segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um minuto com Chico Xavier


Por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, o Espírito do célebre escritor francês Vitor Hugo escreveu emocionante história contada pelo próprio Chico, sobre a presença do iluminado Espírito de São Luiz Gonzaga. Esse caso está registrado no livro “Árdua Ascensão” (Editora Leal).
Narra Chico, que ali recebe o pseudônimo de Armindo: “Quatro meses depois da desencarnação de José Xavier (irmão de Chico), o nosso mentor (Emmanuel) convidou-me a assistir, em parcial desdobramento pelo sono, a visita que São Luiz Gonzaga faz à Terra, no dia 21 de junho, data que lhe é carinhosamente reservada pelo calendário católico. Pois bem, José (que recebe o pseudônimo de Julião) disse-me que deveria estar presente ao ato, porquanto, desde a desencarnação, ainda permanecia com dor de cabeça, que o afligia de certo modo, sequela do derrame cerebral que o vitimara. Quando eu recobrei a lucidez, além do corpo físico, fui conduzido a uma região de incomparável beleza, onde se reunia expressivo número de Entidades em indisfarçável expectativa, aguardando a passagem do venerável Benfeitor. José ali se encontrava também. Não houve tempo, no entanto, para qualquer conversação, porque uma incomparável melodia coral invadiu o ambiente que irradiava indefiníveis claridades. 
“– É o Benfeitor que se aproxima – informou-me o Guia, levando-nos, a mim e ao José, a tomar posição numa das aleias floridas... A emoção agitava-me interiormente e, à medida que o grupo se acercava, podíamos distinguir um verdadeiro séquito de Espíritos Felizes que repartiam consolações. As vozes prosseguiam cantando. Ele deslizava tal a leveza dos seus passos e a harmonia do porte. Quando ia passando por nós, sem poder conter as lágrimas que me chegavam do coração aos olhos, vi-o, fixando-me docemente, com inesquecível expressão de bondade na face iluminada. José tremia, ao meu lado, e pensou na dor de cabeça que o afligia. Sem nenhuma palavra, o venerando apóstolo da fé tomou de um lírio e deu-lho. Instintivamente, meu irmão levou-o ao rosto e aspirou-lhe o perfume. A flor, porém, diluiu-se, absorvida naquele hausto e a cabeça de José iluminou-se, desaparecendo a dor. Ao desejarmos dizer algo, ele já se havia distanciado, repartindo bênçãos pelo caminho. Fui trazido de volta e, desde então, o amigo permanece recuperado, feliz.”

José Antônio Vieira de Paula
Cambé, Paraná (Brasil)  

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Cristianismo está dividido entre os dogmas e o evangelho


