segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Desejável paixão


O senhor Felício esteve num programa de televisão em que eram entrevistadas pessoas idosas, convidadas a falar sobre a velhice.
Tinha oitenta e cinco anos. Aparentava sessenta, espirituoso, bem disposto, dono de uma incrível jovialidade.

— Nunca me senti velho — dizia.
— E o corpo? — perguntou o entrevistador.
— Já não tem a mesma vitalidade; não raro, há grilos de saúde, o que é natural. Trata-se de uma máquina.
— Vai se desgastando…
— Exatamente, mas o motor está ótimo, nos dois sentidos: bombeia, incansável e eficientemente o sangue, levando o oxigênio a todas as províncias do corpo sem ratear, e me mantém permanentemente enamorado de encantadora donzela.
— O senhor, na sua idade, apaixonado por uma jovem?! — admirou-se o entrevistador.
— Sim, meu filho. Apaixonadíssimo!
— E podemos conhecer essa pessoa maravilhosa, que faz seu encanto?
— Claro, claro, mesmo porque todos devem fazer o mesmo, em favor de uma existência feliz.

Sorridente, o senhor Felício explicou:

— Sou apaixonado pela vida. Adoro viver. Intimamente sinto-me eterno jovem. Nunca experimentei o peso dos anos ou a angústia de envelhecer. Cada dia é uma aventura que aproveito integralmente.
— Qual a fórmula mágica para essa perene juventude emocional, essa esfuziante alegria? Nossos telespectadores vão adorar sua orientação.
— Elementar, meu filho. Toda manhã, ao fazer a barba, converso comigo mesmo ao espelho e afirmo: “Felício, você tem duas alternativas neste dia: ser feliz ou infeliz. A escolha é sua”.
— Escolhe ser feliz?
— Evidente! Seria um tolo se não o fizesse. Afinal, a opção é sempre nossa.

E ante o maravilhado entrevistador:

— Simples, não?

***

O Senhor Felício é dessas raras pessoas conscientes de que a felicidade não é uma estação na viagem da existência humana. Felicidade é uma maneira de viajar.
E não está subordinada à satisfação de nossos desejos, diante da Vida, mas ao desejo de descobrir o que ela espera de nós. A propósito desse tema tão caro a todos nós, alguns pensamentos interessantes:

Os homens que procuram a felicidade são como bêbedos que não conseguem encontrar a própria casa, mas sabem que tem uma. (Voltaire)

Dá-se com a felicidade o que se dá com os relógios: os menos complicados são os que enguiçam menos. (Chamfort)

Encher a hora – isso é que é a felicidade. (Emerson)

Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. (Érico Veríssimo)

Por último, o notável poema, Velho Tema, de Vicente de Carvalho, que nos oferece a mais perfeita explicação sobre a escassez de felicidade entre os homens:

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Richard Simonetti

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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Os pais, os jovens, as drogas...


Uma das grandes preocupações do mundo contemporâneo é pertinente as drogas, ou, melhor dizendo, o envolvimento dos jovens, nossos filhos, com elas. E quando o fato ocorre em uma família não raro os pais perguntam-se: Onde foi que eu errei? E mil dúvidas perambulam pela cabeça de toda a família em busca de uma alternativa para a resolução de tão intrincado desafio. E fica outra pergunta: O que eu poderia ter feito para que isso não acontecesse?
Obviamente que não há uma receita para isto, porquanto os filhos são criaturas dotadas de livre arbítrio, e também não podemos e nem temos condições de vigiá-los 24 horas por dia para que não se envolvam com o mundo dos entorpecentes. E o que fazer? O ideal é sempre antecipar. Dialogar muito com os filhos, interagir, participar de suas vidas e procurar identificar suas tendências. Enfim, aproximar-se do filho, um contato de alma para alma. Esta é, aliás, uma das grandes missões da paternidade ou maternidade. Orientar é a missão. Mas apenas o diálogo resolve, perguntarão alguns? Obvio que não daremos para tão complicada situação uma resposta simplista, de modo a fazer pensar que apenas dialogando iremos livrar nossos filhos das drogas. Todavia, consideremos que o diálogo e a participação na vida desses jovens é fundamental para aproximá-los de nós, abrindo caminhos para que nossos ensinamentos sejam melhor assimilados por eles. Vale ainda destacar que muitos jovens adentram o universo do álcool, por exemplo, bebericando aos 10, 11 anos nos copos de familiares que permitem que tal coisa ocorra. Os familiares dizem apenas: "Sim, você pode tomar um gole de meu copo!" Não há a conversa, apenas a permissividade. Tudo pode, tudo vale! E a criança, de natureza curiosa, quer mesmo experimentar. Mas, como fica se essa criança tornar-se um adulto viciado? Muitos casos assim, de jovens bebericando em copos de familiares acabam dando enorme dor de cabeça não apenas aos pais, mas, à toda sociedade. Observemos. Ora, se sabemos que essas crianças ou jovens podem aderir ás drogas, sejam elas dos tipos que forem, como podemos permitir que convivam desde idade infantil com o álcool que, diga-se de passagem, não deixa de ser uma droga? Deixo para sugestão ao leitor interessante experiência narrada por um amigo. Diz ele: "Tenho dois filhos um menino de 12 e uma menina de 14 anos e todos os domingos realizamos a reunião da família. Nessas conversas domingueiras estamos nos conhecendo mais, eu a eles; eles a mim. Você perguntará: Mas o que isso tem a ver com o tema drogas? Respondo que tem tudo a ver, porquanto - segundo meu amigo - essas reuniões estão desdobrando-se de forma tão agradável que, naturalmente, entra-se na abordagem de diversos assuntos da atualidade, tais como: sexo, drogas, consumismo e por ai vai... "Estamos tendo - diz ele - a oportunidade do diálogo. Estamos nos conhecendo melhor. Abrimos as portas de nossa relação para o diálogo. Pode ser que um deles envolva-se com drogas ou coisas ilícitas, todavia estamos pela ferramenta do diálogo mais próximos uns dos outros".
Que tal experimentarmos a sugestão do amigo? Ao invés de ficarmos aos domingos assistindo aquela velha lenga lenga televisiva dedicarmos um espaço para a família, aproximando-nos assim dos nossos filhos. Pode ser um caminho para que eles fiquem cada vez mais longe das drogas.

