terça-feira, 30 de agosto de 2016

Um minuto com Chico Xavier


O Chico é um ser emocionante, eis a expressão que melhor traduz a sua personalidade. Situa-se ele para muito além da dimensão que possa conceber.
Muito haverá que se falar de Chico, no futuro, além do que agora se fala. Casos sobre ele e relacionados com ele multiplicar-se-ão quase ao infinito. Muitos há ignotos e, desses muitos, alguns vêm à tona de quando em vez.
O narrado em frente é um deles. E, dada a pureza e simplicidade de linguagem da principal protagonista, Maria Helena Falcão dos Santos, advogada e esposa de meu prezado colega magistrado, Clodoaldo Moreira dos Santos, ora na inatividade, transcrevo-o "ipisis litteris":

"Há dezesseis anos, mais precisamente no dia 13/04/1975, sofri o maior golpe da minha vida.

Tinha verdadeira adoração por minha mãe. Nossa afinidade era muito grande. Na manhã daquele dia fatídico, estava eu fazendo a mamadeira para o meu filho caçula, quando o neto mais velho de minha inesquecível mãe e que com ela morava chegou em minha casa gritando: ‘Tia, a vovó está morrendo!’
Sem acreditar, pois à tarde do dia anterior ela tinha passado comigo e estava bem, corri até a sua casa, que era perto da minha, e a encontrei já sem fala, deitada em sua cama. Peguei-a nos braços e, chegando ao alpendre da casa, pedi a um vizinho, que ia passando de carro, que, pelo amor de Deus, nos levasse ao Hospital Santa Helena.
No banco de trás do carro eu sentia que todo o mundo desabava sobre mim. Minha santa mãe, com seus lindos olhos azuis, me fitava com todo o carinho que lhe era peculiar. 
Eu, em desespero, passava a mão em sua cabeça e rezava. De repente, ela estremeceu e aquela luz tão forte, que emanava de seus lindos olhos azul, desapareceu. Os olhos ficaram opacos, sem vida. 
Minha adorada mãe tinha acabado de desencarnar em meus braços. Entrei em desespero e nada mais fiz conscientemente disseram-me, depois, que, na hora do sepultamento, tiveram que me tirar a força de cima do caixão. 
Sofri demais. Não conseguia tirar da minha mente seus olhos opacos, sem brilho que tanto os embelezava.
Com o passar dos anos, lendo muitas obras espíritas e cuidando de meu amado pai que, depois de três anos de sofrimento no leito, também retornou ao Além, pude ter outra visão do mundo, das pessoas, da morte. Porém, persistia em mim a lembrança sofrida dos olhos sem vida de minha mãe.
Acalentava o sonho de um dia ver o médium Chico Xavier. Há seis anos, dez depois do desenlace de minha adorada mãe, fui surpreendida com o telefonema de uma amiga, dizendo que o Chico estava em Goiânia e que estaria na Colônia Santa Marta, às 13 horas. Fiquei muito feliz e pensei: hoje vou realizar o meu sonho de vê-lo! Pelo menos de longe!... 
Troquei rapidamente de roupa e, ao sair de casa, senti um desejo incontrolável de pegar uma florzinha do pé de manacá que minha mãe adorava e havia plantado para mim. Peguei a florzinha e, fechando-a na mão, dirigi-me para a Colônia. 
Ao ver Chico Xavier passar por mim, fui invadida por forte emoção e senti um desejo muito grande de falar com ele. Vi que ele se sentou em uma cadeira e as pessoas, que eram muitas, formavam fila para cumprimentá-lo. Entrei na fila. Sentia a florzinha na minha mão, que eu conservava fechada, e algo me dizia que continuasse assim. O Chico estendia a mão e cumprimentava um a um.
Quando chegou a minha vez, para meu espanto, ele, cabisbaixo, estendeu a mão para mim, só que com a palma virada para cima, como à espera que fosse colocado algo. Eu, imediatamente, sem saber por que, coloquei em sua mão a florzinha de manacá, que só eu sabia estar fechada em minha mão. Ele, ainda com a cabeça baixa, abriu o paletó e guardou-a no bolso interno do mesmo. Só aí levantou a cabeça e me encarou. Sentia eu uma grande emoção. Meu rosto estava banhado pelas lágrimas. Queria dizer alguma coisa, mas não conseguia.

Ele, então, me disse:

– ‘Minha filha, os olhos dela brilham mais que a água marinha mais pura que possa existir neste planeta’. 

E olhava para o meu lado, como se visse alguém. Eu, que já estava totalmente embargada pela emoção, entendi que ele estava vendo minha adorada mãe, ali, ao meu lado, mais viva do que nunca e que os olhos opacos e sem vida, cuja lembrança tanto me doía e fazia sofrer, não existiam. 
Dominada por intensa emoção, afastei-me daquele santo homem, sem dizer uma palavra, mas com a certeza de que minha mãe estava muito bem e que seus belos olhos azuis brilhavam ainda mais que antes.”

Depoimento de Weimar M. de Oliveira, em artigo publicado na Folha Espírita de maio/2002.

José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil)

Fonte:http://www.oconsolador.com.br/ano9/439/umminutocomchico.html

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Papa Francisco: um Espírito de escol


A humanidade caminha a passos lentos rumo ao amor, que sendo o último estágio da evolução espiritual, a aquisição completa deste sentimento é também o estágio de maior iluminação do ser pensante. É o voltar ao seio de Deus, para nos expressarmos de uma forma poética.
Muitas vezes, na maioria delas, no entanto, temos nos equivocado na interpretação desta palavra, considerando a iluminação como um símbolo de status, um grau onde seres que atingiram o patamar mais alto buscam distanciar-se dos simples mortais, ou seja, daqueles que, como nós, ainda trilham os caminhos menos ensolarados da vida.
Jesus, modelo irrefutável de amor, por toda a sua história de convivência e amparo aos menos felizes, aos que ainda não se esclareceram moralmente, como governador deste planeta não tem se furtado de nos enviar Espíritos de luz que aqui chegam para nos mostrar que a luz não é algo para humilhar os que não ainda a possuem. Nem para isentar os iluminados do trabalho em prol dos inferiores.
E na atualidade não poderíamos deixar de citar este grande Espírito que à frente da direção desta grande e respeitável instituição, a Igreja Católica, o Papa Francisco, vem quebrando paradigmas. O que não é pouca coisa diante da tradição quase que intransigente desta.
O bem em mundos superiores é algo natural, a regra. Num mundo de provas e expiação, no entanto, precisa ser objeto de aplausos. Não com o objetivo de envaidecer aqueles que o praticam, mas de valorizar o pouco para que se torne muito. Como regar uma semente para que germine, cresça e dê frutos. Este enviado de Deus tem feito sua parte, quando fala abertamente sobre questões até então polêmicas, como o perdão a quem se arrependeu de praticar um aborto, respeito aos homossexuais, igreja hospital e não igreja punitiva, quando, por exemplo, falou sobre os fiscais da fé.
O Papa que não aceita mordomias em hotéis, que faz questão de pagar sua conta. Quem desce de um carro para beijar e abençoar um menino numa cadeira de rodas? Podemos imaginar o quão importante estas atitudes são na evolução destas pessoas, destes irmãos de caminhadas que receberam a atenção de alguém que eles admiram tanto?
Já, por outro lado, podemos imaginar as dificuldades, as críticas que ele enfrenta? Analisando mais a fundo, podemos imaginar as tentativas dos missionários das trevas para derrubar este grande trabalhador?
Por isto mesmo quando estivermos prestes a reclamar do que ainda não é como deveria ser, lembremo-nos dos seus esforços muito louváveis e agradeçamos a Jesus por nos enviar de tempos em tempos, nas variadas escolas religiosas e também fora delas, Espíritos que não falam somente de religião, mas são exemplos vivos de amor. Lembremo-nos dos esforços de outros Espíritos abnegados e lembremo-nos do pouco ou nada que fazemos para a construção de um mundo melhor.
Não nos esqueçamos de que eles fazem a parte deles e se vão, para dar continuidade à sua jornada espiritual. Entram e saem, com a simplicidade dos grandes. Deixam exemplos maravilhosos, levam vibrações positivas. E nós, se partíssemos hoje, levaríamos e deixaríamos o quê? Fica a reflexão. Somos aquilo que fazemos, de nobre ou não tão nobre.

