segunda-feira, 27 de junho de 2022

Auto-aceitação


O nosso aprimoramento, de espíritos eternos, no longo processo da evolução espiritual, precisa contar com a nossa auto-aceitação, através do possível conhecimento que tenhamos de nós mesmos. Não é fácil.
A religião procura nos ajudar, as ciências do comportamento trazem, hoje, suas importantes contribuições. Para podermos nos ajudar, precisamos, cada vez mais, conhecer e, sobretudo, aceitar-nos.
Essa compreensão é tão necessária que Allan Kardec indagou aos Mentores Espirituais:

- Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir à atração do mal?

- Um sábio da antiguidade vo-lo disse: "Conhece-te a ti mesmo". (Questão nº 919 de O Livro dos Espíritos.)

Sob o ponto de vista religioso, Kardec debruça-se sobre o Evangelho de Mateus e nos lembra: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial". (Mateus, cap. V.vv.44, 46 a 48.)

A seguir ele analisa o comportamento do homem de bem e comenta: "Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera." (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3, parágrafos 12 e 13.)

Em nosso aprimoramento existe a necessidade da auto-aceitação, pela qual possamos reconhecer as nossas possibilidades e limitações e, sobretudo, não sermos dependentes absolutos da aceitação ou desaprovação dos outros.
Precisamos ter a vontade de ver, de entender, de saber e sermos conscientes, cada vez mais, de nós mesmos.
Quando percebemos o que pensamos, sentimos e somos, teremos condições de mudanças no aprimoramento da nossa personalidade ou espírito.
Se nos olharmos em um espelho, poderemos observar certas partes do nosso corpo de que nós não gostamos, sob o ponto de vista estético, e teremos o impulso de não olhar mais para aquela parte, por exemplo: sejam os olhos, a boca ou o nariz.
No entanto, temos que aceitar aquelas partes, quando não haja recurso financeiro ou condições técnicas para a cirurgia plástica.
Há pessoas que sentem e dizem: - "Ah, eu não gosto de ver tal parte do meu corpo". Consideremos que gostar é diferente de aceitar. A pessoa pode não gostar, mas ela precisa aceitar aquela parte do seu corpo para psicologicamente estar bem.
Precisamos aceitar o que somos para podermos melhorar e chegarmos àquilo que queremos ser.
Desta maneira, aproveitemos alguns minutos para "visualizar" um sentimento ou uma emoção que não conseguimos enfrentar com facilidade: dor, medo, insegurança, tristeza, humilhação, inveja, raiva. Depois de focalizar este estado mental ou emocional, procuremos senti-lo sem oferecer resistência, aceitando-o como ele é.
Exemplifiquemos com uma situação em que deveremos falar a um público e temos medo de falar a um grupo de pessoas.
Deveremos aceitar o medo. Saber que esse medo é natural para a maioria das pessoas. Procuremos controlar a situação. Após a aceitação do medo e das reações que ele provoca: aumento do batimento cardíaco, respiração mais rápida, pode haver até aumento de transpiração, desenvolver procedimentos que nos ajudem a enfrentar a situação e não fugirmos dela. Inspirar e expirar profundamente, aceitar a alteração orgânica como natural, pensarmos que é um estado mental e emocional passageiro, enfrentarmos a situação desconfortante e falarmos o que tem que ser dito.
Com o passar do tempo assumiremos o controle orgânico e as idéias fluirão com mais facilidade. Finalmente sentiremos grande alívio e bem-estar por termos exercitado a auto-aceitação, enfrentado o medo e nesse estado intelectual e emocional de auto-aceitação termos vencido o problema.
Essa técnica de auto-aceitação preconizada por muitos psicólogos vem nos ajudar no processo psicológico e espiritual do auto-aprimoramento, se pudermos aplicá-la sempre que tivermos desafios pela frente.
Ao lado do "conhece-te a ti mesmo ", usemos, também, o "aceita-te a ti mesmo".

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O sol da esperança


Por vezes, a vida nos oferece maus momentos. Sofrimento, lágrimas e infelicidade nos visitam e nos sentimos desesperançados e infelizes.
Nesses momentos amargos, em que a alma dolorida se volta para Deus e indaga Por que passo por essas provações?, é a hora em que devemos lembrar de uma palavra luminosa: a esperança.
Narra a tradição grega que uma jovem chamada Pandora recebeu uma bela caixa com a recomendação de jamais abri-la.
Mas Pandora era curiosa e desobediente. Ao abrir a caixa, ela liberou todos os males, misérias e sofrimentos no Mundo.
Desesperada, Pandora chorou. Mais tarde, viu que, após saírem todas as mazelas, havia ficado, no fundo da caixa, a esperança.
Brilhava sozinha a esperança - um fiozinho de luz que pulsava. Mas que poder possuía!

