sexta-feira, 19 de março de 2021

A essência da verdadeira beleza


Lucinha saiu de seu quarto correndo e adentrou-se ao banheiro onde ficou por horas em frente ao espelho. Iria se encontrar com o seu crush1 e queria impressioná-lo.
Além do encontro marcado, precisava também aproveitar o momento para tirar novos selfies2. Afinal, toda aquela atividade de maquiagem, cabelo, limpeza de pele, entre outras, precisava ser compartilhado em suas redes sociais. Da forma como estava linda, certamente ganharia alguns likes3 de seus amigos e seguidores.
Concluída toda aquela etapa, pegou o celular e começou a navegar pelas redes sociais. “Se estou linda e maravilhosa, como estarão meus close friends4 agora?” – pensou antes de publicar as suas fotos.
A primeira imagem que viu foi de uma amiga de “olhos claros e pele de maçã”, descrevendo-a assim, com uma admiração indignada. “Que inveja” – pensou – “ela arrasou”, concluiu.
Deslizando o indicador na tela do telefone, chegou ao perfil de outra amiga de uma “beleza negra incrível e um corpo todo malhado” – e já com o humor alterado, exclamou em voz alta, acrescentando: -“assim não dá!”.
Por último, abriu outro perfil e viu três amigas juntas, preparadas para uma festa; “cada uma mais deslumbrante que a outra. Chega!” – exclamou mais uma vez, totalmente aborrecida com as comparações infelizes enxertadas pela percepção míope de si mesma.
Do entusiasmo explosivo à depressão abrupta, olhou novamente para o espelho e disse: – “Nossa, estou horrível! Não vou mais a lugar algum!” Batendo a porta do banheiro se enfurnou no quarto de onde só voltou a sair no dia seguinte.

* * *

Em um mundo onde as redes sociais ganharam um espaço significativo na mente de muitos, temas como a beleza, a riqueza e a ostentação, entre tantos, parecem catalisar uma corrida desenfreada entre aqueles que comungam com esses valores.
Atendo-se ao primeiro, a beleza, rostos esculpidos em maquiagens e adornos se equilibram em corpos em movimento cuja dinâmica, muitas vezes, transcende o limite entre o normal e o amoral, levando a derrocadas exposições desnecessárias do íntimo humano.
No emaranhado de imagens da internet que transitam da simples naturalidade até a vaidade e o orgulho, pode-se então levantar a questão de onde está a essência da verdadeira beleza.
Evoluindo por séculos, o ser humano vem perdendo aos poucos a rudeza dos traços, a animalidade da expressão e a crueza do olhar (1) percebidas em registros preservados que datam do alvorecer de nossa humanidade.
Deixando para trás instintos ríspidos e avançando em valores morais mais depurados, o homem vem refletindo em seu corpo material, como envoltório externo, a evolução do espírito após diversas encarnações, tornando-se uma criatura cada vez mais harmoniosa em seus traços físicos.
Considerando que em nosso plano terrestre convivemos com diversos níveis de espíritos que vão desde a condição de irmãos menos favorecidos na senda do bem até aqueles mais evoluídos dentro de uma faixa pertinente ao nosso mundo de expiações e provas, encontramos aqui uma diversidade de faces que nos envolvem ainda em ares que vão do assombro à graça.
Neste contexto, cada um, em sua individualidade, ostenta uma beleza própria do ser, independente da perspectiva e do modelo social adotado. Alguns, mesmo detentores de curvas menos harmônicas em seus rostos e corpos, transmitem um carisma, uma beleza e um magnetismo inexplicáveis. Outros, mesmo levando consigo desenhos, teoricamente, perfeitos, exalam uma repulsa sem razão, possuindo apenas uma beleza plástica (1).
Uma vez aceitas estas argumentações, firmadas na razão e na lei do progresso, conclui-se que a essência da verdadeira beleza está na pureza da alma. Quanto mais o ser humano se eleva em suas condições morais, tanto maior será a beleza angélica (1) refletida em seu corpo físico.
Logo, ainda em nossa condição de aprendizes dos valores morais do Evangelho deixado por Jesus, busquemos no amor e na caridade refletir a beleza sublime dos anjos de luz em nossos atos e ações. Esta é, de fato, a essência da verdadeira beleza que devemos perceber no próximo e em nós mesmos.

Referências Bibliográficas:

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Teoria da Beleza. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2016. 2 ed.

Notas do Autor:

Termos usualmente empregado pelo público jovem foi transcrito no texto, quais sejam:

1 indica uma paquera, um namoro, um flerte;

2 foto tirada de si mesmo;

3 indica que uma postagem em uma rede social foi apreciada; e

4 do inglês, usado em rede sociais para indicar amigos próximos.


