sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Estejamos atentos


A jornada humana tem por meta nos conduzir, pouco a pouco, ao patamar evolutivo da perfeição relativa, quando, junto ao Pai, continuaremos a contribuir usando todo o aprendizado acumulado ao longo de muitas existências. Seremos auxiliares na manutenção da ordem do Universo, sempre sob a direção do Criador.
O método determinado por Deus para nos conduzir à perfeição possível, ocorre através das experiências acumuladas por meio de muitas existências – a lei da reencarnação -, e, durante estes períodos em que estamos encarnados em um mundo qualquer, somos submetidos sistematicamente a provas, contudo, quando não as aproveitamos, sendo derrotados destas verificações, em função de nossas escolhas, podemos causar prejuízos aos semelhantes e a nós mesmos, que se traduzem por expiações.
E, tudo indica: os Espíritos por hora vinculados à Terra, possuem várias etapas expiatórias a cumprir em função de um passado não tão nobre.
Sendo assim, os acidentes morais e materiais, de toda ordem, devem ser esperados por todos, regularmente, alguns Espíritos mais afetados do que outros, mas, geralmente, não há quem escape destes percalços, representando inacabadas e novas provas, ou expiações originadas em existências anteriores, se não fosse assim, o mundo não seria ainda de provas e expiações.
Até os missionários, experimentam verificações e, como ainda não são perfeitos, podem também passar por provas e pequenas expiações, necessárias para depurar os débitos remanescentes.
Contudo, estas dificuldades jamais visam a nossa punição, apenas a nossa evolução, são elementos educativos indispensáveis para alcançar a meta final.
Então, caso a nossa jornada esteja caminhando sem nenhum conflito íntimo, nenhuma dificuldade de monta, sem nenhuma apreensão financeira, boa saúde, relacionamentos afetivos sem crises, tudo aparentemente caminhando bem, é preciso aguçar a percepção, pois há algo errado, alguma coisa não está correta, é um típico sinal de atenção.
Todavia, isto não parece um absurdo? Então, eu tenho que desejar problemas, mais sofrimentos, adicionais dificuldades, para me sentir tranquilo interiormente!?
Na realidade, não é assim, pois ninguém gosta de sofrer, e a proposta do Criador, certamente, não é esta, mas em orbes de resgates, como o nosso ainda se caracteriza, tenhamos a certeza de que, se não estivermos envolvidos em nenhum drama moral, é sinal de que não iremos progredir, pois somos testados durante as dificuldades, uma vida sem desafios é uma existência quase perdida.
São estes reveses que nos preparam para novas conquistas, nos capacitam para outras nobres empreitadas, fortalecem a nossa resistência íntima, proporcionam ocasiões para os tão necessários testemunhos de fé e resignação, testam a nossa paciência e disciplina.
Recordemos que o próprio Allan Kardec se viu arruinado financeiramente e, diga-se, não por sua responsabilidade, contudo, não se deixou abalar, superou esta significante dificuldade.
Contudo, os mais rebeldes, se revoltam contra estas indispensáveis verificações, se encastelando, irritadiços, em seus mundos íntimos, com condutas que em nada os auxiliam, agravando, desta forma, seus quadros expiatórios, que surgirão inapelavelmente no futuro, quando forem convocados à novas reencarnações, uma vez que, dívida não paga indica saldo devedor à economia moral do Planeta.
Sejam quais forem os dramas morais enfrentados, armemo-nos com as armas da esperança, da pacificação e da mansuetude. A revolta em nada facilitará estas passageiras etapas de aprendizado. Munamo-nos da fé, mas da fé lastreada no raciocínio e compreensão dos mecanismos divinos de evolução, de modo a enfrentar estes momentos difíceis com determinação e aproveitamento, sem cruzar os braços a espera de um milagre que nunca virá.
E mais, por hora, em função de nossa miopia espiritual, ainda cremos que estes infortúnios são injustos, ou, quem sabe exagerados, desproporcionais, contudo, nestas particulares horas de aflição, lembremos de um dos principais atributos da Divindade: a infinita bondade e justiça e, convictos de que Ele só nos deseja o bem, pacifiquemo-nos e prossigamos, hoje e sempre.

