segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A generosidade diante do umbiguismo


Há uma doença que acomete gravemente algumas pessoas, sem que elas tenham a mínima consciência de estarem padecendo dela: o umbiguismo. É aquela personalidade que só fala de si, de seus problemas, de suas demandas, que está sempre orientada para seu próprio ego. Se entremeia a conversa com alguma pergunta sobre a saúde ou o bem-estar do outro, é por um resquício de cortesia superficial, que se esvai logo que o outro responde brevemente. A frase seguinte do umbiguista é de novo sobre si mesmo. 
É claro que todo ser humano guarda em maior ou menor grau uma dose de egoísmo que, como diria tão acuradamente Kardec, ao lado do orgulho, são as maiores chagas da humanidade. Mas refiro-me aqui àqueles extremos, que se fixaram no período do narcisismo infantil. É normal a criança pequena, por uma questão de sobrevivência e do processo de desenvolvimento, ter um momento de total fixação em si mesma. Não é normal o adulto, que já deveria ter atingido a maturidade psíquica, agir dessa maneira autocentrada, sem conseguir sentir sinceramente empatia para com as demandas do outro. 
Não é normal o adulto não se preocupar autenticamente com os de sua volta, movendo-se para atender às necessidades que estão ao seu alcance atender ou até que são de seu dever atender. 
Ora, o problema que quero analisar aqui é o encontro de um umbiguista com uma pessoa generosa, dessas que ao contrário da descrita acima, gosta de ajudar, se preocupa genuinamente com o bem-estar alheio e se entrega afetivamente aos familiares, amigos, a colegas de trabalho, e em alguns casos de maior nobreza, a qualquer ser humano que se lhe aproxime. 
O que muitas vezes se dá então é que o umbiguista pode se tornar um vampirizador, um explorador, um abusador da generosidade do outro. Já aqui uma vez neste blog, comentei a história da árvore generosa, cujo menino foi retirando todas as partes da árvore, que sempre lhe cedia tudo o que ele pedia. Então, defendi a atitude da árvore, apesar do umbiguismo do menino, porque a generosidade não pode trair a si mesma, por causa do egoísmo do outro. 
E eis aí o grande conflito que quero comentar. Como não se tornar menos generoso, mais egoísta, mais defensivo, mais calculista, diante de tanto egoísmo empedrado que se vê hoje em dia? Sobretudo num momento histórico, em que se estimula o centrar-se sobre si mesmo, o pensar primeiro em si e sob o discurso do autoamor (sem dúvida necessário, pois até Jesus disse: ama ao próximo, como a ti mesmo), escondem-se muitas vezes uma apologia do umbiguismo disfarçado e um desprezo e um horror por palavras antigas e nobres como sacrifício, renúncia, entrega… 
Como não perder a generosidade, como não trair a empatia, diante de pessoas que só pedem, só querem, só demandam, só falam de si e pensam que o mundo gira em torno delas? Que são incapazes de se preocupar de fato com o outro e, muito menos, de serem pró-ativas em cuidar de quem quer que seja? Rápidas no exigir, cobrar, esmolar, pedir e lentíssimas, desinteressadas, e mesmo ausentes, quando se trata de prestar um favor, ajudar ou mesmo praticar atos de civilidade social, como um telefonema, um cumprimento, uma visita, um convite, um como vai? 
Chega um momento em que por mais que o generoso persista em sua generosidade, terá de se cobrir de uma camada de autoproteção, para que sua energia e seus recursos (sejam afetivos, humanos ou mesmo financeiros) não sejam totalmente drenados pelo umbiguista. Mas, diante de uma ou outra recusa sua em atender às demandas de quem sempre está pedindo algo, ou quando por qualquer circunstância, o umbiguista não está num momento de necessidade, a pessoa generosa verá amargamente o desaparecimento do outro. Ausência prolongada, desinteresse, ou um pouco de cortesia forçada apenas. Então, essa pessoa, que se doa por hábito, certamente sentirá o quanto o umbiguista usa e abusa e não consegue ter um afeto mais profundo por ninguém. 
Esse é o cenário aparente da situação. Mas se quem doa persiste, com um certo cuidado para não se deixar esfolar pelo umbiguista; se quem é generoso não se mover de sua generosidade e se quem ama não deixar de amar incondicionalmente, apesar de receber um amor muito pobre daquele pobre egoísta, então, um dia, a ficha deste último cai. Um dia ele se toca. Um dia percebe o quanto foi infantil e centrado apenas em si. Mas talvez, não haverá tempo mais de ser generoso com aquele que foi generoso com ele. Será com outros. Assim é a dinâmica da vida. Porque o que de principal a pessoa generosa deu para o umbiguista terá sido justamente o aprendizado no exemplo do que é ser bom, altruísta, solidário e… generoso. 
E o generoso, o que terá aprendido? A perseverar na bondade, a desapegar-se totalmente dos resultados e a manter-se sereno diante dos umbiguistas da vida…

