sábado, 15 de julho de 2023

Aspectos da fé


No capítulo XIX (A fé que transporta montanhas) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec define a fé como a confiança que se deposita na realização de uma determinada coisa, a certeza de se atingir um objetivo.

Em relação à religião, "Fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm o seu artigo de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega". A fé raciocinada baseia-se na compreensão dos fatos e da lógica, ao passo que a fé cega quase sempre conduz ao fanatismo, pois nada examina, aceita o falso e o verdadeiro, não admite a compreensão, o raciocínio nem o livre-arbítrio.

Allan Kardec classifica a fé em humana e divina, conforme a aplicação que o homem dê às suas necessidades terrenas ou às aspirações celestes e futuras. O Codificador é enfático: "Se todas as criaturas encarnadas estivessem suficientemente persuadidas da força que trazem consigo, e se quisessem pôr a sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até hoje chamais de prodígios e que é simplesmente o desenvolvimento das faculdades humanas".

No item 11 do mesmo capítulo do Evangelho, a comunicação do Espírito José diz: "Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou". "Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar, que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira."

Que não se confunda fé com presunção. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos. A verdadeira fé está aliada à humildade. Quem a possui deposita mais confiança em Deus que em si próprio, pois sabe que, sendo simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. Por isso é que os bons Espíritos sempre lhe vêm em auxílio.

Por fim, lembremos esta afirmação, constante do item 7 do capítulo em questão: "A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis porque não se dobra. Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade".

"A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada."

Altamirando Carneiro

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 oposição sistemática e interessada."

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Impressões


O conhecimento é relativo neste mundo, mesmo tendo os indivíduos participado da mesma formação.
A impressão que temos das coisas nunca é absoluta. Cada um abriga em si mesmo aquilo que se acomoda à sua maturidade espiritual, e o mundo será visto sempre conforme essa característica, as lentes cultural e moral mais nítidas ou mais embaçadas darão um parecer incompleto a respeito daquilo que se observa.
Jesus, o psicoterapeuta da humanidade, portador da maior mensagem libertadora que se tem notícia, ao aconselhar ao homem o “não julgueis” (1), estava mostrando essa relatividade do entendimento e que para se julgar seria preciso ter um profundo conhecimento do outro que não está na natureza humana, cabendo somente a Deus fazê-lo, porque conhece, o ser que criou, de forma integral.
Somos convidados a contribuir no meio em que vivemos, dar o nosso melhor na conduta e nos esforços, promover o bem em toda parte e a partir de nós mesmos, jamais aguardando que o outro faça, mas cumprindo por nossa vez com os deveres para com a sociedade e a natureza. Não nos cabe saber as razões pelas quais as pessoas fazem o que fazem, mas sim saber o que nós fazemos e, consciencialmente, é isso o que importa para nós, porque isso impacta diretamente a nossa vida de espíritos, “por uma questão de justiça retornaremos sempre ao mundo carregando as consequências do que fazemos” (2), e não a das que os outros fazem.
Diante de disparates do comportamento coletivo ou individual, façamo-nos uma pergunta: O que eu posso fazer para auxiliar? Mesmo que não possamos interferir, diretamente, podemos fazer uma coisa, orar para que tudo se resolva e que aconteça o melhor e continuar na execução de nossas tarefas materiais e espirituais com toda a dignidade que nos seja compreensível.
Estamos em tempos em que de todas as camadas sociais, do homem letrado ao ignorante do saber, surgem os comportamentos, especialmente públicos, mais controversos, momento de grande desafio para nos mantermos equilibrados, mas um equilíbrio edificante, não passivo, aquele que serve, trabalha, constrói, espalha o amor, socorre o outro, ampara e compreende.
Não nos cabe mais ficarmos apenas justificando enganos, censurando e condenando os homens e as instituições, precisamos ter cuidado com as impressões que temos a respeito de tudo e buscarmos nos enquadrar na definição de Allan Kardec a respeito do verdadeiro espírita, do verdadeiro cristão, que é o de “fazermos grandes esforços para domarmos nossas más inclinações” (3), isso feito, iremos nos modificando e as nossas atitudes exemplificarão o que nossas palavras ainda não poderiam fazê-lo.

