Allan Kardec ensinou que “Fora da caridade” não há salvação. Pois bem, entenda-se salvação aqui não no sentido literal, mas como uma maneira leve de se viver, que permite a paz de consciência e fé no futuro. Logo, aquele que pratica a caridade está salvo, portanto, com sua consciência em paz, podendo, aliás, dormir o “sono dos justos”.
Mas, o que seria caridade, já que ela estende-se ao infinito e vai desde doar uma cesta básica ao necessitado até um simples e terno sorriso dirigido ao amigo aflito. E, mais: a quem praticar esta caridade para sermos salvos?
Encontramos belo e farto material pertinente à caridade em O Evangelho segundo o Espiritismo. Basicamente são duas formas de caridade: material e moral. A caridade material é a mais simples de ser feita, porém, não menos valorosa. Um dinheiro que ofertamos ao pedinte, uma carona a quem necessita, um lanche oferecido ao faminto são maneiras de praticar a caridade material.
Já a caridade moral é um pouco mais complexa, porquanto mexe com pontos mais densos de nosso ser. Como calar em face da acusação impiedosa? Como deixar de comentar sobre as impertinências de alguns familiares nos famosos churrascos de família? Teríamos a generosidade necessária para orar por aqueles que nos prejudicaram?
Perceberam porque a caridade moral é a mais difícil de ser praticada?
Já respondemos, então, o que é caridade, esta abençoada capacidade que nos proporciona a paz de consciência.
Agora respondamos: a quem praticar esta caridade?
Qualquer um em sã consciência diria que esta resposta é “mamão com açúcar”. Claro, a caridade deve ser praticada a todos, sem distinção. E concordo. Contudo, convenhamos: muito mais simples praticar a caridade para aqueles que estão longe, distantes, porquanto desconhecemos suas limitações, falhas e dificuldades, logo, não colocamos tantos empecilhos.
Um pouco mais complicado praticar a caridade, principalmente a moral, para quem está perto, ou seja, ao próximo mais próximo, porque conhecemos sua história de vida, sabemos de suas imperfeições e impertinências.
Perdoar a palavra áspera do irmão, lavar a louça para a mãe, orar pelo marido que, segundo analisamos, não nos dá atenção necessária, constituem-se em interessante exercício de caridade e faz-nos trabalhar o orgulho e a vaidade que ainda estão em nós.
Eis que, praticar a caridade ao próximo mais próximo além de trabalhar a harmonia no seio familiar é oportunidade de melhor nos conhecermos, pois nossas reações em face das ações dos outros revelam muito de nós mesmos.
Veja quem tem ouvidos para falar…
Com o próximo distante temos um pouco mais de tolerância, como não estamos sempre juntos, somos gentis, educados, temos o verniz social.
Mas com nossos familiares, não raro, esquecemos da gentileza, da boa palavra, de compreender suas inconveniências. Esquecemos de calar, de emprestar nossos ouvidos e de sermos em suas vidas uma Boa Notícia, uma Boa Nova.
Vale analisarmos se somos uma Boa Nova para nossos familiares. Quando chegamos num evento de família, ou numa roda de conversa, o que será que dizem a nosso respeito?
– Puxa, lá vem o Wellington, esse cara é legal, bacana, sempre uma palavra amiga e confortadora.
Ou:
– Puxa, lá vem o Wellington, esse cara é um chato, está sempre desanimando os outros, só o tolero porque é meu irmão.
Será que somos uma Boa Nova ou uma Má Notícia?
Ser feliz em família, portanto, é um enorme desafio. Exercitar a caridade com nossos familiares é uma tarefa urgente, até porque pode ser que, por trás daquela rusga, daquele mal humor constante estejam nossas marcas do passado, nossa “colaboração” para a falência daqueles que hoje estão mais próximos a nós. Aliás, quem pode, com segurança, afirmar que fulano, sicrano ou beltrano foram ou não nossos afetos ou desafetos do passado?
Então, diante do esquecimento temporário vale optar pela educação no trato em família, pelo respeito aos que estão mais próximos, não deixando que a convivência estreita venha azedar a relação.
Sendo educados, cordatos, compreensivos, enfim, sendo caridosos com nossos familiares teremos maiores chances de eliminar mal entendidos do passado remoto ou não, e assim sermos felizes em família, porque, definitivamente, isto é possível.
Aliás:
Você é uma Boa Notícia em sua família?
Nota do Autor:Extraído do livro Ser feliz em família, de Wellington Balbo e Pedro Camilo.
Wellington Balbo
Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).
Fonte:http://www.agendaespiritabrasil.com.br/2016/12/24/voce-e-uma-boa-noticia-em-sua-familia/
Imagem do livro