Rogério Miguez

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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Casa Espírita: escola, hospital e templo


O caráter filosófico da Doutrina Espírita fundamenta a fé na razão. Para crer é preciso saber. E para que servem os saberes aos quais a Doutrina Espírita nos dá acesso? Justamente para alicerçar a fé raciocinada, que pode oferecer ao homem um roteiro seguro de bem viver.
No entanto, é importante que associemos aos princípios doutrinários as nossas próprias descobertas, num processo constante de autoconhecimento e autoburilamento. Pois se apenas ouvirmos o que os outros sabem, sem aplicar as lições da Doutrina à vida, estacionaremos no círculo de luz do conhecimento alheio, sem alçar o vôo da verdadeira libertação.
Espiritismo exige estudo. E se ainda não temos no Brasil uma tradição de leitura, como se costuma dizer, cresce a importância do estudo em grupo, na Casa Espírita que, nesse sentido, é literalmente uma escola.
Porém, por mais intelectualizados sejam os conhecimentos filosóficos do Espiritismo, a Casa Espírita é uma escola de almas, e por isso não se detém apenas no saber, mas a partir dele alcança o sentir e o ser. Seu objetivo é educar o Espírito, individualidade imortal. Os conceitos e as informações que divulga são instrumentos facilitadores para a conquista do bem-estar íntimo, proporcionando uma relativa felicidade, possível de se alcançar na própria existência terrena, mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Mas o núcleo espírita, além de escola, é também chamado de hospital, idéia que nos remete a um lugar destinado a tratamento de enfermidades, para a recuperação da saúde. E o que é saúde? Pelo conceito da OMS, não é simples ausência de enfermidade, é mais. É bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista holístico, já se acrescenta a esses três aspectos mais uma instância – a espiritual, não com a marca religiosa, mas como uma potencialidade do ser.
Assim, podemos afirmar que, na Casa Espírita, tem-se o mesmo conceito, ampliado pela certeza da concretude do Espírito. Porque, se o Centro Espírita é um hospital de almas, ao orientá-las no caminho do equilíbrio, cria condições para a conquista do bem-estar psíquico, físico e, conseqüentemente, social. A medicina ali desenvolvida não trata de curas do corpo, mesmo que pela profilaxia do perdão e do despertar da consciência até nos possibilite alcançá-las, através da fé que transforma as matrizes distônicas do Espírito, responsáveis pelos transtornos orgânicos. Porém, as enfermidades da alma são o objeto principal de tratamento.
E quais seriam as grandes enfermidades da alma? Nós as conhecemos. Dentre elas o orgulho, a vaidade, o ciúme, o egoísmo, a inveja e suas máscaras.
A Doutrina Espírita nos oferece as vacinas para que possamos erradicar essas doenças, dando condições ao homem para que conquiste melhor qualidade de vida, não só na existência terrena, como no Mundo Espiritual.
Mas por que também se diz ser a Casa Espírita um templo ou uma casa de oração? A palavra templo é associada à religião, e religião, por sua vez, à igreja. No entanto, Espiritismo não é igreja, isto é, não constitui uma organização hierárquica, com pessoas ungidas para esta ou aquela função; nem se apóia em dogmas e rituais. É religião, do ponto de vista filosófico que, alicerçado na metodologia científica, aponta-nos o caminho da Moral Divina. Através do constante tratamento espiritual a que nos submetemos, na Casa Espírita, descobrimos que ao retomarmos as conexões com a nossa origem - a que chamamos Deus – restabelecemos também as conexões com nós mesmos, com os outros, e temos maiores possibilidades de alcançar o equilíbrio. Para isso é inegável a importância da prece, expressão de religiosidade, como conseqüência da filosofia e da ciência, esses pilares sobre os quais se apóia o caráter moral libertador do Espiritismo.
A Casa Espírita, em relação à prece, oferece ambiente que facilita o recolhimento. Daí, o templo.
Enfim , uma Casa Espírita é sempre um dínamo de amor em ação, caridade que liberta.

Rita Côre

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terça-feira, 6 de setembro de 2022

