domingo, 25 de dezembro de 2022

A omissão e as suas consequências espirituais


Toda criatura humana retorna à ribalta da vida material carregando em seu átrio um conjunto de metas a cumprir, isto é, fracassos e desajustes a reparar, virtudes e capacitações a desenvolver, aprendizados para aperfeiçoar o comportamento e os sentimentos, lições de vida para assimilar e situações de testemunho, que aferirão, por fim, o seu real progresso espiritual. As experiências redentoras serão mais ou menos acentuadas a depender dos seus compromissos e débitos perante as leis divinas.
Nesse sentido, cada um de nós tem a sua própria história de erros e desacertos. E por não termos alcançado a necessária elevação, tropeçamos, não raro, em nossas imperfeições e defeitos milenares.
No decorrer da vida, a maioria das pessoas tende a internalizar o dever de não praticar o mal e realizar o bem. Ocorre que, entre esses dois extremos, há um estágio intermediário representado pela omissão comportamental. Trata-se de uma postura igualmente comprometedora à evolução das criaturas, embora muito praticada, conforme atestam as evidências. Aliás, cabe destacar que muitas atrocidades foram cometidas ao longo da trajetória humana devido à omissão dos atores envolvidos. O próprio Jesus, nas horas mais pungentes do seu messianato, sentiu-a através do abandono dos seus seguidores e beneficiados.
O assunto merece profunda reflexão, já que vivemos num mundo onde a noção do bem não foi devidamente instalada não apenas por causa da prevalência do mal, mas também pela nossa omissão em sufocá-lo. Allan Kardec explorou o tema na questão 642 d’O Livro dos Espíritos ao indagar as entidades espirituais o seguinte: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal? Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem”. Notem que a neutralidade aqui em nada contribuí para o bem-estar espiritual do indivíduo claudicante.
O assunto é retomado na obra O Céu e o Inferno no trecho: “[...] Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre”. Segue daí, portanto, que a ausência de atitudes concretas na direção do bem provoca consideráveis infortúnios ao Espírito tergiversante. Assim sendo, consoante a conclusão do Codificador, “A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra — tal é a lei da Justiça divina”.
Quando olhamos a abundante imperfeição presente nas instituições, nos governos, nos ambientes de trabalho, no funcionamento das sociedades e sobretudo nas relações humanas, identificamos também que o imperativo do bem não é uma prioridade. Infelizmente, deixamos de praticá-lo em situações e contextos onde a nossa boa vontade e empatia são altamente requeridas. Não cogitamos que pequenas ações e iniciativas de nossa parte poderiam ser implementadas, o que certamente redundariam em benefícios aos nossos semelhantes. Com efeito, o nosso engajamento em fazer o bem, além de ajudar em nossa própria autoiluminação, atenua as agruras dos nossos irmãos. Desse modo, evitar a prática maléfica constitui apenas um dos nossos desafios. Mas não é suficiente à nossa evolução.
Por isso, alerta-nos com propriedade o Espírito Emmanuel, no livro Justiça Divina (psicografia de Francisco Cândido Xavier):

“Asseveras não haver praticado o mal; contudo, reflete no bem que deixaste a distância.

“Não permitas que a omissão se erija em teu caminho, por chaga irremediável.
“Imagina-te à frente do amigo necessitado a quem podes favorecer.
“Não te detenhas a examinar processos de auxílio.

“[...]

“Não percas a divina oportunidade de estender a alegria.

“[...]

“Faze, em cada minuto, o melhor que puderes.”

Contudo, deixamos de fazer por inúmeras razões – até por pura indiferença, ou casuísmo – coisas boas e positivas que, em muitas ocasiões, estão ao nosso alcance e não exigem nenhum grande esforço de nossa parte em realiza-las. Mais ainda: não percebemos que elas poderiam aliviar a cruz dos nossos irmãos de jornada. Desperdiçamos, devido à nossa incúria e imaturidade espiritual, oportunidades excepcionais de fazer brilhar a nossa luz através dos sublimes mecanismos da solidariedade, compaixão e boa-fé. Não cogitamos que nessas ocasiões estamos sendo efetivamente testados pela providência divina. Não lembramos – muito menos deduzimos - que concordamos em assumir e executar tarefas benéficas em prol dos outros. No entanto, diante da oportunidade sagrada normalmente fracassamos. Lamentavelmente, o comportamento omisso continua causando consideráveis aflições em nosso mundo.
O Espírito Joanna de Ângelis, na obra Celeiro de Bênçãos (psicografia de Divaldo Pereira Franco), faz observações contundentes a respeito. Por exemplo, a elevada entidade afirma que “A omissão, no entanto, é responsável pelo desmoronamento de ideais enobrecedores com que a Humanidade sempre foi contemplada, porquanto estimula a desordem, no silêncio conivente; açula a ira, pela morbidez que dissemina; favorece a fuga dos dubitativos que se resolvem pela atitude mais fácil. Omissão, é, também, ausência de firmeza de caráter, covardia moral”.
Para ela ainda, “O cristão omisso é alguém em vias de decomposição emocional, que está em processo de morte sem o perceber. Desse modo, constrói sempre e convictamente o bem em toda parte, comunicando entusiasmo e otimismo, descobrindo, por fim, que o contágio do amor e da esperança...”
Por outro lado, é comum nos queixarmos dos problemas e obstáculos que surgem desafortunadamente em nosso caminho. São experiências – perfeitamente evitáveis, em muitos casos - sofríveis que adicionam mais transtorno às nossas vidas. Sendo essa a realidade, meditemos se, de nossa parte, também nós contribuímos para isso devido à nossa omissão e silêncio diante das coisas erradas. Vivendo num mundo onde a imperfeição tudo abarca, podemos, pelo menos em nossa esfera de ação, averiguar se o comportamento omisso ainda nos inspira. Com efeito, chegar no plano espiritual carregando tal passivo só nos fará mal.

