terça-feira, 29 de abril de 2014

Na distinção entre Alma e Espírito o discurso teológico está sem crédito


Alma e espírito são coisas diferentes? 
Os teólogos do cristianismo tradicional não gostam desse assunto.
“Ruah” (em hebraico) e “pneuma” (em grego koiné, popular) significam sopro ou espírito. E “nefesh” (em hebraico) e “psiché” (em grego) significam alma. Sopro tem também a ideia de espírito ou alma, porque o espírito é que dá a vida, o que lembra o Gênesis 2: 7: Deus criou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas um sopro de vida, transformando-o num ser vivente. E lembra também Jesus (João 6: 63): A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá a vida.
Para os teólogos do cristianismo tradicional, haveria uma diferença entre “ruah” e pneuma: espíritos, e “nefesh” e “psiché”: almas. Mas eles não o explicam. É que eles têm medo de se envolverem com o espiritismo, pois o estudo dos espíritos leva inevitavelmente a ele, principalmente depois da esclarecedora Codificação Espírita de Kardec.
O latim registra “spiritus” e “ânima” tanto para o espírito como para a alma. “Anima” vem do verbo latino “animare” (animar). E os dicionários de outras línguas trazem também espírito e alma como sinônimos, inclusive em sânscrito: “atma”. E elas têm também a ideia de vapor e sopro, símbolos do espírito que deixa o corpo que morre. E “psiché” é também borboleta, que voa de flor em flor, simbolizando o espírito, de corpo em corpo, nas suas encarnações e desencarnações.
Em parte, os teólogos acertaram. Segundo eles, o espírito é a Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, que, pela Bíblia, não pelo dogma trinitário, é uma espécie de coletivo de todos os espíritos humanos. Diz Paulo que nosso corpo é santuário dum Espírito Santo. (1 Coríntios 6:19). E o espírito Emmanuel, que tanta luz trouxe para uma melhor compreensão dos evangelhos, através do famoso médium Chico Xavier, ensina que o Espírito Santo é uma plêiade de espíritos iluminados, como os da Codificação Espírita de Kardec. E como todos nós, um dia, vamos ser também espíritos iluminados, angélicos, de algum modo, espiritamente falando, em germe, ou em forma de semente, ou em estado de potencialidade, já fazemos também parte do Espírito Santo.
E os demônios (“daimones”), que, pela Bíblia, são também todos os espíritos humanos bons, ou mais ou menos ou maus, por consequência, são igualmente o Espírito Santo.
Como vimos, para os teólogos cristãos tradicionais, espírito e alma são meio confusos. Ou seria o medo de dizer a verdade?  Mas o conceito geral de espírito e alma, inclusive dos dicionários de outras línguas, espírito e alma são a mesma coisa.
E o espiritismo, a religião que mais estuda espíritos, ensina o que recebeu e recebe dos próprios espíritos: A alma é o espírito encarnado, e o espírito é a alma desencarnada, ou seja, a mesma coisa.
O que os diferencia, pois, são apenas seus momentos diferentes de quando encarnados e de quando desencarnados! 

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico  Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br

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sábado, 19 de abril de 2014

Ponderações em torno da Fé


“O Espiritismo estabelece como princípio que, antes de crer, é preciso compreender.” – Allan Kardec[1] 

