domingo, 30 de março de 2014

Tijolos...


Claro que o que você vai ler abaixo é simbólico, mas bem retrata a atual situação do mundo...
Um jovem e bem sucedido executivo dirigia por sua vizinhança, correndo um pouco demais em seu novo Jaguar. Observando crianças se lançando entre os carros estacionados, diminuiu um pouco a velocidade, quando achou ter visto algo.
Enquanto passava, nenhuma criança apareceu. De repente um tijolo espatifou-se na porta lateral do Jaguar! Freou bruscamente e deu ré até o lugar de onde teria vindo o tijolo. Saltou do carro e pegou bruscamente uma criança entre alguns veículos estacionados e gritou:
- Por que isso? Quem é você? Que besteira você pensa que está fazendo? Este é um carro novo e caro, aquele tijolo que você jogou vai me custar muito dinheiro. Por que você fez isto?
- Por favor senhor me desculpe, eu não sabia mais o que fazer! - Implorou o pequeno menino - Ninguém estava disposto a parar e me atender neste local.
Lágrimas corriam do rosto do garoto, enquanto apontava na direção dos carros estacionados.
- É meu irmão. Ele desceu sem freio e caiu de sua cadeira de rodas e não consigo levantá-lo.
Soluçando, o menino perguntou ao executivo:
- O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.
Movido internamente muito além das palavras, o jovem motorista engolindo "nó imenso" dirigiu-se ao jovenzinho, colocando-o em sua cadeira de rodas.
Tirou seu lenço, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo estava bem.
- Obrigado e que meu Deus possa abençoá-lo - a grata criança disse a ele.
O homem então viu o menino se distanciar... empurrando o irmão em direção à casa.
Foi um longo caminho de volta para o Jaguar... um longo e lento caminho de volta. Ele nunca consertou a porta amassada. Deixou amassada para lembrá-lo de não ir tao rápido pela vida, que alguém tivesse que atirar um tijolo para obter a sua atenção.
Deus sussura em nossas almas e fala aos nossos corações.
Algumas vezes quando nós não temos tempo de ouvir, Ele tem de jogar um tijolo em nós.
É sua escolha: ouvir o sussurro ou esperar pelo tijolo!
Boa reflexão!
  
"O sofrimento é o alto-falante de Deus para um mundo surdo"

Não esperem pelo "tijolo".

É claro também que Deus não atira tijolos em seus filhos. Porém, a insensibilidade humana requer mesmo umas boas "chacoalhadas" para despertar do letárgico sono da indiferença... Qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência.

Orson Peter Carrara 

Imagem ilustrativa

sábado, 29 de março de 2014

Certezas do Poeta e da Lei


Quem, dentre nós, nunca ouvira falar de Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825 – 1889), Advogado, Escritor e brilhante Jornalista, que fora também Deputado, Senador e Diplomata? É considerado, com louvor, um dos patronos da Academia Brasileira de Letras; todavia, se nunca ouviras falar do eminente letrista, certamente conheces algo de uma sua tocante e célebre poesia do nosso cotidiano de lágrimas:

Abre aspas:

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

Fecha aspas.