Anselmo Ferreira Vasconcelos

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sábado, 17 de dezembro de 2022

Emergência espiritual


Vivemos na Terra uma grave emergência espiritual.
As conquistas do conhecimento nos fizeram chegar até o instante em que se percebe, claramente, que inteligência sem moralidade produz apenas o caos.
Das simplórias cavernas até as casas inteligentes de milhões de dólares;
Dos primeiros meios de transporte aquático usando canoas de madeira até os atuais trens de levitação magnética; desde os primeiros cálculos da astronomia até a visão potente do telescópio James Webb, tudo mudou.
Estamos muito mais avançados do que nossos ancestrais. Gabamo-nos de ter explorado o planeta e seus recursos de forma tão eficaz.
No entanto, temos que nos perguntar:
Será que tudo isso nos fez melhores? Será que tudo isso nos deu uma melhor compreensão do nobre, do justo e do bom, conforme a proposta de Platão?
Será que não nos perdemos, nos encantando com acessórios, deixando bastante de lado o que seria o principal?
A proposta cristã é muito clara: Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça e todas essas outras coisas vos serão acrescentadas.
Jesus propunha a busca da essência divina em todos nós, propunha a lei do amor como regente maior dos pensamentos, sentimentos e atos do homem.
Todas as outras coisas, que são menores, que dizem respeito à vida material, à sobrevivência do corpo, essas nos seriam acrescentadas.
Não estava propondo a inércia, nem negando o valor do trabalho, mas simplesmente estabelecendo hierarquia de valores.
E o que aconteceria se invertêssemos essa hierarquia? Se deixássemos a busca do reino de Deus de lado ou para as horas vagas ou, ainda, para quando der?
Bem... Nem precisamos descrever quais as consequências, pois as vivemos nesse instante de emergência espiritual.
Estamos imersos em um sentimento de vazio existencial, de desamparo, de falta de objetivos que nos preencham a alma de verdade.
Não é tarde, porém, para mudar.
Muitos já encontraram essa via segura e estão se reconstruindo.
Agora é a nossa vez.
O que temos feito pela construção do reino de Deus em nós? Quais as nossas primeiras iniciativas dentro da Lei Maior do Amor?
Temos a razão como instrumento calibrado, o conhecimento das eras como manual de instruções e o exemplo de Jesus como guia.
O que temos feito ou podemos fazer em nossos dias para educar as nossas emoções?
O que podemos fazer pelo bem comum em nossa família e em nossa sociedade?
Já conseguimos nos perceber como parte da cura de uma sociedade doente? Ou ainda estamos entre os pacientes em atendimento?
Talvez estejamos nos dois lados. Hora aqui, ora ali.
Muito natural, compreensível. Importante é começar, importante é persistir. É não perder o foco.
Perguntemo-nos, todas as manhãs: O que podemos fazer de nobre, justo e bom, neste dia?
Nos versos de uma prece sincera e feita com regularidade, peçamos sempre ajuda: que possamos ser um instrumento da paz, da cordialidade, do entendimento ao nosso redor.
É assim que iremos atender a emergência espiritual e que sairemos todos vencedores.
Comecemos hoje.

Redação do Momento Espírita.

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Que fraqueza é esta, afinal?