A FÉ DO PONTO DE VISTA KARDEQUIANO - Do ponto de vista kardequiano, a fé pode ser compreendida como a confiança que o ser humano tem em suas próprias forças para a realização de determinada coisa, superando os obstáculos das dificuldades, da má vontade e das resistências.
Com fé em seus objetivos nobres e no próprio potencial, o indivíduo faz-se capaz de mover “montanhas” como os “preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas”[2] que, ainda, procuram interpor-se ao progresso da humanidade.
A fé, segundo o estudo proposto pelo mestre Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, igualmente tem por significado a confiança que se tem na realização de algo, de tal modo que, pelo pensamento, se pode conceber antecipadamente a sua efetivação e os meios para tanto. Nesse caso, essa fé-confiança dá ao indivíduo tranquilidade na realização de seu tentame e favorece o êxito.
Todavia, Kardec não deixa de caracterizar a concepção de fé, à qual ele se refere como calma e geradora de paciência porque se apoia “na inteligência e na compreensão das coisas”[3], bem diferente do que ele chama de fé vacilante, aquela que se ressente de sua própria fragilidade e, motivada pelo interesse, torna-se violenta em uma tentativa irracional de suprir a força que lhe falta.  
FÉ E VIOLÊNCIA - Aliás, isso de alguma forma explica os fenômenos contemporâneos de terrorismo religioso onde, em nome de uma interpretação muito particular da doutrina do Islã, infelizes irmãos integrantes do Talibã se autorizam a explodir escolas no Paquistão[4]. Trata-se de manifesta declaração da insustentabilidade de suas convicções, mediante uma postura fundamentalista frente ao raciocínio e uma resposta obscurantista à liberdade de pensar, corolário do fim da escravidão humana de outros tempos.
Para Kardec, a fé não combina com a presunção e nem com a violência. A fé deve ser humilde porque, sendo raciocinada, compreende os seus limites e reconhece a sua fortaleza na vontade de Deus, “a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”[5]
A fé presunçosa denota orgulho, imperfeição humana que produz a cegueira intelectual e moral. O orgulhoso fecha-se em si mesmo e crê-se com mais luzes que os outros. Ele cerra os ouvidos ao diálogo e às opiniões contraditórias às suas crenças, desvalorizando a oportunidade de aprender com a leitura do outro sobre as suas convicções pessoais e, quem sabe, robustecer serenamente a própria fé. 
FÉ RACIOCINADA VERSUS FÉ CEGA - Do ponto de vista teológico, segundo Kardec, a fé costuma ser concebida como a crença em dogmas especiais que constituem, desse modo, as mais diferentes religiões no mundo.
Dessa perspectiva, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega consiste naquela em que o crente não se ocupa de verificar pela lógica o objeto de sua crença que, muitas vezes, choca-se com as evidências que os fatos lhe apresentam, tanto quanto colide frontalmente com o uso da razão.
A fé cega tende a produzir fanatismo, onde cada crente teria a pretensão de que a sua religião deteria todo o conteúdo das verdades espirituais da vida. O fanatismo, por sua vez, como erro de percepção do cosmo e das Divinas Leis, tende a degenerar em intolerância e violência, como no exemplo assinalado anteriormente.
Por outro lado, a fé raciocinada mantém a liberdade de pensar como premissa de sua efetividade, ela se fortalece no raciocínio sem preconceitos e no livre-exame proporcionado pela dúvida que investiga. Nesse sentido, a fé racional não teme o progresso intelectual da coletividade, muito pelo contrário, a sua capacidade de “encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”[6] é condição que a mantém inabalável, como ensinou o insigne codificador do Espiritismo.        
FÉ NÃO SE PRESCREVE - É de bom alvitre que recordemos que a fé não pode ser prescrita ou imposta a um indivíduo. No que tange aos valores espirituais básicos é uma aquisição pessoal amadurecida a cada reencarnação do Espírito, atualizada sob a influência de questões socioculturais, contudo, é uma questão de foro íntimo.
Por fim, entendamos que a fé, para ser raciocinada, demanda que o seu ponto de apoio se estabeleça na compreensão clara e prefeita daquilo em que se crê, ou seja, em um método de raciocínio que se sustente em um sentido lúcido e profundo para a crença, no exame rigoroso dos fatos inerentes aos princípios filosóficos da escola de fé abraçada, sem deixar margem a nenhum mistério ou superstição.
Em matéria de crença aceitemos somente o que é inteligível à razão e, caso alguém queira nos impor uma fé cega, lembremo-nos da recomendação do Mestre Jesus a dizer-nos em seu Evangelho “Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.”[7]


[1] Revista Espírita de Fevereiro de 1867, Livre pensamento e livre consciência.
[2]  O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 2.
[3] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 3.
[5] O Livro dos Espíritos, questão 1.
[6] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 7.
[7]Mateus, 15:14.

Vinícius Lima Lousada
É educador, pesquisador e editor do blog: www.saberesdoespirito.blogspot.com 
Bento Gonçalves-RS. 

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Para Deus tudo é vida!