Rodinei Moura
rodimoura@uol.com.br
Ibitinga, SP (Brasil)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O trabalho espírita requer servidores capacitados


Sempre haverá trabalho no campo do bem, na seara de Jesus. E quanto mais bem preparado o servidor, melhor também será seu trabalho e maior o número de corações a serem amparados.
Muitos centros espíritas carecem de trabalhadores que compreendam, de fato, o que é um trabalho realizado com bondade, harmonia e humildade, em que se evite o personalismo que abate, atrasa e desmotiva o propósito abençoado do Espiritismo: o consolo por meio da luz do amor.
Devido a essa preocupação, Carlos Campetti, em parceria com sua esposa Vera Campetti, escreveu o livro intitulado Trabalho Mediúnico – desafios e possibilidades.
A obra, de simples entendimento e objetivando ser somente um material de apoio – que levou dez anos para ser produzida, pois seu intuito é oferecer auxílio às pessoas interessadas em praticar a mediunidade de maneira mais segura e produtiva, conforme as orientações de Jesus e a codificação de Allan Kardec –, busca orientar trabalhadores, grupos e centros a fim de realizarem uma atividade mais sólida e eficaz no campo da prática mediúnica.
As obras básicas do Espiritismo, como as codificadas por Kardec e outras notáveis escritas por autores renomados e referentes, dão-nos o entendimento necessário e a direção correta para a realização dos trabalhos realizados em uma Casa Espírita.
Se essas obras sérias e respeitadas fossem de verdade estudadas e seu ensinamento e sua orientação fossem assimilados, sinceramente o contexto atual do movimento espírita seria bem diferente, seria muito melhor e mais profícuo.
Em face disso, existe também certa preocupação com a qualidade da literatura espírita produzida atualmente em nosso país, porque, da mesma maneira que podem ocorrer falhas no trabalho realizado nas atividades de um centro, assim pode se dar no tocante à tarefa do livro.
Todos sabemos que, se houver um material confiável, muito de positivo se poderá realizar em todos os setores da atividade espírita. E – melhor ainda – se houver disciplina e amor na condução de nossas tarefas, trabalhos abençoados poderão ser alcançados, em benefício de ambos os planos da vida.
Dr. Bezerra de Menezes, mestre da caridade, muito tem alertado sobre os perigos que a invigilância e a acomodação podem causar.
Uma questão que disso se deriva, e como tal bastante delicada, é o interesse pessoal presente, muitas vezes, entre os trabalhadores da Casa Espírita e comum também na prática mediúnica.
Precisamos, por isso, manter-nos atentos, pois o orgulho e a invigilância são, como ninguém ignora, portas escancaradas para a obsessão individual e coletiva.
De outro modo, se a humildade, a solidariedade, o entendimento e o amor forem a base do trabalho realizado, por certo os passos estarão seguindo conforme os grandes ensinamentos, porquanto não é um grupo, uma opinião ou um trabalhador que merecem destaque, mas unicamente o trabalho voltado para o bem que é possível realizar na seara de Jesus, na qual, como Ele mesmo declarou, a tarefa é muito grande mas os tarefeiros são poucos.

Fonte:http://www.oconsolador.com.br/ano9/439/editorial.html

Imagem acima do livro


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Agressores e vítimas


Diante de crimes hediondos, suicídios, tragédias provocadas (como atentados e sequestros dramáticos), a perplexidade domina os círculos da sociedade humana.            
É importante, de início, já informar: ninguém nasceu predestinado a matar ou a matar-se. Matar ou matar-se são resultantes da liberdade de agir. Estamos todos destinados ao progresso e o desajuste das emoções, do equilíbrio, é o grande responsável por tais tragédias. Estamos absolutamente convidados à harmonia na convivência, à solidariedade nas iniciativas.            
Referida liberdade de decisão, no entanto, nos sujeita a reparações que virão a seu tempo. Isso por uma razão muito simples: somos responsáveis pelo que fazemos. A vida e suas leis determinam essa responsabilidade intransferível, deixando bem claro que toda lesão que causamos a nós mesmos ou a terceiros teremos que reparar. Não é castigo, mas apenas conseqüência.
E as vítimas? Como ficam essas pessoas? Por que sofrem atentados e se tornam vítimas de crimes passionais, etc? Podemos acrescentar outras questões: Por que Deus permite? Por que uns se livram inesperadamente de determinados perigos, enquanto outros deles são vítimas? Por que ocorrem com uns e com outros não? Qual o critério para todas essas situações?
Apesar da dor e sofrimentos decorrentes, e da não justificativa – sob qualquer pretexto – de gestos que violentem a vida, as chamadas vítimas enquadram-se em quadros de aprendizados necessários ou de reparações conscienciais perante si mesmos, envolvendo, é claro, os próprios familiares.
Por outro lado, os autores – apesar de equivocados e cruéis – são dignos de piedade, uma vez que enfermos. Quem agride está doente, desequilibrado na emoção e necessitado de auxílio, compreensão, tolerância e, mais ainda, de perdão.
Cristãos que nos consideramos, sem importar a denominação religiosa que adotamos, a postura solicitada em momentos difíceis como o agora enfrentando pela mentalidade brasileira, é de compaixão com agressores e vítimas. Todos são dignos da misericórdia que norteia o amor ao próximo. A situação de quem agride é muito pior do que quem é agredido. O agredido já se liberta de pendências que aguardavam o momento difícil; o agressor, por sua vez, abre períodos longos, no futuro, de arrependimentos e reparações que lhe custarão dores e sofrimentos.
Nada justifica a crueldade. Sua ocorrência coloca à mostra nossas carências e enfermidades morais expostas, demonstrando a necessidade do quanto ainda precisamos fazer uns pelos outros.
Não podemos julgar. Não temos competência para isso. O histórico divulgado pela mídia já demonstra por si só as carências expostas, entre tantos outros fatos lamentáveis. Mas há a bagagem que não vemos...
O momento é de vibrações uns pelos outros. Todos somos filhos de Deus... 

Orson Peter Carrara
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Mensagens espíritas aceites em tribunal...