Dora Incontri

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Piedade em casa


Não aguardes as ocorrências da dor para desabotoares a flor da piedade no coração. 
Sê afável com os teus, sê gentil em casa, sê generoso onde estiveres. 
No lar, encontrarás múltiplas ocasiões, cada dia, para o cultivo da celeste virtude. 
Tolera, com calma silenciosa, a cólera daqueles que vivem sob o teto que te agasalha. 
Não pronuncies frases de acusação contra o parente que se ausentou por algumas horas. 
Não te irrites contra o irmão enganado pela vaidade ou pelo orgulho que se transviou nos vastos despenhadeiros da ilusão. 
Na tarefa de esposo, desculpa a fraqueza ou a exasperação da companheira, nos dias cinzentos da incompreensão; e, no ministério da esposa, aprende a perdoar as faltas do companheiro e a esquecê-las, a fim de que ele se fortaleça no crescimento do bem. 
Se és pai ou mãe, compadece-te de teus filhos, quando estejam dominados pela indisciplina ou pela cegueira; e, se és filho ou filha, ajuda aos pais, quando sofram nos excessos de rigorismo ou na intemperança mental. 
Compreende o irmão que errou e ajuda-o para que não se faça pior, e capacita-te de que toda revolta nasce da ignorância para que tuas horas no lar e no mundo sejam forças de fraternidade e de auxilio. 
Quando estiveres à beira da impaciência ou da ira, perdoa setenta vezes sete vezes e adota o silêncio por gênio guardião de tua própria paz. 
Compadece-te sempre. 
Se tudo é desespero e conturbação, onde te encontras, compadece-te ainda, ampara e espera, sem reclamar. 
Guarda a piedade, entre as bênçãos do trabalho. 
Habituemo-nos a ignorar todo o mal, fazendo todo o bem ao nosso alcance. 
A piedade do Senhor, nas grandes crises da vida, transformou-se em perdão com bondade e em ressurreição com serviço incessante pelo soerguimento do mundo inteiro.

Elucidações de Emmanuel 
Do livro Alvorada do Reino, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Imagem do livro

domingo, 20 de dezembro de 2015

Natal de amor


Após a Introdução de O Livro dos Espíritos, o leitor atento encontra matéria com o título Prolegômenos que significa exposição preliminar dos princípios gerais de qualquer ciência ou arte, introdução expositiva de algum tratado científico. Ela vem assinada por diversos sábios da Humanidade e entre tais assinaturas destaca-se a de Vicente de Paulo (1576-1660), um sacerdote francês que em 1633 fundou a Congregação das Irmãs de Caridade com o objetivo de atender os pobres e os enfermos. 
Quando morreu Vicente, já havia 40 casas das Irmãs de Caridade, que depois se espalharam pelo mundo e chegaram ao Brasil em 1849. Hoje, inspiradas por tal obra, distribuem-se pelo mundo através de hospitais, ambulatórios médicos, dentários, enfermagem, sendo mais conhecido por aqui através das Associações Vicentinas ou Casas de São Vicente de Paulo. 
Por que falamos de Vicente de Paulo? Justamente para falar do amor... O que é o amor? Seria a afeição entre homem e mulher? ou o amor de mãe? Todas são expressões do amor, mas gostaríamos de comentar o amor vivido e demonstrado por Vicente, assim como também por Jesus, Francisco de Assis e tantos outros importantes nomes da história humana, inclusive na atualidade como Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá ou Chico Xavier... 
A Doutrina de Jesus, por exemplo, é a mais alta expressão do amor. Ele já ensinava que o maior mandamento é o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo... A própria Parábola do bom samaritano já indica isso. O Livro dos Espíritos em sua questão 888 traz resposta de Vicente e também em O Evangelho Segundo o Espiritismo a presença de Vicente é marcante na exaltação do amor ao próximo, através da caridade. 
Nossa ausência de autoridade para falar do assunto, face à fragilidade na vivência espontânea do amor ao próximo não nos tira, entretanto, o entusiasmo de falar sobre o amor. Toca-nos o coração ver nossos irmãos carentes entregues ao relento, passando imensas dificuldades na própria sobrevivência, sofrendo a humilhação do desprezo social. Quantos irmãos nossos não vemos pelas ruas, no trânsito, carregando caixas de papelão ou coletando latinhas de refrigerantes, crianças em semáforos, velhos abandonados, enfermos entregues à própria sorte em hospitais... 
A mensagem de Vicente de Paulo, entre tantos vultos inspirados pela mensagem do Evangelho, convida-nos a essa face real do amor. Deixemo-nos impregnar por tais exemplos e verdadeiros convites para o bem. É claro que ainda não somos capazes de agir como eles, nem ter a espontaneidade com que viveram, mas pelo menos pensemos nos exemplos que deram diante de nossos irmãos em dificuldade que encontremos pelo caminho, mesmo que for apenas para oferecer-lhes um sorriso e um minuto de atenção... 
Quando chegamos ao Natal, que o amor trazido por Jesus nos inspire as ações nesse sentido para efetivamente vivermos o amor espontaneamente.

