terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Um minuto com Chico Xavier
Por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, o Espírito
do célebre escritor francês Vitor Hugo escreveu emocionante história contada
pelo próprio Chico, sobre a presença do iluminado Espírito de São Luiz Gonzaga.
Esse caso está registrado no livro “Árdua Ascensão” (Editora Leal).
Narra Chico, que ali recebe o pseudônimo de Armindo: “Quatro
meses depois da desencarnação de José Xavier (irmão de Chico), o nosso mentor
(Emmanuel) convidou-me a assistir, em parcial desdobramento pelo sono, a visita
que São Luiz Gonzaga faz à Terra, no dia 21 de junho, data que lhe é
carinhosamente reservada pelo calendário católico. Pois bem, José (que recebe o
pseudônimo de Julião) disse-me que deveria estar presente ao ato, porquanto,
desde a desencarnação, ainda permanecia com dor de cabeça, que o afligia de
certo modo, sequela do derrame cerebral que o vitimara. Quando eu recobrei a
lucidez, além do corpo físico, fui conduzido a uma região de incomparável
beleza, onde se reunia expressivo número de Entidades em indisfarçável
expectativa, aguardando a passagem do venerável Benfeitor. José ali se
encontrava também. Não houve tempo, no entanto, para qualquer conversação,
porque uma incomparável melodia coral invadiu o ambiente que irradiava
indefiníveis claridades.
“– É o Benfeitor que se aproxima – informou-me o Guia,
levando-nos, a mim e ao José, a tomar posição numa das aleias floridas... A
emoção agitava-me interiormente e, à medida que o grupo se acercava, podíamos
distinguir um verdadeiro séquito de Espíritos Felizes que repartiam
consolações. As vozes prosseguiam cantando. Ele deslizava tal a leveza dos seus
passos e a harmonia do porte. Quando ia passando por nós, sem poder conter as
lágrimas que me chegavam do coração aos olhos, vi-o, fixando-me docemente, com
inesquecível expressão de bondade na face iluminada. José tremia, ao meu lado,
e pensou na dor de cabeça que o afligia. Sem nenhuma palavra, o venerando
apóstolo da fé tomou de um lírio e deu-lho. Instintivamente, meu irmão levou-o
ao rosto e aspirou-lhe o perfume. A flor, porém, diluiu-se, absorvida naquele
hausto e a cabeça de José iluminou-se, desaparecendo a dor. Ao desejarmos dizer
algo, ele já se havia distanciado, repartindo bênçãos pelo caminho. Fui trazido
de volta e, desde então, o amigo permanece recuperado, feliz.”
José Antônio Vieira de Paula
Cambé, Paraná (Brasil)
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segunda-feira, 22 de setembro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
O Cristianismo está dividido entre os dogmas e o evangelho
Com o assunto que
vamos tratar, não queremos desprestigiar, menos ainda ofender, nenhuma religião, pois sigo o espiritismo que respeita todas as crenças, não condenando
nenhuma. Mas relembro aqui que, frequentemente, muitas pessoas, por serem
orgulhosas e fanáticas com sua religião, elas se revoltam ao ouvirem ou ao
lerem alguma crítica contra seu modo de crer. Não estranho, pois, isso! Aliás,
às vezes, o que menos queremos saber são verdades ainda desconhecidas por
nós!
Há dois
cristianismos: um evangélico e outro que segue mais os dogmas. O evangélico,
que se baseia no evangelho e nas suas variações no Novo Testamento, é aceito
pela grande maioria dos cristãos, sem nenhum problema, embora, na prática, nem
sempre vivenciado. Já o dogmático é constituído de doutrinas polêmicas, pois se
apoia em interpretações forçadas da Bíblia, ora alegóricas, ora literais. E é
por isso que essas doutrinas viraram dogmas. E, no passado, ai de quem negasse
publicamente um deles! Os líderes religiosos, em tudo que falam, eles se
referem a um dos principais dogmas. Seria isso fanatismo, insegurança ou
lavagem cerebral nos fiéis?