Pode parecer ficção científica, mas não é. No Brasil, já é o 3º caso, que se conheça, em que informações ditadas pelos Espíritos, através de médiuns, são aceites em tribunal, tendo em conta a sua veracidade e credibilidade. Venha daí conhecer este novo caso. 
No Ceará, Brasil, um homem, Galdino Alves Bezerra Neto, de 47 anos de idade, desapareceu em 2011. A sua mãe, D. Maria Lopes Farias, procurava o filho sem cessar, desde então. Após procurá-lo sem êxito em Hospitais, Delegacias, Instituto de Medicina Legal, a mãe de desaparecido, que frequentava um centro espírita, Lar de Clara, em Caucaia, recebeu uma carta psicografada (ditada por um Espírito e escrita por um médium em transe espiritual) do avô paterno do jovem, em Outubro de 2014.
“O avô dele escreveu dizendo que eu deixasse de o procurar em hospital, no IML e fosse a Canindé, mandasse celebrar uma missa, mas antes eu passasse na Lagoa do Juvenal”, conta a idosa, em entrevista ao programa Gente na TV, da TV Jangadeiro / SBT, lagoa essa onde encontraria ossadas no local.
A carta ditada pelo Espírito do avô do desaparecido, levou Maria até a cena do crime, em Maranguape. Chegando lá, ela soube que, de facto, uma ossada tinha sido encontrada há algum tempo. “Fui directa à Delegacia de Maranguape. Cheguei lá e disse que queria saber sobre umas ossadas que tinham aparecido. Eles deram-me a requisição, eu fui ao IML, fiz o exame e deu positivo”, conta a mãe. Na delegacia de Maranguape, o caso é investigado pelo inspector Wellington Pereira, que se surpreendeu com a ajuda inusitada: “Com 32 anos de polícia, é a primeira vez que me deparo com essa colaboração, justamente de uma carta psicografada, para que a gente pudesse chegar à identificação de uma ossada humana “, ressaltou. 
Segundo o inspector, o inquérito foi reaberto para que se possa identificar o que aconteceu com o jovem. A ossada foi localizada em Janeiro de 2013, mas não havia nenhum pista sobre sua identificação. Somente em Outubro de 2014, a carta psicografada dirigida à mãe, ajudou a dar um Norte ao caso. Após os exames de DNA, a polícia pôde iniciar as investigações sobre a morte do desaparecido. Na última terça-feira (19), Maria Lopes voltou à delegacia de Maranguape, para falar sobre as últimas lembranças que tem do filho, e como era sua rotina. Apesar da polícia ainda não saber como se deu o crime, numa segunda carta, enviada pelo próprio filho, este pôde novamente ajudar no esclarecimento do caso.
“A segunda carta já foi ele mesmo. O avô contou só o básico, porque ele não estava capaz de escrever. Ele disse que não tinha escrito há mais tempo, porque não queria me fazer sofrer”, conta a mãe.
Na carta, ele conta que passava de ônibus próximo à Lagoa do Juvenal e foi atraído pelo local. No relato, ele teria sido vítima de latrocínio, roubo seguido de morte, e os criminosos teriam escondido o corpo.
Desde meados do século XIX que a Doutrina Espírita (que não é mais uma seita ou religião) veio matar a morte, ao demonstrar experimentalmente a imortalidade do Espírito, através da comunicabilidade dos Espíritos, numa pesquisa rigorosamente científica, levada a cabo por Allan Kardec.
Paradoxalmente, nos dias que correm, ainda existem pessoas que dizem que “nunca ninguém veio do lado de lá contar como é”, quando essas comunicações existem desde que o Homem é Homem, e foram comprovadas experimentalmente em meados do século XIX, conclusões essas que continuam a ser comprovadas nos tempos que correm, por outros pesquisadores e cientistas não espíritas.
Numa altura em que cada vez mais a Humanidade busca o seu Norte, tentando saber de onde vem, para onde vai, o que faz na Terra e qual a causa de tantas dissemelhanças neste planeta, a doutrina espírita (ou espiritismo) apresenta-se como uma filosofia de vida que, esclarecendo o ser humano, consola-o, na medida em que ele entende o porquê da vida e das suas peculiaridades.
Deixamos aos interessados uma sugestão de leitura, “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, que se apresenta como uma monumental obra, ainda hoje, em 2016, não bem entendida pelo ser humano.
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a lei”, é uma frase que encerra o pensamento espírita, que pode dar forte contributo à sociedade, no sentido de uma maior e mais rápida espiritualização do ser humano.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Não só o cristianismo nasceu de fenômenos mediúnicos


Os fenômenos com espíritos só ocorrem através de médiuns. Todos nós temos um pouco de mediunidade. Mas para que haja esses fenômenos, tem que haver um médium especial por perto. E esses médiuns especiais são uma minoria. Daí se ouvir muito a afirmação: Eu não acredito em assombrações ou fatos que envolvem espíritos, porque nunca vi nada nesse sentido. Ademais, os líderes religiosos cristãos sempre esconderam dos seus fiéis a verdade da comunicação bíblica com os espíritos, dizendo que isso é impossível e até que é pecado. E, com isso, ajudaram a engrossar a fileira dos cépticos e de sua filosofia materialista. 
E atentemos para o fato de que as pessoas, que fazem pesquisas e estudos nessa área são também poucas. E, às vezes, até fazem isso às escondidas, com medo, pois os líderes religiosos ensinavam também que essa prática, além de pecado, era perigosa. Na verdade, os líderes religiosos não queriam que as pessoas estudassem esses fenômenos espíritas, porque elas acabavam virando espíritas. E a consequência de tudo isso é que apenas uma insignificante porcentagem dos estudiosos desse assunto e os médiuns dão crédito a esses fenômenos de manifestações dos espíritos. E assim, acontecia o que já dissemos, a grande maioria falava e fala frequentemente: Eu não acredito nessas coisas, porque nunca vi nada envolvendo espíritos ou fantasmas!
Mas hoje, a coisa é diferente. É o que disse o Mestre dos mestres: Nada ficará oculto (Mateus 10: 26), ou seja, com a evolução, a verdade, um dia, chegará para todos. A Igreja já não ataca mais o espiritismo, pois os padres sabem das coisas, já que estudam muito. E as pessoas de hoje são mais esclarecidas. Daí que a grande maioria dos católicos de cidades grandes e de porte médio frequentam casas espíritas, e são mais numerosas nelas do que os próprios espíritas, não faltando nelas também a presença de um crescente número de protestantes e evangélicos. E um detalhe, essas pessoas são geralmente as de melhor nível de instrução de acordo com pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, ou seja, desembargadores, juízes, promotores de justiça, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, psicólogos, antropólogos, professores universitários, membros do alto escalão político e da alta hierarquia militar. E, discretamente, até bispos, padres e pastores frequentam as casas espíritas.  
O cristianismo teve início com a comunicação do Espírito desencarnado de Jesus, que, ressurgindo do mundo dos mortos, apareceu, primeiramente, a Maria Madalena.
São Paulo, o primeiro autor do Novo Testamento, converteu-se ao cristianismo na Estrada de Damasco, quando Jesus, depois de sua morte, lhe apareceu em forma de uma luz tão brilhante, que o deixou cego e desmaiado. Depois, Paulo foi curado por Ananias em Damasco, pois Jesus apareceu também a Ananias, dando-lhe instruções para curar Paulo.
E não só o cristianismo surgiu com fenômenos mediúnicos ou que envolvem espíritos: Maomé, fundador do Islamismo, não sabia ler nem escrever. Mas pela sua mediunidade psicofônica,   o Anjo Gabriel ditou o Alcorão escrito por seus auxiliares.
E anjo é espírito humano de alto nível de evolução. Aliás, o próprio nome do Anjo Gabriel, em hebraico, quer dizer “homem iluminado”, o que nos demonstra também que ele, já naquela época, era mesmo um espírito muito evoluído!

PS: II Congresso Espírita Internacional de Madri (Espanha), “Um Mundo Novo”, de 16 a 18 de setembro de 2016. Contato: progresoespiritismo@gmail.com

