sexta-feira, 22 de março de 2024

Voz das Estrelas


Marcelo Gleiser é um físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista brasileiro bem conhecido na mídia. Atualmente é pesquisador e professor da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. Recebeu o Prêmio Jabuti em 1998, pelo livro A Dança do Universo, e em 2002 por O Fim da Terra e do Céu. Em 2007, foi eleito membro da Academia Brasileira de Filosofia. Em março de 2019, tornou-se o primeiro latino-americano a ser contemplado com o Prêmio Templeton, tido informalmente como o “Nobel da espiritualidade”.
Ele estudou tão profundamente a física que precisou estudar filosofia e dela chegou à espiritualidade, a Deus.

Deparei-me com uma entrevista bem informal de Marcelo do canal mundo físico em que ele diz:

“Estrelas são os grandes alquimistas, com perdão a Paulo Coelho, as estrelas pegam o hidrogênio, que é a coisa mais simples que existe no universo e formam todos os elementos que existem. Elas fazem isso, e depois, quando elas morrem nos bilhões de anos elas explodem, jogam esse negócio todo no espaço, e eventualmente esses elementos físicos, esse carbono, ferro, vai virar uma semente para um outro mundo que vai nascer, onde neste caso aqui do nosso planeta virou gente, virou girafa, virou lagosta, e virou gente que é capaz de se perguntar, nós, pedacinhos de estrelas que somos, nós é que estamos contando a história do universo, nós é que somos a voz do universo, e isso é o despertar do universo consciente, é eu contar essa história”.(1)

Vejam que interessante o que Marcelo concluiu de seus estudos, que somos vozes do universo. Apesar de nossa imaturidade e inferioridade, estamos também sendo vozes da criação, das estrelas, na medida em que despertamos nossa consciência através do conhecimento e de experiências de vida. Faltou ele adicionar que somos cocriadores de realidades em nosso pequenos servicinhos. Somos ensaios de futuros Jesus.

Sabemos pela Bíblia e pela Doutrina Espírita que uma voz criadora e misteriosa produziu matéria:

Que mortal poderia dizer das magnificências desconhecidas e soberbamente veladas sob a noite das idades que se desdobraram nesses tempos antigos, em que nenhuma das maravilhas do Universo atual existia; nessa época primitiva em que, tendo-se feito ouvir a voz do Senhor, os materiais que no futuro haviam de se agregar por si mesmos e simetricamente, para formar o templo da Natureza, se encontraram de súbito no seio dos vácuos infinitos; quando aquela voz misteriosa, que toda criatura venera e estima como a de uma mãe, produziu notas harmoniosamente variadas, para irem vibrar juntas e modular o concerto dos céus imensos!(grifo nosso)(2)
A voz do Senhor, a voz misteriosa que como uma mãe criou nosso planeta. Que ser é esse que cria universos senão uma consciência inteligente e não há efeito inteligente sem uma causa inteligente.(4)
Essa inteligência suprema nos criou sua imagem, com o poder de pensar e de criar também, mas em escalas gradativas, de acordo com o grau de evolução. Jesus é um ser muitíssimo evoluído que foi a voz que criou nossa amada Terra.
Nossos pensamentos são a matriz de criações e nossa voz é a primeira expressão.
A palavra humana é fruto de milhões de anos, em que se falando da maravilha das maravilhas – o corpo humano – dotado pela natureza para que o Espírito pudesse expressar suas ideias movidas no campo mental, oriundas de regiões até então desconhecidas pela ciência dos homens. Mas podemos dizer que o verbo vem de Deus.(3)
Ser uma criatura de Deus é algo muito sagrado e não temos ainda a capacidade de compreender a profundidade disso. Mas sabemos que este planeta é belo, que o Universo é algo fascinante e que a vida é uma dádiva. A Fonte Criadora sempre tem nos enviados missionários para abrir a nossa mente para que nossa percepção aumente, então vemos os cientistas deslumbrados por seus achados, tal como Marcelo Gleiser a nos revelar algo profundo, que faz muito sentido, pois a nova era está aí, e a ciência está começando a ver que tudo tem a ver com Deus.