Wellington Balbo

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quinta-feira, 21 de julho de 2022

A Esperança na vida versus a cultura do medo


“Há tanto tempo estou convosco, e tu não me tens conhecido?”(1)

De onde vem o sentimento do medo? Por que temos medo de sentir medo? O que desperta a inquietação na alma ante o perigo, até mesmo imaginário?
Questiona-se apenas o medo comum, o “medo nosso de cada dia” e não o medo sintomático, o medo patológico, o pânico fóbico sob um cortejo de desordens psicossomáticas.
Grandes personagens da humanidade admitem que têm medos ou já passaram por situações que desencadearam fobias importantes.
A cultura do medo obstrui a espontaneidade humana, impedindo o homem de viver sem as persistentes repressões delimitadoras da liberdade relativa. Temos medos das misteriosas circunstâncias do porvir. Receamos falar, ouvir, pensar, aproximar, sentir. São pavores incompreensíveis que sequer ousamos buscar as explicações razoáveis. Em face disso, atrofiamos os sentidos sob o jugo do temor.
Internalizamos até mesmo o receio de outrem. Atemorizamo-nos ante os assaltos, os sequestros relâmpagos, os projeteis “perdidos”. Ficamos ruborizados diante do “estouro” do cheque especial, tememos trajar os vestuários mais simples a fim de escapar da crítica alheia. Intimidamo-nos diante da probabilidade de errar, tememos viver e nos assombramos diante da morte.
Somos assim, seres amedrontados diante das críticas, preferimos passar uma vida inteira no anonimato a nos arriscar a uma situação que nos colocaria em evidência.
Se o ditado popular profere: filho de peixe, peixinho é, então devemos, por convicção, entender que filho de Deus…, grandioso é. Somos isso! Grandiosos e capazes de nos livrar dos medos, dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho, enfim, dos terrores limitantes a fim de superar as fragilidades e deficiências psicológicas diante da experiência.
A cultura do medo é instalada desde o berço, observemos: quando embalamos nossos filhos para niná-los, cantamos as cantigas: “boi-da-cara-preta”, “nana nenê que a cuca vem pegar”, desde pequenos somos educados, condicionados, consciente ou inconscientemente, que devemos temer algo, alguém ou alguma coisa. Tememos até mesmo o Criador da vida.
Mas não é esse o sentido da vida, deveríamos propor desde o berço a prudência eivada de esperanças, confianças, afetos e coragens, pois recordemos que filho de Deus…, grandioso é!
Somos criaturas com incomensurável potencial afetivo. Basta acionarmos o start para potencializarmos o amor, a vida, e o encanto pelas coisas, pelas pessoas, para esse desiderato basta encontrarmos um caminho de equilíbrio para que a vida tenha maior significação.
A cultura do medo deve ser banida da sociedade, assim como a corrupção, a ironia, a desvalorização do ser humano.
Não é esse um ponto de vista ingênuo, romântico, e utópico, mas uma concepção essencialmente corajosa, próspera e idealista. Vale a pena investir nos princípios, crenças, conceitos, valores e atitudes do ser humano, um ente incrível, admirável e curioso na essência.
A cultura da esperança principia no direito à liberdade, no sorriso amistoso, no gesto de confiança e no aceno de parceria.
A teoria de Erickson, psiquiatra norte-americano, pesquisador da neurolinguística e métodos de trabalho, revela que “nos primeiros meses de vida, o bebê adquire a confiança ou o medo que perdurarão pela vida toda”, assim sendo a criança maltratada cresce rancorosa e agressiva. Humilhada, acumula sentimento de culpa, revolta e inferioridade e lembrem-se que no futuro será um adulto, e essas características poderão acompanhá-la.
Quando instalamos a cultura da esperança e tratamos com justiça e afeto nossas crianças, elas desenvolvem o respeito, a confiança, o sentimento de amizade, aprende a gostar de si e dos outros e são muito afetuosas.
Falar em esperança é alimentar a confiança de que algo bom acontecerá, é acreditar que somos capazes e podemos mudar nossas vidas. Muitos pensam em mutilar os nossos sonhos, enlameando nossa história sob as infaustas auras das corrupções, escândalos e despautérios, entretanto urge acreditar que é chegado o momento da transição, em que a esperança subjuga o medo e não se pode mais arruinar a esperança da criatura que aprendeu a receber os medos, adversidades e pluralidades. Somos grandiosos e não podemos desistir nunca.
Nos paradoxos da vida quando jovens perdemos a saúde correndo atrás do dinheiro e na decrepitude consumimos todo o dinheiro correndo atrás da saúde. Realmente não entendemos a nossa proposta para a vida, carece-nos a conexão com a esperança!
Não lemos nas bulas dos remédios a inscrição de medicamentos que alarguem a esperança, porque esse sentimento por excelência não se deixa capturar pelos instrumentos laboratoriais da Terra. Certo pensador já proferiu: “Se quiser matar um homem, rouba-lhe a esperança”. O único remédio capaz de acrescer nossa esperança é aquele que encontramos na intimidade da consciência. Portanto, o medo não deve ser matriz do nosso insucesso.
A esperança significa luta, expectativa de mudança, de fé em conseguir o que se deseja. Recusar o abrigo do alento da esperança em nós mesmos é atitude de clara fraqueza moral.
Redescobrir a avenida do correto sentido da vida é dar-nos a chance de um futuro intimorato e venturoso e isso é expectativa positiva e seguramente transitável.
Valorizemos cada momento da vida e optemos pela melhor circunstância, amando, perdoando, sorrindo, pois o amanhã sempre será um outro dia.
Sejamos felizes nas fronteiras dos merecimentos e abriguemos a esperança sem os abraços com o medo.