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

Imagem ilustrativa

terça-feira, 19 de julho de 2016

Continuados testes


Considere o leitor que a vida é uma sequência de desafios nos aprendizados de cada dia, onde se incluem as dificuldades dos relacionamentos – muitas vezes tensos – e as próprias limitações pessoais.
Na verdade, a vida reserva a cada um de nós a felicidade completa que, claro, será futura e não imediata. Por esta mesma razão, é uma construção gradativa, lenta e que exige lutas constantes, sacrifício dos caprichos nem sempre recomendáveis e esforço nessa direção. E não é imediata porque é impossível que se conquistem num espaço tão curto e rápido, como é a vida humana – por mais longa que seja –, as virtudes e o conhecimento que formam a autêntica felicidade que não está baseada no ter, mas no ser. Na verdade, é a felicidade oriunda da paz de consciência, onde não há remorsos, nem arrependimentos e a vida é voltada para fazer o bem em sua integridade.
Lembrei-me dessas considerações ao ler a frase “(...) A vida, que a todos nos reserva felicidade futura, estrutura-se em contínuos testes de humildade e paciência. (...)”. A frase consta do capítulo primeiro do livro Tramas do Destino, de Manoel Philomeno de Miranda, por Divaldo Pereira Franco.
Primeiro chamou-me atenção a palavra estrutura-se, no caso da frase em questão, indicando as bases da felicidade futura nos alicerces da humildada e da paciência. A própria palavra estrutura já indica solidez, segurança, apoio. Mas ela vem acompanhada da curiosa expressão contínuos testes, que por sua vez leva à lembrança dos desafios. Afinal, teste lembra avaliação, exame ou verificação. E a frase é concluída com as virtudes da humildade e da paciência. Repitamos a frase: “(...) A vida, que a todos nos reserva felicidade futura, estrutura-se em contínuos testes de humildade e paciência. (...)”.
Ficou interessante ligar felicidade no futuro com estrutura (que lembra solidez e segurança, garantia) baseada nas duas citadas virtudes. E mais ainda perceber a abrangência quando prestamos atenção à palavra reserva. A vida reserva, ou em outras palavras, a vida trará no tempo certo ou deixa como herança a felicidade. Vamos entendendo que ela precisa ser construída nas bases da paciência e da humildade.
Agora pensemos nas virtudes citadas.
Já parou o leitor para pensar nos testes diários de paciência? Seja na convivência, nos obstáculos, nas carências próprias, nos travamentos psicológicos, nos embaraços burocráticos ou nas diferenças individuais que lesam os relacionamentos, na enfermidade e mesmo nas imperfeições morais que ainda caracterizam a sociedade humana, de quanta paciência precisamos? E que quando não a cultivamos, e nos deixamos empolgar pela irritação ou pela ansiedade, quantos prejuízos daí são decorrentes?
Observemos com atenção: somos testados a todos instante. Assim também no que se refere à humildade. Quantos de nós não somos vencidos pela vaidade ou pela prepotência, pelo desprezo ou indiferença que direcionamos a alguém ou aos interesses coletivos e humanitários, no desrespeito à lei ou às diferenças humanas?
Quantos não somos derrotados pela arrogância ou pelo desejo de autopromoção?
E aí nos lembramos dos grandes vultos da humildade e da paciência, vencedores de si mesmos, autênticos heróis e legítimos representantes dos alicerces que estruturam a felicidade, como Irmã Dulce, Madre Thereza, Chico Xavier, entre tantos outros, inclusive anônimos...
Ficamos na teimosia da imposição de ideias, nos recalques do ciúme e da inveja, incomodados com o destaque pessoal próprio e alheio, na tola ilusão de mando, nos melindres que mais lembram a infância quando falávamos: também não brinco mais... e com isso vamos adiando a construção da própria felicidade.
Quanto tempo ainda perdemos com discussões vazias, com maledicência que corre solta, com críticas destrutivas perfeitamente dispensáveis, iludidos pela própria ganância ou pela prepotência que ainda nos caracteriza o estágio humano e esquecemos que a felicidade está na consciência tranquila que só pode mesmo ser conquistada com a paciência e a humildade, porque estas não exigem nada, não impõem, aceitam, resignam ativamente e agem bem em favor de todos, sem nada esperar, sem expectativas, sem ansiedade. São felizes aqueles que gradativamente vão construindo esses alicerces.
Temos muito o que aprender realmente. Não percebemos ainda que nos perdemos pelo egoísmo, pelo orgulho e pela intolerância, comportamentos contrários àqueles que trazem a autêntica felicidade que será conquista inapagável, que o ladrão não rouba, nem a tempestade destrói ou a traça e ferrugem corroem, como afirmou o Mestre da Humanidade.
Aliás, por falar Nele, como esquecer seus exemplos de paciência e humildade para que aprendêssemos a mansidão e a fé? Ele é mesmo o modelo e guia para a Humanidade, a quem devemos seguir sem receios, temores ou acomodação. Não há outro caminho, é só por Ele mesmo que conquistaremos essa lucidez de espírito.

Orson Peter Carrara
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/

Imagem do livro

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sem a reencarnação a obra redentora seria impossível


A missão redentora do gênero humano feita pelo Messias foi a de trazer para nós o evangelho. E Ele próprio confirmou essa sua missão de enviado de Deus: “... É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois é para isso que eu fui enviado.” (Lucas 4: 43).
Não foi, pois, para ser assassinado pela morte cruel de crucificação que Deus no-lo enviou, mas realmente, para trazer-nos o evangelho.
Deus o Pai estaria por trás do pecado de assassinato de Jesus, se Ele, o Deus Pai, tivesse enviado seu Filho para se deleitar com o pecado de seu assassinado. E o maior sofrimento de Jesus não foi bem morrer na cruz que, naquela época, no Império Romano, era uma morte comum para os condenados à morte.  Seu maior sofrimento foi Ele vir viver nesse nosso mundo ainda muito atrasado e, há dois mil anos, mais ainda. Ele ficou aqui, pois, como um peixe fora d’ água.
Porém, é claro, que o sofrimento da morte de Jesus na cruz é motivo de muita emoção de tristeza para nós, apesar de Ele, o Deus Pai, não sofrer com os pecados da Humanidade, pois quem sofre somos nós mesmos vítimas dos pecados e os próprios autores deles, já que, de acordo com a lei de causa e efeito, nós colhemos o que semeamos: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6: 7). Os cristãos, de um modo geral, com exceção dos espíritas, não dão muita importância a essa lei inexorável universal de causa e efeito, o que é um grande erro. É que eles pensam erradamente que Jesus já sofreu para nós, quando, pela Bíblia, quem sofre é o que peca. Pai não paga pecado de filho nem filho paga pecado de pai. A alma que pecar morrerá moralmente, e, portanto, fica sujeita ao carma de sofrimento (Ezequiel 18: 20).  E Jesus tapa a boca de quem discorda dessa lei de causa e efeito ou cármica: Não sairás da prisão, enquanto não pagares o último centavo (São Mateus 5: 26).
Atribuir, pois, a Deus a responsabilidade pelo pecado do assassinado de Jesus é até uma blasfêmia contra o Espírito Santo, por excelência, que é o Espírito perfeito do Deus Pai. Isso seria mesmo tomar o Espírito de Deus como um espírito atrasado vampiro, que se satisfaz com sangue humano derramado, o que seria uma aberração teológica! É natural que os teólogos do passado e os próprios apóstolos, influenciados pela teologia judaica antiga de sacrifícios agradáveis a Deus, pensassem assim. Mas em pleno século 21, essa teologia de sangue não pode mais continuar sendo aceita como certa, ela que foi condenada pelo próprio excelso Mestre: “Misericórdia quero e não sacrifícios.” (São Mateus 9: 13); e “Amá-lo excede a todos os sacrifícios” (São Mateus 12: 33).
Mas cabe aos que já conhecem o evangelho do enviado de Deus fazerem a sua parte tornada possível por Deus pela sua criação do fenômeno da reencarnação, do nosso intelecto e livre arbítrio para serem usados exatamente nas reencarnações.
Uma só encarnação não daria nem para começarmos a nossa peregrinação terrena em busca da nossa passagem pela porta estreita, símbolo da concretização da nossa redenção pela vivência do evangelho do qual foi portador o Messias, um homem santíssimo judeu!

PS: “Presença Espírita na Bíblia”, com este colunista: www.tvmundomaior.com.br e parabólica digital.

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Poderosa ação!


Impressionante a atualidade e grandeza do texto que Allan Kardec publicou em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, no subtítulo Ação da Prece. Transmissão do Pensamento. Para estudo individual ou em grupo, para apresentação em palestras ou seminários ou para embasamento de compactas ou longas abordagens, o texto é uma preciosidade e aborda a poderosa ação da prece e da transmissão do pensamento. 
O codificador inicia com a valiosa informação de que “as preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades (...)”, após ponderar que a prece coloca um ser em comunicação mental com outro ser a quem se dirige, não importando se esteja encarnado ou já tenha deixado o corpo pela desencarnação. 
O caminhar didático do texto é suave, leve, proporcionando como que uma aula útil e muito agradável para se aprender o mecanismo de transmissão do pensamento na comunicação entre os seres. Para isso faz uma comparação notável para entendermos a questão: “(...) é preciso mentalizar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, como a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluído universal se estendem ao infinito. (...)”. O que ocorre, portanto, é que “(...) estabelece-se uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. (...)”. 
A prece tem poderosa ação porque por ela atraímos o concurso dos bons espíritos, que nos sustentam nas boas resoluções e nos inspiram bons pensamentos, possibilitando-nos adquirir as forças morais para superação das dificuldades. Não usá-la, conforme raciocínio de Kardec, é renunciar para sim mesmo e a outros o bem que se lhes pode fazer, à assistência que todos podemos receber da Bondade Divina. 
E há uma advertência expressiva no texto, com outras palavras e outro exemplo, mas que se pode resumir no exemplo de adversidades ou doenças que podemos enfrentar, fruto ou não de excessos: temos o direito de reclamar? E conclui a resposta de Kardec: “(...) Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações (...)”. E podemos acrescentar, inclusive à tentação da reclamação ou dos lamentos da revolta. 
O texto ocupa três páginas do capítulo, com sábias reflexões. Deixo ao leitor ir à fonte original para o prazer dessa leitura do sábio e profundo texto. Mas concluo com dois pensamentos importantes ali expressos, para ampliar a reflexão de todos nós:

a)      No item 13: “Acedendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus frequentemente, tem em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé àquele que ora, eis porque a prece do homem de bem é mais meritória aos olhos de Deus, e sempre mais eficaz, porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só é dado pelo sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, daquele que ora com os lábios, não podem sair senão palavras, mas não os impulsos da caridade que dão à prece todo o seu poder. (...)”;
b)      No item 15: “O poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, em qualquer lugar, a qualquer hora, sozinho ou em comum. (...)”.