Referências:
(1) Mateus 7:1;
(2) Questão 167 de O Livro dos Espíritos; e
(3) XVII, item 4 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

O problema da igualdade


A igualdade, sem dúvida, é realidade nas raízes da existência.
Todos os seres possuem direitos idênticos de acesso à elevação, sob qualquer prisma, entretanto é preciso considerar que os deveres graduam as vantagens, dentro da vida.
No caminho da evolução, desse modo, a teoria igualitária absoluta é invariável utopia que nenhum sistema político poderá materializar.
A experiência e o esforço pessoal são as duas alavancas da diferenciação à cuja influência decisiva não conseguiremos fugir.
Mas, se é verdade que não podemos improvisar a ancianidade do Espírito, que só o tempo confere a cada criatura, na jornada para a maturação, o trabalho é sempre a riqueza real, suscetível de ser ampliada em nosso destino, ao preço de nossa boa vontade.
Assim sendo, não te esqueças das oportunidades que a Divina Providência te oferece cada dia, em favor do teu crescimento.
Os degraus da subida de nossa alma no rumo da perfeição destacam-se, hora a hora, através das situações e das pessoas que nos rodeiam.
Não residem nas facilidades que nos acomodam o coração com as linhas inferiores do mundo. Salientam-se nos obstáculos com que somos defrontados.
Cada problema e cada aflição, cada prova mais rude e cada luta mais árdua representam pontos vivos de ascensão que podemos aproveitar, em favor do próprio aprimoramento.
Aprendamos a respeitar o próximo e auxiliá-lo, na convicção de que amparando os nossos irmãos de caminho, auxiliaremos a nós mesmos, de vez que adquiriremos o tesouro da experiência, que nos enriquecerá de visão para os cimos que nos cabe alcançar.
Cada fonte vive em seu nível.
Cada projeção de luz caracteriza-se por determinado potencial de radiação.
Cada flor guarda o perfume que lhe é próprio.
Cada árvore produz segundo a espécie a que se subordina.
Cada Espírito respira na esfera que elege para clima ideal da própria existência…
Compete-nos buscar a posição de superioridade que Jesus nos oferece, aceitando o sacrifício pelo bem que a vida nos impõe, a fim de que nos façamos hoje desiguais da personalidade que ostentávamos ontem, perdendo os envoltórios pesados que ainda nos imantam às zonas escuras da Terra e tentando a sintonia com os benfeitores que nos esperam na Glória Espiritual.

Espirito Emmanuel

Do livro Trilha de luz, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


Imagem do livro

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Elogios e críticas


Emmanuel em sua sabedoria nos oferece duas maravilhosas apreciações, que repasso ao leitor. Selecionei pequenos trechos e indico a fonte para o leitor ler na íntegra. Veja o que selecionei:

a) Se o Sol dependesse da aprovação humana para alimentar a vida (…)
b) Se a Terra sofresse com as censuras que lhe são constantemente desfechadas (…)
c) Se a semente rejeitasse a solidão (…) ou (…) Se a árvore só produzisse sob aplausos (…) pois que (…)
d) se precisamos de elogio para trabalhar e se a admoestação nos paralisa as faculdades de servir, estamos ainda longe de compreender o tesouro das oportunidades de aprimoramento e elevação que nos enriquece os caminhos (…).

Esses itens estão no capítulo 66 – Elogios e Críticas – do livro Segue-me! e se conectam diretamente ao capítulo 67 – Caridade da Paz – do mesmo livro, quando o autor destaca uma virtude ao alcance de todos: “ocultar os próprios aborrecimentos a fim de auxiliar.”
Isso porque se nos expressamos com a face ou a palavra contrariada – à feição de tóxico mental – isso significa um verdadeiro ataque a todos os que se deixam contagiar, espalhando contrariedade e mal estar, como se fosse uma poeira grossa que invada nossa casa.

E então selecionamos também dois trechos do valioso capítulo:

a) Os estados negativos da mente, como sejam tristeza e azedume, angústia ou inconformidade, constituem sombras que o entendimento e a bondade são chamados a dissipar;
b) Recordemos o donativo da paz que a todos nos compete distribuir, a benefício dos outros, evitando solenizar obstáculos e conflitos, aflições ou desencantos que nos surpreendem a marcha.