Vamos ver uns
exemplos dos dogmas cristãos, com os quais se criou o da Santíssima Trindade. O
de que Jesus é Deus tal qual o Pai, e que surgiu com o Concílio Ecumênico de
Niceia (325). O do Espírito Santo, que diz que ele é também Deus, teve início
no citado concílio e se firmou mais no de Constantinopla (381) e outros
posteriores. Mais alguns outros dogmas: o da Comunhão dos Santos, que prega o
intercâmbio de colaboração recíproca entre os espíritos desencarnados e
encarnados, isto é, entre os seres do mundo espiritual e os do nosso mundo
físico. Ele se tornou polêmico para os cristãos apegados ainda ao Judaísmo, em
que Moisés (não Deus) proibiu o contato com os espíritos. (Deuteronômio
capítulo 18), tal como acontece, ainda hoje, com o espiritismo. O dogma da
Transubstanciação ou Eucaristia, que afirma que, depois de consagrados o vinho
e a hóstia se tornam o Corpo real de Jesus. Originou-se da interpretação
literal dos textos evangélicos: “Isto é meu corpo” e “isto é meu sangue.” Os
protestantes, os evangélicos e os espíritas os interpretam figuradamente.
Cremos que a Transubstanciação oficializada no Concílio Ecumênico de Trento
(1545 a 1563) ganhou muita força entre o clero católico, porque ela dá muito
prestígio para os padres e bispos, pois, segundo muitos deles, é só deles esse
poder de transformar a hóstia e o vinho no Corpo e sangue reais de Jesus! Já
ouvi padres dizerem que eles são superiores a Nossa Senhora e aos anjos, que
não possuem esse poder que eles têm! E termino essa relação de alguns dogmas
com o da Infalibilidade dos papas em assuntos de moral e de religião, criado no
Concílio Ecumênico Vaticano I (1870).
Uns líderes
religiosos estão dizendo que o espiritismo não é cristão, porque ele não aceita
alguns dogmas. Mas entre eles mesmos há os que recusam alguns. E Jesus disse
que seus discípulos serão conhecidos por se amarem uns aos outros, não, pois,
por crerem em certas doutrinas dogmáticas criadas por grupos de teólogos
imaturos do passado!
Na TV Mundo Maior,
canal aberto e a cabo em algumas regiões, por parabólica digital e
www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e
este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos etc (ver a grade de
programação). Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br
José Reis Chaves
Escritor,
Professor de português pela PUC-Minas, Jornalista, Biblista, Teósofo,
Pesquisador de Parapsicologia e do Espiritismo na Bíblia, Radialista, Palestrante
no Brasil e exterior, estudou para padre Redentorista, tradutor de "O
Evangelho Segundo o Espiritismo", editado pela Editora Chico Xavier, e
colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte, às segundas-feiras.
www.otempo.com.br
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sábado, 13 de setembro de 2014
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Respeito à Pátria, compromisso inadiável!
A vida permitiu-nos renascer no Brasil, a querida Pátria que
nos acolhe. A história do país, na colonização, nos embates para a construção
da democracia e mesmo nos gigantescos desafios da atualidade – onde se incluem
a violência e o tráfico, o contraste entre os interesses de variadas ordens e a
corrupção, entre outros itens dispensáveis de serem citados –, também apresenta
os benefícios de um povo aberto, feliz, descontraído, ardente na fé e na
disposição.
É nosso querido Brasil, gigantesco em proporções geográficas
e na diversidade que se apresenta em todos os aspectos! Bendita pátria!
Por outro lado, o país acolheu a Doutrina Espírita como
nenhum o fez. Das sementes germinadas em solo francês, foi aqui que a grande
árvore do conhecimento se fez gigante como o próprio país continental. E nós
temos a felicidade de conhecer essa Doutrina maravilhosa que inspira ações de
caridade – em toda a extensão da palavra –, convivência fraterna e amiga por
toda parte. Apesar das dificuldades e limitações humanas que são nossas,
individuais e coletivas, ele, o Espiritismo, espalhou e espalha seus frutos
pelas mentes e corações que o buscam ou são beneficiados por sua imensa luz.