Com o assunto que vamos tratar, não queremos desprestigiar, menos ainda ofender, nenhuma religião, pois sigo o espiritismo que respeita todas as crenças, não condenando nenhuma. Mas relembro aqui que, frequentemente, muitas pessoas, por serem orgulhosas e fanáticas com sua religião, elas se revoltam ao ouvirem ou ao lerem alguma crítica contra seu modo de crer. Não estranho, pois, isso! Aliás, às vezes, o que menos queremos saber são verdades ainda desconhecidas por nós! 
Há dois cristianismos: um evangélico e outro que segue mais os dogmas. O evangélico, que se baseia no evangelho e nas suas variações no Novo Testamento, é aceito pela grande maioria dos cristãos, sem nenhum problema, embora, na prática, nem sempre vivenciado. Já o dogmático é constituído de doutrinas polêmicas, pois se apoia em interpretações forçadas da Bíblia, ora alegóricas, ora literais. E é por isso que essas doutrinas viraram dogmas. E, no passado, ai de quem negasse publicamente um deles! Os líderes religiosos, em tudo que falam, eles se referem a um dos principais dogmas. Seria isso fanatismo, insegurança ou lavagem cerebral nos fiéis?
Vamos ver uns exemplos dos dogmas cristãos, com os quais se criou o da Santíssima Trindade. O de que Jesus é Deus tal qual o Pai, e que surgiu com o Concílio Ecumênico de Niceia (325). O do Espírito Santo, que diz que ele é também Deus, teve início no citado concílio e se firmou mais no de Constantinopla (381) e outros posteriores. Mais alguns outros dogmas: o da Comunhão dos Santos, que prega o intercâmbio de colaboração recíproca entre os espíritos desencarnados e encarnados, isto é, entre os seres do mundo espiritual e os do nosso mundo físico. Ele se tornou polêmico para os cristãos apegados ainda ao Judaísmo, em que Moisés (não Deus) proibiu o contato com os espíritos. (Deuteronômio capítulo 18), tal como acontece, ainda hoje, com o espiritismo. O dogma da Transubstanciação ou Eucaristia, que afirma que, depois de consagrados o vinho e a hóstia se tornam o Corpo real de Jesus. Originou-se da interpretação literal dos textos evangélicos: “Isto é meu corpo” e “isto é meu sangue.” Os protestantes, os evangélicos e os espíritas os interpretam figuradamente. Cremos que a Transubstanciação oficializada no Concílio Ecumênico de Trento (1545 a 1563) ganhou muita força entre o clero católico, porque ela dá muito prestígio para os padres e bispos, pois, segundo muitos deles, é só deles esse poder de transformar a hóstia e o vinho no Corpo e sangue reais de Jesus! Já ouvi padres dizerem que eles são superiores a Nossa Senhora e aos anjos, que não possuem esse poder que eles têm! E termino essa relação de alguns dogmas com o da Infalibilidade dos papas em assuntos de moral e de religião, criado no Concílio Ecumênico Vaticano I (1870).
Uns líderes religiosos estão dizendo que o espiritismo não é cristão, porque ele não aceita alguns dogmas. Mas entre eles mesmos há os que recusam alguns. E Jesus disse que seus discípulos serão conhecidos por se amarem uns aos outros, não, pois, por crerem em certas doutrinas dogmáticas criadas por grupos de teólogos imaturos do passado! 

Na TV Mundo Maior, canal aberto e a cabo em algumas regiões, por parabólica digital e www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos etc (ver a grade de programação). Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br

José Reis Chaves
Escritor, Professor de português pela PUC-Minas, Jornalista, Biblista, Teósofo, Pesquisador de Parapsicologia e do Espiritismo na Bíblia, Radialista, Palestrante no Brasil e exterior, estudou para padre Redentorista, tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", editado pela Editora Chico Xavier, e colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte, às segundas-feiras. www.otempo.com.br 

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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Respeito à Pátria, compromisso inadiável!