E o fato é que a Dor, nas suas mais diversas nuanças: física ou simplesmente consciencial, ou moral, ou espiritual, são companheiras assíduas dos nossos passos, sobretudo nos ambientes endividados, de consciências sombrias de um Mundo Provacional, de grandes expiações. 
Há quem diga que alguns elementos são invulneráveis à Dor; estudos “comprovaram” que sociopatas, indivíduos egoístas, interesseiros e manipuladores, bem como homicidas frios e calculistas, são insensíveis a ela, estando isentos das cobranças de sua consciência que não lhes pedem um ajuste de contas, um acerto social. E, dir-se-ia: “felizardos, por imunes que são”. Entretanto, não acredito, de forma cabal, completa e absoluta, em tais “comprovações”, e, por isto: minhas aspas. 
Óbvio que alguns indivíduos de consciência rastejante, ou seja, de patamares evolutivos mui baixos e mui grosseiros, quiçá, até se sinta mais confortável, psicologicamente, do que resulte dos seus atos cruéis e violentos; mas chegar ao absurdo de que tais elementos não sintam pesar; de que tais não sentem a dor consciencial; de que tais indivíduos são imunes às cobranças de retificação de seus erros, vai uma distância enorme, pois que todos, do mais alto ao mais baixo nível de espiritualidade e de humanização, sentem algum grau perceptivo da dor, da cobrança consciencial, pois que, do contrário, a Lei de Deus, feita para todos, indistintamente, estaria, de certa forma, sendo derrogada por alguns poucos e aplicada à maioria deste Mundo infernal, feito de lágrimas e de dores, a que nos sujeitamos como filhos da Consciência Maior, que espera do criado a consciência reta, isenta de falhas, rumo à perfeição. 
Afirma-se, e não duvido de tal, que a dívida pode até ser transferida no tempo, mas terá de ser quitada sempre, pois que tal é o ditame da Soberana Lei. Entretanto, isto não quer dizer que nossa consciência não faça suas cobranças, que não nos recorde os crimes, que não nos mostre o abismo de nossa criação, pois na consciência se instala o Tribunal do Supremo que aguarda, com paciência, nosso arrependimento, mas também nos exige o condigno resultado da expiação. 
Creio, sim, que o Tribunal de Deus encontra-se instalado em nossa consciência: palingenésica, perene e imortal, havendo, pois, diversificados níveis da mesma, não excluindo, e, não exonerando, em tempo algum, quem quer que seja, pois que a Perfeita Lei não distribui privilégios ou favorecimentos, não promove conluios ou negociatas a benefício de uns e prejuízos de outros, pois que se firma na Ordem, na Justiça e no Merecimento, não se dobrando às dívidas do filho infrator. 

Fernando Rosemberg Patrocinio

Imagem de Francisco Otaviano de Almeida 

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Inferno na verdade é um Purgatório, pois na Bíblia ele é temporário.


Tártaro, Geena, Sheol, Hades, Inferos e Limbo designam geralmente o inferno, que é de origem mitológica, quando seu chefe era Plutão e que, no cristianismo, passou a ser Satanás, Belzebu ou Lúcifér. E o inferno cristão tornou-se muito mais terrível do que o mitológico pagão, graças a Dante Alighiere (século 13), que o recriou na sua “Divina Comédia”.
Examinando 1 Coríntios 3: 15, os versículos em torno e outros textos da Bíblia, conclui-se que o inferno não é um lugar, que  ele e seu fogo são figurados e que ele é mesmo temporário. Aliás, a parábola do Filho Pródigo (Lucas capítulo 15); o desejo de Deus de que todos se salvem (Mateus 18: 14; 1 Timóteo 2: 4); a afirmação de Jesus de que há mais alegria nos céus quando um se converte do que pela alegria lá já reinante por 100 já convertidos; a busca da ovelha perdida até ser encontrada (Lucas 15: 4) e outras passagens bíblicas pulverizam as penas sempiternas dos teólogos medievais baseados na poesia do terror infernal de Dante.
“Manifesta se tornará a obra de cada um. O dia demonstrará a boa obra que se revela pelo fogo; e tal como com a obra de cada um, o próprio fogo a provará. Se ela permanecer edificada sobre o fundamento, seu autor receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, ele sofrerá dano; mas esse autor será salvo, como que através do fogo.” (1 Coríntios 3: 15).
Numa linguagem simples, vejamos esse texto até o versículo 17. As obras boas e más estão relacionadas com o fogo. A obra boa e fundamentada, como acontece com a de cada um, é revelada pelo fogo, e se ela permanece no fundamento, o seu autor receberá o galardão. Mas queimando-se a obra de alguém por ela não ser boa, ele sofrerá punição pelo fogo, pois sua obra será queimada, mas ele será salvo pelo próprio fogo destruidor da sua obra má. Se ele se salva, logo a pena é temporária. “Vós não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3: 16). E Paulo termina com uma linguagem figurada profética (ameaçadora) aos suicidas: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1 Coríntios 3: 17).
 Kardec elogiou o Purgatório da Igreja, por ser temporário, de acordo, pois, com a justiça perfeita de Deus, que dá a cada um conforme suas obras.
 Nossas faltas são finitas. Puni-las, pois, com penas infinitas ou sempiternas seria um erro de justiça gravíssimo. Assim, atribuir a Deus a criação dessas penas sem fim é até uma blasfêmia!
 O Inferno na verdade é, pois, tal qual o Purgatório temporário da Igreja. O grande santo sábio e bispo da Igreja Primitiva, são Gregório de Nissa (4º século), um dos Padres da Igreja, notável pela sua lógica, já ensinava também que o inferno é temporário. Que os teólogos dogmáticos, pois, se cuidem!