Estamos no mesmo país que recebeu o cognome de Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho, justa e coerente adjetivação para um povo ameno,
solidário, apesar das lutas próprias de nossa condição humana. É aqui que as
variadas expressões religiosas se manifestam para conduzir mentes e corações; é
também nessa terra querida que nasceram ou renasceram almas que conhecemos sob
os abençoados nomes de Irmã Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, Divaldo Franco,
Dr. March, Dr. Bezerra de Menezes, entre tantos outros ilustres filhos que lhe
dignificam o nome, sendo impossível citar todos e mesmo especificá-los por
área, tamanha a variedade e quantidade de benfeitores que aqui vieram e ainda
aqui vivem.
Setembro lembramos a Pátria, desde os tempos escolares.
Setembro também normalmente estamos às vésperas das eleições, como ocorre agora
em 2014. Isso lembra responsabilidade, comprometimento, ética. Afinal, temos um
compromisso com o país, com a coletividade brasileira. Qualquer cidadão está
comprometido com a segurança, com os valores do país, com a obrigação moral da
retidão e da gratidão, que se estendem por ações em favor do bem comum. É o
dever! Não apenas um dever cívico, mas o dever moral para conosco mesmo e para
com o próximo, como indica o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Aliás, lembrando a Codificação Espírita, há que se ater às Leis
Divinas, didaticamente apresentadas pelo Codificador em O Livro dos Espíritos.
Leis que baseiam-se no amor, diga-se de passagem, mas igualmente são justas e
misericordiosas.
Por tudo isso, a reflexão sobre nosso papel de brasileiros
perante a Pátria Brasileira inclui-se igualmente no dever, ainda que apenas por
gratidão pelo país que nos acolhe, garantindo-nos a paz desse foco irradiador
de trabalho e fé que é o Brasil. Tamanho compromisso dispensa corrupção,
egoísmo e tolas vaidades. Pede-nos, isso sim, trabalho e dignidade, exatamente
pelo alto compromisso que todos temos com a vida e seu significado. O que
significa, em termos de eleições para outubro próximo, o compromisso com a
decência e a escolha consciente sem outros interesses que não os da
coletividade.
Repare o leitor atento que, quando ouvimos o Hino Nacional,
a emoção nos envolve completamente. É o sentimento de compromisso com a missão
da Pátria que integramos. O renascimento no país não é obra do acaso. Indica
comprometimento e programação sabiamente elaborada. Saibamos respeitar e
cumprir o que antes prometemos.
O Brasil tem grande papel a exercer junto à Humanidade.
Filhos dignos, espíritos preparados e nobres estão sempre presentes como
autênticos faróis a conduzir a coletividade. Sejamos daqueles que honram nossa
condição humana e brasileira! Exemplos não faltam.
Por gratidão, ao menos, ao querido e grandioso Brasil!
Lembremo-nos: o planeta construído por Jesus teve na mente e planejamento do
Mestre da Humanidade a inclusão desse país incomparável, onde germinam as doces
brisas do Evangelho.
Orson Peter Carrara
sábado, 6 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
A primeira pedra
Emblemática no evangelho de Jesus a passagem do
apedrejamento da mulher adúltera, situação na qual o Cristo diz que “quem não
tiver pecados, que atire a primeira pedra” (João, Capítulo 8). Tal afirmativa,
que calou os populares que se arvoravam de algozes pela dilapidação, ainda
ecoa, pela sua lógica, aplacando os nossos ódios e os nossos instintos mais
violentos, diante das situações presenciadas no cotidiano.
Jesus, que em outras situações defendeu a justiça, no “dai a
César o que é de César” e no “a cada um segundo as suas obras”, não menos
famosos que o enunciado sobre a primeira pedra, diante daquela mulher condenada
pela legislação vigente, traria agora uma mensagem de leniência e de
impunidade, em uma apologia ao crime?
