A clareza de Allan Kardec é impressionante! Não deixa dúvidas
e só nos desviamos da correta prática espírita porque não prestamos atenção às
diretrizes doutrinárias. Ou não conhecemos, o que seria ainda pior, já que tudo
está à disposição.
Diz o Codificador no item 7, no capítulo XXVI de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, no subtítulo Mediunidade Gratuita, com muita clareza
que, inclusive, define objetivo da mediunidade: “Os médiuns modernos – porque
os apóstolos também tinham mediunidade – igualmente receberam de Deus um dom
gratuito: o de serem os intérpretes dos Espíritos para a instrução dos homens,
para mostrar-lhes o caminho do bem e conduzi-los à fé (...)”.
Notemos que já podemos definir didaticamente os objetivos da
mediunidade: a) Serem os intérpretes dos Espíritos para instrução dos homens;
b) Mostrar-lhes o caminho do bem; c) Conduzi-los à fé.
Percebe-se que os itens definem função e trabalho a que
podemos nos dedicar e desdobram-se em múltiplos raciocínios para debates e
reflexões de expressiva oportunidade para o bom entendimento da questão. Meditemos
seriamente em cada um deles e perceberemos o referido alcance.
E o raciocínio de Kardec no texto em questão é
extraordinário, ao referir-se à gratuidade da prática mediúnica, pois que
“(...) não são o produto de sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu
trabalho pessoal. (...) não é um privilégio, e se encontra por toda parte,
fazê-la pagar seria, pois, desviá-la da sua finalidade providencial (...)”.
E a orientação se estende, agora no item 8: “Todo aquele que
conhece as condições nas quais os bons espíritos se comunicam, sua repulsa por
tudo o que seja do interesse egoístico, e que sabe quão pouca coisa é preciso
para os afastar (...)”. E acrescenta no mesmo item: “(...) não poderá jamais
admitir que os espíritos superiores estejam à disposição de qualquer um que os
chamasse a tanto por sessão (...)”.
E o melhor é que oportuna advertência nos abre os olhos para
descuidos: “(...) Os espíritos levianos, mentirosos, espertos, e toda a
multidão de espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, vêm sempre, e estão
sempre prontos para responder ao que se lhes pergunta, sem se importarem com a
verdade. (...)”.
E após outras importantes considerações, já no item 9 –
quase concluindo –, o Codificador informa: “(...) A mediunidade séria não pode
ser, e não será jamais, uma profissão, não somente porque seria desacreditada
moralmente, e logo comparada aos ledores de sorte, mas porque um obstáculo
material a isso se opõe; é uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e
variável, coma permanência da qual ninguém pode contar. Seria, pois, para o
explorador, um recurso sempre incerto, que poderia lhe faltar no momento em que
lhe seria mais necessário. (...)”.
E completa com
sabedoria: “(...) a mediunidade não é nem uma arte, nem um talento, por isso
ela não pode tornar-se uma profissão; não existe senão pelo concurso dos
Espíritos; se esses espíritos faltarem, não há mais mediunidade; a aptidão pode
subsistir, mas o exercício está anulado; assim não há nenhum médium no mundo
que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em dado instante. (...)”.
Sugiro ao leitor buscar o texto íntegra que se conclui com
referências à mediunidade curadora, em valiosa reflexão. Meditemos, contudo, na
importância da clara e sábia advertência: se os espíritos faltarem, não há mais
mediunidade; a aptidão pode subsistir, mas o exercício está anulado.
Com tal raciocínio fica fácil entender a origem das fraudes
e tentativas de exploração com a mediunidade, cuja finalidade está bem acima de
mesquinhos interesses de ganho, pois que seu objetivo é o bem e a instrução das
consciências humanas.
Orson Peter Carrara
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