sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A fraternidade não se decreta


A fraternidade entre os homens foi um dos mais importantes preceitos ensinados por Jesus. No entanto, após mais de dois milênios ela ainda não se estabeleceu nem mesmo entre todos os cristãos. Promulgando-se a fraternidade universal como lei civil, não se daria um impulso para que a felicidade tão sonhada pela humanidade se realizasse na Terra? Essas foram reflexões feitas por um grupo espírita. Ao pedirem instruções a esse respeito ao guia espiritual do grupo, a seguinte comunicação lhes foi ditada:

"O homem quer ser feliz, ele almeja viver em um mundo mais feliz, onde os seus direitos naturais sejam respeitados por todos e a verdadeira fraternidade seja o elo vibrando em todos os corações; um mundo, enfim, onde as instituições sejam todas erigidas sobre as bases da lei de amor e de caridade.

No entanto, a fraternidade, assim como todas as demais virtudes, são sentimentos íntimos, dados por Deus às suas criaturas, inicialmente em germe, mas que só se desenvolvem por uma vontade ativa com o auxílio da razão e do amadurecimento do senso moral. Por aí se vê que a fraternidade, tão desejada, não pode ser imposta por decreto, como aliás nenhuma outra virtude, por ser um dever de consciência, portanto um dever moral; tentar forçá-la na criatura livre é fazer hipócritas, o que produziria um grande mal para a sociedade, podendo incitar mesmo o ódio, que é seu contrário.
Vemos o tumulto gerado nas consciências quando se tenta impor um sentimento qualquer por decreto ou à força de ruídos ecoando em toda parte. Não, não, a fraternidade não se impõe, porque seria uma violação da liberdade de consciência que é dada por Deus a todos os seus filhos. As leis humanas podem estabelecer uma ordem na sociedade, fazendo respeitar os direitos de cada um, por uma justiça bem entendida, mas não podem impor, à força de decretos, deveres que são exclusivamente da alçada da consciência, assim como não é da alçada das leis humanas, ou do direito positivo, sancionar infrações cometidas ao dever moral, justamente porque o homem não tem qualquer acesso aos sentimentos íntimos de seus semelhantes.
Se quereis uma sociedade mais justa, mais fraterna, que cada um observe os mandamentos morais deixados pelo Cristo: Não faças ao próximo o que não queres que te façam; faças ao próximo o que gostarias que te fizessem. Eis aí o excelente remédio para boa parte dos males sociais que enfrentais, e que está ao alcance de todos, sem exceção.
Admitindo-se que o pior inimigo da sociedade é o egoísmo, esse vício terrível que arrasta um cortejo de suscetibilidades, descobrireis que o único antídoto eficaz para esse mal é a caridade, como a entendia Jesus: benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições de outrem, perdão das ofensas. Onde há egoísmo, não pode haver verdadeira fraternidade. Quando o egoísmo fala, a fraternidade se cala e a intolerância ganha força; a hostilidade se espalha e todos se ressentem dos efeitos da desunião gerada no seio da grande família humana, como se ressentem os membros de uma família quando a desarmonia se faz dentro do lar.
Espíritas, atentai para o que tendes buscado e com o que tendes alimentado a vossa alma. Compenetrai-vos de que estais no mundo para cumprir as provas escolhidas, e não sois constrangidos a mergulhar vossa alma na incredulidade espalhada pelos inimigos do progresso e da ordem social. Lembrai-vos que a cada um será dado segundo as suas obras, e não segundo o que disse, viu ou ouviu dizer."

