sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Hábitos insalubres


As criaturas têm despendido largos tributos à ignorância e ao desgoverno das emoções
“Endireitai o caminho.” - João, 1:23.

Segundo Emmanuel [1], “(...) para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem vivido”, abandonando as veredas dos vícios, dos crimes, dos costumes dissolutos e os resvaladouros dos erros. Ao longo de nossa caminhada evolutiva temos despendido largos tributos à ignorância, à impaciência e ao desgoverno das emoções em variegados destrambelhamentos...
Não estaremos livres de toda sorte de dificuldades enquanto não alcançarmos o ápice da evolução, o zênite de nossa escala ascensional. Cumpre, assim, resguardamos o Espírito na calma ante os acontecimentos infelizes que fogem ao nosso controle. Todas as vezes que uma situação se der de forma diferente da que desejáramos, insculpindo as marcas da aflição nas carnes de noss’alma, ao invés de nos deixarmos comburir pela irritação e pela rebeldia, destemperando-nos em revolta, agressividade e palavrões, devemos estender a alcatifa da calma à nossa frente, pois tudo muda constantemente, inclusive o momento aziago...
Joanna de Ângelis[2] aconselha: “(...) em todos os passos da vida, a calma é convidada a estar presente. Aqui, é uma pessoa tresvariada que te agride; acolá é uma ameaça de insucesso na atividade programada; adiante, é uma incompreensão urdindo males contra os teus esforços. É necessário ter calma sempre... Ela é filha dileta da confiança em Deus e na sua justiça, a expressar-se numa conduta reta que responde por uma atitude mental harmonizada.
Quando não se age com incorreção, não há por que temer-se acontecimento infeliz. A irritação, alma gêmea da instabilidade emocional, é responsável por danos, ainda não avaliados, na conduta moral e emocional da criatura.
A calma inspira a melhor maneira de agir, e sabe aguardar o momento próprio para atuar, propiciando os meios para a ação correta. Não antecipa nem retarda. Soluciona os desafios, beneficiando aqueles que se desequilibram e sofrem”.
Em outra oportuna página, esclarece a mesma Mentora Amiga [3]: “(...) o homem que se candidata a uma existência feliz tem a obrigação de vigiar as suas emoções perturbadoras, a fim de que sejam evitadas desarmonias perfeitamente dispensáveis, na economia do seu processo de evolução.
As emoções perturbadoras decorrem do excesso de autoestima, do apego aos bens materiais e às pessoas, e do orgulho, entre outros fatores negativos. O excesso de consideração que o indivíduo concede, leva-o à irritação, ao ciúme, à agressividade, toda vez que os acontecimentos se dão diferentes do que ele espera e supõe merecer.
O grande desafio do homem da atualidade é, pois, superar os despautérios que têm raízes no seu passado espiritual. A liberação das emoções perturbadoras é resultado dos hábitos insalubres de entregar-se-lhes sem resistência. Tão comum se faz ao indivíduo a liberação dos instintos perniciosos geradores deles, que este se não dá conta do desequilíbrio em que vive. Adaptando-se ao autocontrole, eliminará, a pouco e pouco, a explosão dessas emoções perturbadoras”.
Emmanuel esclarece [4]: “(...) o mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos. Em regra geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas, necessitadas de retificação. Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra de elevação de si mesmo, valendo-se da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão somente à custa de palavras brilhantes”.
A nobre Mentora Joanna de Ângelis3 elaborou um pequeno código de conduta para facilitar-nos a assimilação de outros hábitos saudáveis e felicitadores. Vejamos o que ensina a Mentora de nosso Divaldo Franco: “(...) considera a própria fragilidade que te não faz diferente das demais pessoas; observa o esforço do teu próximo e valoriza-o; treina a paciência ante as ocorrências desagradáveis; reflexiona quanto à transitoriedade da posse; medita sobre a necessidade de ser solidário; propõe-te a adaptação ao dever, por mais desagradável se te apresente; aprende a repartir, mesmo quando a escassez caracterizar as tuas horas...
Um treinamento íntimo criará novos condicionamentos que te ajudarão na formação de uma conduta ditosa e tranquila.
Foram as emoções perturbadoras que levaram Pedro, temeroso, a negar o Amigo, e Judas, o ambicioso, a vendê-lO aos inimigos da verdade.
O controle delas, sob a luz da humildade e da fé, proporcionou à humanidade o estoicismo de Estêvão, a dedicação até o sacrifício de Paulo – que as venceram – e toda a saga de amor e grandeza do homem abnegado de todos os tempos”.
Santo Agostinho desenvolve de forma magistral o axioma encontrado por Sócrates no Templo de Delfos na Grécia, de autoria do também filósofo grego Sólon: “conhece-te a ti mesmo”, na sequência da questão número 919 de “O Livro dos Espíritos”, d’onde podemos pinçar valiosos subsídios para implementar o código de conduta elaborado pela lúcida Mentora de Divaldo Franco. E é ainda ela quem nos aconselha2: “(...) preserva-te em calma, aconteça o que acontecer. Aprendendo a agir com amor e misericórdia em favor do outro, o teu próximo, ou da circunstância aziaga, possuirás a calma inspiradora da paz e do êxito”.

[1] - XAVIER, F. Cândido. Caminho, verdade e vida. 26. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. 16.

[2] - FRANCO, Divaldo. Episódios diários. Salvador: LEAL, 1986, cap.16.

[3] - FRANCO, Divaldo. Momentos de felicidade. Salvador: LEAL, 1991, cap. 18.

[4] - XAVIER, F. Cândido. Caminho, verdade e vida. 26. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. 18.

Rogério Coelho

Imagem ilustrativa