domingo, 30 de agosto de 2015

Além da morte


Os Espíritos não vacilam quando se referem às mudanças de um plano a outro, através da morte. Contudo, há os que ainda acreditam na transformação, nesse instante especial dos que passam para o outro lado, em figura angelical; em anjo, na verdade. 
Essa é a mudança esperada, a mudança que gostariam que acontecesse e que fica no coração daqueles que sentem a partida do ente querido, considerando-o, sempre, como figura benfazeja, bondosa, de sentimento generoso, merecedor do maior respeito. E é verdade! Se foram bons, continuarão bons e a desenvolver o que está latente na alma. Lá, serão recepcionados igualmente pelos bons; se perversos, é natural que os que se identifiquem com eles façam a recepção. A mudança de ambiente não promoverá as alterações imaginadas, da mesma maneira que a transferência de uma cidade ou de um país para outro não trará mudanças na personalidade do indivíduo. Haverá variação, sim, e muita, no aspecto ambiental. Mas, quanto ao comportamento, este sofrerá as alterações de acordo com o interesse demonstrado, da mesma maneira como aqui na Terra. Sem a presença da boa vontade, não mudaremos nada.

Através da psicografia de Chico Xavier, seu mentor Emmanuel ilustra o que representa a passagem deste lado para o outro:

“O reino da vida, além da morte, não é domicílio do milagre.

Passa o corpo, em trânsito para a natureza inferior que lhe atrai os componentes, entretanto, a alma continua na posição evolutiva em que se encontra.

Cada inteligência apenas consegue alcançar a periferia do círculo de valores e imagens dos quais se faz o centro gerador.

Ninguém pode viver em situação que ainda não concebe.

Dentro da nossa capacidade de reconhecimento, erguem-se os nossos limites.

Em suma, cada ser apenas atinge a vida, até onde possa chegar a onda do pensamento que lhe é próprio.

A mente primitivista de um primata, de um gorila, por exemplo, transposto o limiar da morte, continua presa aos interesses da furna que lhe consolidou os hábitos instintivos.

O índio desencarnado dificilmente ultrapassa o âmbito da floresta que lhe acariciou a existência.

Assim também, na vastíssima fauna social das nações, cada criatura dita civilizada, além do sepulcro, circunscreve-se ao círculo das concepções que, mentalmente, pode abranger.

A residência da alma permanece situada no manancial de seus próprios pensamentos.

Estamos naturalmente ligados às nossas criações.

Demoramo-nos onde supomos o centro de nossos interesses.

Facilmente explicável, assim, a continuidade dos nossos hábitos e tendências, além da morte.

A escravidão ou a liberdade residem no íntimo de nosso próprio ser.

Corre a fonte, sob a emanação de vapores da sua própria corrente.

Vive a árvore rodeada pelos fluidos sutis que ela mesma exterioriza, através das folhas e das resinas que lhe pendem dos galhos e do tronco.

Permanece o charco debaixo da atmosfera carregada de impurezas que ele mesmo alimenta, e brilha o jardim, sob as vagas do perfume que produz.

Assim também a Terra, com o seu corpo em constante transformação, arrasta consigo, na infinita paisagem cósmica, o ambiente espiritual de seus filhos”.

Não resta dúvida alguma sobre a importância do nosso comportamento no curso da vida. Chico Xavier já lembrava, e com muita propriedade, que não havia necessidade alguma de se recorrer ao processo chamado "TVP" - Terapia de Vidas Passadas - ao qual não se dizia favorável, para conhecer os motivos determinantes que culminam no cumprimento da Grande Lei, trazendo para os dias atuais sofrimentos muitas vezes não compreendidos, como convém. Basta, isso sim, que olhemos para nosso próprio interior para avaliar os gostos que temos, pensamentos que nos ocupam, palavras ou frases que dizemos, pontos de vista que colocamos, reações e decisões dominantes e comportamento social rotineiro, especialmente no ambiente do lar. Por aí já se terá uma imagem, senão precisa, pelo menos delineada o suficiente para avaliar o que fomos e o que fizemos. 
O que não pode e nem deve ser esquecido é que sempre haverá um dia determinante para a nossa transformação. E como nada impede que esse importante marco divisor de nossas águas entre o ontem e o hoje seja o momento de agora, por que vacilar? 
Reflitamos, com Emmanuel: “A bendita renovação da alma pertence àqueles que ouviram os ensinamentos do Mestre Divino, exercitando-lhes a prática”; com André Luiz: “A morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se”, e com Miguel Couto: “A vida pede a nossa renovação permanente para chegarmos ao Sólio Divino, que lhe é meta fulgurante”. O que estamos esperando?

Vladimir Polízio
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP (Brasil)



Imagem ilustrativa

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