Talvez tenha sido uma das frases mais importantes que eu já tenha ouvido, não só pelo ensino que ela traz,
mas, também, pelo momento em que foi proferida.
Havia adentrado as fileiras do Espiritismo fazia pouco mais de cinco anos. Nosso querido Hugo Gonçalves, diretor do jornal O IMORTAL, passou a confiar-me entrevistas com pessoas importantes para o movimento espírita: Heloísa Pires, Raul Teixeira, nosso saudoso Renê Pessa e outros.
Certa vez, vivendo um momento muito delicado de minha vida, onde a fé ainda acordava em meu espírito e quando me apresentava diante de uma situação em que o medo da morte assombrava meus pensamentos, fui convocado a entrevistar nosso respeitado expositor e médium baiano Divaldo Pereira Franco.
Divaldo, que já possuía uma extensa ficha de serviço para o Cristo e para o Consolador Prometido, estava acompanhado de uma comitiva de trabalhadores que sempre se reuniam a ele quando vinha aqui para o Paraná; eu, um iniciante no aprendizado do Espiritismo – isso há aproximadamente 25 anos – em uma situação muito assustadora: alguém muito próximo a mim estava entre a vida e a morte... E eu só pensava na morte. De tempos em tempos um gelo percorria meu corpo como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento.
Ansioso e ao mesmo tempo preocupado com a entrevista, voltei-me para o orador e disse-lhe que tinha algumas perguntas para lhe propor. Ele acenou com a cabeça, positivamente... Iniciei a entrevista, gravando naqueles gravadores de fitas cassetes antigas.
Enquanto Divaldo respondia as questões propostas, vez por outra um frio percorria meu corpo anunciando que a morte estava por perto, fazendo-me pensar naquele parente próximo.
Havia preparado sete perguntas. Quando estava na terceira, Divaldo subitamente parou de responder às questões e, tocando-me levemente o ombro, disse-me: “Meu caro amigo, para Deus tudo é vida. A morte não existe. Onde quer que estejamos, estaremos sempre vivos...”.
Senti como se uma brisa suave envolvesse meu espírito e me acalmasse. Aquela frase não só pacificaria meus tormentos naquele momento, mas pacifica-me até hoje. Onde quer que eu esteja falando sobre temas da vida e da morte sempre tenho procurado usar a frase: A vida depois da vida, e não mais a vida depois da morte.

Então, quando nos perguntamos por que Deus permite tantas tragédias em nosso mundo, tantas mortes, me recordo da frase de Divaldo, que bem representa a luz da verdade que nossa doutrina nos apresenta: “Para Deus tudo é vida”. Então, não existe morte, mas provas e expiações... Além disso, tudo é vida. 

José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil) 

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

O grande entrave da neutralidade


Entrevistei o amigo Alessandro Viana Vieira de Paula, Juiz de Direito na cidade de Itapetininga-SP, a propósito de vários temas ligados às dificuldades sociais da atualidade. Como se trata de entrevista bem extensa, selecionei duas das respostas para trazer à apreciação dos leitores, face à importância das considerações daquele amigo. São as questões 5 e 6, que transcrevo:

5 - De sua experiência profissional, como encarar o sistema prisional brasileiro e os ditames da Lei de Progresso no estágio atual do país?

O sistema prisional brasileiro ainda é precário, porque onde há superlotação, sedentarismo dos apenados, descaso com a saúde, atrasos na concessão dos direitos dos presos e, para agravar, a existência do crime organizado, de forma que raramente se consegue recuperar o preso. Quando o preso termina sua pena ou obtém a liberdade ele ainda sofre o preconceito social, porque é muito difícil alguém acreditar nele e lhe dar uma nova oportunidade. Mas a transição planetária está a todo vapor, portanto, numa sociedade mais cristã essas questões tendem a mudar. Cabe ao cristão acreditar na recuperação do indivíduo, fazendo a sua parte, por exemplo, visitas religiosas nas unidades prisionais, ofertar emprego aos egressos, ajudar suas famílias etc.

6 - Como venceremos, como nação, esses imensos desafios sociais da atualidade?

Esses desafios sociais atingem, na atualidade, o ápice porque estamos vivendo esse momento importante de transição planetária. Como sabemos, os que praticam o mal um dia despertarão para o bem, mas, o grande entrave para o progresso, se dá com os neutros. São aqueles que não fazem o bem e nem o mal, ficam acomodados. A dor e sofrimento atingem índices alarmantes para tocar esses neutros, a fim de que tomem uma decisão e possam optar pela ação efetiva no bem. Dessa forma, para vencer temos que assumir as nossas responsabilidades de cristãos, procurando ser útil para o próximo e para a sociedade, colaborando ativamente na construção da sociedade do porvir.