Recomendo, com ênfase, ao leitor, ler o texto integral, até para ampliar o assunto a respeito da prece com comum, reunindo várias pessoas e seu extraordinário poder, mas também para tocar num ponto muito comum nos relacionamentos humanos, quando ouvimos alguém pedir: “Ah! Ore por mim!”. A lucidez de Kardec se faz presente: “(...) Isso é tão compreensível, que, por um movimento instintivo, a pessoa se recomenda de preferência às preces daqueles nos quais se percebe que a conduta deve ser agradável a Deus, porque são mais ouvidos.” 
O fato principal, contudo, fica no raciocínio de que diante das dificuldades todas que possamos atravessar, das adversidades muitas vezes inevitáveis, é preciso lembrar, entre outras situações de “(...) Se não ultrapassarmos o limite do necessário na satisfação das nossas necessidades, não teremos as doenças que são consequências dos excessos, e as vicissitudes que essas doenças ocasionam. Se colocarmos limite à nossa ambição, não teremos a ruína. Se não quisermos subir mais alto do que podemos, não temeremos cair. Se formos humildes, não sofreremos as decepções do orgulho humilhado. Se praticarmos a lei da caridade, não seremos nem maldizentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaremos as querelas e as dissenções. Se não fizermos mal a ninguém, não temeremos as vinganças, etc. (...)”.
 A prece é o grande recurso contra esses males que ainda nos sondam os passos.

Orson Peter Carrara

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Um mundo melhor


É usual ouvirem-se comentários do género "isto está cada vez pior", "isto não tem solução", "o mundo está cada vez pior"..., e os noticiários, caprichosamente escolhidos para que apenas apareçam as situações mais lamentáveis, acabam por cimentar esta ideia. 
Aparentemente o mundo está pior, tendo em conta tanta violência, tanto desnorte do ser humano, tanta impunidade perante o erro deliberado, tanta indiferença perante o sofrimento alheio.
O homem refugia-se, alucinado, no seu egoísmo, tentando nada ver além do seu ego. Digamos que é um mecanismo de fuga... para dentro, no pior sentido.
Perdido o Norte de Deus, desvalorizados os valores ético-morais, o Deus-dinheiro levou a humanidade, aliada ao Deus-egoísmo, a um beco sem saída.
Vendo estes acontecimentos à luz da Doutrina Espírita (ou Espiritismo), conseguimos verificar que os momentos actuais assemelham-se ao chamado "fim dos tempos", que o Evangelho refere. No entanto, este "fim dos tempos" não significa que o planeta Terra vá desaparecer, mas será sim, o fim dos tempos de misérias morais e materiais que agora vemos campearem na Terra.
A "separação do trigo do joio" e o "juízo final", são, na óptica espírita, a selecção dos Espíritos que voltarão a reencarnar na Terra, Espíritos comprometidos com o Bem, com a paz, com a fraternidade. Os demais, os violentos, serão transferidos, por uma questão de sintonia, com outros planetas mais atrasados, em consonância com o seu íntimo, para que ali expiem os erros de agora, em busca de um devir melhor, ao longo dos milénios.
Nunca na Terra se viu tanto Bem como nos dias que correm, o fim das fronteiras, as organizações não governamentais que buscam auxiliar o próximo, as organizações ecologistas, as organizações de defesa dos animais, do meio-ambiente, dos explorados, das minorias, da igualdade de oportunidade entre géneros, entre tantas coisas boas que se passam no mundo, e que apenas não aparecem nas televisões. 
Somente o Amor, o perdão, a compreensão, podem auxiliar o Homem a libertar-se do egoísmo, do ódio, da intolerância. 
A Física quântica deu a machadada final no Materialismo, comprovando o que o Espiritismo apresentou ao mundo em 1858: tudo é energia, em diversos estados, mais ou menos condensados.
Cientistas de todo o mundo, comprovam a reencarnação e a comunicabilidade dos Espíritos, indo de encontro aos ensinamentos do Espiritismo.
O próximo passo para a Humanidade, inevitável, será incorporar esses conceitos e, compreender as consequências morais desses princípios básicos da Vida.
Quando o Homem entender que é um Espírito imortal, temporariamente num corpo físico, que tem uma multiplicidade de existências físicas com o desiderato de atingir um dia o estado de Espírito-puro, que tudo o que fizer hoje na sua vida repercutir-se-á em si mesmo, nesta e noutras existências, colhendo (bem ou mal) aquilo que for semeando no bojo do seu psiquismo, então a Humanidade transformar-se-á mais rapidamente.
Será a época da regeneração do Espírito, época essa que já está em curso com a reencarnação de Espíritos mais evoluídos, comprometidos com a Paz.
Os dias de hoje, são pois, de esperança, de alegria pelo devir, já ali a seguir à curva da evolução inevitável, competindo-nos, mais do que lamentar a situação actual, fazermos a parte que nos compete: fazer ao próximo aquilo que gostaríamos que nos fizessem, se estivéssemos no seu lugar.
A Lei de Causalidade (Causa e Efeito) é inexorável e, relembrando as palavras sábias do grande psicoterapeuta da Humanidade, Jesus de Nazaré, "a cada um de acordo com as suas obras".
Deixemos pois, um rasto de luz, de paz, de alegria, de esperança, por onde passarmos ao longo do nosso dia, e estaremos a colaborar com os Espíritos superiores na transformação moral do Planeta, objectivando a instalação de sociedades pacíficas, fraternas, evoluídas, na Terra, para onde voltaremos se tivermos mérito para isso.
Apesar de tudo, o mundo está muito... melhor!!!


Bibliografia:

Kardec, Allan - O Livro dos Espíritos
Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo

José Lucas

sábado, 28 de maio de 2016

Existem Espíritos em toda parte?


“Estamos mergulhados num mar de ideias.” - Platão.