Jane Maiolo

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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Reparação


Um princípio basilar da psicologia evolucionária é este: se gostamos de alguma coisa, gostamos por alguma razão. O cérebro e a mente evoluíram fazendo com que as coisas que são necessárias à nossa sobrevivência ou à sobrevivência de nossa espécie fossem prazerosas, para que não se tornassem secundárias, o que colocaria em risco o nosso existir.
Açúcar, gorduras, troca de carícias, sentir-se seguro ou valorizado, possuir algum grau de poder são fonte de gozos, porque, em algum momento da história de nossa espécie, foram fundamentais.
Nenhum problema, portanto, em usufruirmos os prazeres humanos, se de forma temperante e parcimoniosa. Todavia, o que muitos de nós temos feito é ignorar os limites éticos desses gozos, e, na busca do prazer, produzirmos infelicidade para os outros. Grande parte de nossos problemas cármicos reside na extrapolação ética de tudo isso e nas dores que espalhamos em torno de nós.
Diante dessas ocorrências é preciso retornar ao cenário da corporeidade para refazermos o percurso, salvando, socorrendo, reparando.
Imaginemos um indivíduo percorrendo uma estrada estreita e que vai deixando atrás de si pregos, pedaços de vidro quebrado, arbustos venenosos etc. Mas, ao concluir seu percurso, dá-se conta de sua atitude equivocada e se arrepende. Se seu arrependimento foi sincero, o que fará? Retornará por onde andou recolhendo tudo o que deixou no caminho. Aqui ou acolá encontrará pessoas que se feriram, e cuidará delas, e, é provável, que ele também se fira.
Penso que essa metáfora, que nos foi apresentada pelo confrade Júlio Cesar de Sá Roriz, em palestra proferida em Juiz de fora, há mais de 30 anos, sintetiza, de forma elegante, a lei de causalidade: voltar para corrigir, amparar e socorrer.

Ricardo Baesso de Oliveira

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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Auto-aceitação


O nosso aprimoramento, de espíritos eternos, no longo processo da evolução espiritual, precisa contar com a nossa auto-aceitação, através do possível conhecimento que tenhamos de nós mesmos. Não é fácil.
A religião procura nos ajudar, as ciências do comportamento trazem, hoje, suas importantes contribuições. Para podermos nos ajudar, precisamos, cada vez mais, conhecer e, sobretudo, aceitar-nos.
Essa compreensão é tão necessária que Allan Kardec indagou aos Mentores Espirituais:

- Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir à atração do mal?

- Um sábio da antiguidade vo-lo disse: "Conhece-te a ti mesmo". (Questão nº 919 de O Livro dos Espíritos.)

Sob o ponto de vista religioso, Kardec debruça-se sobre o Evangelho de Mateus e nos lembra: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial". (Mateus, cap. V.vv.44, 46 a 48.)

A seguir ele analisa o comportamento do homem de bem e comenta: "Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera." (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3, parágrafos 12 e 13.)