Allan Kardec

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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Paz pela Paz


“A paz do mundo começa em mim.” (Nando Cordel) *

Dias de absoluta agitação e incertezas pelo mundo, mormente pelos países do Oriente Médio, local este em que há 4.000 anos os conflitos tiveram início com os povos hebreus que chegaram a Canaã (hoje Palestina) lá encontrando os cananeus e os filisteus, conquistada em uma campanha militar sob o comando de Josué.
Essa história ficou marcada por três períodos a saber: Os Patriarcas, os Juízes e a Monarquia. Apesar de os historiadores discordarem entre si, o que não muda são os conflitos que marcaram a região. A guerra sempre esteve presente. É dessa parte do mundo que surgiram grandes personalidades da História Universal, e, no meu parecer, o maior de todos foi e continuará sendo Jesus, filho de Maria e José, o carpinteiro.
Ao contrário de fomentar a discórdia, em disputas frenéticas e sangrentas por posses materiais e poder sobre os povos, Ele proclamou que seu reino não era deste mundo; que todos são irmãos e filhos de um único Pai; que não havia diferença entre ricos e pobres, sexo ou cor da pele, raças ou origens; uma só linhagem; todos são igualmente herdeiros do seu trono; que sua missão na Terra foi separar o joio do trigo e unir os homens de boa vontade, “porque esses serão os bem-aventurados do meu Pai que está nos céus”.
Com o seu poder de autoproclamar-se filho do homem e afirmando “Eu e o Pai somos um”, disparou a inveja e a revolta das autoridades, que não fizeram nenhuma questão de entender o significado de sua mensagem e conspiraram junto ao poderio romano, até conseguir que fosse preso, torturado e levado ao Calvário para ser crucificado pela turba infamante que o sentenciou, sem que fosse sequer julgado e sem direito à defesa. Ainda assim afirmou que não veio destruir a Lei, mas fazer com que ela fosse cumprida.
Na sua estada pela Terra, curou os doentes e enfermos de toda sorte, do corpo e do espírito, praticando o bem e o perdão das ofensas, oferecendo o outro lado da face para os seus agressores e pedindo ao Pai que os perdoassem porque eles não sabiam o que estavam fazendo, deixando a cada um seguir o curso da vida que escolhera viver: “A cada um segundo as suas obras”.
Tudo isso aconteceu há mais de 2.000 anos. Há 2.023 anos para ser exato. Naquele momento Ele mudou o paradigma do “olho por olho, dente por dente” para “ama ao próximo como a ti mesmo, faça ao outro aquilo que gostaria que fosse feito a você”, semeando assim as sementes profícuas do amor pela humanidade como única solução para todos os conflitos e remédio para todos os males. Umas caíram em espinheiros e outras entre as pedras ou à beira do caminho, e poucas caíram em terreno fértil e deram frutos sazonados. O Evangelho para todos os povos, cuja máxima “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”, continua sendo propagado aos quatro cantos do planeta pelos homens de boa vontade, para que possa servir de parâmetro para avaliarmos quanto evoluímos os nossos sentimentos nestes dois milênios; quanto estamos diferentes daquele povo que crucificou o substrato e a essência do amor e da paz; como estou me comportando diante do meu próximo que não pertence à minha família consanguínea, religião ou partido político; quanto estou disponível para ajustar os meus pensamentos, sentimentos, atos e emoções, para que a harmonia e o equilíbrio possam ser a palavra de ordem do meu existir. Por onde vagueiam os meus desejos ocultos? Estou sendo verdadeiro e sincero comigo e com os outros? Posso no fim do dia, ao recolher-me para repousar, ter a coragem de fazer a pergunta de Santo Agostinho: “o que fiz hoje que poderei fazer melhor amanhã? O que preciso melhorar em mim?” Estou, de fato construindo a paz?


“A Paz do Mundo
Começa em mim.
Se eu tenho amor,
Com certeza sou feliz.

Se eu faço o bem ao meu irmão,
Tenho a grandeza dentro do meu coração.
Chegou a hora da gente construir a Paz
Ninguém suporta mais o desamor.

Paz pela paz, pelas crianças, pelas florestas, pela coragem de mudar, pela justiça, pela liberdade, pela beleza de te amar, pro mundo novo, a esperança.

