segunda-feira, 16 de julho de 2012

A seção de cartas de “O Consolador”


Habitualmente, leio a seção de cartas de nosso periódico eletrônico “O Consolador”.
Interessantíssimas as questões ali trazidas, mas o mais curioso é que essa breve amostra indicou-me que os que rompem o inatismo e enviam um e-mail para o editor são, em sua maioria, não espíritas, que navegando na internet à busca de sanar suas dúvidas e seus problemas, muitos deles espirituais, aportam em nossa revista.
Uma interpolação estatística poderia nos levar a crer também que muitos interessados no Espiritismo, por curiosidade, problemas espirituais, ou ainda, chocados com a perda de um ente querido, buscam o conteúdo espírita disponível na rede mundial de computadores, entre eles o periódico consolador já citado.
Mas o que há de peculiar nisso? As pesquisas recentes do Censo de 2000 indicam que, no Brasil, apenas 1,3% dos habitantes se declaram espíritas, ratificado por dados da Fundação Getúlio Vargas de 2009, que indicam 1,65%, grandezas que não chegariam a 4 milhões de pessoas em termos absolutos. De uma fila de 100 pessoas, no Brasil, não teríamos duas espíritas, na chamada “maior nação espírita do planeta”.
Ainda que se reputem essas pesquisas como plenamente confiáveis, tais grandezas conflitam com outros números, tais como pesquisa da agência internacional Reuters, que indica que 12% da população acreditam em reencarnação; bilheterias de “Nosso Lar” e “Chico Xavier” na casa de 3,5 milhões de expectadores, em um país que somente 8% dos municípios (2009) têm sala de cinema; dados da revista Isto É de 2009 indicam que 45% dos livros religiosos vendidos nas grandes livrarias são espíritas; somente Chico Xavier publicou 451 obras; a existência de centenas de sites espíritas e, por fim, temos mais de 10 mil centros espíritas cadastrados na FEB em todo Brasil, informações todas essas colhidas na internet de fontes razoavelmente confiáveis.
Esses dados, analisados em conjunto, ainda que careçam as conclusões aqui apresentadas de estudos mais apurados, reforçam a tese de que uma grande quantidade de espíritas não declarados consome a nossa produção literária, cinematográfica e de internet. Não existe livraria de Shopping a que eu vá que não tenha uma seção de livros espíritas, novelas de grande audiência abordam nossas temáticas, municípios a que compareço a trabalho sempre têm casa espírita, jornaleiros pululam de revistas especializadas sobre Espiritismo, mas o percentual de menos de 2% de declarados se apresenta cientificamente ratificado.
Penso que duas questões se escondem na análise desse fenômeno. Primeiro, a matriz sincrética de nosso povo nos permite, sem dó de consciência, assistir a palestras e tomar passes na quinta e comparecer à missa no domingo, com direito a enviar os filhos à catequese para a primeira comunhão, dizendo na roda de amigos que sua religião é o Catolicismo, mas acha muito bonito o Espiritismo, que o ajudou muito na perda de sua vó.
Da mesma forma, devido ao aspecto pouco convencional do Espiritismo, campeia uma visão entre alguns de que o Espiritismo é uma crença, já que não tem rituais e sacerdotes, e que isso lhe permitiria conviver harmoniosamente na prática religiosa com outras denominações, atendendo a convenções sociais na prática religiosa.
Essas duas questões basilares, em minha opinião, somadas ainda a um resquício de medo e preconceito com as religiões que envolvem a mediunidade, reforçam a teoria de que os que consomem a produção espírita e creem em seus postulados, mesmo que parcialmente, são geometricamente superiores aos que se declaram espíritas formalmente.
Após iniciarmos a reflexão na seção de cartas de “O Consolador”, aportamos nesse ponto e nos perguntamos o que essa conclusão traz de implicações na nossa vivência do movimento espírita. Simples! As nossas peças de comunicação na imprensa espírita, no mural da casa espírita etc. devem ter em mente essa realidade, a existência da figura do simpatizante, que ao contrário do católico declarado e não praticante presente na cultura pátria, o simpatizante é um praticante não declarado. Ele lê, vai a palestras, dissemina a doutrina, como fonte de conhecimentos filosóficos, mas não se vê como membro daquele segmento.
Trazer esse simpatizante para dentro do Espiritismo "declarado” é complexo, dados os componentes culturais e familiares envolvidos na prática religiosa em nosso país, além de tudo que já foi exposto. Penso que oferecer material de qualidade, em uma linguagem simples (como faz “O Consolador”), deve ser uma preocupação do divulgador espírita, dado o caráter esclarecedor e consolador de nossa doutrina.
Continuarão esses simpatizantes lendo livros espíritas (ainda que alguns padeçam de incoerências doutrinárias), vivenciando fenômenos e buscando consolo nos ombros de amigos espíritas e em nossas palestras. Afinal, nós encarnados e desencarnados não escrevemos apenas para os espíritas assíduos e, sim, para aqueles que têm necessidade de conhecimento esclarecedor. Precisamos enxergá-los em suas demandas...
O assunto é palpitante e demanda dados mais precisos e estudos mais aprofundados. Mas fica a impressão de que a força da doutrina suplanta os dados estatísticos, pelo enraizamento de seus conceitos basilares na produção literária e cinematográfica nacional e internacional, nas discussões científicas de telejornais e nos programas de auditório, entre outros espaços, como fornecedora de respostas límpidas e plausíveis aos questionamentos de sempre da humanidade, ecoando em nossa mente as palavras de Léon Denis, de que “o Espiritismo não é a religião do futuro e sim o futuro das religiões”.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)