Em nosso aprimoramento existe a necessidade da auto-aceitação, pela qual possamos reconhecer as nossas possibilidades e limitações e, sobretudo, não sermos dependentes absolutos da aceitação ou desaprovação dos outros.
Precisamos ter a vontade de ver, de entender, de saber e sermos conscientes, cada vez mais, de nós mesmos.
Quando percebemos o que pensamos, sentimos e somos, teremos condições de mudanças no aprimoramento da nossa personalidade ou espírito.
Se nos olharmos em um espelho, poderemos observar certas partes do nosso corpo de que nós não gostamos, sob o ponto de vista estético, e teremos o impulso de não olhar mais para aquela parte, por exemplo: sejam os olhos, a boca ou o nariz.
No entanto, temos que aceitar aquelas partes, quando não haja recurso financeiro ou condições técnicas para a cirurgia plástica.
Há pessoas que sentem e dizem: - "Ah, eu não gosto de ver tal parte do meu corpo". Consideremos que gostar é diferente de aceitar. A pessoa pode não gostar, mas ela precisa aceitar aquela parte do seu corpo para psicologicamente estar bem.
Precisamos aceitar o que somos para podermos melhorar e chegarmos àquilo que queremos ser.
Desta maneira, aproveitemos alguns minutos para "visualizar" um sentimento ou uma emoção que não conseguimos enfrentar com facilidade: dor, medo, insegurança, tristeza, humilhação, inveja, raiva. Depois de focalizar este estado mental ou emocional, procuremos senti-lo sem oferecer resistência, aceitando-o como ele é.
Exemplifiquemos com uma situação em que deveremos falar a um público e temos medo de falar a um grupo de pessoas.
Deveremos aceitar o medo. Saber que esse medo é natural para a maioria das pessoas. Procuremos controlar a situação. Após a aceitação do medo e das reações que ele provoca: aumento do batimento cardíaco, respiração mais rápida, pode haver até aumento de transpiração, desenvolver procedimentos que nos ajudem a enfrentar a situação e não fugirmos dela. Inspirar e expirar profundamente, aceitar a alteração orgânica como natural, pensarmos que é um estado mental e emocional passageiro, enfrentarmos a situação desconfortante e falarmos o que tem que ser dito.
Com o passar do tempo assumiremos o controle orgânico e as idéias fluirão com mais facilidade. Finalmente sentiremos grande alívio e bem-estar por termos exercitado a auto-aceitação, enfrentado o medo e nesse estado intelectual e emocional de auto-aceitação termos vencido o problema.
Essa técnica de auto-aceitação preconizada por muitos psicólogos vem nos ajudar no processo psicológico e espiritual do auto-aprimoramento, se pudermos aplicá-la sempre que tivermos desafios pela frente.
Ao lado do "conhece-te a ti mesmo ", usemos, também, o "aceita-te a ti mesmo".

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O sol da esperança


Por vezes, a vida nos oferece maus momentos. Sofrimento, lágrimas e infelicidade nos visitam e nos sentimos desesperançados e infelizes.
Nesses momentos amargos, em que a alma dolorida se volta para Deus e indaga Por que passo por essas provações?, é a hora em que devemos lembrar de uma palavra luminosa: a esperança.
Narra a tradição grega que uma jovem chamada Pandora recebeu uma bela caixa com a recomendação de jamais abri-la.
Mas Pandora era curiosa e desobediente. Ao abrir a caixa, ela liberou todos os males, misérias e sofrimentos no Mundo.
Desesperada, Pandora chorou. Mais tarde, viu que, após saírem todas as mazelas, havia ficado, no fundo da caixa, a esperança.
Brilhava sozinha a esperança - um fiozinho de luz que pulsava. Mas que poder possuía!

* * *

O mito de Pandora deve ser refletido profundamente, em especial quando estamos atravessando momentos difíceis.
Observe que, na lenda grega, é um ato da própria Pandora que liberta os males do Mundo. Na nossa vida não é muito diferente: em geral, somos nós mesmos que, de alguma forma, provocamos muitos males que nos atingem.
Por isso, cada momento difícil é uma oportunidade de meditarmos e analisarmos qual foi a nossa contribuição para aquela situação.
No entanto, a lenda de Pandora vai além: ela mostra que - apesar da gravidade dos sofrimentos - não estamos completamente sós: há uma luz posta por Deus para nos consolar e devolver o brilho em nossos olhos.
Essa luz é a esperança.
Esperança que restaura as forças, reequilibra o coração, acalma as emoções.
A esperança é a mão generosa que acende a luz quando estamos mergulhados na treva profunda. É medicamento quando nos contorcemos em dores.
Esperança é canção suave, que nos acalenta quando nos sentimos desamparados. É um olhar de compaixão no instante em que o Mundo nos rejeita.
A esperança nasce de gestos de generosidade, de atitudes espontâneas, de palavras corretas.
Mas não se habitue apenas a aguardar que a esperança venha gratuitamente se aninhar no seu coração. Abra as portas da alma para ela!
Para isso, é necessário educar o coração.
A esperança é como um visitante importante. Devemos nos preparar adequadamente para recebê-la. A primeira atitude é retirar a poeira do pessimismo.
Depois, varrer as sujeiras acumuladas pela mágoa. Essas sujeirinhas têm vários nomes: rancor, maledicência, desejo de vingança.
Em seguida, com a casa mental bem limpa, é hora de perfumá-la com bons pensamentos, sorrisos, serenidade e otimismo.
Então, quando menos se espera, eis que chega a esperança. Viaja em uma carruagem dourada, espalha flores pelo caminho e se instala no Espírito fazendo festa.
É uma presença tão forte, tão bela, que transforma de imediato o ambiente em que se hospeda: impregna a alma de coragem e de alegria.
Esperança é um sol que nasce após uma longa noite escura. Chega trazendo calor e a luz dourada de um dia cheio de boas realizações. Ela aponta, firme, para um futuro radioso. Basta recebê-la.