Márcio Martins da Silva Costa

Imagem ilustrativa 

quarta-feira, 10 de março de 2021

Um coração de mãe perante a desencarnação dos filhos


Se há circunstância bastante desafiadora para o coração de mãe é ter que sepultar o próprio filho. Lorelei Go, mãe de três filhos , “perdeu” os 3 filhos para o câncer de fígado em um pequeno intervalo de 4 anos.
Rowden, o seu filho mais velho, foi diagnosticado com câncer de fígado em estágio 4 e desencarnou em 2014. Apenas um ano mais tarde, Lorelei Go estaria enterrando o seu filho do meio, Hasset que sofria do mesmo câncer de fígado. O filho mais novo, Hisham também foi diagnosticado com câncer de fígado e embora tenha se submetido a diversos tratamentos, incluindo uma criocirurgia experimental na China, pouco mais de dois anos após o falecimento de Hasset, Lorelei teve que sepultar o seu último filho de apenas 27 anos.
Conquanto Lorelei tenha experimentado um momento no qual questionou as leis de Deus, porém percebeu que aquele era um teste de fortalecimento das suas convicções. Como uma pessoa de fé, ela decidiu pensar em seus filhos em condições mais agradáveis no além tumba, e preserva a esperança do momento no qual ela poderá se reencontrar com eles. Isso, segundo ela, é o que a dá forças. Quando falou com o GMA Public affairs, Lorelei disse que sabe que tudo isso faz parte dos planos de Deus para “testar e fortalecer a minha fé”, como citado pela goodtimes.my.
Poucos são os que estão preparados para receber a notícia de que um filho tem um câncer voraz. E muito menos para ver o filho perder a batalha para a doença. Contudo, urge que pacifiquemos a consciência em vez de nos infelicitarmos quando for dos desígnios de Deus retirar do corpo um de nossos filhos deste planeta de prova e expiação.
Segundo interpretações apressadas, concebemos que muitas situações chamadas de infelicidade, cessam com a vida física e encontram a sua compensação na vida além-túmulo. Emmanuel, com a nobre sensibilidade que lhe assinala o modo de ser, considera que “nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio. E acentua, convincente: “Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia. [1]
Em realidade, ante aqueles que demandam a Vida na Espiritualidade, o comportamento do espírita é algo diferente, ou pelo menos deve ser diferente, variando, contudo, de pessoa a pessoa, com prevalência, evidentemente, de fatores ligados à fé e à emotividade.
Nesses instantes cruciais do sepultamento de um filhinho o espírita chora discreto, mas se fortalece na oração. Na certeza da Imortalidade gloriosa, domina o pranto que desliza na fisionomia sofrida e busca na esperança uma das virtudes evangélicas, o bálsamo para a saudade justa.
O Espírita consciente nunca se entrega à desesperação. Não fraqueja ante os convites da rebeldia, porque sabe que revolta é insubordinação ante a Magna Vontade do Criador, que o espírita aprende a compreender e acolher, paradoxal e inexplicavelmente jubiloso, por dentro, vergado conquanto ao peso das mais agudas agonias.

Referências bibliográficas:

[1] PARALVA, J. Martins. O pensamento de Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1990

Jorge Hessen

Imagem ilustrativa

terça-feira, 2 de março de 2021

A Serenidade


A serenidade nada tem a ver com a preguiça. O sentido dela é mostrar-nos o trabalho honesto. Serenidade imperturbável somente se vê nos seres elevados, nos espíritos que já alcançaram a verdade e vivem com a consciência no esplendor das leis de Deus. Brandura permanente na alma carece de movimentos nobres do coração. O egoísta não pode ter serenidade, por concentrar em si vibrações inferiores. O orgulho alimenta todas as espécies de inferioridade que te perturbam os sentimentos mais elevados.
Quem deseja alcançar a serenidade deve combater o orgulho e o egoísmo; eles são responsáveis pelos distúrbios de todas as manifestações do bem nos caminhos dos homens e mesmo dos espíritos desencarnados que não se libertam destes monstros devoradores. Olha para tuas mãos e vê o que elas estão fazendo em favor dos outros. Se paradas, estimula-as no trabalho do amor aos outros. Se paradas, estimula-as no trabalho do amor, compreendendo que fora dele não existe salvação. Liberta-te pelo seu exercício todos os dias. Não precisas gastar dinheiro para amar, o amor é um dom dentro de cada criatura, doado por Deus e que deve ser estimulado por nós. Ele é tão divino que, quanto mais se ama, mais cresce dentro d’alma. Assim são todas as outras virtudes ensinadas por Jesus. Conversa, meu filho, com quem quer que seja, sem esquecer a serenidade; ela te ajuda no equilíbrio da vida.
No labor diário, pensa na serenidade, que tudo sai das tuas mãos. Mesmo no momento de orar, invoca a serenidade. A vida é a maior doadora destes bens eternos, e Deus, sendo Pai de todas as criaturas, tudo nos oferta com abundância. Ele é o Suprimento Divino e fecundador universal. Confia no Senhor e nada te faltará. Quando sentares à mesa de refeição, não te esqueças da serenidade, pois também comes o que pensas e estás juntando ao repasto a serenidade como saúde para o corpo e paz para o espírito. Assim, ao beberes a água, deixa que os goles desçam com serenidade refrescando os teus órgãos e levando energias superiores ao teu mundo espiritual. Faze esses simples exercícios e verás como são saudáveis. A felicidade te visita todos os momentos; compreende essa aproximação e desfruta dessas ofertas de Deus nos teus caminhos.
A medicina do futuro está em tua mente, mas é preciso que ela seja educada, e para tanto, Jesus, o Mestre dos mestres, nos legou o Evangelho que instrui e renova, que alimenta e aprimora, que alegra e dá vida aos tristes e aos mortos. A serenidade é estágio de superioridade; busca-a, que ela te atenderá pelos meios que Deus ajuda sempre. O teu exemplo de paz interna diante dos outros é um estímulo para que eles igualmente se esforcem para adquirir esse clima de luz. Não percas oportunidade de semear a serenidade pelo exemplo, pela palavra, pelos gestos, que são unidades de luz que se multiplicam por onde passam, que iluminam onde servem.
A serenidade é filha da alegria e neta do amor.

Pelo Espírito: Miramez
Psicografia de: João Nunes Maia
Livro: Força Soberana
5ª Edição 2002 – Editora Espírita Fonte Viva
Páginas: 119 até 122 – Belo Horizonte – 1986


Imagem ilustrativa