A motivação de trazer referidas respostas aos leitores veio sobre a abordagem que se refere aos neutros. Neutros são os omissos, os que ficam “em cima do muro”, muitas vezes apenas para criticar. Não movem braços, nem ações, e se deleitam na crítica a quem está trabalhando e se esforçando para algo colaborar nesse incêndio social que vivemos.
A neutralidade é cômoda, não exige nada. É realmente o grande entrave do progresso porque a posição é apenas de quem observa, acomodado, o incêndio e as tragédias que se repetem diariamente – fruto da miséria que gera a violência, que por sua vez traz a tensão permanente que envolve a vida humana –, deleitando-se na crítica ou, pior, na indiferença, na omissão. Sem buscar fazer o que lhe é possível, por mínimo que seja.
A outra expressão constante de uma das respostas é a que se refere às nossas responsabilidades cristãs. Nós, os cristãos, os adeptos do Evangelho – sem importar a denominação que utilizemos ou sigamos – estamos nos distraindo nessa imensa responsabilidade de apoiar o esforço do Cristo na regeneração do mundo. Ainda nos mantemos no egoísmo, na vaidade, na disputa, na arrogância.
Não temos outra alternativa para alcançar a felicidade e paz que se busca no mundo: ou melhoramos a nós mesmos ou melhoramos a nós mesmos.
A paz social que se busca está no mútuo estender das mãos, está na solidariedade e nos esforços individuais de melhora moral. Aprimorando-nos moralmente, influenciaremos nossos filhos que, por sua vez, se tornam cidadãos íntegros que mudam o panorama social.
É o caso de nos auto observarmos sobre a nossa neutralidade ou comprometimento com o bem geral que deve gerir nossas ações. Ou, em outras, palavras para nos questionarmos individualmente: como está o cumprimento de nosso dever?

Orson Peter Carrara

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um fofoqueiro no centro


Realizava palestra em determinada cidade do interior de um estado brasileiro qualquer, quando, após a apresentação, um senhor me procura e narra sua experiência:
“Moço, corria o ano de 1977 e eu labutava num centro espírita aqui da cidade. Nesta casa tínhamos um companheiro complicado, sujeito do vinagre, azedo, sua boca era um veneno só. Falava mal de todos, disseminava a fofoca, enfim, homem terrível de conviver. Mas eis que a vida não manda avisar quando a senhora da foice virá buscar e, num certo dia, recebemos a notícia do desencarne daquele indivíduo. Ataque cardíaco, fulminante! Enfim, estávamos livres dele!
Bom... O tempo passou e eu me esqueci completamente daquela pessoa desagradável, até que, no ano de 1997, numa reunião mediúnica, eu, que tenho vidência, vi um homem sorridente vindo em minha direção. Ele, oh! estava bem, como se fosse uma entidade bem resolvida com seus traumas. Por Deus! Identifiquei a presença daquele fofoqueiro. Era ele. Mas como? Como alguém tão malvado poderia apresentar-se bem no mundo dos Espíritos? Até que o mentor da reunião disse-me: Amigo, admira-se de nosso irmão? Pois bem, e eu me admiro de você... Não percebeu que já se passaram 20 anos? Pelo visto, ele caminhou e você ficou estagnado, a julgar os outros, esquecendo-se de que, com o tempo, seja aqui ou no além, todos crescemos!”
Jesus! Como ficamos presos ao que passou. Não sem motivo, Deus estabeleceu como condição reencarnatória o esquecimento temporário. Claro. É preciso desvencilhar-se do passado e de todos os passados, tanto o nosso quanto o dos outros.
Passado, apenas para agregar experiência, jamais para servir como elemento de condenação. Cada um de nós arca com as consequências de seus atos passados, que repercutem, não raro, de forma dolorosa no presente. Portanto, o que não precisamos é de julgamentos, sentenças, vibrações contrárias, haja vista que responderemos pelos nossos atos.
Todavia, o mais interessante é nossa visão limitada, de rótulos, que estigmatiza este ou aquele pelos seus equívocos do passado.
Sem perceber, sem refletir, condenamos o outro às trevas quando fechamos o caminho para a luz.
Explico-me: O sujeito errou demais. Tenta recomeçar, vai à igreja, ao centro, ou sei lá, e vamos nós: “Você viu o fulano? Fez um monte de besteira na vida e hoje vai ao centro”. Isso é cruel de nossa parte. As pessoas têm o direito de recomeçar suas vidas, de levantar a poeira e dar a volta por cima.
O que devemos fazer? Simples: orar por elas, orar para que prossigam firmes em seus propósitos. Não podemos ser os fiscais da vida alheia, aqueles que tentam impedir o outro de recomeçar. Que bom! Que bom poder reconhecer os erros e procurar uma religião, enfim, mudar de vida.
Deus possibilita-nos todas as chances do mundo. Ninguém está deserdado ao erro, ao equívoco, ao vício.
Irmã Rosália, em O Evangelho segundo o Espiritismo, deixa a mensagem de que, não incomodar com as faltas alheias, é caridade moral.
É bem por aí. Caridade moral. Com a mesma ênfase que atendemos o pobre, o necessitado do pão material, precisamos atender aquele que necessita do pão do espírito, ou seja, da compreensão, do carinho, da porta aberta para recolocar as coisas no lugar e seguir adiante. Nada de colocar o outro num balaio, estigmatizar. Quem nesta vida não erra?
Se ainda não conseguimos esquecer nossos erros desta existência, que ao menos não lembremos os dos outros para que eles possam recomeçar. Recomeçar a busca pela felicidade... Afinal, todos temos o direito de prosseguir, e, se não queremos prosseguir, que ao menos não impeçamos os outros de “ajeitar” novos caminhos rumo ao progresso.
Pensemos nisto!