Remontando à antiga Grécia podemos ver Platão nos ensinar que “vivemos num mar de ideias”. Vamos também estudar Paulo de Tarso quando ele nos diz que "vivemos como que na frente de plateia de assistentes”. E também no século passado leremos Albert Einstein quando ele diz que “vivemos num mundo repleto de ondas”.
Sabemos que existem pessoas em toda parte e, assim como nos diz André Luiz, as formas-pensamento estão sendo constantemente emitidas por nós a todos os instantes. Como a vida continua e não termina com certeza no túmulo, veremos, então, como nos ensinam os Espíritos, através de Kardec, que há Espíritos em toda parte.
Essa mistura dos encarnados e desencarnados, essa troca de ideias constante entre o mundo físico e o espiritual nos conduz a pensar sobre nossas posições mentais, vigiar sempre, para não deixar as influências espirituais nocivas nos afetarem, pois nos afirmam os Espíritos, numa das perguntas de O Livro dos Espíritos[1]: Os Espíritos influenciam em nossas vidas? E a resposta é objetiva: “muito mais do que vocês imaginam”. Podemos então perceber, na profundidade dessa afirmação, como devemos realmente vigiar: sempre.
A existência de Espíritos em toda parte nos leva a perceber que, com os nossos atos e pensamentos, exemplos bons ou não, atraímos os Espíritos segundo a sintonia que provocamos.
Fato é que, estando os Espíritos à nossa volta, eles podem nos ajudar ou atrapalhar, dependendo apenas de nossa posição mental, espiritual e,porque não dizer, vibracional?
Esse tema nos leva ao profundo e complexo problema das perturbações, obsessões e todo tipo de influência negativa que recebemos dos Espíritos quando nos sintonizamos na mesma faixa de vibração.
As pessoas que não acreditam na espiritualidade, vida após a morte, e todo esse complexo de interferência espiritual à nossa volta, ao se depararem com o problema da influência espiritual, levam toda essa problemática para o campo da psicologia e psiquiatria clássica, não procurando observar com mais profundidade o problema.
Sem dúvida as ciências psicológicas e psiquiátricas têm um papel importante nas nossas vidas para a busca do equilíbrio emocional e cognitivo do ser, mas estamos aqui falando de algo que transcende o ser encarnado, levando-nos a um questionamento mais profundo, pois a Ciência muitas vezes cura os problemas dessa ordem, mas outras vezes não. Podemos ver, no dia a dia, pessoas se curando através de uma terapia alternativa, oferecida pelos centros espíritas, que é o “tratamento espiritual”, que não tem, segundo os estudos clássicos da Ciência, qualquer comprovação da sua eficácia, até porque os elementos chaves, o Espírito e sua influência, ainda se encontram obscuros para a nossa Ciência.
Assim deveremos, passo a passo, dia após dia, construir o reino de Deus dentro de nós, para que possamos estar em sintonia com os bons Espíritos, recebendo suas orientações dentro do nosso campo mental em forma de intuição, inspiração ou até mesmo uma atuação mais direta, dependendo da situação em que nos encontramos.
O esperado bloqueio das influências negativas dos irmãos espirituais que ainda se identificam com o mal, só é possível com mudanças de atitudes, e procurando viver dia após dia os ensinamentos de Jesus.
Importante que entendamos que o tratamento espiritual é um remédio importante para restituir o equilíbrio espiritual, mas, para permanecer nesse equilíbrio, dependerá, dali para frente,de nós. Porque continuaremos recebendo as influências boas ou não, dependendo apenas de nós.
Disse Jesus ao doente: [2]“Eu te curei, vai, mas não peques para que não te aconteça coisa pior”. Nessa lição o Mestre dos mestres nos proclama a necessidade de mudança hoje para obtermos uma vida espiritual melhor. Para que consigamos manter uma ligação com a espiritualidade Maior torna-se necessário o trabalho no bem, a única saída real e efetiva para o nosso ser.
Espíritos em toda parte, com ou sem evolução nas ações, sentimentos e emoções, constroem um hálito espiritual à nossa volta,em que nós compartilhamos e colaboramos nesse tal nível de energia e vibração.
Seja como emissores de pensamentos ou atos, construtivos ou não, estamos na presença de Espíritos a todo o momento. Assim, orar e vigiar, como manda o Mestre, é ainda a melhor forma de garantir uma ligação proveitosa junto à espiritualidade Maior.

Referências:
[1] Allan Kardec, Livro dos Espíritos.
[2] Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo.

Wagner Ideali
wagner.ideali@terra.com.br
Guarulhos, SP (Brasil)

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terça-feira, 24 de maio de 2016

Estrutura familiar


Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? “Uma recrudescência do egoísmo.” (Questão 775, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.)

A família é, incontestavelmente, uma célula educadora. Nela a criatura aprende a ampliar responsabilidades, a multiplicar sentimentos, a valorizar a fraternidade, a desenvolver o senso de proteção, a pensar em conjunto, a perder a individualidade e a banir a solidão. 
Sem qualquer dúvida, trata-se da base social. 
Jamais podemos pensar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária, sem contarmos com a devida, necessária e indispensável estruturação da família. Se registramos, na coletividade, comportamentos nocivos e deletérios, onde seres humanos se apresentam de forma desequilibrada e fora dos padrões da decência e da dignidade que se espera, certamente a origem das distorções, na maioria dos casos, tem o nascedouro na família em desalinho. 
Edifica a família aquele que tem plenas convicções da urgência e necessidade de educar os filhos formando-lhes o caráter, não apenas dando-lhes instrução, pois que isso a escola também pode fazer. Educar é tarefa prioritária da família, onde exemplo é a lição mais forte. 
Edificam a família os cônjuges que se respeitam sentimentalmente, mantendo-se fiéis aos compromissos de fidelidade. Diferença de opinião não se caracteriza como motivo para desavenças e querelas. Podemos, perfeitamente, ter pensamentos diferentes uns dos outros e caminharmos juntos na mesma direção. 
Edificam a família os membros que elegem o trabalho como base de sobrevivência e aprendizado, sem que um seja peso econômico para o outro. Trabalho não é castigo, é sagrada oportunidade de aprendizado e de equilíbrio físico e mental. 
Edifica a família quem mantém em seu lar um clima de cortesia, afabilidade, entendimento e solidariedade, onde se vislumbram as qualidades dos componentes e se trabalha em conjunto para a correção dos defeitos naturais que ainda ostentam. 
Edifica a família quem carrega para dentro dela noções de religiosidade, pois ninguém conseguirá entender as razões lógicas da vida sem refletir, maduramente, na grandeza, bondade e perfeição das leis divinas. 
Edifica a família aquele que permanece dentro dela mesmo carregando grande cota de sacrifício sobre os ombros, pois quem não consegue servir ao próximo mais próximo terá dificuldade em encontrar a paz. 
Edifica a família quem sabe perdoar, esquecer e cultivar a resignação, pois que num agrupamento de seres humanos, ante o estágio evolutivo que nos encontramos, ainda são freqüentes os momentos de desajustes que exigem paciência e calma. 
Estruturar a família não é tarefa fácil, mas indispensável para continuarmos sonhando com a paz e a felicidade, pois tais conquistas somente se fixarão, definitivamente, em nosso âmago, no instante em que conseguirmos plantá-las nos corações alheios, e nada mais justo e lógico do que iniciarmos essa tarefa pelos nossos familiares. 
Em verdade, fácil é conquistar algo no mundo, difícil é vencer na família. Muitas criaturas conhecem a aprovação social pelos feitos que apresentam, mas recebem a reprovação dos familiares devido ao descumprimento dos deveres básicos. Ainda, a vitória fora do lar, sem o amparo da família sólida, não terá o sabor que se espera.

Reflitamos.

Waldemir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil)

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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Objetivo da mediunidade