Há em O Livro dos Espíritos uma questão, a de número 932, muito utilizada por cronistas e palestrantes espíritas em seus trabalhos. Nela, os Espíritos Superiores dizem a Allan Kardec que a influência dos maus sobre os bons se dá pela fraqueza destes últimos. E que quando estes quiserem, assumirão a preponderância.
Que fraqueza é esta a que se referem os Espíritos? Fraqueza moral, evidentemente. Mas por que fraqueza moral se são bons? São bons, mas são tímidos, dizem os Espíritos. E que timidez é esta, dos bons? No meu ponto de vista, é a da convicção sem ação.
Basta apenas querer para assumir a preponderância sobre os maus? Me parece que o “querer” dos Espíritos tem a ver com atitude. É inegável que é preciso contar com o tempo, com a sucessão das gerações, com ideias renovadoras que chegam para substituir velhas concepções, e assim ver o mal perder a influência, mas enquanto isso vai acontecendo, como deveremos agir?
É possível implementar a supremacia do bem sobre o mal só com as convicções bem intencionadas? Parece que não. Para os Espíritos – eu entendo assim – é preciso misturar vontade e ação. Nada se concretiza sem essa mistura.
A moral espírita é formidável. Mas ela não tem sentido se não gerar ações propositivas nas relações humanas. Não basta estar no mundo só para si mesmo. Viver o amor solidário, defender a justiça e agir com caridade, são fundamentos da vida social pacificada e fraterna.
O respeitado ativista indiano Mohandas Gandhi disse sobre uma das mais belas passagens do ensino cristão: “Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade e só se salvasse O sermão da montanha, nada estaria perdido”.
Certamente se poderia dizer o mesmo com relação ao Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos: As Leis Morais. Trata-se de um precioso estudo em doze capítulos, com perguntas, respostas e comentários, realizado por Allan Kardec e os Espíritos.
É um documento sociológico e ético que “pode abranger todas as circunstâncias da vida” *, contemplando os direitos naturais do homem na Terra, bem como os deveres de uns para com os outros, balizados pela mais pura moral conhecida.
Caso não houvesse outra fonte onde beber conhecimento moral/espiritual, esse Livro Terceiro, As Leis Morais, atenderia plenamente à necessidade do homem em buscar conhecer-se a si mesmo, amar o próximo e louvar a Deus e à vida.
A exemplo do Cristo, o homem bom e destemido, deverá aplicar esses princípios nas relações mais cotidianas e verá, sem espanto, o mal ir perdendo seu poder de influência no mundo.

*Questão 648, A lei divina ou natural, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

Cláudio Bueno da Silva

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Brilhe vossa luz


Corre, incessantemente, o caudaloso rio da vida…
Iniciam-se viagens longas, embarca-se e desembarca-se, entre esperanças renovadas e prantos de despedida.
Viajores partem, viajores tornam.
Como é difícil atingir o porto de renovação!
Quase sempre, a imprevidência e a inquietude precipitam-se nas profundezas sombrias!…
Para vencer a jornada laboriosa, é preciso aprender com Alguém que foi o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ele não era conquistador e fundou o maior de todos os domínios, não era geógrafo e descortinou os sublimes continentes da imortalidade, não era legislador e iluminou os códigos do mundo, não era filósofo e resolveu os enigmas da alma, não era juiz e ensinou a justiça com misericórdia, não era teólogo e revelou a fé viva, não era sacerdote e fez o sermão inesquecível, não era diplomata e trouxe a fórmula da paz, não era médico e limpou leprosos, restaurou a visão dos cegos e levantou paralíticos do corpo e do espírito, não era cirurgião e extirpou a chaga da animalidade primitiva, não era sociólogo e estabeleceu a solidariedade humana, não era cientista e foi o sábio dos sábios, não era escritor e deixou ao Planeta o maior dos Livros, não era advogado e defendeu a causa da Humanidade inteira, não era engenheiro e traçou caminhos imperecíveis, não era economista e ensinou a distribuição dos bens da vida a cada um por suas obras, não era guerreiro e continua conquistando as almas há quase vinte séculos, não era químico e transformou a lama das paixões em ouro da espiritualidade superior, não era físico e edificou o equilíbrio da Terra, não era astrônomo e desvendou os mundos novos da imensidade, enriquecendo de luz o porvir humano, não era escultor e modelou corações, convertendo-os em poemas vivos de bondade e esperança.
Ele foi o Mestre, o Salvador, o Companheiro, o Amigo Certo, humilde na manjedoura, devotado no amor aos infelizes, sublime em todas as lições, forte, otimista e fiel ao Supremo Senhor até a cruz.
Bem aventurados os seus discípulos sinceros, que se transformam em servidores do mundo por amor ao seu amor!
Valiosa é a experiência do homem, bela é a ciência da Terra, nobre é a filosofia religiosa que ilumina os conhecimentos terrestres, admiráveis é a indústria das nações, vigorosa é a inteligência das criaturas; maravilhosos são os sistemas políticos dos povos mais cultos, entretanto, sem Cristo, a grandeza humana pode não passar de relâmpago dentro da noite espessa.
“Brilhe a vossa luz”, disse o Mestre Inesquecível.
Acenda cada aprendiz do Evangelho a lâmpada do coração.
Não importa seja essa lâmpada pequenina.
A humilde chama da vela distante é irmã da claridade radiosa da estrela.
É indispensável, porém, que toda a luz do Senhor permaneça brilhando em nossa jornada sobre abismos, até a vitória final no porto da grande libertação.

Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz

Livro: Apostilas da Vida

Francisco Rebouças

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