Orson Peter Carrara

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Tão perto, tão longe


O poeta falava ao jornalista sobre seu assunto mais íntimo: a poesia. Tornara-se a pouco imortal, quase ao mesmo tempo em que a matéria frágil lhe anunciara seus oitenta anos de perfeita destrutibilidade. O jornalista matreiro e experiente esquenta a conversa, recordando: você não acredita em nada além da vida, não é? Sorrindo um riso quase natural, espontâneo, o poeta recém-empossado na Academia Brasileira de Letras reflete brevemente e confirma: não, não acredito; até gostaria de crer, dizem que é melhor acreditar do que não acreditar, mas eu não consigo mesmo. Aqui se aplica bem a frase de Vinícius: “que seja imortal enquanto dure”. 
Alguns minutos antes, o poeta revelara o seu processo de composição poética e deixara no ar uma interrogação a respeito das ideias, dos temas e mesmo das motivações para compor suas consagradas obras. Tudo vinha simplesmente, sem planejamento prévio. Eu não planejei a minha vida, nada, tudo veio naturalmente, diz. O jornalista contrapõe, então: mas a inspiração depende muito da transpiração, não é? Sim, afirma o poeta, mas eu não faço muito esforço, não. Claro, cabe a mim dar o tom, o estilo, apurar, trabalhar o texto. As coisas chegam e acho que esse é o caso, porque a pessoa não é poeta, escritor etc. se não nasceu com o dom. Não adianta querer ser uma coisa se o dom não está presente, se ele não nasceu com aquilo. O poeta fala de algo que para ele está no DNA, com a certeza de todas as certezas, porque é isso que o alimenta, é nisso que acredita. 
O ser humano é um ser limite. Não digo limitado, apenas, mas digo que vive na fronteira da vida e da morte, do espírito e da matéria e de forma geral não tem a percepção clara disso. Está sempre esbarrando num e noutro lado da fronteira, muito próximo do crer e do não crer, quase a descobrir o que um e outro lado apresentam, sem, contudo, ultrapassar a linha tênue que separa a matéria do espírito. Ele não é nem completamente um corpo, nem completamente um espírito. Isso vale tanto para o homem material, feito o poeta a crer no fim, na extinção total da vida ou término do ciclo, como vale também para o homem espiritual, que crê na continuidade, no depois, mas está sempre esbarrando nas dúvidas da vida material. 
Não me agrada a ideia da existência de alguém que não crê; penso que o ser humano é aquele que crê sempre em alguma coisa, e, por crer, age, sonha, pensa, descortina. O poeta que revela sua incapacidade de crer em algo após a morte, na verdade, crê na inutilidade da vida, na sua finitude total. Crê na imortalidade apenas da duração, daquilo que é válido viver, mas sem a perspectiva da repetição, do renascimento ou da permanência para além do limite da vida material. O futuro nele está sempre pressionado pela morte e só é válido pensar neste futuro até o horizonte próximo, após o qual não há nada mais. 
Algo não muito diferente se passa com o homem espiritualista que acredita na continuidade e no retorno, mas vive pressionado pelos conflitos do viver no corpo e anseia sempre colocar os pés no outro lado da fronteira, antes mesmo de completar a experiência do próprio corpo. Sua dúvida maior está em como viver na matéria sem perder a essência do espírito, o que o coloca na condição de não viver completamente, nem a perspectiva do espírito nem a do corpo. 
Nessa fronteira-limite os dois se esbarram sem perceber, e esbarram permanentemente, porque o homem de Herculano não é o homem-corpo, mas o homem-espírito, apesar de seus quereres e de suas negações. A inspiração do poeta é uma realidade, mas parte considerável de sua origem, de sua fonte – esta relação comunicativa misteriosa, a envolver os de cá e os de lá –, para o poeta-corpo, só alcança quem nasceu com o dom de ser poeta, escritor, dramaturgo, mas, na verdade, alcança a todos, em todas as áreas, onde a criação esteja sendo exercida por qualquer forma de arte, ou onde a vida humana consome-se no existente. 
Dois humanos vivem na inspiração, da inspiração, com a inspiração. Não penso apenas em dois humanos distantes, um aqui, outro além; penso, também, em dois humanos visíveis, táteis, que estão ou não lado a lado, mas que habitam o mundo do pensamento e não apenas o do DNA. Porque o seu amigo do lado, que o abraça e dá bom-dia é fonte de inspiração; porque o seu olhar capta as imagens da tristeza, sem perceber que forças o movem para que se dirija para o lado onde a tristeza se derrama. A sua inspiração o leva a criar, e a criação o faz transformar a tristeza em possibilidade de alegria, sonhos, desejos, esperanças. Você vive ali, naquela fronteira-limite, tão perto e tão longe; perto demais para perceber; longe demais para se apropriar. A matéria e o espírito escorregam entre nossos dedos, no líquido fluído das ideias: vivemos no corpo buscando o imaterial, ou vivemos no imaterial desejando o corpo. O conflito é a nossa inconstância diária. Não sabemos ainda, não encontramos a segurança do corpo que abraça o espírito, nem do espírito que abraça o corpo. A fronteira-limite é ainda o nosso mistério. 

