terça-feira, 29 de maio de 2012

Simplicidade de um pedido


Em declaração emocionada aquele homem aproximou-se bem devagar e pediu. Estava atônito, aflito, não sabia que rumo tomar. Esperava-se, óbvio, que ele pedisse dinheiro para completar a passagem – como é tão comum – ou solicitasse algum alimento. Ou mesmo alegasse enfermidade de filho ou esposa. Nada disso!
Apenas pediu para ser ouvido. Não desejava objetos, roupas ou dinheiro, nem mesmo alimentos. Apenas desejava ser ouvido. Desejava apenas a companhia de outro ser humano para abrir o coração. E começou a falar.
Disse da solidão que sentia. Falou que sua aparência simples talvez fosse a causa da indiferença alheia. Sua barba por fazer, suas roupas e calçados surrados e mesmo por não estar empregado, por não possuir família, talvez causassem a distância com outros seres humanos. Sentou na sarjeta e chorou. Chorou não de sofrimento ou de fome, chorou de emoção porque alguém se dispôs a simplesmente ouvi-lo.
E o que falou? Disse apenas que se sentia muito só. Que não lhe faltava comida, pois muita gente lhe entregava pratos prontos, lhe levava roupas e agasalhos, lhe fornecia água e mesmo algum dinheiro, lhe pagavam lanches vez por outra, mas ninguém parava para conversar com ele…
O episódio comoveu. Ele remete à necessidade do calor humano, muito além de doações que satisfaçam a fome ou o frio do corpo. Fica distante da simples doação de dinheiro, de objetos ou roupas. Ele pede simplesmente a atenção de olhar nos olhos, de oferecer tempo, ainda que breve, para ouvir o sentimento daquele que procura.
Verdade seja dita. Ainda somos muito indiferentes uns com os outros. Optamos mais pela crítica do que pela observação atenta de sentir a necessidade real de quem está à nossa volta, de quem nos procura. Não paramos, por pressa, para olhar nos olhos ou simplesmente raciocinar sobre o que o outro está dizendo. Temos pressa de dizer ou ouvir o que nos interessa…
Na verdade, fala-se em solidariedade, em caridade. Ma solidariedade e caridade estão mais no gesto do que no fato. Caridade é sentir. De nada adianta envolver-se com muitas iniciativas e permanecer irritado, contrariado. De nada adianta fazer por obrigação. O ideal, o correto, é fazer com amor, por amor.
E este fazer com amor ou por amor, é sentir. É sentir o que se faz. Sentir-se bem em estar presente, em participar, em poder colaborar.
Aliás, por falar em colaborar, a cooperação é lei da vida. Nada se faz isoladamente. Todos precisamos uns dos outros, muito mais do que imaginamos. E isto sugere a atenção que podemos nos dispensar mutuamente.
Atenção que muitas vezes é sinônimo apenas de ouvir. Como no caso relatado, verídico e comovente.
Já imaginou o leitor alguém sentar-se e chorar apenas porque alguém se dispôs a ouvi-lo.
Quanta indiferença não sofreu? Quanto desprezo experimentou?
Aí ficamos a pensar em nossa pequenez! Ainda guardamos tanta arrogância interior? Para quê? Não é melhor assumirmos nossa condição de seres humanos…?!

Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com

Imagem ilustrativa

domingo, 13 de maio de 2012

Pela Bíblia e os Espíritas, Javé não é o Deus Pai nosso e de Jesus


Javé é um Espírito protetor do povo hebreu que mais se manifesta no Velho Testamento, e que foi confundido com o próprio Deus, que jamais se manifestou diretamente na Bíblia e em lugar nenhum e a ninguém.
Até Moisés se enganou, temporariamente, quanto a Javé, tomando-O como se fosse o Deus absoluto e verdadeiro. E assim também pensavam os teólogos do VT e NT. E ainda até hoje, assim pensam muitos judeus e cristãos. É o que davam a entender estes textos: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo...” (Êxodo 33:11); “Eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 19:31 e 34); e “Eu sou o Senhor” (Levítico 19:37; e 22: 2 e 3). Se se tratasse de Deus mesmo, Javé não teria essa grande preocupação de se identificar como Deus, que não tem nenhuma necessidade.
Todos os povos têm um espírito protetor especial. É o caso de Javé com o povo hebreu, como nos ensinam também os espíritas. Javé, realmente, sempre se apresentou como sendo um defensor do povo hebreu. E pelas suas características, Ele é um espírito humano imperfeito, pois é ciumento, guerreiro, vingativo e discriminador de pessoas e povos, quando a própria Bíblia afirma que Deus não faz acepção de pessoas. (Atos 10:34; Romanos 2:11; Deuteronômio 10:17; Gálatas 2:6; e 1 Pedro 1:17). Javé até se arrepende de ter criado o homem. (Gênesis 6:6). E quem se arrepende de ter feito alguma coisa, é porque errou. Ora, Deus é infalível, não erra. Alguém poderia dizer que, quando esse texto fala que Deus se arrependeu, se trata de uma figura de linguagem, e que ele não pode, pois, ser interpretado literalmente. Mas para o povo judeu antigo assim Javé era visto.
E não é que esse povo antropomorfizou Deus, já que Javé era mesmo um espírito humano. Mas parte do cristianismo antropomorfizou Deus, transformando-O em pessoa, e Javé no próprio Deus absoluto, como estamos vendo. O Deus absoluto e verdadeiro é o Pai (e Mãe) de Jesus e de todos nós.
Moisés que, como vimos, disse ter falado face a face com Deus, mais tarde, corrige esse seu equívoco, falando que Deus lhe teria dito: “... Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá.” (Êxodo 33:20). Na verdade, um espírito (anjo) lhe falou em nome de Deus. João, o Evangelista, afirma também: “Ninguém jamais viu a Deus.” (1 João 4:12). E Jesus o confirma, dizendo que ninguém jamais viu a Deus. (João 1:18).
Como se vê, a Bíblia tem coisas que se divergem entre si, pelo que temos que estudá-la com todos os recursos da ciência e da razão, para que possamos entender corretamente a sua verdadeira mensagem do mundo espiritual para nós, mensagem essa muito importante a ponto de chamarmos de divina, pois de fato, ela contém verdades divinas essenciais, isto é, de amor a Deus e ao próximo de modo incondicional.
Mas saibamos separar o joio do trigo, pois ela tem ouro, mas tem também cascalho, escrita que foi por homens. “Ontem, a Bíblia dirigia a ciência, hoje é a ciência que a dirige”.
E conforme Êxodo 15:3, Javé é mesmo um espírito humano: “O Senhor é homem de guerra; Senhor é o seu nome.”

PS:
1-Lançado o livro em quadrinhos “Kardec”, de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa, Ed. Barba Negra, prefácio de Marcel Souto Maior, autor de “As Vidas de Chico Xavier”.
2-Viagem ao Egito e Israel com o experiente cicerone espírita Prof. Severino Celestino. Contato: rwturismo @rwturismo.com.br. - Tel. (11) 3667-3506 (Márcia ou Wanda).

Obs.: Esta coluna, de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo email: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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