A vida permitiu-nos renascer no Brasil, a querida Pátria que nos acolhe. A história do país, na colonização, nos embates para a construção da democracia e mesmo nos gigantescos desafios da atualidade – onde se incluem a violência e o tráfico, o contraste entre os interesses de variadas ordens e a corrupção, entre outros itens dispensáveis de serem citados –, também apresenta os benefícios de um povo aberto, feliz, descontraído, ardente na fé e na disposição. 
É nosso querido Brasil, gigantesco em proporções geográficas e na diversidade que se apresenta em todos os aspectos! Bendita pátria!       
Por outro lado, o país acolheu a Doutrina Espírita como nenhum o fez. Das sementes germinadas em solo francês, foi aqui que a grande árvore do conhecimento se fez gigante como o próprio país continental. E nós temos a felicidade de conhecer essa Doutrina maravilhosa que inspira ações de caridade – em toda a extensão da palavra –, convivência fraterna e amiga por toda parte. Apesar das dificuldades e limitações humanas que são nossas, individuais e coletivas, ele, o Espiritismo, espalhou e espalha seus frutos pelas mentes e corações que o buscam ou são beneficiados por sua imensa luz. 
Estamos no mesmo país que recebeu o cognome de Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, justa e coerente adjetivação para um povo ameno, solidário, apesar das lutas próprias de nossa condição humana. É aqui que as variadas expressões religiosas se manifestam para conduzir mentes e corações; é também nessa terra querida que nasceram ou renasceram almas que conhecemos sob os abençoados nomes de Irmã Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, Divaldo Franco, Dr. March, Dr. Bezerra de Menezes, entre tantos outros ilustres filhos que lhe dignificam o nome, sendo impossível citar todos e mesmo especificá-los por área, tamanha a variedade e quantidade de benfeitores que aqui vieram e ainda aqui vivem. 
Setembro lembramos a Pátria, desde os tempos escolares. Setembro também normalmente estamos às vésperas das eleições, como ocorre agora em 2014. Isso lembra responsabilidade, comprometimento, ética. Afinal, temos um compromisso com o país, com a coletividade brasileira. Qualquer cidadão está comprometido com a segurança, com os valores do país, com a obrigação moral da retidão e da gratidão, que se estendem por ações em favor do bem comum. É o dever! Não apenas um dever cívico, mas o dever moral para conosco mesmo e para com o próximo, como indica o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Aliás, lembrando a Codificação Espírita, há que se ater às Leis Divinas, didaticamente apresentadas pelo Codificador em O Livro dos Espíritos. Leis que baseiam-se no amor, diga-se de passagem, mas igualmente são justas e misericordiosas. 
Por tudo isso, a reflexão sobre nosso papel de brasileiros perante a Pátria Brasileira inclui-se igualmente no dever, ainda que apenas por gratidão pelo país que nos acolhe, garantindo-nos a paz desse foco irradiador de trabalho e fé que é o Brasil. Tamanho compromisso dispensa corrupção, egoísmo e tolas vaidades. Pede-nos, isso sim, trabalho e dignidade, exatamente pelo alto compromisso que todos temos com a vida e seu significado. O que significa, em termos de eleições para outubro próximo, o compromisso com a decência e a escolha consciente sem outros interesses que não os da coletividade. 
Repare o leitor atento que, quando ouvimos o Hino Nacional, a emoção nos envolve completamente. É o sentimento de compromisso com a missão da Pátria que integramos. O renascimento no país não é obra do acaso. Indica comprometimento e programação sabiamente elaborada. Saibamos respeitar e cumprir o que antes prometemos. 
O Brasil tem grande papel a exercer junto à Humanidade. Filhos dignos, espíritos preparados e nobres estão sempre presentes como autênticos faróis a conduzir a coletividade. Sejamos daqueles que honram nossa condição humana e brasileira! Exemplos não faltam.
Por gratidão, ao menos, ao querido e grandioso Brasil! Lembremo-nos: o planeta construído por Jesus teve na mente e planejamento do Mestre da Humanidade a inclusão desse país incomparável, onde germinam as doces brisas do Evangelho. 