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico  Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br

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quinta-feira, 13 de março de 2014

A fraternidade esquecida


O ano é 1789. O mundo desperta diferente, com um brado regado a sangue que proclama liberté, égalité e fraternité pela Europa, ressoando em todo o mundo ocidental. O antigo regime, de reis e vassalos, cai pela força dos tempos novos. Burgueses, comerciantes proscritos de outras horas, viram senhores e trabalhadores viram vassalos, na primeira de muitas revoluções que mudariam o mundo de forma profunda. 
Passados mais de 150 anos da bastilha, um mundo dividido entre o Ocidente e Oriente, entre o azul e o vermelho, se digladia entre extremos, de liberdade e igualdade, na guerra que congela as almas, pelo medo de um holocausto nuclear, negado nas frases e filmes, mas presente nas ogivas.
A promessa de liberdade garante a utopia de podermos ser o que quisermos, de seguirmos o nosso caminho e que, pelo esforço individual, podemos vencer na vida, virar presidente, ser o Top of the Hill.
Em um mundo tão desigual, o discurso da igualdade ideologiza nações, na premissa de superarmos as injustiças, padronizando pessoas e vidas, como combustíveis para abastecer o poder.
De um lado, quem não trabalha não come. De outro, quem quer ser igual não pode ser livre. Em extremos, batizados de “ismos”, nos alistamos até hoje em combates ideológicos, em lutas que se replicam nos blogs, comentários, textos, notícias e posts.
Desse desejo de ser livre, desse clamor de ser tratado igual, algo ficou esquecido... A fraternidade que vê um irmão em cada um jaz ausente das discussões de todos os matizes. Afinal, ser livre ou ser igual é focado no “eu” e a fraternidade é focada no “nós”.
Na fraternidade se aliviam as tensões da liberdade e da igualdade, pois não podemos ser livres sem respeitar os outros e não podemos ser iguais sem respeitar a nós mesmos. Mas podemos ser fraternos no respeito ao outro e a nós mesmos.
A mensagem do Cristo, do Cordeiro de Deus, tão deturpada em jogadas religioso-comerciais, é uma síntese da fraternidade, quando deposita no amor ao próximo como a si mesmo a regra áurea do convívio humano, enxergando no outro a si mesmo.
Entretanto, é tão difícil sermos fraternos. É tão difícil enxergar o outro. Bradamos por direitos a iguais oportunidades, direitos de nos expressarmos, mas esquecemos da luta pelos que sofrem, na dor do desvalido, próximo tão próximo.
O ideal da modernidade, consubstanciado no lema da revolução francesa, anda capenga, com a fraternidade esquecida, relegada a ações piegas da responsabilidade social na venda de produtos ou da esmola degradante em bingos televisivos.
O filho do carpinteiro tratou a todos de forma igual, dentro das suas desigualdades. Respeitou as vontades, mas alertou a todos da interdependência da vida. Falou o Mestre da Lei de amor, mostrando que o sonho da liberdade plena pode se converter em puro egoísmo e que a igualdade absoluta pode se transformar em uma camisa de força coletiva.
Livres ou igualitários, respeitando os limites dessas posturas, lembremo-nos do visgo da fraternidade que nos une em uma rede de dependência, de união, de carinho, que nos torna melhores a cada dia. Enquanto a lição esquecida não for vivenciada, nos debateremos entre extremos de insensatez, em discursos estéreis e inúteis, tentando achar na vida um gabarito diferente do amor, palavra que estamos bem distantes de saber o seu real significado.  

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)  


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