* * *

O mito de Pandora deve ser refletido profundamente, em especial quando estamos atravessando momentos difíceis.
Observe que, na lenda grega, é um ato da própria Pandora que liberta os males do Mundo. Na nossa vida não é muito diferente: em geral, somos nós mesmos que, de alguma forma, provocamos muitos males que nos atingem.
Por isso, cada momento difícil é uma oportunidade de meditarmos e analisarmos qual foi a nossa contribuição para aquela situação.
No entanto, a lenda de Pandora vai além: ela mostra que - apesar da gravidade dos sofrimentos - não estamos completamente sós: há uma luz posta por Deus para nos consolar e devolver o brilho em nossos olhos.
Essa luz é a esperança.
Esperança que restaura as forças, reequilibra o coração, acalma as emoções.
A esperança é a mão generosa que acende a luz quando estamos mergulhados na treva profunda. É medicamento quando nos contorcemos em dores.
Esperança é canção suave, que nos acalenta quando nos sentimos desamparados. É um olhar de compaixão no instante em que o Mundo nos rejeita.
A esperança nasce de gestos de generosidade, de atitudes espontâneas, de palavras corretas.
Mas não se habitue apenas a aguardar que a esperança venha gratuitamente se aninhar no seu coração. Abra as portas da alma para ela!
Para isso, é necessário educar o coração.
A esperança é como um visitante importante. Devemos nos preparar adequadamente para recebê-la. A primeira atitude é retirar a poeira do pessimismo.
Depois, varrer as sujeiras acumuladas pela mágoa. Essas sujeirinhas têm vários nomes: rancor, maledicência, desejo de vingança.
Em seguida, com a casa mental bem limpa, é hora de perfumá-la com bons pensamentos, sorrisos, serenidade e otimismo.
Então, quando menos se espera, eis que chega a esperança. Viaja em uma carruagem dourada, espalha flores pelo caminho e se instala no Espírito fazendo festa.
É uma presença tão forte, tão bela, que transforma de imediato o ambiente em que se hospeda: impregna a alma de coragem e de alegria.
Esperança é um sol que nasce após uma longa noite escura. Chega trazendo calor e a luz dourada de um dia cheio de boas realizações. Ela aponta, firme, para um futuro radioso. Basta recebê-la.

Redação do Momento Espírita.

Imagem ilustrativa

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Como enfrentar as “culpas” e desculpas?


A percepção da “culpa” tem sido objeto de investigações e influências no amplo debate temático da Doutrina dos Espíritos e das ciências psíquicas. Sabe-se que são intermináveis e graves as consequências da conservação da “culpa” em nossa vida, podendo alcançar indescritíveis destroços emocionais, psicológicos, comportamentais e morais.
A famosa “culpa” se consubstancia numa sensação de angústia adquirida após reavaliação de um ato tido como reprovável por nós mesmos, ou seja, quando transgredimos as normas da nossa consciência moral.
Sob o ponto de vista religioso, a “culpa” advém na transgressão de algo “proibido” ou de uma norma de fé. A sanção religiosa tange para a reprimenda e condenações punitivas. A sinistra “culpa” religiosa significa um estado psicológico, existencial e subjetivo, que indica a busca de expiação de faltas ante o “sagrado” como parte da própria autoiluminação como experiência sectária. Frequentemente a religião trata a “culpa” como um sentimento imprescindível à contrição e a melhoria pessoal do infrator, pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer como “pecaminoso” o ato cometido.
Essa interpretação religiosa não se compatibiliza com as propostas espíritas, até porque a “culpa” é uma das percepções psíquicas que não se deve nutrir, por ser uma espécie de mal-estar estéril, uma inútil insatisfação íntima. Em verdade, quando nos culpamos tolhemos todo o potencial de nos manifestar com segurança perante a vida.
A “culpa” tem perigosas matrizes nas exigências de autoperfeição que nos constrange a curvar-nos diante de alguns atos equivocados. Tal estado psicoemocional provoca em nossa consciência alguns sentimentos prejudiciais tais como o autojulgamento, a autocondenação e a autopunição. Importa libertar-nos das lamentações, dos processos psicológicos de transferência da “culpa”, da autocomiseração, das condutas autopunitivas e assumirmos com calma a responsabilidade pelos nossos próprios atos.
É verdade! O comportamento autopunitivo causa gravíssimas doenças emocionais, notadamente a depressão. Atualmente a depressão é um colossal drama humano. “Eu não mereço ser feliz”, “eu não nasci para ser amado”, “ninguém gosta de mim” etc. Aqui se manifesta um comportamento autopunitivo de complicado tratamento psicológico e espiritual. Neste caso a “culpa” está punindo e aprisionando. O culpado está acomodado na queixa e na lamentação (pela “culpa”). Mais amadurecido psicologicamente poderia avançar pelo caminho do auto perdão e capacitaria abrir mais o coração para a vida.
Nas patologias depressivas, muitas vezes há muito ódio guardado no coração. Muitas vezes oscilamos entre atos que geram a artimanha do “desculpismo” e ações que determinam a “culpa”. Dependendo de como lidamos com tais desafios, a “culpa” permanece mais forte, produzindo situações que embaraçam o estado psíquico e emocional, razão pela qual não nos podemos exigir perfeição, inobstante, devemos fazer esforços contínuos de autoaperfeiçoamento, afastando do “desculpismo” que nada mais é do que uma porta de escape para a fuga das próprias obrigações.
Sim! É preciso que nos perdoemos. O autoperdão ilumina a consciência, predispondo-nos à reparação necessária a fim de realizarmos o bem àqueles a quem fizemos o mal; praticarmos a bondade em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-nos humildes se temos sido orgulhosos, amáveis se temos sido austeros, caridosos se temos sido egoístas, benignos se se temos sido perversos, laboriosos se temos sido ociosos, úteis se temos sido inúteis.
Pensemos o seguinte: nós erramos porque somos humanos ou somos humanos porque erramos? Na verdade, todos acertamos e erramos, não há pessoas perfeitas na Terra. Se fizermos as coisas certas nos regozijemos por isso, porém se erramos sigamos em frente e aprendamos com o erro, pois quando aprendemos com os erros eles se tornam o grande caminho da lição e do crescimento interior. Desta forma fica ilustrado que, se errar é humano, diluir os erros e ter resignação são as alavancas para impulsionar a vida, para prosseguir a marcha nas trilhas do bem, trabalhando e servindo, para reparar os fracassos da caminhada.

Jorge Hessen

Imagem ilustrativa