terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Coerência


“Cuida para que teus atos e palavras expressem a mesma linguagem.” – François C. Liran

Jesus, nosso “modelo e guia mais perfeito”, Mestre por excelência, legou-nos as mais altas expressões de coerência. Nunca houve defasagem entre suas palavras e atos. Antes d’Ele, temos também Sócrates, evidentemente com menos brilho, mas na mesma linha comportamental.
Em várias oportunidades, o meigo Rabi desaconselhou a dubiedade, a falsidade… Estão aí registradas, indelevelmente, pelos Evangelistas a Parábola da Figueira Estéril e a significativa expressão “túmulos caiados”.
O espírita-cristão não se pode deixar surpreender em contradição entre o que fala e o que faz.
O espiritismo, revivendo as fórmulas eternas do Cristianismo, não deixa margem a dúvidas quanto à coerência que deve existir entre a mensagem verbal e o procedimento na prática de seus seguidores. Nossos atos deverão ser o adubo enriquecedor de nossas palavras, produzindo assim, os frutos da verdade, da coerência.
Jesus falava com autoridade e tanto suas palavras quanto os seus atos traduzem uma coerência inquestionável. Assim, do mesmo modo deve agir toda criatura que o elegeu como Mestre.
A fidelidade doutrinária é, antes de tudo, o compromisso maior do espiritista sincero. O contrário seria a revivescência do farisaísmo de tão triste história.
Resta-nos indagar à nossa consciência se, na verdade, estamos atendendo o postulado Kardequiano de “dia-a-dia combater as inclinações más e cuidando da transformação moral”, ou se, a exemplo dos fariseus, estamos apenas mostrando um leve verniz, que esconde sob a sua fina camada “podridão por dentro”.
Não sejamos como a figueira estéril que, embora repleta de folhas, não possuía frutos.
Possa o Mestre Maior contar com a nossa operosidade no Bem, expressada, coerentemente, em atos e palavras na mesma linguagem.

Rogério Coelho

Jornal “O Espírita Fluminense”
Instituto Espírita Bezerra de Menezes – IEBM – Niterói – RJ

Imagemi ilustrativa

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A metáfora da laje


A obra mediúnica de Chico Xavier trabalha incansavelmente o pensamento de que o espírita é alguém que assumiu, previamente a essa experiência corpórea, compromissos de tarefa no bem, por via da seara espírita.
André Luiz se reporta a vastas e complexas escolas domiciliadas nas esferas espirituais mais próximas do planeta destinadas a preparação de colaboradores para as tarefas espíritas. Comenta que longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores da Espiritualidade Superior, para intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia e de altruísmo.[i]

Emmanuel, na mesma linha, exorta-nos:

Se te encontras, quanto nós, entre aqueles que tanto recebem da Nova Revelação, perguntemos a nós mesmos o que lhe damos em serviço e apoio, cooperação e amor, porque sendo o Espiritismo crédito e prestigio de Cristo entregues às nossas consciências endividadas, é natural que a conta e o rendimento que se relacionem com ele seja responsabilidade em nossas mãos.[ii]

Recentemente, tem-se ouvido de simpatizantes da Doutrina espírita que tal pensamento é por demais exclusivista, retratando uma espécie de ufanismo espírita, pois o que importa é fazer o bem, independentemente se no ambiente espírita ou em qualquer outro espaço vital.
Indiscutivelmente, ser bom, útil, justo e generoso é uma proposta transcendental de vida, e tem seus méritos próprios; assim, jamais deve ser limitada a este ou aquele setor específico. No entanto, o que os benfeitores espirituais têm mostrado é que um serviço anteriormente aceito faz parte de um programa extenso e complexo do qual não fazemos a mínima ideia. A questão que importa no caso ora examinado, portanto, não é a ação no bem em si mesma, mas a especificidade que lhe caracteriza.

Para ilustrar, consideremos a seguinte metáfora. Armando está construindo, na cidade de Astolfo Dutra uma nova casa e pede a Arthur, amigo querido, colaboração no enchimento da laje. Combinam para a manhã do domingo seguinte.
Na data aprazada, Arthur levanta-se cedo e parte em direção à futura morada do amigo, conforme combinado. Todavia, em rua anterior, observa que um outro amigo, o Luciano, está igualmente envolvido em morada nova e prepara para também preencher a laje da residência. Atendendo ao convite de Luciano, Arthur fica por lá mesmo, auxiliando alegremente o amigo. Diante do acontecido Armando fica impossibilitado de seguir sozinho na tarefa programada, transferindo-a para outro dia.

A questão que se coloca é esta: Arthur ajudou um amigo, fez o bem, mas faltou com um compromisso previamente assumido, obrigando a uma revisão das tarefas, com os inconvenientes ligados ao fato.
Concluindo: viver é cumprir uma missão, preservando a fidelidade ao núcleo mais íntimo da nossa personalidade, e, consequentemente, aos avalistas de nossa reencarnação que, da dimensão espiritual, acreditaram em nós e investem incansavelmente em nossas realizações.

[i] Os Mensageiros, cap. 3.
[ii] Opinião espírita, cap. 6.

Ricardo Baesso de Oliveira

Imagem ilustrativa