Orson Peter Carrara

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A primeira pedra


Emblemática no evangelho de Jesus a passagem do apedrejamento da mulher adúltera, situação na qual o Cristo diz que “quem não tiver pecados, que atire a primeira pedra” (João, Capítulo 8). Tal afirmativa, que calou os populares que se arvoravam de algozes pela dilapidação, ainda ecoa, pela sua lógica, aplacando os nossos ódios e os nossos instintos mais violentos, diante das situações presenciadas no cotidiano. 
Jesus, que em outras situações defendeu a justiça, no “dai a César o que é de César” e no “a cada um segundo as suas obras”, não menos famosos que o enunciado sobre a primeira pedra, diante daquela mulher condenada pela legislação vigente, traria agora uma mensagem de leniência e de impunidade, em uma apologia ao crime? 
Uma resposta afirmativa seria uma visão superficial e contraditória da situação em tela. Ao nosso ver, Jesus condena sim o julgamento precipitado, apaixonado e desmedido, que não sopesa o contexto e a subjetividade de cada situação, chamando a reflexão pelo “quem não tiver pecados”, inibindo uma pseudo justiça feita com as próprias mãos, mas que desconsidera princípios basilares de proporcionalidade, contraditório, razoabilidade e outros afetos ao direito penal, que muito evoluiu desde a época do Cristo e que compõe o arcabouço jurídico de qualquer Estado moderno. 
Mais gravosa que a pena de morte, a dita justiça com as próprias mãos, estampada nos linchamentos, presentes em nossa sociedade e acentuados mais recentemente, é uma explosão de ódio, derivada de uma gama de injustiças menores percebidas e que se materializa em uma injustiça ainda maior, na condenação a uma morte cruel e desumana, que independente de ser um inocente ou um motivo comezinho, traduz-se na barbárie que aplaca vinganças e produz mais dor onde esta já campeava. 
A chamada a reflexão de Jesus nos convida a assumir o lugar da vítima e a refletir em qual é a melhor maneira de atuarmos frente a esta situação, o que necessitaríamos se fôssemos nós mesmos ali no banco dos réus da rua, dado que as pelas falhas cometidas, no espectro das reencarnações, ser réu é apenas uma questão temporal. 
Ataques de ódio com a promoção de linchamentos e a apologia a práticas dessa natureza, ao meu ver, afrontam diametralmente a conduta espírita na defesa da vida, argumentação ilustrada por autores fundamentais da doutrina, como na pergunta 761 de “O livro dos espíritos”, que assevera: “Há outros meios de ele se preservar do perigo, que não matando. Demais, é preciso abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento. ” 
Ou ainda na pena de Joana de Angelis no seu “Após a Tempestade”, quando diz: “A tarefa que compete às leis é a de eliminar o crime, as causas que o fomentam, não o equivocado criminoso. A morte do delinquente não devolve a vida da vítima. Ao invés da preocupação de matar, encontrar recursos para estimular a vida. Educar, reeducar, são impositivos inadiáveis; matar, não. Tenhamos tento! Não há, no Evangelho, um só versículo que apoie a pena de morte. ” 
A pena de Humberto de Campos, na psicografia de Chico Xavier, no seu “Boa nova”, não se furta dessa antiga questão, quando se refere a mulher adúltera: “ – Ninguém pode contestar que ela tenha pecado; quem estará irrepreensível na face da Terra? Há sacerdotes da lei, magistrados e filósofos, que prostituíram suas almas por mais baixo preço; contudo, ainda não lhes vi os acusadores. A hipocrisia costuma campear impune, enquanto se atiram pedras ao sofrimento. João, o mundo está cheio de túmulos caiados. ” 