Redação do Momento Espírita.

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segunda-feira, 13 de junho de 2022

Como enfrentar as “culpas” e desculpas?


A percepção da “culpa” tem sido objeto de investigações e influências no amplo debate temático da Doutrina dos Espíritos e das ciências psíquicas. Sabe-se que são intermináveis e graves as consequências da conservação da “culpa” em nossa vida, podendo alcançar indescritíveis destroços emocionais, psicológicos, comportamentais e morais.
A famosa “culpa” se consubstancia numa sensação de angústia adquirida após reavaliação de um ato tido como reprovável por nós mesmos, ou seja, quando transgredimos as normas da nossa consciência moral.
Sob o ponto de vista religioso, a “culpa” advém na transgressão de algo “proibido” ou de uma norma de fé. A sanção religiosa tange para a reprimenda e condenações punitivas. A sinistra “culpa” religiosa significa um estado psicológico, existencial e subjetivo, que indica a busca de expiação de faltas ante o “sagrado” como parte da própria autoiluminação como experiência sectária. Frequentemente a religião trata a “culpa” como um sentimento imprescindível à contrição e a melhoria pessoal do infrator, pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer como “pecaminoso” o ato cometido.
Essa interpretação religiosa não se compatibiliza com as propostas espíritas, até porque a “culpa” é uma das percepções psíquicas que não se deve nutrir, por ser uma espécie de mal-estar estéril, uma inútil insatisfação íntima. Em verdade, quando nos culpamos tolhemos todo o potencial de nos manifestar com segurança perante a vida.
A “culpa” tem perigosas matrizes nas exigências de autoperfeição que nos constrange a curvar-nos diante de alguns atos equivocados. Tal estado psicoemocional provoca em nossa consciência alguns sentimentos prejudiciais tais como o autojulgamento, a autocondenação e a autopunição. Importa libertar-nos das lamentações, dos processos psicológicos de transferência da “culpa”, da autocomiseração, das condutas autopunitivas e assumirmos com calma a responsabilidade pelos nossos próprios atos.
É verdade! O comportamento autopunitivo causa gravíssimas doenças emocionais, notadamente a depressão. Atualmente a depressão é um colossal drama humano. “Eu não mereço ser feliz”, “eu não nasci para ser amado”, “ninguém gosta de mim” etc. Aqui se manifesta um comportamento autopunitivo de complicado tratamento psicológico e espiritual. Neste caso a “culpa” está punindo e aprisionando. O culpado está acomodado na queixa e na lamentação (pela “culpa”). Mais amadurecido psicologicamente poderia avançar pelo caminho do auto perdão e capacitaria abrir mais o coração para a vida.
Nas patologias depressivas, muitas vezes há muito ódio guardado no coração. Muitas vezes oscilamos entre atos que geram a artimanha do “desculpismo” e ações que determinam a “culpa”. Dependendo de como lidamos com tais desafios, a “culpa” permanece mais forte, produzindo situações que embaraçam o estado psíquico e emocional, razão pela qual não nos podemos exigir perfeição, inobstante, devemos fazer esforços contínuos de autoaperfeiçoamento, afastando do “desculpismo” que nada mais é do que uma porta de escape para a fuga das próprias obrigações.
Sim! É preciso que nos perdoemos. O autoperdão ilumina a consciência, predispondo-nos à reparação necessária a fim de realizarmos o bem àqueles a quem fizemos o mal; praticarmos a bondade em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-nos humildes se temos sido orgulhosos, amáveis se temos sido austeros, caridosos se temos sido egoístas, benignos se se temos sido perversos, laboriosos se temos sido ociosos, úteis se temos sido inúteis.
Pensemos o seguinte: nós erramos porque somos humanos ou somos humanos porque erramos? Na verdade, todos acertamos e erramos, não há pessoas perfeitas na Terra. Se fizermos as coisas certas nos regozijemos por isso, porém se erramos sigamos em frente e aprendamos com o erro, pois quando aprendemos com os erros eles se tornam o grande caminho da lição e do crescimento interior. Desta forma fica ilustrado que, se errar é humano, diluir os erros e ter resignação são as alavancas para impulsionar a vida, para prosseguir a marcha nas trilhas do bem, trabalhando e servindo, para reparar os fracassos da caminhada.