Wellington Balbo
wellington_balbo@hotmail.com
Bauru, SP (Brasil) 

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domingo, 6 de abril de 2014

Temas da Vida e da Morte


Manoel Philomeno de Miranda 
(Parte 6) 

Continuamos a apresentar o estudo metódico e sequencial do livro: Temas da Vida e da Morte, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares

A. Existe a hereditariedade psicológica?

Não. Embora seja inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos e os descendentes em geral herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação, não se dá o mesmo nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. (Temas da Vida e da Morte - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.) 

B. De onde procedem as aptidões que a pessoa revela no curso da existência corpórea? 

Elas procedem geralmente das experiências passadas, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade e da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.) 

C. Como devemos proceder com relação às más tendências que trazemos do passado?  

Devemos, evidentemente, corrigi-las, tanto quanto devemos cultivar as aptidões superiores. As tendências devem ser disciplinadas, corrigidas a qualquer esforço, para que sejam superadas. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44).

Texto para leitura: 

21. Não existe hereditariedade psicológica - As leis de Mendel, estudadas largamente, vieram contribuir de modo eficaz para o equacionamento de muitos enigmas nos diversos capítulos da hereditariedade. (N.R.: Johann Mendel, botânico austríaco, nascido em 1822 e falecido em 1884, vivendo num mosteiro, realizou de 1856 a 1866 experiências sobre hereditariedade nos vegetais que fizeram dele o fundador da genética.) No entanto, se complementam os conceitos do Transformismo e do Evolucionismo, não interpretam inúmeros quesitos da realidade da vida biológica. É inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos, os descendentes em geral, herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação. Mas o mesmo não ocorre nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. Certo, a convivência e a educação, os hábitos e a disciplina modelam as personalidades dos descendentes, neles plasmando, às vezes pela violência emocional, características que parecem herdadas, sem que o ser traga nas paisagens íntimas essas habilidades ou determinações. Da mesma forma, homens incultos e viciosos não reproduzem vidas caóticas semelhantes, exceto quando degenerescências físicas impõem limitações e distúrbios de variada ordem. Mesmo nos casos que se podem arrolar como decorrência da hereditariedade psicológica e moral, devemos levar em conta os fatores anteriores ao renascimento físico do ser. O Espírito é o engenheiro da maquinaria fisiopsíquica de que se vai utilizar na jornada humana. Claro que os processos de reencarnação se fazem mediante as leis de afinidade espiritual, por impositivos anteriores, o que resulta em identificações e choques nos clãs, onde se reencontram seres simpáticos ou adversários que o berço volta a reunir. Em face dessa conjuntura, muitas das heranças se fazem naturais, porque o clima vibratório impõe os condicionamentos e os programas indispensáveis na formação do corpo. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.)