Uma resposta afirmativa seria uma visão superficial e
contraditória da situação em tela. Ao nosso ver, Jesus condena sim o julgamento
precipitado, apaixonado e desmedido, que não sopesa o contexto e a
subjetividade de cada situação, chamando a reflexão pelo “quem não tiver
pecados”, inibindo uma pseudo justiça feita com as próprias mãos, mas que
desconsidera princípios basilares de proporcionalidade, contraditório,
razoabilidade e outros afetos ao direito penal, que muito evoluiu desde a época
do Cristo e que compõe o arcabouço jurídico de qualquer Estado moderno.
Mais gravosa que a pena de morte, a dita justiça com as
próprias mãos, estampada nos linchamentos, presentes em nossa sociedade e
acentuados mais recentemente, é uma explosão de ódio, derivada de uma gama de
injustiças menores percebidas e que se materializa em uma injustiça ainda
maior, na condenação a uma morte cruel e desumana, que independente de ser um
inocente ou um motivo comezinho, traduz-se na barbárie que aplaca vinganças e
produz mais dor onde esta já campeava.
A chamada a reflexão de Jesus nos convida a assumir o lugar
da vítima e a refletir em qual é a melhor maneira de atuarmos frente a esta
situação, o que necessitaríamos se fôssemos nós mesmos ali no banco dos réus da
rua, dado que as pelas falhas cometidas, no espectro das reencarnações, ser réu
é apenas uma questão temporal.
Ataques de ódio com a promoção de linchamentos e a apologia
a práticas dessa natureza, ao meu ver, afrontam diametralmente a conduta
espírita na defesa da vida, argumentação ilustrada por autores fundamentais da
doutrina, como na pergunta 761 de “O livro dos espíritos”, que assevera: “Há
outros meios de ele se preservar do perigo, que não matando. Demais, é preciso
abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento. ”
Ou ainda na pena de Joana de Angelis no seu “Após a
Tempestade”, quando diz: “A tarefa que compete às leis é a de eliminar o crime,
as causas que o fomentam, não o equivocado criminoso. A morte do delinquente
não devolve a vida da vítima. Ao invés da preocupação de matar, encontrar
recursos para estimular a vida. Educar, reeducar, são impositivos inadiáveis;
matar, não. Tenhamos tento! Não há, no Evangelho, um só versículo que apoie a
pena de morte. ”
A pena de Humberto de Campos, na psicografia de Chico
Xavier, no seu “Boa nova”, não se furta dessa antiga questão, quando se refere
a mulher adúltera: “ – Ninguém pode contestar que ela tenha pecado; quem estará
irrepreensível na face da Terra? Há sacerdotes da lei, magistrados e filósofos,
que prostituíram suas almas por mais baixo preço; contudo, ainda não lhes vi os
acusadores. A hipocrisia costuma campear impune, enquanto se atiram pedras ao
sofrimento. João, o mundo está cheio de túmulos caiados. ”
Como se vê, a problemática do crime, da violência urbana e
da intolerância com isso tudo é antiga e complexa, demandando soluções de igual
natureza, dado que a soma de linchamentos ocorridos até hoje não parece ter
surtido efeito na redução de índices de violência nas comunidades que dele
fizeram uso.
A visão do dito justiçamento é uma percepção segmentada do
problema, descompensada e que tomada pelo calor dos acontecimentos, ignora as
medidas sociais necessárias, para além de saúde e educação, mas também nas
políticas de segurança de qualidade que coíbam e apurem os crimes, remetendo o
réu ao Juízo, que tem grande importância nesse processo, no contexto do chamado
Estado democrático de Direito.
O ódio é uma força de características irracionais, de forma
parcial. Ou seja, ela se volta para uma causa, ainda que a sua percepção seja
nebulosa, e a ela associa a necessidade de descarregar a sua energia represada,
muitas vezes fomentada pela indignação, pela dor, pelas injustiças cotidianas e
ainda, por outras vozes, no ambiente das chamadas redes sociais.
O cidadão comum, nesses ambientes de exaltação, como uma
greve, um jogo de futebol, se vê tomado desses ímpetos marcantes e por vezes,
se vê envolvido em processos de justiçamento, esquecendo aquela voz que lembra
a ele a sua condição de espírito imortal.