Jorge Hessen

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segunda-feira, 30 de maio de 2022

Muitos pedem e não recebem


Com a sabedoria que lhe é peculiar, Emmanuel está sempre nos surpreendendo. Referindo-se a Thiago 4:3: “Pedi e não recebeis, porque pedis mal (...)”, cita as rogativas irrefletidas como as facilidades econômicas, as posições de evidência ou as expressões de poder e autoridade. Em outros casos, comenta, pedimos cessação das lutas purificadoras, as providências descabidas, entre outros pedidos que não levam em conta as necessidades que todos trazemos. Em muitos casos, como comenta, se atendidos, alguns pedidos deslocariam o equilíbrio.
É então que traz a referência de Thiago: “(...) muitos pedem e não recebem, porque pedem mal (...)”. E acrescenta que tais pedintes, por não serem atendidos, partem para acusações e revoltas, abandonando inclusive as preces, esquecendo-se de que o não atendimento é misericórdia de Deus.
No último parágrafo, no entanto, ele conclui: Tais anulações de pedidos não pensados “Impedem que os pedintes vagabundos sejam criminosos, auxiliando-os a preservar a paz de seu próprio futuro”. É que muitos pedidos comprometem o futuro, já que nem sempre temos o panorama completo. Não se assuste com o uso da expressão pedintes vagabundos. A palavra vagabundo significa aquele que perambula sem destino e não tem o sentido pejorativo que normalmente utilizamos.
Estamos sempre aprendendo com Emmanuel. Reflitamos no que pedimos. Podemos estar sendo incoerentes, inconvenientes e, pior, comprometendo nosso futuro. A lição em referência tem o título de Más rogativas e está no livro Trilha de Luz (edição IDE).

Orson Peter Carrara

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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Destino


O que é o destino? Esta palavra tão complexa e ambígua que registra a existência de um ser. Há quem diga que seu destino é muito cruel. Outro diz que está satisfeito! Porém, existem mais pessoas reclamando do que alegando serem felizes. Mas por que é tão inconstante e desigual esse tal destino?
O dicionário o descreve como uma sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade, sorte, fortuna, aquilo que acontecerá a alguém, futuro, fim ou objeto para que se reserve ou designe alguma coisa, aplicação, emprego, lugar onde se dirige alguém ou algo, direção.
A verdade é universal e não está com uma só pessoa. Cada um está em seu estágio de evolução, portanto, somos desiguais.
Como parte integrante do universo, um dia, viemos para o Planeta Terra portando bagagem que, na maioria das vezes, ostenta resquícios de imperfeição, a mais provável, já que estamos num mundo de provas e expiações.
Independente de um fator ou de outro aqui estamos para evoluir, mas pode ocorrer de ficarmos estacionados, sem progresso, por conta de nosso comportamento ocioso ou atitudes reprováveis pela justiça, pela razão, ou ainda, de fatores alheios a nossa vontade, que passam despercebidos aos nossos órgãos sensitivos. E isso vai moldando nosso “destino”.
Todos nós temos vontades e desejos que impulsionam nossa vida para melhor ou pior, e dependendo de nossas preferências, inclusive, pelos prazeres efêmeros, iniciam-se os vícios, dentre eles: da gula, do fumo, das drogas, do sexo em demasia, dos jogos de azar e muitos outros. Às vezes, não damos importância e nem percebemos que eles estão prejudicando nossa saúde, família, conduta social, moral, dentre outras áreas em nossa atual encarnação e posteriores. Certamente, serão meios que vão dar forma ao destino, onde os pensamentos, desejos e ações misturam-se, ofuscando os caminhos da perfeição.
Na natureza tudo se transforma, inclusive, catastroficamente, surgindo mudanças inesperadas que acabam influenciando nossas vidas e, seja como for, teremos que administrá-las. Queiramos ou não, precisamos viver e conviver sempre atentos aos fatos e decisões que tomamos, porque o tempo não para, é a ordem dos acontecimentos, uma sequência de fatos, cujos resultados que colhemos vão alterando o nosso destino, conforme nossas opções.
Em suma, o destino será igual e proporcional as nossas escolhas, ações e decisões, tomadas em todas as existências. E Jesus, com sua máxima “A cada um, segundo suas obras”, foi enfático com tal ensinamento, alertando-nos sobre a construção do nosso destino.

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Questões nº 258 a 273.

João Gubolin

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Não escolha a profissão de seu filho.