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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sacrifícios de sangue agradam apenas aos espíritos atrasados


Praticando o mal, traçamos o nosso destino provisório de sofrimento, pois vamos colhendo o que semearmos como nos ensinam as escrituras sagradas de todas as religiões. E, assim, vamos caminhando, até que consigamos a difícil passagem pela porta estreita segundo o Mestre dos mestres, para quem muitos querem, mas não conseguem passar por ela, e ao que eu acrescento que, por enquanto, muitos nem sequer querem passar por essa porta. Mas não faltará o momento de eles o desejarem e por ela conseguirem passar, como aconteceu com o filho pródigo da parábola, que, só após colher os amargos e disciplinares frutos da má semeadura que fez, despertou para a sua a libertação.
Deus, ao criar o homem, sabia de nossos reveses. Mas sabia também que o tempo, que é seu e sem fim, nos seria dado suficientemente para que nós, espíritos imortais, pudéssemos usá-lo pelas eternidades afora, até que conseguíssemos, um dia, a nossa difícil libertação. Realmente, Deus jamais criaria um filho seu para um sofrimento irremediável e sem fim, já que Ele só cria com sabedoria e amor infinitos. Portanto, jamais o Nazareno quis dizer que quem não passasse pela porta estreita, não mais passaria por ela.
O nosso sofrimento não significa castigo e menos ainda coisa agradável a Deus. Essa idéia dos teólogos do passado admite, mesmo que inconscientemente, que Deus é vingativo e até sádico. Mas na verdade jamais Deus se deleitaria com o sofrimento de uma pessoa ou de um animal. O apóstolo Paulo ensina que o mesmo fogo (dor) que queima uma obra, provocando dano em alguém, salva a ele como que através do fogo. (1 Coríntios 3:15). E o fogo bíblico é diferente, esotérico, figurado e purificador do espírito, o que nos traz à memória o Purgatório da Igreja, elogiado por Kardec. O sofrimento, pois, nada mais é do que a colheita da má semeadura. Ele serve apenas de disciplina para a correção do erro, e não é, eu repito, nada agradável a Deus, como aquela teologia antiga ensinava, por confundir sofrimento com virtude, e prazer e alegria com pecado.
De fato, os teólogos do passado, inclusive alguns que escreveram textos bíblicos, por influência da mitologia, dos sacrifícios de religiões pagãs feitos aos deuses ou demônios (espíritos humanos) atrasados, que eles confundiam com o Espírito do próprio Deus, e, principalmente, por causa do sacrifício de Jesus na cruz, entenderam e ensinaram que Deus se compraz com rituais de sangue derramado, o que eu tenho denominado de “teologia do sangue”. Esse foi um dos grandes erros dos teólogos judeus e cristãos antigos, que ainda é aceito por muitos religiosos, e que foi veementemente condenado por Jesus: “Basta de sacrifícios, eu quero misericórdia!”.
Se Jesus, cuja vontade é a de Deus, detesta sacrifícios e quer misericórdia, como, pois, Deus poderia nos dar por destino irremediável o nosso sacrifício infernal da “Divina Comédia”, de Dante, anulando, por completo, a sua tão decantada misericórdia infinita? Não nos esqueçamos de que Jesus morreu na cruz, justamente em consequência de Ele ter vindo trazer para nós regras de como nos libertarmos, o quanto antes, do sofrimento e da dor. E são essas regras, ou seja, o Evangelho, o que nos salva, e não os sacrifícios agradáveis apenas aos espíritos atrasados!

Obs.: Esta coluna, de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”.
Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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