Casos emblemáticos como a Escola Base (SP) e o linchamento
da jovem confundida com uma fotografia na internet ocorrida em 2014 no Guarujá
(SP) se agregam a outros, ocultos em outras tipologias penais, atingindo
culpados e inocentes, como formas bárbaras de promover uma vingança contra a
nossa própria imperfeição como seres humanas batizada de justiçamento.
Como espíritas e cristãos, lutemos pela justiça, defendamos
a vida, com uma visão ampla e racional dessa questão, não se deixando seduzir
pelo canto das soluções fáceis em arranjos complexos, na defesa de atos que
servem apenas para aplacar ódios momentâneos, gerando, em termos práticos, mais
violência e sofrimento, para vítimas e algozes.
A exemplificação do bem, a postura cristã, não é privilégio
dos mártires das letras evangélicas. A cada dia, cada um pode e deve, no seu
campo de luta, exemplificar o que o Cristo espera de nós, em um desafio
pessoal, como fez em maio de 2014 no Rio de Janeiro a jovem estudante de
arquitetura Mikhaila Copello, que se pôs à frente de linchadores na defesa de
um assaltante que já fora imobilizado, se valendo, como em uma parábola
moderna, de palavras, do seu corpo e da sua coragem no testemunho de sua forma
de ver a vida, impedindo que aqueles espíritos algozes complicassem a sua
encarnação, convidando-os a reflexão da “primeira pedra”.
Ainda há esperança! Nós, espíritos encarnados, podemos fazer
melhor do que isso! A caminhada do bem é dolorosa, e apesar do crime, que a
todos causa indignação, temos o dever de fazer ecoar as palavras do Cristo, que
nos trouxeram a reflexão quando empunhávamos pedras, passados mais de 2000
anos, nos indicando na ocasião em que local da turba Jesus se posicionou, antes
e depois do momento da dilapidação.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita
desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também
expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É
colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador
(Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação
Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus
nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.
Imagem ilustrativa
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Um Pai de Família
Nicolas Cage é o ator principal do filme Um pai de família,
lançado em dezembro de 2000 nos principais cinemas do país. O filme mostra a
experiência de um bem sucedido executivo de grande banco americano. Com todo o
poder nas mãos, podendo adquirir tudo que desejasse e ao mesmo tempo contando
com bom número de servidores e subordinados, controlava o grande Banco com mãos
de ferro. Conhecido pela grande inteligência e muita habilidade nas questões
econômicas, dedicava sua vida em proporcionar lucros crescentes à empresa, que
o valorizava com altos salários e invejadas mordomias. Na Noite de Natal,
viu-se, entretanto, sozinho e talvez um tanto melancólico recordava-se da
antiga namorada deixada há 13 anos, quando resolveu seguir a bem sucedida
carreira executiva.
A sequência do filme deixa entender que o telefonema da
ex-namorada, durante o dia no escritório, fê-lo buscar recordações, embora
tenha recusado atender o telefone. E nesse estado de espírito, dormiu. Dormiu e
sonhou que acordava em outra vida, agora casado com aquela que fora sua
namorada e pai de dois filhos. Assustado com a rotina de uma vida familiar,
tentou voltar ao Banco onde não foi reconhecido. Desesperado, teve que se
contentar com as dificuldades da vida conjugal, de pai de família... Embora
mantendo a memória de ser o famoso executivo, não conseguia retomar a própria
realidade.
O filme desenrola-se quase por inteiro no cotidiano de uma
família de classe média, culminando com o despertar de nosso personagem em sua
vida real de destacado diretor do famoso Banco. O despertar, entretanto,
provocou o cancelamento de inadiável reunião marcada para aquela manhã e a
busca da antiga namorada, a quem relatou todo o sonho - inclusive citando nome
e idade dos filhos, seus sonhos e detalhes da vida em comum. OThe end deixa que
o público tire suas próprias conclusões, sugerindo um reatar de namoro para
transformar em realidade o sonho vivido com tanta intensidade. E há uma frase
no filme que é a marca da fita cinematográfica ora comentada: Não importa nosso
endereço, o importante é que estejamos juntos. A frase, muito além do aspecto
romântico entre casais, indica a importância da família e da convivência entre
seres afins, normalmente reunidos no contexto familiar visando o progresso,
como bem definem as Leis Divinas. Fica a sugestão ao leitor para apreciação do
bem elaborado trabalho.