Wilson Garcia
Recife, PE (Brasil) 

Visite, quando puder, o blog: www.expedienteonline.com.br 

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sábado, 12 de dezembro de 2015

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 4

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 3

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 2

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 1

Fazemos o ambiente


Allan Kardec usou o título Atmosfera espiritual, em sua Revista Espírita de maio de 1867, para abordar a questão da influência dos maus fluidos - produzidos pelos sentimentos contrários à caridade -, que tornam os ambientes desagradáveis e muitas vezes intoleráveis. 
Não é outra a causa dos constrangimentos que se estabelecem nos relacionamentos, especialmente em grupos onde o ambiente "parece pesar" e surgem as sensações de desconforto. E há que se considerar que a permanências desses "ambientes pesados", característicos de ondas mentais conflitantes, pode acarretar graves prejuízos morais e mesmo desuniões e danos à saúde, já que desencadeadores de obsessões. 
A abordagem do Codificador é extremamente lúcida e coerente. Selecionamos alguns trechos ao leitor, indicando, todavia, a fonte original para leitura e estudo na íntegra, conforme citado no primeiro parágrafo.

"(...) sabemos que, numa reunião, além dos assistentes corporais, há sempre auditores invisíveis; que sendo a impermeabilidade uma propriedade do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado num dado espaço. (...) Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo. Ora, desde que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que abundam em determinado lugar, o ar ambiente se ache carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer influências sobre a saúde física, assim como sobre a saúde moral? 
Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, é de admirar-se da que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham no ar. 
Assim se pode explicar certos efeitos coletivos, produzidos sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar, que se experimenta em certos meios, e que não tem nenhuma causa aparente conhecida, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de toda uma cidade, mesmo de todo um povo. 
Em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre a influência desta atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida e que, ao mesmo tempo que a teoria e a experiência, nós achamos nas relações do mundo espiritual com o mundo material, um novo princípio de higiene, que, sem dúvida, um dia a ciência fará entrar em linha de conta. (...)"