Interessante e oportuna a matéria veiculada no Jornal da Cidade do dia 14 de setembro sobre os jovens e as dúvidas sobre a profissão a seguir.
A reportagem locomoveu-me aos tempos de adolescente quando afirmava a todos categoricamente o ideal de ser jogador de futebol. Ao ouvirem minha sentença, muita gente dizia: Ótimo, dá muito dinheiro!
Depois de avançar as fases da vida presenciei o crescimento de alguns primos. Minhas tias, mães desses garotos diziam: Estude, meu filho, para ser médico, pois dá um bom dinheiro!
Mais adiante me deparei com amigos que instruíam os filhos a serem engenheiros. Um deles chegou ao cúmulo de sugerir ao seu pupilo, que ansiava ganhar seu pão diário nas salas de aula, que não se aventurasse a ser professor. Professor? - questionava o colega para logo em seguida bater o seu martelo - Professor ganha pouco, meu filho, deixe essa bobagem de lado, você deve estudar para ser promotor.
Santo capitalismo misturado a intromissão na vida alheia!
Entre a vocação e o desejo do jovem em muitos casos há o dedo dos outros a xeretar em suas decisões. Você deve ser médico, engenheiro, arquiteto, jornalista...
Muitos pais infelizmente querem se realizar nas escolhas dos filhos, esquecendo-se de respeitar suas vocações, aptidões e necessidades.
Podem influenciar negativamente a escolha dos filhos com esse comportamento inadequado e deseducado.
E a cabeça do adolescente fervilha entre as opiniões dos pais e amigos e seu desejo, o que acarreta uma pressão ainda maior no momento crucial de escolher o futuro a trilhar. Recordo-me ainda de garoto que queria ser bailarino. O pai, sujeito com dificuldades em aceitar a opção alheia, esbravejava: Balé é coisa de... Deixa pra lá, é bom não terminar aqui a frase do machista incorrigível.
Fico a pensar:
Onde, então, fica a vocação? Onde fica a nossa realização pessoal que se traduz no objetivo de seguir a profissão sonhada, que nos traz prazer e que nos realizará como seres humanos? Será que importa apenas o status e as moedas que determinada profissão proporcionará?
Portanto, a abordagem não se dirige aos jovens, mas, sim, aos seus pais no intuito de fazer com que reflitam em suas atitudes diante das escolhas de seus filhos. Nem sempre o que nos parece bom o será para o outro. Nesses casos vale sempre lembrar que nossos filhos têm vontade própria e merecem respeito e consideração.
Se queremos, de fato, contribuir para dirimir as dúvidas de nossos filhos no campo profissional a seguir, é importante apoiarmos e oferecermos as ferramentas necessárias para que façam a escolha correta, sejam felizes e possam beneficiar a sociedade com o exercício da vocação que trazem em seu íntimo.
Uma pátria próspera se faz com indivíduos que exercem suas atividades com amor e prazer. Portanto, respeitemos a escolha dos jovens colocando-nos no papel de coadjuvantes e não atores principais, afinal, a vida é deles e cabe a eles decidir os caminhos a percorrer. 

Pensemos nisso.

Wellington Balbo

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Felizes, sem preocupação


O conceito de felicidade não é igual para todos, varia de indivíduo para indivíduo, segundo a maneira com que cada um encara a vida e de acordo com os seus interesses como pessoa. O que torna feliz a um pode não significar nada para o outro.
A felicidade está intimamente ligada à satisfação pessoal, tanto do ponto de vista material quanto do espiritual. Aquele que consegue a posse de um objeto muito almejado sente-se feliz como aquele que atende generosamente a um irmão. Porém, há uma distância entre essas duas formas de sentir.
Segundo o Espiritismo, a felicidade real está associada aos valores do Espírito imortal, representados pela conquista da paz interior, das emoções controladas, do pensamento equilibrado e dirigido para o bem; pela naturalidade com que se ama a Deus e ao próximo.
Já se vê que essas conquistas ainda não são comuns entre nós. Elas dependem do progresso moral, das experiências, às vezes enérgicas, por que temos que passar em muitas vidas, não em uma só. Esse acúmulo de experimentações através do tempo vai formando o nosso caráter de homem de bem. A grande maioria de nós está apenas no começo desse processo. Basta ler a resposta dos Espíritos à pergunta 918 de O Livro dos Espíritos e o texto “O homem de bem”, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, e veremos a que distância estamos do “progresso real que deve elevar o Espírito na hierarquia espírita”.
Felicidade hoje, na Terra, se encontra a varejo nos supermercados, nas concessionárias de veículos, nas logomarcas, nas ofertas sedutoras das grandes redes, nos cartões de crédito, na satisfação de uma infinidade de desejos que nunca são saciados.
A ilusão dos degraus sociais e o atropelo na corrida pela visibilidade têm desgastado o homem. O caminho arriscado da fama e do poder e o acúmulo impensado de patrimônio têm consumido suas melhores energias. Essa perseguição quase neurótica da felicidade não garante que ele vá encontrá-la, porque o objeto das buscas é transitório, fugaz, se deteriora, é ilusório. Esses prazeres a que chamamos felicidade não retêm nada que dure, que permaneça no Espírito.
Que felicidade é essa sorvida em transações ilícitas, em concessões perigosas, auferida à custa do suor alheio, trazendo prejuízos morais e sofrimento, cedo ou tarde?
O objeto da nossa felicidade é compatível com a nossa evolução. O que nos consola é saber que ao nos cansarmos de buscá-la onde ela não está, a procuraremos em outro lugar. E essa procura nos colocará, inevitavelmente, defronte da realidade: ela está dentro de nós e não é de se pegar, mas de se sentir. É fluida, é sentimento e razão. O seu descobrimento se dá lentamente, na medida em que vamos compreendendo e sentindo Deus e Suas Leis na consciência. “A felicidade não é deste mundo”, e é relativa porque ainda não se fez no homem. O objeto da felicidade está nele próprio, não nas coisas fora dele.
Esse sentimento é uma conquista gradual do Espírito, trabalho dos séculos e das reencarnações. O homem tem evoluído, mas não compreende ainda a felicidade como subjetiva, como um estado sereno do espírito pacificado.
O homem tem procurado ser feliz e o tem sido, como a criança na posse do brinquedo: ao crescer ela percebe que o brinquedo a tornou feliz por um instante – o da infância – onde o conhecimento e as emoções eram compatíveis com a brincadeira.
Acontecerá o mesmo com todos nós: vamos crescer. Com o tempo, livres das ilusões, perceberemos que a felicidade, apesar de nascer dentro de nós, não se realiza sem o outro, que é o nosso próximo a que se referiu Jesus de Nazaré. Ela vem de mansinho, junto das pessoas com quem convivemos no transcurso inexorável do tempo. Ela está no prazer de trabalhar e construir, na bênção de conhecer e aprender, no lento apuro dos sentidos, na franca expansão dos sentimentos, na alegria das revelações, na transformação do egoísmo em solidariedade.
A felicidade se constrói, leva tempo, mas ela vem. A ponto de, um dia, sermos verdadeiramente felizes sem nos preocuparmos com isso.