Como se vê, a problemática do crime, da violência urbana e da intolerância com isso tudo é antiga e complexa, demandando soluções de igual natureza, dado que a soma de linchamentos ocorridos até hoje não parece ter surtido efeito na redução de índices de violência nas comunidades que dele fizeram uso. 
A visão do dito justiçamento é uma percepção segmentada do problema, descompensada e que tomada pelo calor dos acontecimentos, ignora as medidas sociais necessárias, para além de saúde e educação, mas também nas políticas de segurança de qualidade que coíbam e apurem os crimes, remetendo o réu ao Juízo, que tem grande importância nesse processo, no contexto do chamado Estado democrático de Direito. 
O ódio é uma força de características irracionais, de forma parcial. Ou seja, ela se volta para uma causa, ainda que a sua percepção seja nebulosa, e a ela associa a necessidade de descarregar a sua energia represada, muitas vezes fomentada pela indignação, pela dor, pelas injustiças cotidianas e ainda, por outras vozes, no ambiente das chamadas redes sociais. 
O cidadão comum, nesses ambientes de exaltação, como uma greve, um jogo de futebol, se vê tomado desses ímpetos marcantes e por vezes, se vê envolvido em processos de justiçamento, esquecendo aquela voz que lembra a ele a sua condição de espírito imortal. 
Casos emblemáticos como a Escola Base (SP) e o linchamento da jovem confundida com uma fotografia na internet ocorrida em 2014 no Guarujá (SP) se agregam a outros, ocultos em outras tipologias penais, atingindo culpados e inocentes, como formas bárbaras de promover uma vingança contra a nossa própria imperfeição como seres humanas batizada de justiçamento. 
Como espíritas e cristãos, lutemos pela justiça, defendamos a vida, com uma visão ampla e racional dessa questão, não se deixando seduzir pelo canto das soluções fáceis em arranjos complexos, na defesa de atos que servem apenas para aplacar ódios momentâneos, gerando, em termos práticos, mais violência e sofrimento, para vítimas e algozes. 
A exemplificação do bem, a postura cristã, não é privilégio dos mártires das letras evangélicas. A cada dia, cada um pode e deve, no seu campo de luta, exemplificar o que o Cristo espera de nós, em um desafio pessoal, como fez em maio de 2014 no Rio de Janeiro a jovem estudante de arquitetura Mikhaila Copello, que se pôs à frente de linchadores na defesa de um assaltante que já fora imobilizado, se valendo, como em uma parábola moderna, de palavras, do seu corpo e da sua coragem no testemunho de sua forma de ver a vida, impedindo que aqueles espíritos algozes complicassem a sua encarnação, convidando-os a reflexão da “primeira pedra”. 
Ainda há esperança! Nós, espíritos encarnados, podemos fazer melhor do que isso! A caminhada do bem é dolorosa, e apesar do crime, que a todos causa indignação, temos o dever de fazer ecoar as palavras do Cristo, que nos trouxeram a reflexão quando empunhávamos pedras, passados mais de 2000 anos, nos indicando na ocasião em que local da turba Jesus se posicionou, antes e depois do momento da dilapidação.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.