22. As aptidões geralmente procedem das experiências passadas - As aptidões e as tendências só raramente correspondem às leis da hereditariedade, especialmente hoje, quando as opções para a conduta e a ação se fazem um leque imenso de possibilidades, ensejando a identificação do homem com as suas próprias realidades. No passado, a falta de comunicação de massa, a ausência de contatos sociais imprimiam como tendências o que eram hábitos dos grupamentos familiares, que impunham nos nascituros e crianças um roteiro de realizações que se lhes incorporava impositivo, difícil de ser evitado. Não obstante, as exceções demonstram, nos gênios como nos idiotas, a independência do reencarnante em relação às matrizes genéticas. Eis por que as tendências, as aptidões humanas, sem descartar-se a contribuição dos genes e cromossomos, procedem das experiências do passado, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade, da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. Dramas e tragédias, crimes e ações nefandos que passaram ignorados ou não justiçados pelos códigos humanos, convertem-se em processos psicopatológicos que se manifestam em forma de desequilíbrio no endividado, sem que haja fatores ancestrais que justifiquem o desconcerto. Ao ser processado o mecanismo do renascimento, o candidato modela, imprime nas células em formação aquilo de que necessita para recuperar-se, ascender e resgatar... O mesmo se dá no campo da cultura, da beleza, da arte, em que o Espírito, ao ser submetido aos implementos celulares, neles trabalha esses equipamentos sutis para responderem com fidelidade ao ministério para o qual retorna ao corpo, em realizações nobilitantes. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.)

23. As más tendências devem ser corrigidas - As tendências e aptidões atuais são, pois, reminiscências do passado de cada indivíduo. Tudo a que se aspira e se realiza sem a aprendizagem atual procede de experiências passadas, que se encontram ínsitas no ser e desabrocham como inclinação, impulso, compulsão, mais poderosos do que o meio onde a criatura se encontra localizada.  As aptidões superiores devem ser cultivadas, tanto quanto não podem ser deixadas sem conveniente tratamento as más tendências,  que devem ser disciplinadas,  corrigidas a qualquer esforço,  para que sejam superadas,  oferecendo campo para os primeiros cometimentos no setor do bem,  na condição  de exercício  dignificante  em formulação para realizações elevadas e libertadoras no futuro. Todo empreendimento exige esforço, diretriz e segurança. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal... Fadado à Grande Conquista, recorda para elevar-se, superando o mal que nele remanesce, sob o apelo do amor que o alimenta e é de procedência divina. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44.)


24. Fatalismo biológico absoluto não existe - O fatalismo biológico, estabelecido mediante as conquistas pessoais de cada indivíduo, não é definitivo em relação à data da sua morte. A longevidade como a brevidade da existência corporal, embora façam parte do programa adrede estabelecido para cada homem, alteram-se para menos ou para mais, de acordo com o seu comportamento e do contributo que oferece à aparelhagem orgânica para a sua preservação ou desgaste. Necessitando de um período de tempo em cada existência física para realizar a aprendizagem evolutiva em cujo curso está inscrito, o Espírito tem meios para abreviar-lhe ou ampliar-lhe o ciclo, mediante os recursos de que dispõe e são facultados a todos. É óbvio que o estroina desperdiça maior quota de energias, impondo sobrecargas desnecessárias aos equipamentos fisiológicos, do que o indivíduo prudente. As ocorrências que lhe sucedam têm as suas causas no comportamento que se permitem. Igualmente, a forma de desencarnar, sem fugir ao impositivo do destino que é de construção pessoal, resulta das experiências que são vividas. O homem imprevidente e precipitado, desrespeitador dos códigos de lei estabelecidos, torna-se fácil presa de infaustos acontecimentos,  que ele mesmo se propicia como efeito da conduta arbitrária a que se entrega. Acidentes, homicídios, intoxicações, desastres de vários tipos que arrebatam vidas, resultam da imprevidência, da irresponsabilidade, do orgulho dos que lhes são vítimas, na maioria das vezes e no maior número de acontecimentos. Devendo aplicar a inteligência e a bondade como norma de conduta habitual, grande parte das criaturas prefere a arrogância, a discussão acesa, o desrespeito ao dever, a negligência, tornando-se, afinal, vítimas de si mesmas, suicidas indiretas. Nos autocídios de ação prolongada ou imediata, a responsabilidade é total daqueles que tomam a decisão infeliz e a levam a cabo, inspirados ou não por Entidades perversas com as quais sintonizam. Derrapando em comportamentos pessimistas a que se aferram, a atitudes agressivas nas quais se comprazem, na fixação de ideias tormentosas em que se demoram, em ambições desenfreadas e rebeldia sistemática, a etapa final, infelizmente, não pode ser outra. Com o gesto que supõem ser de libertação, tombam, por largos anos de dor, em mais cruel processo de recuperação e desespero, para que aprendam disciplina e submissão contra as quais antes se rebelaram.  (Comportamento e vida, pp. 45 e 46.) (Continua no próximo número.)

Thiago Bernardes
thiago_imortal@yahoo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)  

Imagem é do livro