A clareza de Allan Kardec é impressionante! Não deixa dúvidas e só nos desviamos da correta prática espírita porque não prestamos atenção às diretrizes doutrinárias. Ou não conhecemos, o que seria ainda pior, já que tudo está à disposição.
Diz o Codificador no item 7, no capítulo XXVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no subtítulo Mediunidade Gratuita, com muita clareza que, inclusive, define objetivo da mediunidade: “Os médiuns modernos – porque os apóstolos também tinham mediunidade – igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem os intérpretes dos Espíritos para a instrução dos homens, para mostrar-lhes o caminho do bem e conduzi-los à fé (...)”.
Notemos que já podemos definir didaticamente os objetivos da mediunidade: a) Serem os intérpretes dos Espíritos para instrução dos homens; b) Mostrar-lhes o caminho do bem; c) Conduzi-los à fé.
Percebe-se que os itens definem função e trabalho a que podemos nos dedicar e desdobram-se em múltiplos raciocínios para debates e reflexões de expressiva oportunidade para o bom entendimento da questão. Meditemos seriamente em cada um deles e perceberemos o referido alcance.
E o raciocínio de Kardec no texto em questão é extraordinário, ao referir-se à gratuidade da prática mediúnica, pois que “(...) não são o produto de sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu trabalho pessoal. (...) não é um privilégio, e se encontra por toda parte, fazê-la pagar seria, pois, desviá-la da sua finalidade providencial (...)”.
E a orientação se estende, agora no item 8: “Todo aquele que conhece as condições nas quais os bons espíritos se comunicam, sua repulsa por tudo o que seja do interesse egoístico, e que sabe quão pouca coisa é preciso para os afastar (...)”. E acrescenta no mesmo item: “(...) não poderá jamais admitir que os espíritos superiores estejam à disposição de qualquer um que os chamasse a tanto por sessão (...)”.
E o melhor é que oportuna advertência nos abre os olhos para descuidos: “(...) Os espíritos levianos, mentirosos, espertos, e toda a multidão de espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, vêm sempre, e estão sempre prontos para responder ao que se lhes pergunta, sem se importarem com a verdade. (...)”.
E após outras importantes considerações, já no item 9 – quase concluindo –, o Codificador informa: “(...) A mediunidade séria não pode ser, e não será jamais, uma profissão, não somente porque seria desacreditada moralmente, e logo comparada aos ledores de sorte, mas porque um obstáculo material a isso se opõe; é uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e variável, coma permanência da qual ninguém pode contar. Seria, pois, para o explorador, um recurso sempre incerto, que poderia lhe faltar no momento em que lhe seria mais necessário. (...)”.
 E completa com sabedoria: “(...) a mediunidade não é nem uma arte, nem um talento, por isso ela não pode tornar-se uma profissão; não existe senão pelo concurso dos Espíritos; se esses espíritos faltarem, não há mais mediunidade; a aptidão pode subsistir, mas o exercício está anulado; assim não há nenhum médium no mundo que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em dado instante. (...)”.
Sugiro ao leitor buscar o texto íntegra que se conclui com referências à mediunidade curadora, em valiosa reflexão. Meditemos, contudo, na importância da clara e sábia advertência: se os espíritos faltarem, não há mais mediunidade; a aptidão pode subsistir, mas o exercício está anulado.
Com tal raciocínio fica fácil entender a origem das fraudes e tentativas de exploração com a mediunidade, cuja finalidade está bem acima de mesquinhos interesses de ganho, pois que seu objetivo é o bem e a instrução das consciências humanas.

 Orson Peter Carrara

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Liberdade


Em filosofia, liberdade pode ser compreendida tanto negativa quanto positivamente. Sob a perspectiva negativa, denota a ausência de submissão e de servidão, já na segunda, é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Segundo o dicionário Michaelis, “liberdade é um estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. 
Poder de exercer livremente sua vontade ou condição do ser que não vive em cativeiro”. A busca da liberdade sempre foi uma constante na história da raça humana. Ela compõe o conjunto dos elementos que habitualmente se imagina sejam necessários ao bem-estar das criaturas. Parece de pouca serventia possuir alguns bens, da espécie que sejam, sem a liberdade de desfrutá-los. Para ser livre, muitas vezes o homem trilhou caminhos tortuosos. 
Para Carlos Bernardo González Pecotche (1901-1963), a liberdade é prerrogativa natural do ser humano, já que nasce livre, embora não se dê conta até o momento em que sua consciência o faz experimentar a necessidade de exercê-la como único meio de realizar suas funções primordiais da vida, e o objetivo que cada um deva atingir como ser racional e espiritual. Como princípio, assinala ao homem e lhe substancia sua posição dentro do mundo, enfim, é preciso vinculá-la muito estreitamente ao dever e à responsabilidade individual, pois estes dois termos, de um importante conteúdo moral, constituem a alavanca que move os atos humanos, preservando-se do excesso, sempre prejudicial à independência e à liberdade de quem nele incorre. 
A liberdade pode ser dita de diversas formas: liberdade do fazer; do querer; autonomia; direito ou participação política. De várias formas também ela se emprega: como arma política ou elemento doutrinal; como simples palavra ou como conceito; como ideia reguladora ou apelo à experiência. Jesus afirmou que o conhecimento da verdade nos libertaria. De fato, uma compreensão mais aprofundada das leis da vida, ao despir o homem de suas ilusões, livra-o da mesquinhez, do egoísmo e do orgulho. 
Em O avesso da liberdade, de Adauto Novaes, há um grupo de artigos dedicados ao que poderia se chamar de “transcendental: a liberdade é pensável?”, nos fazendo refletir em quais impasses, as dificuldades conceituais, os paradoxos que é preciso vencer ou enfrentar para que faça sentido o emprego dessa noção? Tudo depende do quadro conceitual em que nos movemos, por exemplo, pensar a liberdade nos quadros de uma doutrina materialista. Como pensar, sem fazer recurso de outra realidade senão a da matéria, sem recorrer ao espírito ou a qualquer outra forma de dualismo, a ação, a voluntariedade e a liberdade que lhe são próprias, se a matéria é o elemento de uma ordem natural, cujas determinações ela sofre desde o exterior? 
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, ao buscar respostas sobre a liberdade absoluta, encontra as sábias palavras afirmando que o homem não gozará de absoluta liberdade porque todos precisam uns dos outros. No convívio familiar ou social, é impossível ser totalmente livre. Os seus direitos terminam onde começam os direitos do seu próximo, pois a completa libertação possível é a das paixões, dos instintos inferiores, que tanto infelicitam a humanidade. Ao traçar as metas da vida, devemos buscar antes libertar-nos da dor e do desequilíbrio. Para tal, um padrão de conduta reto e equilibrado, marcado pelo bom senso, sempre será o melhor roteiro. No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos, pois podem reprimir-se os atos, mas a crença íntima é inacessível, exceto para Deus.
O homem tem o livre-arbítrio de seus atos, ou seja, assim como tem a liberdade para pensar, tem igualmente a de obrar. Há, portanto, liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo. Temos o poder para imprimir na nossa existência o padrão de felicidade ou de aflição com o qual desejamos conviver. A liberdade é Lei da vida, que faz parte do concerto da harmonia universal. Somos o que de nós próprios fazemos, movimentando-nos no rumo que elegemos. A busca da felicidade é uma meta comum entre todos os seres humanos. Todos almejamos, de alguma forma, alcançá-la. Cada ser a idealiza de modo diferente dos demais. Para alguns a felicidade é ter uma família, para outros é estar sadio e sentir-se bem, ou ainda, é confundida, por alguns, com conforto material. Na realidade, sabemos que a felicidade verdadeira não é deste mundo, como nos ensinou Jesus.
O homem só pode agir sobre o mundo que o rodeia e sobre sua própria natureza, aplicando os poderes que em si possui, por meio dos órgãos das suas diversas faculdades. O material de que hão de ser feitas estas faculdades tem que ser perfeito: sentimentos bons e generosos, uma mente dotada e educada, uma natureza espiritual pura e profunda. Devemos abrir os caminhos limpos e puros através do labirinto da vida, sem jamais consentir em desvios do propósito traçado.
Avaliemos se nossos atos, nossas escolhas de agora, serão motivos de sofrimento ou de ventura mais adiante. Somos livres para semear o que bem nos aprouver, conscientes, no entanto, de que estaremos obrigatória e inafastavelmente vinculados à colheita de seus frutos. Saibamos ser livres dos vícios que corroem a raça humana, e utilizemos da Sabedoria para orientar-nos no caminho da vida; da Força para nos animar a sustentar em todas as dificuldades e a Beleza para adornar todas as nossas ações, nosso caráter e nosso Espírito.