Ora, o trecho transcrito é por demais claro. Ele remete a outras tantas considerações, impossíveis de serem trazidas ao simples espaço de um artigo. Mas poderíamos ponderar sobre como subtrair-se a estas influências (e Kardec aborda isso na continuidade do texto). 
O fato concreto é que somos sempre responsáveis pelo tipo de influência que atraímos ou alterações que produzimos nos fluidos que nos circundam por força dos sentimentos e pensamentos que cultivamos. 
Numa assembléia, pequena ou numerosa, o padrão dominante dos pensamentos é fator decisivo para determinar o tipo de sensação que vigorará "no ar" daquele ambiente. Alterá-lo também é tarefa dos mesmos pensamentos e sentimentos. Fruto da perseverança no bem e no reconhecimento dos valores que conduzem ao estabelecimento da harmonia na convivência. 
Uma vez mais surge a necessidade da melhora moral como único recurso de vivermos melhor. E há que se pensar que isso vale individualmente, no ambiente social ou familiar ou mesmo numa nação e até num planeta. Dá o que pensar diante da realidade nossos dias, não é mesmo?

Orson Peter Carrara 
orsonpeter92@gmail.com
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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A determinação em recomeçar


“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”. (Lucas, 15:18.) 

Quando o filho pródigo, descrito na parábola por Jesus, deliberou retornar aos braços paternos, após ter recebido sua herança e a desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para nossa reflexão um dos mais significativos símbolos de arrependimento, coragem, determinação e maturidade. 
Reconhecendo seus equívocos não vacilou em recomeçar, aceitando a condição de empregado da propriedade do pai, pois tinha consciência de que não merecia ser tratado mais como um filho, embora não esperasse a reação fraterna do genitor, que ao avistá-lo, o acolheu num abraço carinhoso e meigo. 
De nossa parte, inúmeras vezes também deliberamos seguir caminhos contrários àqueles que nos asseguram avanço moral, prosperidade intelectual e crescimento espiritual, criando a urgente necessidade de decidir por novos rumos e outras direções, sustentadas pela esteira dos valores da dignidade, da honra e da honestidade. 
Se preciso, ergamo-nos da inércia, da apatia e do desânimo e, fortalecidos pela fé, deixemos a rede macia do comodismo em esperar que a vida nos dê tudo de forma gratuita, e busquemos conquistar virtudes, enquanto empreendemos esforços para a extinção dos defeitos que ainda nos mantêm na condição de inferioridade e sofrimento. 
Se a tristeza insistir em povoar os nossos pensamentos e derramar insatisfações em nossa vida, levantemos a confiança em Deus e tenhamos a certeza inconteste de que o Pai Celestial, amoroso e bom, justo e perfeito, em circunstância alguma deixará de atender as nossas necessidades. 
Se a moléstia insidiosa continuar a nos manter no leito de dor, embora todos os esforços de médicos, hospitais e remédios, levantemos a esperança nos dias do porvir, nos recursos que a tecnologia vem desenvolvendo, pois o amanhã poderá surgir com novas cores e propostas. 
Se familiares queridos deixaram o nosso convívio pelos mecanismos da desencarnação, renascendo para a vida espiritual, abrindo enorme lacuna em nossos corações, que se repletam de saudades, levantemos a certeza na imortalidade e prossigamos convictos de que um dia, no futuro, em outras dimensões vibratórias, novamente estaremos com eles. 
Se o abandono e a solidão estiverem nos acompanhando com frequência, escurecendo os nossos momentos e amargurando a nossa vida, levantemos a vontade de refletir e meditar, pois, às vezes, diante do nosso comportamento e atitudes, quem sabe estaremos impedindo a aproximação das pessoas ao nosso redor? 
Se os recursos financeiros e materiais se escassearam, criando dificuldades e embaraços para que possamos honrar nossos compromissos, levantemos a força e a perseverança e saiamos a trabalhar ainda mais, na confiança de que o labor nos conduzirá a novas perspectivas. 
Se os filhos que chegaram ao nosso lar – e para os quais nos empenhamos ao máximo, visando educá-los, mostrando-lhes os caminhos da decência e da dignidade – resolveram não atender aos nossos insistentes apelos de moralidade, levantemos a paciência e esperemos pelas sábias lições da vida, que farão, certamente, aquilo que não conseguimos agora fazer. 
O filho pródigo, depois de perceber o equívoco cometido, diante do sofrimento decorrente da escassez de recursos financeiros, por ter gasto a herança recebida de forma inútil, inconsequente e irresponsável, caindo no arrependimento, teve forças para levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar paterno, nem que fosse na condição de um empregado do pai, para recomeçar a vida. 
Em oportunidades inúmeras, também nós, ao percebermos os erros e os enganos deliberados, temos absoluta necessidade de levantar a nossa vida e buscar o apoio de Deus para recomeçar, e, por certo, Ele também abrirá seus braços para nos acolher num abraço...

Reflitamos...

Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil) 

Imagem ilustrativa