quinta-feira, 29 de abril de 2021

O respeito pela vida.


O respeito pela vida abrange o sentimento de alta consideração por tudo quanto existe.
Não apenas se detém na pessoa, mas em todas as expressões da natureza.
Quando não existe essa manifestação, os valores éticos se enfraquecem e todos os anseios superiores perdem a significação.
A criatura humana, impulsionada por ilusões da conquista do sucesso aparente, tem se esquecido disso, sem se dar conta da gravidade de tal atitude.
O egoísmo tem controlado os sentimentos, impondo o seu interesse, em detrimento de todos os valores mais dignos.
Os membros da sociedade têm sido separados lamentavelmente, dividindo-se em classes medidas pelos recursos sociais, econômicos, porém, nunca os morais.
Surge, então, um inevitável abismo entre os seres. Reações de animosidade se convertem em ódios tolos, abrindo campo para as batalhas da violência doméstica e urbana.
Quando mais intensos, se apresentam como atos de terrorismo e guerras odientas.
Alguns acreditam que, possuindo dinheiro e desfrutando de projeção política ou social, serão capazes de conseguir afeição e companheirismo. Amargo engano.
Afeto e amizade não se compram, nem tampouco se impõem. Alguns se deixam seduzir por esses recursos transitórios.
Iludem-se pensando que a criatura pode ser identificada pelo que possui e não pelo que realmente é.
Todas essas fantasias, no entanto, são passageiras, porque as riquezas trocam de mãos rapidamente.
A beleza e o poder não enfeitam as mesmas faces por longos anos.
Tocadas pela brisa do tempo, elas desaparecem a olhos vistos, e cedem lugar à verdadeira essência dos seres.
Ninguém consegue ser feliz individualmente no deserto que cria para si mesmo ou numa ilha isolada da convivência social.
Tentando ignorar essa verdade, muitos se valem de subterfúgios infelizes. Buscam no álcool, nas drogas químicas, na baixeza emocional e sexual, a fuga da solidão e do desconforto em que vivem.
Esse é outro equívoco que conduz a tragédias ainda mais dolorosas. A vida só se faz digna e próspera, quando se estrutura na pedra fundamental do respeito.
O respeito pela vida eleva o padrão de conduta, dignificando aqueles a quem é direcionado e elevando moralmente quem assim se comporta.
A honestidade, por sua vez, indispensável no sucesso dos relacionamentos humanos, proporciona confiança e bem-estar aos seres.

* * *

Elaboremos uma lista de desafios íntimos que nos possam conduzir a situações embaraçosas.
Trabalhemos item a item, cada dia, experimentando as alegrias que decorrem do respeito pela vida.
Redescobriremos o amor e a satisfação de repartir e de compartilhar os júbilos com o próximo.
Constataremos o resultado decorrente da renovação íntima que nos dispomos realizar.
Respeitando a vida, passaremos a ser respeitados e estimados por todas as expressões dela própria.
Notaremos em nós mesmos a indescritível satisfação de estar em paz com a própria consciência.
Lembremos: a vida é sublime concessão de Deus, que não pode ser desconsiderada, por quem quer que seja.

Redação do Momento Espírita.

Imagem ilustrativa

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A navalha de Occam


É fácil escrever difícil. Basta colocar no papel as ideias que surgem no bestunto, ainda que, não raro, desandem em destemperos mentais.
Difícil é escrever fácil. Exige demorada e árdua elaboração para tornar a leitura elegante, atraente e objetiva, sem impor prodígios de concentração e entendimento.
Trata-se de uma gentileza que todo autor esclarecido deve ao leitor que se dispõe a examinar suas criações. O texto que exige cuidadosa interpretação é mais charada do que literatura. Fica por conta da capacidade de quem lê, no empenho em orientar-se por labirintos tortuosos, fruto dos devaneios do autor.
Jesus dizia que a verdade está ao alcance dos simples.
Os doutos e entendidos costumam sofrer uma intoxicação intelectual que oblitera o bom senso e os leva a imaginar que tortuosidade e complexidade são sinônimos de cultura e saber.
A propósito vale lembrar Guilherme de Occam (1285-1349), notável teólogo e filósofo inglês (nascido em Occam, nos arredores de Londres). Ingressou bem jovem na ordem franciscana. Estudou e lecionou na gloriosa universidade de Oxford.
Inteligente e lúcido estimava a simplicidade na exposição de suas ideias. Complexidades ou conjecturas, apenas se absolutamente necessárias.
Adotou um princípio que ficaria conhecido como a navalha de Occam, definindo o empenho em retirar de um pensamento ou de uma tese acessórios e complicações desnecessários, louvando-se no bom senso.
Se a aplicássemos em textos herméticos e obscuros dos filósofos que fazem a história das contradições do pensamento humano, seria uma “carnificina”. Pouco sobraria.

***

Nem sempre Occam conseguiu usar sua navalha.
Aconteceu particularmente em relação à existência de Deus, assunto que preferia não abordar. Não a negava, mas considerava que, devido à transcendência do tema, seria impossível conjeturar sobre o Criador sem recorrer a argumentos complexos, de difícil entendimento.
Os Espíritos que orientaram a codificação da Doutrina Espírita ensinaram diferente. Dotados de notável capacidade de síntese, própria da sabedoria autêntica, demonstraram que é possível passar a navalha de Occam em lucubrações complexas e reduzir a argumentação em favor da existência de Deus à sua expressão mais singela.
Isso acontece na questão número quatro, em O Livro dos Espíritos.

Pergunta Kardec:

Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

Resposta:

Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.

Comenta Kardec:

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Simplíssimo! Se o Universo é um efeito inteligente, tão superior ao nosso entendimento que seus segredos são inabordáveis, forçosamente tem um autor infinitamente inteligente – Deus.
A partir dessa ideia o difícil é provar que Deus não existe. Teríamos que explicar o efeito sem causa, a criação sem um Criador.
Quaisquer argumentos em favor desta tese ingrata seriam facilmente eliminados pelo próprio Occam, usando a navalha do bom senso.

Richard Simonetti

Imagem ilustrativa