coração invigilante provoca distúrbios emocionais, leva o homem à pratica de atos insensatos, que o fazem descambar, muitas vezes, para o crime.
Compete aos que se melindram facilmente exercer um rigoroso controle de suas emoções, recolher-se em oração na busca do reequilíbrio psíquico, em consonância com a exortação de Jesus: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação”.
O ódio demole, o amor edifica. Para que não sejam destruídas nossas perspectivas futuras de paz e de harmonia, sufoquemos, agora, a mágoa que nos aflige, antes que possa fazer-se ódio.
Lembremo-nos, sempre, do Provérbio de Salomão (10:12): “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões”.
Lembremo-nos também da oração ensinada pelo Mestre na qual repetimos diariamente: “Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos aos nossos ofensores, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”
O mal que amiúde nos visita nasce, cresce e toma proporções desastrosas dentro de nós mesmos; origina-se de pequenos contratempos que nos tocam a sensibilidade, ferem a nossa vaidade, instalam-se em nossos corações como mágoas que relutamos em não esquecer.
É preciso também recordar as palavras de Jesus: “..... fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus ....”.
Se queremos alcançar a plenitude da luz, façamos o bom combate, lutemos sem tréguas para corrigirmos nossas íntimas imperfeições.
Com muita propriedade, afirmou Kardec que o verdadeiro espírita se conhece pela sua transformação moral e pelo esforço que envida no sentido de vivenciar o que aprendeu na Doutrina Espírita.

Felinto Elízio Duarte Campelo
felintoelizio@gmail.com

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terça-feira, 10 de maio de 2011

O real e o engenho ¹


Como professor, sempre pensei que o nosso olhar mais acurado deve se voltar para os retraídos, enquanto o senso comum mira os bagunceiros. Os mais fechados não são atingidos pelas nossas interações e guardam em si um fosso profundo em que eles se escondem, inatingíveis, vendo o real de forma enviesada.
“(...) o meu primeiro dia na escola, como senti vontade de ir embora” Renato Russo (Legião Urbana)- Musica O REGGAE.
Naquela manhã todos os pais levaram suas filhas até as portas das salas de aula. Não importava a idade...Mais por medo do que por zelo. Afinal, as manchetes, os telejornais, a internet somente falava da tragédia que se abateu, de mais um massacre de crianças, que teve como palco os bancos escolares. Os muros mais uma vez não protegeram a nossa infância...
De todos os espaços públicos - a praça, o shopping, o hospital - a escola se sagrava mais uma vez eleita no mundo das almas sofridas, como lócus privilegiado do seu espetáculo, na busca de chamar a atenção do universo para os seus demônios interiores. Emblemático a escola ter sido escolhida...Seria lá o nascedouro desses gênios do mal, dessa raiva do mundo? Ou seria apenas um lugar que pela sua pureza, pelo seu teor latente de esperança, se viu como alvo dessa loucura, repleta de influências da violência televisiva?
O perfil do agente da barbárie não foge a regra dessa casuística no mundo. Dos problemas familiares, na retração do quarto escuro da sua solidão, entre o real e a loucura, no fascínio pela revanche, de forma apoteótica, sonhada de forma ritualística.
Como professor, sempre pensei que o nosso olhar mais acurado deve se voltar para os retraídos, enquanto o senso comum mira os bagunceiros. Os mais fechados não são atingidos pelas nossas interações e guardam em si um fosso profundo em que eles se escondem, inatingíveis, vendo o real de forma enviesada.
Mas, naquela manhã, o real se fez tenebroso em engenhos da morte. Mais uma escola foi palco do medo. Dessa vez, não de balas perdidas típicas da cidade maravilhosa, e sim de balas doentes. Como chegaram a essas mãos as armas? Para a nossa sociedade que renegou o desarmamento, por medo, é fácil de responder.
Caso inédito no Brasil, tirou de nós o restinho de tranquilidade que ainda tinhamos quando deixamos, diariamente, nossos filhos na escola e encaramos o batente. Digo ainda tínhamos, pois os riscos na escola, para alunos e professores, são inúmeros: atropelamentos, bombas, abuso sexual, drogas, armas trazidas de casa, bullyng, agressões verbais, sequestros relâmpagos. Podemos acrescentar muito mais a essa lista, verificando os periódicos de nosso Brasil varonil.
A escola encerra entre seus muros as contradições da sociedade, a soma de problemas e neuroses das famílias, postos ali aos cuidados de funcionários e professores em seu labor desvalorizado. Esperam todos dessa escola, como último bastião da ordem social, que ela dê conta de toda essa gama de questões, enquanto seguimos todos amarelos de medo, como dizia Drummond - pais, alunos, professores e a comunidade.
Tudo isso não justifica por que em Realengo ou em Columbine, a escola é pensada como palco desse ódio. Faltam psicólogos e assistentes sociais nesse espaço? Falta diálogo com a família? Falta mais contato e menos currículo? Ou será que falta o lúdico, o prazer coletivo de se viver o tempo escolar ? Difícil de responder, pois a escola reproduz essa selva desvairada que é a vida, de exclusão e opressão, de tribos e fossos.
Na escola deságua tudo, como repositório das memórias felizes de uns e o suplício de outros. Para Paulo Freire: "Escola é...o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima”. Mas, para todo é essa escola que é precebida?
Toda essa nossa teoria, essa tergiversação e as entrevistas com especialistas não vão equacionar o que transcende um caso de polícia, mostrando mais uma faceta dessa tragédia moderna, de jovens revoltados com o mundo, imbricados de fundamentalismo, na busca de encontrar a atenção que valorize a sua loucura.
Nem toda essa teoria vai nos afastar do medo que sentimos, a cada manhã ao deixar nossos filhos na escola, em uma nova Columbine tupiniquim, onde só tínhamos medo de ir ao cinema. O medo é uma defesa natural, mas fica a reflexão de que a escola e a comunidade tem que trabalhar juntos, em uma versão integral, sobre cada um de seus filhos. Mas, na atual conjuntura, penso se isso não é pedirmos demais da escola e dos professores, carentes de recursos e repletos de demandas.
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¹ O bairro da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, Realengo, tem a origem de seu nome pois quando Dom Pedro I costumava ir para a fazenda de Santa Cruz pela estrada Real de Santa Cruz, que passava pelo Real Engenho, onde muitas vezes pernoitou. Como "Engenho" era uma palavra muito grande, a abreviatura usada era "Engo". E ficou "Real Engo" nas placas de orientação utilizadas na época.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Pedagogo e Mestrando em Educação da UnB
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito Federal (Brasil)