Paz pela Paz.” (*)

(*) Letra da canção de Nando Cordel – Paz pela Paz.

Arleir Bellieny

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Bons hábitos


"A moral é a regra do bem proceder..."

As pessoas que têm moral são as que procedem bem, ou seja, tem hábitos positivos. Agir moralmente é ter atitudes que promovam o bem geral.
Moral, desta forma, está relacionada à ação, ou seja, aos hábitos adquiridos.
Podemos melhorar moralmente e, para isso, não existe outro caminho senão o que passa pela aquisição de bons hábitos.
A razão tem papel fundamental nesse processo, pois, antes de adquirirmos hábitos morais sadios, precisamos usar bem o intelecto. É ele que vai nos dar consciência do que é certo e do que é errado nas diversas situações que vivemos.

James Hunter e os hábitos morais

O autor do best-seller O Monge e o executivo trabalha com uma linha muito interessante. Propõe que hábitos morais podem ser adquiridos com treinamento e muito esforço. Para tanto precisamos, necessariamente, passar por algumas etapas.

1. Inconsciente e sem hábito

Antes de ter o hábito adquirido a pessoa não sabe que necessita tê-lo.
É preciso saber o que deve ser mudado, o que deve ser conquistado e por quê, para que haja um esforço na aquisição do hábito.
Dessa forma, todos passamos por essa etapa de não saber o que precisamos mudar. Somos ignorantes em relação aos novos hábitos. É como a criança que ainda não foi orientada que deve escovar seus dentes sozinha.

2. Consciente e sem o hábito

Chega um momento em que alguém nos informa, ou tomamos conhecimento através de livros, palestras ou experiências de vida, da necessidade de termos hábitos morais sadios.
É aí que passamos a ter conhecimentos teóricos sobre a importância desses hábitos. Ainda não agimos, mas temos o conhecimento intelectual. Somos semelhantes às crianças que ouviram da mãe a importância da higiene bucal e as instruções de como escovar corretamente os dentes.

3. Consciente com o hábito

Após a tomada de consciência do que deve ser feito e do como deve ser feito, passamos a treinar os hábitos morais sadios.
Após um bom período de repetições e esforços, já agimos com mais naturalidade. Sabemos como agir e nos esforçamos para isso.
Nossos esforços são recompensados com as ações boas. As situações problema surgem e o intelecto já aciona a pessoa na tomada de decisões.
Seguindo o exemplo da criança, estamos numa fase onde além de saber como escovar os dentes e da importância desse hábito, despertamos pela manhã e nos lembramos de que devemos realizar a escovação e nos dirigimos à pia, procurando de forma consciente a escova e o creme dental.

4. Inconsciente e com o hábito

Essa é a fase onde sabemos o que precisamos fazer, mas não necessitamos lembrar a cada situação. Agimos de forma correta nas situações onde devemos fazer o melhor.
Não precisamos recorrer à memória ou a teorias. Passamos a agir naturalmente, de forma espontânea, pois já temos o hábito adquirido.
O menino já escova os dentes de forma automática. Pensa em outras coisas, sem precisar repassar as instruções da mãe no que diz respeito ao sentido da escovada... se de baixo para cima ou de cima para baixo. Simplesmente faz.
É uma espécie de segunda natureza. O hábito está adquirido.
Treino, treino e treino.
Mesmo que muitos digam: "falar é fácil, o negócio é fazer", é bom nos desafiarmos a adquirir bons hábitos.
O mundo se tornará um lugar melhor para viver, na medida em que nos melhorarmos moralmente.
Precisamos agir corretamente, pensando no bem das pessoas a nossa volta.
E nada melhor do que o esforço real, que o treinamento constante, para adquirirmos novos valores, novas capacidades.
São esforços pequenos e diários que certamente valerão a pena.

Cristian Macedo
https://www.oconsolador.com.br/3/cristianmacedo.html

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