Cláudio Bueno da Silva

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Lições de amor e perdão


O mundo conheceu o drama da mulher nigeriana que, por ter concebido fora do casamento, foi condenada a morrer apedrejada.
Sua história comoveu o Mundo, mas poucos a sabem em detalhes.
Poucos sabem que ela, aos treze anos foi dada em casamento, pelos pais, a um homem de mais de cinquenta anos.
Após ela ter quatro filhos, foi repudiada por esse marido, com a alegação de que não cuidara de forma eficiente das crianças, permitindo que duas viessem a morrer.
Diga-se, de catapora, em uma região desolada, na savana nigeriana, com total falta de recursos.
Quando o médico chegou, era tarde demais.
Depois disso, ela se casou mais três vezes, tendo ao todo sete filhos.
Conforme a Lei Islâmica, foi repudiada por mais duas vezes e, do último marido, ela mesma pediu o divórcio.
Um primo distante, pertencente à família de seu pai começou a corteja-la.
Toda vez que ela saía, ele a encontrava. Falava-lhe coisas gentis, agradáveis, que a foram seduzindo.
Prometeu-lhe casamento. Ela acreditou ter encontrado a felicidade.
Quando engravidou, feliz, lhe deu a notícia. Ele a aconselhou a fazer um aborto clandestino, que ela não aceitou.
Quando a gravidez não podia mais ser ocultada, ela foi denunciada à Corte Islâmica.
Quem a denunciou? Não foram os vizinhos, parentes ou curiosos. Foi seu irmão. O irmão mais querido.
Aquele que ela, ainda menina, auxiliara a cuidar, levando amarrado às costas muitas vezes.
O drama vivido por essa mulher foi pungente. Humilhada, várias vezes, ao ter sua sentença de morte decretada, seu maior pesar foi que sua filhinha, Adama, ficaria sem mãe.
Duas grandes lições essa mulher passou ao Mundo.
A primeira, é que o fruto da sua ligação com o homem que a abandonou, o motivo da sua sentença de morte, é intensamente amado por ela.
Em momento algum, ela deixou de olhar para a menina com olhos de muito amor.
Mesmo condenada à pena capital, continuou a amamentá-la, acarinhá-la, considerando-a um presente de Deus.
Minha filha me dá forças, ela é o meu alento. - Dizia.
A outra grande lição é a do perdão incondicional. Quando foi decretada sua sentença, o irmão que a denunciara a foi visitar.
Sem esperar que ele falasse, ela se aproximou dele e o abraçou.
Ele estava arrependido do que fizera. Dera ouvidos a amigos, não pensara nas consequências finais.
Misturaram as lágrimas. Ele se ofereceu para auxiliar a pagar o advogado que faria a apelação perante a Corte Islâmica.
Safiya foi perdoada. Considerada inocente.
Graças ao esforço de seu advogado e da grande pressão internacional.
A sua história auxiliará, em seu país, a outras mulheres, com certeza.
As suas lições de amor e perdão, contudo, se fazem exemplo para o Mundo inteiro.

* * *

Safiya vive no mesmo lugarejo, ao norte da Nigéria. Ela tornou a se casar.
Um jornalista italiano transformou em livro a sua história. Parte dos proventos vindos da venda do livro são doados a um projeto de apoio e assistência às mulheres e crianças nigerianas.
Tudo realizado por uma ONG italiana, fundada em 1965. Ao todo, essa ONG trabalha em trinta e seis países da África, América Latina, Ásia e nos Bálcãs, envolvendo quase mil e oitocentos operadores.
Isso demonstra que a solidariedade não tem fronteiras.

Redação do Momento Espírita, com base no livro: Eu, Safiya de Raffaele Masto.

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