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quarta-feira, 4 de maio de 2011

O mundo está melhor sem Bin Laden?


A morte de Osama Bin Laden é apenas uma pequena amostra da ilusão que o ódio pode ocasionar na criatura humana. Integrantes da família universal podem, quando revestidos de sentimentos menos felizes, considerarem-se ferrenhos inimigos, como no caso em questão. Lamentável, pois, as atitudes dos terroristas que se voltam contra os EUA, como também é lamentável a felicidade com ares de vitória da terra do Tio Sam pela morte de Bin Laden. Em ocasiões assim não há vencedores. Todos perdem.
Interessante que o desconhecimento das leis que regem a vida faz com que até mesmo figuras inteligentes percam-se em devaneios. Explico melhor:

André Trigueiro, jornalista da Globo News, no programa em que apresenta questionou renomado professor de História Contemporânea se o mundo ficaria melhor com a morte de Bin Laden. O acadêmico, impetuosamente respondeu: Obviamente que sim!
Certamente o professor desconhece que despojado do invólucro de carne Bin Laden não perdeu sua ira. Ele não sumiu, apenas está sem o corpo físico. Não vejo, então, qual a melhora efetiva do mundo sem a presença física do terrorista. O mundo estaria melhor se ele tivesse mudado suas disposições íntimas, regenerando-se. Sabemos que nada disso ocorreu, portanto...
Vale destacar também que o sentimento de pseudo-alegria de uma nação pela morte de alguém que os tem como inimigos somente acirra os ânimos exaltados de alguns fanáticos, fazendo a perpetuação do ódio e da vingança.
A morte do corpo não significa a morte do sentimento ou da individualidade.
Continuamos existindo e atuando em consonância com nossos propósitos e objetivos. E as vibrações destemperadas de alguns encarnados atingem em cheio o objeto de suas doentias emanações mentais.
Portanto, fácil concluir que desprovido do corpo Bin Laden continuará atuando.
Por isso recomenda-se o perdão das ofensas, para que as contendas não se transformem em ardilosos e nefastos processos de obsessão que perduram por tempo indeterminado, até que as partes envolvidas disponham-se a aparar arestas. É fácil perdoar, simples, passe de mágica? Todos sabemos que não. O perdão é uma construção daquele que busca estar em paz consigo e sua consciência. Muitos dizem: Mas como perdoar? Como conceder o benefício do perdão a um terrorista ou a alguém que tirou a vida de uma pessoa que eu amo? Primeiro é preciso compreender que o perdão beneficia quem o concede, porquanto o livra das correntes do ódio e da vingança.
Aliás, a vingança é claro sinal de inferioridade. Conforme consta em O Evangelho Segundo o Espiritismo na elucidativa mensagem de Júlio Olivier que transcrevemos parcialmente:

A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem.

Se buscamos seguir Jesus é inconcebível que vibremos com a desdita do outro.
Se não é possível perdoar, ao menos não alimentemos a vingança. Se o perdão se faz impossível e nosso coração ainda não é brando o suficiente para concedê-lo, que ao menos não cogitemos de prejudicar quem quer que seja.
Por essas e outras é que discordamos com veemência do professor que concedeu entrevista ao André Trigueiro.
O mundo não está melhor nem pior sem a presença de Bin Laden.
O mundo só estará melhor quando aprendermos a perdoar e o mundo só será o ideal quando aprendermos, de fato, a amar. Assim, nada de perdão, porquanto não estaremos mais no primitivo estágio de causar dano ao outro.
Reflitamos com gravidade nesse momento e analisemos nossa postura como espíritas. O ódio não combina com aqueles que pretendem seguir Jesus.
Pensemos nisso.

Wellington Balbo – Bauru - SP
wellington_plasvipel@terra.com.br 

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