Referências:
(1) Disponível em <https://www.instagram.com/reel/C3qgAfLRj0i/?igsh=MWlyZ3pnaTh4bjNmcw==>. Acesso em: 20/03/2024.
(2) KARDEC, Allan. A Gênese. Editora Feb. Cap. VI: Uranografia Geral, item 14.
(3) MAIA, João Nunes, pelo espírito Miramez. Editora Fonte Viva. Horizontes da Fala. Cap.1.
(4) KARDEC, Allan. A Gênese. Editora Feb. Cap.2, item 3.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

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sexta-feira, 15 de março de 2024

Construindo a nossa capacidade de resiliência/resistência


Há poucas semanas uma querida amiga externou-me toda a sua preocupação com o número crescente de desencarnações que ora afligem muitas famílias culminando por me pedir para que algo escrevesse a respeito. Muito bem. Creio que não é mais novidade alguma o fato de que vivemos tempos muito complicados nos quais as sombras densas - constituídas de excessivas preocupações, aflições, atribulações e dores - atingem implacavelmente, de modo geral, o coração humano. Com efeito, nenhum de nós está isento de passar por esse intenso torvelinho de dificuldades, tragédias e adversidades. A verdade nua e crua é que os “tempos são chegados”... Tempos, aliás, de aferição de valores, de conduta e de progresso espiritual nos quais cada um de nós deve necessariamente mostrar suas conquistas interiores se, de fato, as obteve.
Tendo sido devidamente preparados pela mensagem de Jesus há mais de dois milênios, não cabe mais alegarmos desconhecimento ou ignorância no que concerne aos sagrados objetivos que nos competem realizar em benefício da evolução dos nossos Espíritos. Cada um de nós já foi apresentado, de uma forma ou de outra, às doces revelações do Evangelho redentor. Portanto, não podemos mais virar as costas para tão significativo assunto da vida. Desse modo, é chegada a hora da nossa conscientização e consequente transformação para o bem e o amor universal (pilares do desenvolvimento espiritual).
A hora presente nos impõe a necessidade de sermos fortes, a fim de resistirmos todos os embates e lutas no caminho da luz imperecível. Para usar um termo da moda, precisamos ser resilientes acima de tudo para suportarmos os pesos das provações e expiações da nossa atual experiência corpórea. Nesse sentido, cabe frisar que a resiliência tornou-se um conceito proeminente no âmbito das ciências sociais nas últimas décadas ganhando espaço em muitos campos do saber humano. Aqui o empregamos obviamente no terreno religioso para refletirmos a respeito.
Assim sendo, cientistas renomados têm proposto que a resiliência abrange a capacidade psicológica positiva de recuperação das adversidades, incertezas, conflitos, fracassos ou até mesmo aquelas mudanças benéficas envolvendo o progresso e aumento das responsabilidades.[1] No entanto, é inegável que o positivo funcionamento humano torna-se, talvez, mais extraordinário e saliente em contextos sublinhados por acentuados desafios da vida e percalços. Segundo eles ainda, quando os indivíduos estão sendo efetivamente testados, podemos identificar os seus pontos fortes, isto é, o que são, como surgem e como são nutridos ou prejudicados. [2]
Num nível mais básico, a resiliência compreende “a habilidade de prosperar, amadurecer e aumentar a competência diante das circunstâncias adversas e obstáculos”.[3] Vale também ressaltar que a capacidade de resiliência não apenas pode se manifestar em ações puramente reativas, mas igualmente em situações que demandam aprendizado proativo e crescimento através da superação dos desafios. Essencialmente, resiliência pode requerer tanto medidas proativas como reativas diante da adversidade que possa estar nos atingindo. [4]
Por sua vez, a Doutrina Espírita emprega com assiduidade o termo resistência para expressar a necessidade de desenvolvermos tal capacitação. Pode-se, assim, inferir que resiliência e resistência são termos similares ou sinônimos, já que propõem, a rigor, a mesma coisa. Dito de outra forma, precisamos estar aptos a resistir (ou sermos dotados de resiliência) para sobreviver a todas as tempestades existenciais. Afinal de contas, é certo que não alcançaremos um estágio evolutivo superior sem termos as marcas da resistência gravadas em nossas almas. Para nós espíritas-cristãos há muito a considerar nesse particular.
Posto isto, o Espírito Emmanuel esclarece que:

“O cristão é um ponto vivo de resistência ao mal, onde se encontre.
Pensa nisto e busca entender a significação do verbo suportar.
Não olvides a obrigação de servir com Jesus. É para isto que fomos chamados.” [5]
Desse modo, os verbos resistir, suportar e aguentar são elementos decisivos para o sucesso da nossa encarnação. É fundamental entender que em distintos momentos e ocasiões necessitamos conjugá-los em nós mesmos, isto é, no exercício da nossa fé. Sendo assim, Emmanuel também adverte que:

“Contra a aspiração bruxuleante do bem, no dia que passa, levanta-se a pesada bagagem de sombras acumuladas em nossas almas desde os séculos transcorridos. Indispensável, portanto, grande serenidade e resistência de nossa parte, a fim de que o progresso alcançado não se perca.
O Senhor concede-nos a claridade de Hoje para esquecermos as trevas de Ontem, preparando-nos para o Amanhã, no rumo da luz imperecível.” [6]
Portanto, tenhamos plena consciência de que haveremos de passar por intensos e frequentes testes de resistência ao longo da vida. Afinal de contas, como poderemos mostrar a Deus o nosso valor sem tais avaliações? Confiemos, então, na Providência Divina, que jamais nos desempara, e roguemos forças para suportar as experiências decisivas – geralmente adornadas pela dor, decepção, perda de entes queridos, adversidades, fracassos e reveses – e indispensáveis à nossa ascensão espiritual. Nos dias mais conturbados recorramos com mais frequência às sempre benéficas preces, meditações, leituras edificantes e passes, alimentando, desse modo, dentro de nós a esperança e confiança em dias melhores. Como pondera Emmanuel, “Provas, aflições, problemas e dificuldades se erigem na existência como sendo patrimônio de todos. O que nos diferencia, uns diante dos outros, é a nossa maneira peculiar de apreciá-los e recebê-los”. [7]
Sendo essa a realidade insofismável, lembremos, por fim, que as tempestades - por mais destrutivas e intensas que sejam - sempre cedem à calmaria.

Notas:

1. Luthans, F. (2002). The need for and meaning of positive organizational behavior. Journal of Organizational Behavior, 23(6), 695-706.
2. Ryff, C.D., & Singer, B. (2003). Flourishing under fire: Resilience as a prototype of challenged thriving. In C.L.M. Keyes & J. Haidt (Eds.). Flourishing: Positive psychology and the life well-lived (pp. 15-36). Washington, DC: American Psychological Association.

3. Conforme citada em Lopez, S. J., Prosser, E.C., Edwards, L.M., Magyar-Moe, J.L., Neufeld, J. E., & Rasmussen, H. N. (2005). Putting positive psychology in a multicultural context. In Snyder, C.R. & Lopez, S.J. (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 700-714). New York: Oxford University Press.

4. Yuossef, C.M., & Luthans, F. (2007). Positive organizational behavior in the workplace: The impact of hope, optimism, and resilience. Journal of Management, 33(5), 774-800.

5. Xavier, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). (1977). Pão Nosso. 5ª edição. FEB: Rio de Janeiro, capítulo 118.

6. ______. Idem. Capítulo 136.

7. ______. (1977). Rumo Certo. 2ª edição. FEB: Rio de Janeiro, capítulo 10.


Anselmo Ferreira Vasconcelos

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