Podemos fazer um estudo dos tres parágrafos acima à luz da
Doutrina Espírita. Podemos assistir o filme e enxergá-lo sob a ótica espírita.
Vários itens podem ser enquadrados. Para efeito didático do artigo, podemos
analisar a questão dos laços de família e da missão da paternidade
(respectivamente questões 773 a 775 e 582 de O Livro dos Espíritos, que
sugerimos para consulta do leitor). Sugerimos porque desejamos analisar o tema
com mais abrangência sob outro aspecto: a dos sonhos. Embora se trate de um
filme, com suas fantasias, podemos classificar o sonho de que forma?
No mesmo O Livro dos Espíritos, as questões 400 a 421 tratam
do assunto, de onde trazemos as informações seguintes dadas pelos espíritos: O
Espírito jamais fica inativo durante o sono do corpo; podemos avaliar a
liberdade do espírito durante o sono pelos sonhos; dispondo de mais faculdades
que no estado de vigília, durante o sono - enquanto o corpo repousa - o
espírito tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; o espírito
vê em sonho aquilo que deseja, porque vai procurá-lo; pessoas que se conhecem
ou não podem visitar-se durante o sono do corpo, se visitarem e conversarem.
Já na Revista Espírita (julho de 1865 - vol. 7 - edição
Edicel), com o título Teoria dos Sonhos, Allan Kardec desenvolve considerações
importantes sobre a questão. Destaca uma classificação sobre os sonhos e
apresenta o princípio básico dos sonhos. Usando palavras do próprio
Codificador, referindo-se ao Espiritismo: Demonstra que o sonho, o
sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro,
a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo
princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria.
Esta incessante atividade do Espírito durante o sono do
corpo indica que muitas providências, decisões de interesse da alma são tomadas
durante o desprendimento pelo sono. Apenas o corpo dorme, pois na vigília ou
durante o sono o comandante do corpo é o espírito, senhor absoluto de decisões
que o livre arbítrio lhe confere. Decisões que vão interferir na felicidade ou
infelicidade, saúde ou enfermidade que o corpo vai experimentar, por
constituir-se ele em instrumento dirigido pelo Espírito nele encarnado, como
ensina a notável Doutrina Espírita. Na verdade, vivemos uma única realidade e
quando na vigília estamos parcialmente bloqueados pelo corpo físico. Quando
desprendidos pelo sono, desfrutamos da liberdade plena, cujas imagens e
experiências o sonho registra, muitas vezes é claro de forma confusa pois o
corpo não participou e o registro pelo cérebro carnal fica confuso. Entre os
sonhos, e aqui usando palavras do Codificador ainda na Revista Espírita acima
citada, uns há que que tem um caráter de tal modo positivo que, racionalmente,
não poderiam ser atribuídos a simples jogo de imaginação; tais são aqueles nos
quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que
absolutamente não se pensava.
Não se confunda aqui os sonhos provenientes de pesadelos por
alimentação inadequada ou provocados por imaginação excitada e até aqueles
oriundos de exageradas preocupações materiais. Vamos enquadrar os casos de
origem espiritual, de ativa participação do espírito.
No caso do filme citado, excluindo-se os exageros da
imaginação e da fantasia, poderá notar o leitor que tiver oportunidade de
assistir, que tudo foi um sonho, mas a decisão final coube ao personagem da
trama vivida, para mudar ou transformar em realidade aquilo que verdadeiramente
buscava. E abrimos horizontes para outra questão básica: o livre-arbítrio, que
para não alongar o artigo deixo ao leitor pesquisar nas questões 843 a 850 de O
Livro dos Espíritos. Porém, a mensagem do filme fica: não importa o endereço,
importante é que estejamos sempre juntos.
Orson Peter Carrara
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