O bom e o bonzinho


Desde que o mundo é mundo o ser humano tem um objetivo. Alguns tentam conquistar, porém, como é complicado conseguir o equilíbrio acabam por submergir nos exageros.
E o grande objetivo é: ser bom. A maioria das pessoas prefere ser bonzinho, o que venhamos e convenhamos é bem diferente do que ser bom.
Ser bom requer esforço, superação, perseverança, dedicação...
Ser bonzinho requer apenas omissão. Sim, porque o bonzinho nunca diz não, não discorda de ninguém mesmo quando sabe que tem razão, agrada a tudo e a todos, não tem senso crítico e por ai vai.
O bonzinho além de tudo é prepotente e não sabe, porque se julga humilde, mas em realidade ele quer ser unanimidade, quer ser apreciado por todos e busca os elogios incessantemente, em suma, não consegue conviver com críticas, com opiniões contrárias, com diferenças, por isso veste a bondade superficial como um escafandro que lhe protege da verdade.
Nossa sociedade infelizmente está impregnada de bonzinhos; políticos bonzinhos com promessas eleitoreiras para agradar a população, profissionais bonzinhos que preferem não debater, dialogar e até discordar do superior, professores bonzinhos que deixam alunos assinar a lista e se mandar da sala de aula, religiosos bonzinhos que dizem justamente o que os fieis querem ouvir apenas para agradá-los sem se preocupar com a verdade. Mas o pior de tudo é quando os bonzinhos são os pais.
Ser pai ou mãe bonzinho e boazinha é apenas dizer sim ao filho, não repreendê-lo, não orientá-lo, não contrariá-lo. Um perigo!
Talvez seja esse o motivo de mais de 15% de nossas crianças estarem com obesidade infantil, os pais são bonzinhos demais, fazem tudo que o filho quer. E ainda por bondade dos pais nossas crianças passam mais de 5 horas à frente da televisão e distante dos livros.
Por bondade dos pais nossas crianças vivem abarrotadas de brinquedos e carentes de carinho, e por bondade dos pais nossas crianças assistem à programações inúteis que nada acrescentarão a seu desenvolvimento. Tudo culpa do querer ser bonzinho ou boazinha.
Pais bonzinhos acreditam que o filho pode tudo, julgam que seus pupilos são santos e melhores que o filho do vizinho, criam então mini ditadores e depois não sabem como impor limites.
Iremos progredir como nação, como sociedade, quando aprendermos de fato o significado do que é ser bom. O que é ser um bom pai? O que é ser um bom filho? O que é ser um bom profissional, um bom religioso, um bom político?
O que é realmente caridade e por qual razão é ela a salvação de nosso mundo?
São questões que podemos começar a nos perguntar para chegarmos de fato a um consenso de como agir sem descambar aos exageros.
Dizer não mas saber como dizer, discordar mas saber como discordar, impor limites mas saber como impor, orientar mas saber também ouvir são pontos importantes para quem quer alcançar o objetivo de ser Bom e não apenas bonzinho.
Porque ser bom requer trabalho, labuta íntima e humildade para reconhecer que o gosto por ser unanimidade pode por tudo a perder.
Ser bom é dizer não quando preciso, é admoestar quando necessário, é impor limites e ensinar disciplina. Ser bom é discordar com educação.
Ser bonzinho é omissão, ser Bom é ação.
Cabe-nos decidir onde queremos nos encaixar:
Ser bom ou bonzinho?

Wellington Balbo

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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Alegrias tristes


“Sofre hoje o que te falta, adquirindo a paz para amanhã, ao invés de adquirir estranha conquista para agora, que te amargará os dias do porvir.” Joanna de Ângelis

Por paradoxal que possa parecer à primeira vista, existem alegrias tristes… Ajaezadas pelas guirlandas das ilusões e ouropéis, costumam essas “alegrias” prender-nos em calvários de dores inenarráveis.
André Luiz recomenda o exame cuidadoso de nossas alegrias, pois só é verdadeira aquela que também continua sendo alegria mais tarde.

Allan Kardec assevera : (2)

“(…) para que cada qual trabalhe na sua purificação, reprima as más tendências e domine as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas compreender. Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus”.

Parecendo oferecer-nos paradoxos, Delfina de Girardin declara : (3)

“infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro…
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! As provações, credoras impiedosas vos espreitam o repouso ilusório, para vos imergir de súbito na agonia verdadeira da infelicidade, daquela que surpreende a Alma amolentada, pela indiferença e pelo egoísmo”.

Alerta-nos Joanna de Ângelis: (1)

“(…) não te facultes a fixação das ideias que te turbem a lucidez, que te alegrem-entristecendo, dando-te e retirando-te o prazer e ameaçando a tua estrutura emocional, disfarçada nas promessas de prazeres que não fruirás, e, mesmo que os logres, passarão, deixando-te varado de dor, fulminado pelo desencanto ou esmagado pelo arrependimento”.

Conta-nos Erasto (4), discípulo de Paulo, que Santo Agostinho, quando entregue aos maiores excessos, sentiu em sua alma aquela singular vibração que o fez voltar a si e compreender que a felicidade estava alhures, que não nos prazeres enervantes e fugitivos; tornando-se, desde então, um dos mais fortes sustentáculos do Evangelho.

Conclui o Mestre Lionês : (5)

“(…) a humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perdem-se na imensidade. Grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; proletários e potentados são da mesma estatura, e é lamentável que criaturas a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão.

A importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura”.


Referências Bibliográficas:

(1) FRANCO, Divaldo. Vigilância. 2.ed.2002, Salvador: LEAL, cap. 17;
(2) KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.Rio de Janeiro: FEB, 2002, 2ª parte – Capítulo I, item 14;
(3) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. V, item 24;
(4) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2003, cap. I, item 11;
(5) Idem ibidem cap. II, item 5.

Rogério Coelho

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