quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Avaliar para evoluir

Toda atividade concreta, anteriormente planejada e pensada, merece uma avaliação. Essa lógica se aplica também às atividades espíritas, em especial aos seminários, encontros e outras atividades pontuais e temáticas. Não que o fim de um ciclo, de um ano de atividades cotidianas não mereça uma avaliação, mas trataremos aqui, por uma questão de recorte, daquela avaliação rápida, ao fim do evento, como prática salutar e que merece discussão e enriquecimento.
A avaliação é um diagnóstico, uma medida, um momento em que sopesamos o que houve em termos objetivos, captando as percepções na busca de uma síntese.
É onde pontuamos o que houve, voltando a fase de planejamento de outras atividades, anotando os aprendizados da experiência, para próximas etapas.
A avaliação se alimenta basicamente de duas fontes de informação: as externas e as internas. As externas são obtidas por consultas verbais ou por escrito às pessoas que participaram do evento. A interna, que em parte depende dos dados da externa, é oriunda da avaliação da equipe que trabalhou no evento. São processos complementares e igualmente importantes.
A avaliação interna, ou autoavaliação, é um momento de confiança, franqueza e de caridade com os companheiros de trabalho. A avaliação não é um tribunal, é uma fonte de informação para a equipe e não para se sair chateado. Necessita-se sair resoluto, com metas de mudança. Mas, para isso, aqueles que conduzem a avaliação devem ter em mente que a indulgência e a franqueza devem ser indissociáveis.
Mais do que uma obsessão pela melhoria, onde metas podem atropelar as pessoas, a avaliação nos conduz a descobrir os caminhos para acertar, fortalecer as boas práticas e mitigar os entraves. É um momento de autoconhecimento e de empoderamento (1) do grupo, e que deve ser integrado à cultura das equipes de trabalho, como uma ação coletiva e não uma prática apenas de um grupo seleto.
Por seu turno, a avaliação externa é fundamental, pois nos dá o termômetro da realidade, da percepção das pessoas que participaram. Mas a avaliação externa, ainda que seja a soma de percepções, não se trata da verdade absoluta. Precisa ser pontuada com as percepções do grupo organizador, que detém outras visões e informações. É um processo construído, e que caminha com as visões internas e externas. Avaliamos o processo e não a conduta das pessoas.
Assim, dez minutinhos no final dessas atividades operam milagres. Para isso, basta seguir uma receita simples. Não basta o grupo dizer se foi boa, ruim ou regular a atividade. É preciso um certo grau de detalhamento, avançar sobre questões intrínsecas, saindo da superfície dos eventos, mergulhando nas suas contradições, de modo a fortalecer as análises.
Inicialmente, é preciso enumerar os pontos positivos e os negativos (oportunidades de melhoria). Depois, listar as inovações e estratégias que deram certo ou errado. Daí, basta identificar causas que conduziram a essas situações
positivas ou negativas. Aí, nessa relação de causa e efeito, a caridade não pode ser esquecida, pois é um momento delicado, que exige maestria da coordenação.
Situações desagradáveis são mais bem tratadas em particular. Após esse levantamento, pode-se então fechar uma opinião global do evento.
Agindo assim, a avaliação nos deixará uma herança do que deu certo, o que deve ser evitado e o porquê. E assim seguem os processos, na melhoria contínua, com as pessoas. Sem ressentimentos, sem meias palavras, na comunhão de um trabalho em equipe, que tem muita vontade de acertar!

(1) Dá-se o nome de empoderamento à ação coletiva desenvolvida pelas pessoas quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. É a tradução da palavra inglesa empowerment.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)


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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Foi de graça a nossa criação, mas é tarefa nossa a salvação


O apóstolo Paulo ensinou as doutrinas da fé, da graça e do pecado original. Santo Agostinho e o teólogo inglês Pelágio polemizaram muito a respeito delas. Santo Agostinho exagerou as coisas da graça. Nessa questão, a Igreja ficou mais com Pelágio do que com santo Agostinho.
Mas porque Lutero exagerou também a graça, a Igreja endureceu sua posição contra ela, o que levou os protestantes e evangélicos, por sua vez, a exaltarem também ainda mais essa doutrina. Mas, recentemente, a Igreja, buscando mais união com os protestantes e evangélicos, passou a adotar a teologia da graça.
Diz o dito popular: “O que se segura muito, sai entre os dedos”. É exatamente o que vem acontecendo com os tratados teológicos antigos. De conteúdo muito exagerado, eles vêm caindo num esvaziamento, pois se tornaram insustentáveis para a mentalidade dos cristãos do Terceiro Milênio. E o pior é que os teólogos atuais insistem em mantê-los, pois estão comprometidos, profissionalmente, com eles. Assim, os defendem, mas lá no seu íntimo, não creem muito neles, o que, aliás, traz um grande sofrimento para eles. Nós leigos, que acompanhamos essas questões teológicas, somos livres para as abordarmos, pois não estamos presos a nenhuma hierarquia religiosa, pelo que, muitas vezes, nos transformamos em portavozes dos teólogos, dizendo o que eles gostariam de dizer, mas não o podem. Nesse sentido, alguns líderes religiosos se desabafam comigo.
Outra doutrina polêmica entre a maioria dos cristãos é a do pecado original, que até dispensa comentários.
Já a doutrina da fé (do grego “pistia”, e do latim “fides”), melhor seria essa palavra ser traduzida por fidelidade, como alguns tradutores bíblicos modernos estão fazendo, mesmo porque ela tem também esse significado. De fato, não basta crer em Jesus, é preciso que se tenha fidelidade a Ele, à sua mensagem, pois crer por crer em Jesus, até os demônios maus (almas ou espíritos humanos atrasados) creem, mas não têm fidelidade para com o excelso Mestre, e que são os espíritos daquelas pessoas que ouvem as palavras do Mestre dos mestres, mas não as põem em prática, ou seja, segundo o próprio Jesus, como quem constrói sua casa na areia, e não como aquele que a constrói na rocha, a qual resiste aos vendavais.
Por oportuno, esclareço aqui que é comum as pessoas misturarem demônios com diabos. Diabo não é espírito, mas
pecado (adversário dos espíritos que somos). Assim é que Jesus tirava demônios das pessoas, mas nunca tirou delas diabo e nem satanás, cujo significado é semelhante ao de diabo, e não é também, pois, demônio.
Quanto à doutrina da graça, creio que ela só vale para a nossa criação, pois antes de existimos, não poderíamos mesmo ter mérito nenhum. Mas depois que fomos criados, dotados de intelecto e livre-arbítrio, passamos a ser responsáveis pelos nossos atos e, consequentemente, por nossos méritos e deméritos da lei de causa e efeito, que é manipulada por nós mesmos e não por Deus ou qualquer outro ser, já que colhemos o que semeamos.
Se a nossa salvação fosse de graça, o reino dos céus não seria tomado por esforço. Realmente, passar pela porta estreita não é fácil. Da parte de Deus e Jesus, tudo já foi feito do modo melhor e mais perfeito possível. Cabe-nos, agora, fazermos a nossa parte, ou seja, a tarefa da vivência incondicional do Evangelho.
Ou será que o Nazareno nos trouxe o Evangelho, como se diz, só pra inglês ver?

Obs.: Esta coluna, de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com Os
livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo email: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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