Marcel Bataglia
Balneário Camboriú, SC (Brasil)

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quinta-feira, 12 de maio de 2016

“Romana Legio Omnia Vincit”


Essa expressão curiosa, título do presente artigo, um lema do exército romano criado pelo imperador Júlio César (110 a.C. a 44 a.C.), traduzida do latim, significa que “Legião Romana a tudo vence”, uma exaltação às vitórias seguidas da máquina de guerra que Roma montou e que lhe garantiu, em determinado momento histórico, a conquista de grande parte do globo terrestre e com isso influenciar toda a cultura ocidental. Hoje, está nos anais da história... 
O espírito desta frase nos remete àquelas pessoas que têm na vida um tapete vermelho, que tudo vencem e que sempre se dão bem. Ilustrados na literatura pelo Rei Midas, pelo Gastão da Disney, são antíteses do Jó bíblico, com um caminho florido e ajustado no qual tudo concorre para seu sucesso. Pessoas “Omnia Vincit”. 
Certamente, conhecemos muitas delas. Algumas pessoalmente, outras, apenas como celebridades. Com fartos atributos combinados e valorizados pela sociedade-beleza, riqueza, inteligência, fama, carisma, família estruturada-,potências que se somam ao seu esforço e dedicação, que, combinados com o que chamamos erroneamente de sorte, tem-se que em tudo que eles tocam vira ouro. 
Objeto de inveja e de admiração, esses vencedores na ótica da vida terrestre, pela visão da vida maior, carregam fardos, por vezes imperceptíveis, no orgulho e na vaidade que os atormentam, no medo do fracasso nunca experimentado, na solidão de não saber em quem confiar, nas ameaças do egoísmo que o isolam do mundo, na evidência que torna postiças suas relações. 
Seduzidos pelos gramados verdes dos vizinhos, esquecemos que essas pessoas, para as quais as coisas parecem fáceis, esforçam-se e lutam, em batalhas internas e externas, e apesar de parecer que elas tudo vencem, amargam também derrotas em campos muitas vezes desvalorizados. Imagine, estimado leitor, no exercício da indulgência, a pressão que sofrem esses vencedores... 
A doutrina espírita, pela lógica da reencarnação, vem trazer a essa questão uma outra percepção. É prova o papel de perdedor, mas também é a vitória no mundo. Nas diversas roupagens que experimentamos, crescemos na dor, mas evoluímos também pelas posições de mando e de destaque, de maneiras diferentes. Em tudo, a lógica divina aproveita para o crescimento do Espírito. O que às vezes ressoa como um canto de sereia figura como uma armadilha mortal, nos ensina bem a literatura espírita, por nos trazer uma visão ampliada. 
N’O Evangelho segundo o Espiritismo, o Espírito de Lacordaire, em bela mensagem sobre o bem e o mal sofrer, nos diz que:“(...) poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao Reino de Deus. (...) Tendes ouvido frequentemente que Ele não põe um fardo pesado em ombros frágeis. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem”. Mas temos dificuldade no mundo, e em seus valores, de identificar o que são fardos e qual o seu tamanho, e que nestes também cabe o “bem sofrer”! 
A lei é de amor, e o amor paira além dessas relações. Muitos desses iluminados, robustos em inteligência e posses, padecem da falta dessa competência essencial e encontram na cesta de oportunidades que a vida lhes oferta um caminho para desenvolver esse amor, às vezes negligenciado. Jesus dizia que venceu o mundo...Interessante refletir sobre que natureza de vitória seria essa! 
Tudo é passageiro, é experiência, é aprendizado. Mesmo que brademos para nós mesmos que tudo vencemos, sabemos que na verdade não é bem assim. Todos somos frágeis meninos nas lutas da vida, dependendo do pão nosso de cada dia, da saúde, da família e dos amigos. Somos ovelhas do rebanho divino e ele nos pastoreia, cada um a seu jeito, conforme sua necessidade Espiritual.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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domingo, 8 de maio de 2016

Predições do Evangelho


O título da presente abordagem é o mesmo utilizado por Allan Kardec no capítulo XVII de A Gênese, obra integrante da Codificação Espírita e publicada em 1868. A significativa expressão engloba estudos de Kardec sobre diferentes passagens anotadas pelos evangelistas e com a perspectiva de previsão, ou anúncio do que vai acontecer, predito, previsto até por conjectura, em recurso didático bastante utilizado por Jesus nos diálogos com seus discípulos. 
O capítulo em referência traz diversos subtítulos com essa finalidade de estudo e análise dos textos dos Evangelhos. No item 30, no texto do subtítulo Parábola dos Vinhateiros Homicidas, traz importante advertência às nossas distrações ou negligências com a evolução moral.  
Peço ao leitor ler novamente a parábola, que bem é uma predição do comportamento geral humano frente às lições de amor enviadas por Deus aos filhos, por meio de mensageiros diversos em todos os tempos, culminando com a presença viva de Jesus, que não foi compreendido e morto pela ignorância reinante. 
O notável texto de Kardec é de uma atualidade impressionante. Ele inicia assim no item citado (30): “O pai de família é Deus; a vinha que plantou é a lei que estabeleceu; os vinhateiros aos quais arrendou a sua vinha são os homens que devem ensinar e praticar a sua lei; os servidores que enviou para eles são os profetas que fizeram perecer; seu filho que enviou, enfim, é Jesus, que fizeram perecer do mesmo modo. (...)”. 
Depois prossegue no texto que desejamos destacar pensando nas desorientações generalizadas que encontramos na atualidade do planeta:

“(...) Que fizeram os homens das máximas de caridade, de amor e de tolerância de Jesus? Que fizeram das recomendações que fez a Seus apóstolos para que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão; da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as virtudes que Ele exemplificou?!   Em Seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome d`Aquele que disse: “Todos os homens são irmãos”. Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que Ele revelou, fizeram um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número de vítimas do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus falsos deuses; venderam-se as orações e as graças do Céu em nome d`Aquele que expulsou do Templo os vendedores e que disse a Seus discípulos: “Dai de graça o que de graça recebestes”. 
E conclui com sabedoria:

“Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós? Se visse os que se dizem Seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que Ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a Sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não teria o direito de dizer-lhes: “Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte das vossas preces aos ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu dito: Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no Reino dos Céus?”. Mas se aqui não está carnalmente, ele o está em Espírito, e, como o senhor da parábola, virá pedir contas aos seus vinhateiros do produto de sua vinha quando o tempo da colheita houver chegado.” 
Valemo-nos, diante de tanta clareza, todavia, do capítulo XV – Fora da Caridade não há salvação, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, onde estão os belíssimos textos d Parábola do Bom Samaritano, da Necessidade da caridade segundo São Paulo e a extraordinária “bandeira” do Espiritismo: Fora da Caridade não há salvação. 
É desse luminoso capítulo que extraímos do comentário de Kardec, no item 3: “Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, quer dizer, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho (...)”. É aqui que queríamos chegar. As desorientações em curso, com as perturbações sociais de variados graus de intensidade, com desdobramentos desafiadores, provém do egoísmo e do orgulho. 
E Kardec abrilhanta com seu raciocínio objetivo, no mesmo item: “(...) Em todos os seus ensinamentos, ele mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, disse ele, os pobres de espírito, quer dizer, os humildes (...)”. 
A humildade é a virtude que nos tem faltado ao coração; o egoísmo ainda nos avassala os sentimentos. Paulo, o Apóstolo, nos chama a atenção em sua conhecida Epístola sobre o sentimento contrário ao egoísmo em trecho também destacado por Kardec no mesmo capítulo: “(...) A caridade é paciente, é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre (...)”. 
Percebe-se com clareza que o momento aflitivo, de conturbação, com guerras, conflitos, prevalência dos interesses pessoais em detrimento do interesse coletivo, é fruto do egoísmo ainda imperante no comportamento humano. A parábola em referência é bem uma advertência para que prestemos atenção aos "chamados” de fraternidade, incessantemente enviados ao nosso sentimento individual e coletivo. 
A conclusão da parábola – que necessita ser entendida além das palavras – é verdadeiramente um predição: “(...) o senhor (...) arrendará a sua vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos em sua época.”, conforme anotou Mateus no capítulo XXI, v. de 33 a 41. 
Por isso, para aqueles que nos consideramos cristãos, o apelo é direto, como afirma o mesmo Paulo, igualmente no mesmo capítulo XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 10: “(...) Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade; (...) não somente ela vos evitará de fazer o mal, mas vos levará a fazer o bem: porque não basta uma virtude negativa, é preciso uma virtude ativa; para fazer o bem, é preciso sempre a ação da vontade; para não fazer o mal, frequentemente, a inércia e a negligência (...)”.
Ação da vontade! Afinal, conclui o apóstolo: “(...) todos aqueles que praticam a caridade são os discípulos de Jesus, qualquer seja o culto a que pertençam.”

Orson Peter Carrara