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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um Pai de Família


Nicolas Cage é o ator principal do filme Um pai de família, lançado em dezembro de 2000 nos principais cinemas do país. O filme mostra a experiência de um bem sucedido executivo de grande banco americano. Com todo o poder nas mãos, podendo adquirir tudo que desejasse e ao mesmo tempo contando com bom número de servidores e subordinados, controlava o grande Banco com mãos de ferro. Conhecido pela grande inteligência e muita habilidade nas questões econômicas, dedicava sua vida em proporcionar lucros crescentes à empresa, que o valorizava com altos salários e invejadas mordomias. Na Noite de Natal, viu-se, entretanto, sozinho e talvez um tanto melancólico recordava-se da antiga namorada deixada há 13 anos, quando resolveu seguir a bem sucedida carreira executiva. 
A sequência do filme deixa entender que o telefonema da ex-namorada, durante o dia no escritório, fê-lo buscar recordações, embora tenha recusado atender o telefone. E nesse estado de espírito, dormiu. Dormiu e sonhou que acordava em outra vida, agora casado com aquela que fora sua namorada e pai de dois filhos. Assustado com a rotina de uma vida familiar, tentou voltar ao Banco onde não foi reconhecido. Desesperado, teve que se contentar com as dificuldades da vida conjugal, de pai de família... Embora mantendo a memória de ser o famoso executivo, não conseguia retomar a própria realidade. 
O filme desenrola-se quase por inteiro no cotidiano de uma família de classe média, culminando com o despertar de nosso personagem em sua vida real de destacado diretor do famoso Banco. O despertar, entretanto, provocou o cancelamento de inadiável reunião marcada para aquela manhã e a busca da antiga namorada, a quem relatou todo o sonho - inclusive citando nome e idade dos filhos, seus sonhos e detalhes da vida em comum. OThe end deixa que o público tire suas próprias conclusões, sugerindo um reatar de namoro para transformar em realidade o sonho vivido com tanta intensidade. E há uma frase no filme que é a marca da fita cinematográfica ora comentada: Não importa nosso endereço, o importante é que estejamos juntos. A frase, muito além do aspecto romântico entre casais, indica a importância da família e da convivência entre seres afins, normalmente reunidos no contexto familiar visando o progresso, como bem definem as Leis Divinas. Fica a sugestão ao leitor para apreciação do bem elaborado trabalho. 
Podemos fazer um estudo dos tres parágrafos acima à luz da Doutrina Espírita. Podemos assistir o filme e enxergá-lo sob a ótica espírita. Vários itens podem ser enquadrados. Para efeito didático do artigo, podemos analisar a questão dos laços de família e da missão da paternidade (respectivamente questões 773 a 775 e 582 de O Livro dos Espíritos, que sugerimos para consulta do leitor). Sugerimos porque desejamos analisar o tema com mais abrangência sob outro aspecto: a dos sonhos. Embora se trate de um filme, com suas fantasias, podemos classificar o sonho de que forma? 
No mesmo O Livro dos Espíritos, as questões 400 a 421 tratam do assunto, de onde trazemos as informações seguintes dadas pelos espíritos: O Espírito jamais fica inativo durante o sono do corpo; podemos avaliar a liberdade do espírito durante o sono pelos sonhos; dispondo de mais faculdades que no estado de vigília, durante o sono - enquanto o corpo repousa - o espírito tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; o espírito vê em sonho aquilo que deseja, porque vai procurá-lo; pessoas que se conhecem ou não podem visitar-se durante o sono do corpo, se visitarem e conversarem. 
Já na Revista Espírita (julho de 1865 - vol. 7 - edição Edicel), com o título Teoria dos Sonhos, Allan Kardec desenvolve considerações importantes sobre a questão. Destaca uma classificação sobre os sonhos e apresenta o princípio básico dos sonhos. Usando palavras do próprio Codificador, referindo-se ao Espiritismo: Demonstra que o sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria. 
Esta incessante atividade do Espírito durante o sono do corpo indica que muitas providências, decisões de interesse da alma são tomadas durante o desprendimento pelo sono. Apenas o corpo dorme, pois na vigília ou durante o sono o comandante do corpo é o espírito, senhor absoluto de decisões que o livre arbítrio lhe confere. Decisões que vão interferir na felicidade ou infelicidade, saúde ou enfermidade que o corpo vai experimentar, por constituir-se ele em instrumento dirigido pelo Espírito nele encarnado, como ensina a notável Doutrina Espírita. Na verdade, vivemos uma única realidade e quando na vigília estamos parcialmente bloqueados pelo corpo físico. Quando desprendidos pelo sono, desfrutamos da liberdade plena, cujas imagens e experiências o sonho registra, muitas vezes é claro de forma confusa pois o corpo não participou e o registro pelo cérebro carnal fica confuso. Entre os sonhos, e aqui usando palavras do Codificador ainda na Revista Espírita acima citada, uns há que que tem um caráter de tal modo positivo que, racionalmente, não poderiam ser atribuídos a simples jogo de imaginação; tais são aqueles nos quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava. 
Não se confunda aqui os sonhos provenientes de pesadelos por alimentação inadequada ou provocados por imaginação excitada e até aqueles oriundos de exageradas preocupações materiais. Vamos enquadrar os casos de origem espiritual, de ativa participação do espírito.
No caso do filme citado, excluindo-se os exageros da imaginação e da fantasia, poderá notar o leitor que tiver oportunidade de assistir, que tudo foi um sonho, mas a decisão final coube ao personagem da trama vivida, para mudar ou transformar em realidade aquilo que verdadeiramente buscava. E abrimos horizontes para outra questão básica: o livre-arbítrio, que para não alongar o artigo deixo ao leitor pesquisar nas questões 843 a 850 de O Livro dos Espíritos. Porém, a mensagem do filme fica: não importa o endereço, importante é que estejamos sempre juntos. 

Orson Peter Carrara