quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Provação e expiação


Quando a dor nos bate à porta e enche de sombras nossa vida costumamos chorar ou nos desesperar.
Abatidos, olhamos em torno e invejamos os felizes do mundo: os que têm riquezas, os que aparentam não ter preocupações, os que têm saúde ou família perfeitas.
Nessas horas de provação lamentamos e choramos. Raras vezes aproveitamos a ocasião para meditar e retirar aprendizados.
Muitas vezes, aqui na Terra, as preocupações da vida material nos cegam.
Ficamos tão aflitos com o que haveremos de comer ou de beber que esquecemos de que temos Deus, um Pai amoroso que cuida de todos nós.
Acredite: ninguém está esquecido por esse Pai amoroso e bom, que faz nascer o sol sobre bons e maus, que faz cair Sua chuva sobre justos e injustos.
Muitas vezes nos perguntamos:

Por que isso aconteceu comigo? 

A pergunta deveria ser diferente:

Para quê isso aconteceu comigo?

Sim, toda e qualquer experiência – sofrida ou feliz – traz um aprendizado importante. São momentos que vão enriquecer nossa alma.
Deus não brinca com as nossas vidas. E se Ele permite que certas coisas aconteçam conosco é porque há um objetivo útil e importante para nós.
Faça uma retrospectiva: observe os momentos difíceis de sua existência. Cada um deles trouxe algo de novo, um aprendizado especial. Cada lágrima acrescentou sabedoria, experiência, um novo olhar sobre a vida.
A doença, por exemplo, nos ensina a valorizar a saúde, a cuidar melhor do corpo. A pobreza nos revela a importância do trabalho e do esforço pessoal. A família difícil nos oferece a lição da tolerância.
Enfim, as privações nos ensinam a ser mais sensíveis perante o sofrimento alheio. Essas lições são interiorizadas: nós as guardaremos para sempre.
Na verdade, as dificuldades são advertências que a vida nos apresenta, alertas sobre nossas atitudes perante o próximo.
Se algo ruim nos ocorre, vale a pena se perguntar:
 
O que posso aprender com isso? 

Como posso melhorar a partir desse episódio?

Mas, atenção: nada disso significa que devemos cultuar a dor. Nada disso! Bem sofrer não significa cultivar o sofrimento, ser conformista ou agravar as dores que sofremos.
Bem sofrer significa enfrentar as situações com fé e coragem, alimentar a esperança enfrentando as situações com serenidade.
Assim, busque soluções, lute por sua felicidade. Mas faça tudo isso com tranquilidade.
Quando desabarem sobre você as tempestades da vida, não se entregue à revolta destruidora. Silencie, ore e procure descobrir o aprendizado oculto que a situação traz.
Acredite: por mais amarga seja a experiência, os frutos desse aprendizado jamais se perderão e eles poderão nos tornar mais sábios e generosos.
Por isso, cada vez que as lágrimas visitarem seu rosto, erga os olhos para o céu e agradeça.
Nas suas orações, peça a Deus a força necessária para superar o momento difícil e a inspiração para encontrar soluções.
E Deus, que nos ama tanto, não deixará de atendê-lo na medida de suas necessidades espirituais.
Quando o momento difícil passar, você se sentirá bem melhor se não tiver de lembrar que se entregou ao desespero, que gritou e se debateu.
Em geral, a solução está bem próxima. Se estivermos transtornados de medo ou desespero, será mais difícil resolver o problema. Com calma, logo poderemos ver a luz no fim do túnel.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita.

Imagem ilustrativa

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Um minuto com Chico Xavier


Em março de 1933 Chico Xavier se despediu de José Álvaro Santos e, sozinho, tomou o rumo da Central do Brasil. Enquanto esperava o trem para Pedro Leopoldo, foi surpreendido por dois amigos de seu ex-anfitrião. Traziam uma ótima notícia: ele estava empregado. O rapaz se lembrou do pai, da pobreza, dos irmãos e sentiu vontade de abraçar os dois. Quase chegou à euforia quando ouviu as outras boas novas: teria os estudos pagos no melhor colégio da cidade e ainda receberia dinheiro extra para ajudar em casa. Havia apenas uma condição: Chico deveria assumir a autoria de Parnaso de Além-Túmuloe negar a existência dos espíritos durante duas palestras, uma no auditório da Escola Normal e outra no Teatro Municipal.

O rapaz murchou. Mas ainda teve fôlego para reagir:

- Não posso mentir para mim mesmo. Ouço a voz de minha mãe, escrevo poemas que não são meus. Como posso renegar a verdade?

- Chico, você conhece um passarinho chamado sofrê? Não? O sofrê é um pássaro que imita os outros. Você nasceu com a vocação desse passarinho entre os poetas. Não acredite em espíritos. Esses poemas que você julga psicografar são seus, somente seus.

Nesse momento, Emmanuel apareceu com um de seus trocadilhos: - Sim, volte a Pedro Leopoldo e procuremos trabalhar. Você não é um sofrê, mas precisa sofrer para aprender.

O rapaz voltou para casa e foi recebido por um pai inconformado. João Cândido encheu a boca para chamar o filho de ingrato. Chico já esperava aquela reação. Correu para o armazém de José Felizardo Sobrinho, refugiou-se atrás do balcão e sentiu até certo entusiasmo em cortar toucinho para os fregueses e varrer o chão. Estava se sentindo tão à vontade na cidade natal que no dia 23 de setembro daquele ano, às 21h, assinou, como Primeiro-Secretário, a ata de posse da primeira diretoria do Pedro Leopoldo Futebol Clube.
Parecia até um jovem comum. Quem sabe um dia entrasse em campo e marcasse um gol? Quem sabe chegasse a um bar e pedisse uma cerveja bem gelada ou convidasse uma moça para o cinema?
Não. Chico tinha mais o que fazer. Nas noites de segunda e sexta-feira, ele colocava O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, embaixo do braço e ia para o Centro Luiz Gonzaga. Seguia à risca uma instrução ditada por Emmanuel: fidelidade irrestrita a Jesus Cristo e a Kardec, o codificador da doutrina espírita.
O guia do outro mundo levava tão a sério este mandamento que um dia chegou a determinar a Chico:

- Se alguma vez eu lhe der algum conselho que não esteja de acordo com Jesus e Kardec, fique do lado deles e procure me esquecer.

Do livro: As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.

Regina Stella Spagnuolo

Imagem do livro