Afinal, para concluir com o autor:

“(…) a única fórmula para o exercício dessa beneficência da paz, em louvor de nossa própria segurança, será sempre esquecer o mal e fazer o bem, porquanto, em verdade, tão somente a criatura consagrada a trabalhar, servindo ao próximo, não dispõe de recursos para entediar-se e nem encontra tempo para ser infeliz.”

Peço ao leitor reler esse destaque final. A afirmação de que “nem encontra tempo para ser infeliz” é muito expressiva, oportuna e nos conclama a constantes exames de consciência…

Orson Peter Carrara


Nota do autor:

Para acessar ambos os capítulos, na psicografia de Chico Xavier, cliquem nos links abaixo e leia na íntegra:

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quarta-feira, 10 de maio de 2023

A lógica da reencarnação


Palestina, nos tempos de Jesus.
O Monte Tabor fica a cerca de 11 quilômetros a sudoeste de Nazaré. Com cerca de mil metros de altitude, ele domina a planície, muito fértil, de aproximadamente 400 metros, que o circunda. É recoberto, em grande parte, por árvores que produzem resinas. Do cume do Monte Tabor, avista-se toda a planície da chamada Baixa Galileia. Lado a lado, há uma basílica franciscana e uma igreja ortodoxa.
Foi no Monte Tabor que ocorreu a Transfiguração, termo que, segundo os dicionários, significa ato ou efeito de transfigurar-se; transformação. O episódio da Transfiguração é considerado a primeira manifestação espírita da era cristã.

Eis o que Mateus registrou:

Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou para um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e suas vestes tornaram-se alvas como a luz. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele. Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, é bom estar aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. Ainda falava quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saía da nuvem, disse: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o!
Os discípulos, ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão. Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse: Levantai-vos e não tenhais medo. Erguendo os olhos, não viram ninguém: Jesus estava sozinho. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: Não conteis a ninguém essa visão, até que o Filho do homem ressuscite dos mortos. Os discípulos perguntaram-lhe: Por que razão os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro? Respondeu-lhes Jesus: Certamente Elias terá de vir para restaurar tudo. Eu vos digo, porém, que Elias já veio, mas não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também, o Filho do Homem irá sofrer da parte deles. Então, os discípulos entenderam que se referia a João Batista. (Mateus, 17:1 a 11)

Também os evangelistas Marcos (9:2 a 13) e Lucas (9:28 a 36) relatam o fato.

Vejamos, ainda, o item 4: Ressurreição e reencarnação, do capítulo IV: “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”, de O Evangelho segundo o Espiritismo, o qual informa que os judeus acreditavam na reencarnação, só que com o nome de ressurreição, pois o termo reencarnação somente surgiria no século 19, com o aparecimento do Espiritismo, cuja data em que surgiu na França é 18 de abril de 1857, com a primeira edição de O Livro dos Espíritos. Só os saduceus não pensavam assim, por acreditarem que tudo acabava com a morte.
As ideias dos judeus sobre a questão não eram claramente definidas, pois tinham noções vagas e incompletas a respeito da alma e a ligação desta com o corpo. Acreditavam que um homem podia reviver, sem terem noção perfeita de como o fato acontecia.
A ressurreição seria a volta à vida do próprio cadáver e a Ciência demonstra que isso é impossível, principalmente quando os elementos do corpo já estão dissolvidos. A reencarnação é, pois, a volta do Espírito à vida corpórea, num outro corpo.
Poderíamos aplicar a palavra ressurreição ao que aconteceu com Lázaro; não a Elias e, consequentemente, aos profetas. Se para os judeus João Batista era Elias, o corpo de João não poderia ser o de Elias, uma vez que João tinha sido visto desde criança e seus pais eram conhecidos. Portanto, João era Elias reencarnado, mas não ressuscitado.

Ainda neste capítulo do evangelho, é interessante falarmos do item 18, o qual esclarece que os laços de família são fortalecidos com a reencarnação. Eles não sofrem destruição, como pensam algumas pessoas:

"A encarnação apenas momentaneamente os separa, porquanto, ao regressarem à erraticidade, novamente se reúnem como amigos que voltam de uma viagem. Muitas vezes, até uns seguem a outros na encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo círculo, a fim de trabalharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que se conservam livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, todos têm avançado um passo na senda do aperfeiçoamento".

Altamirando Carneiro

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quinta-feira, 4 de maio de 2023

A condenação eterna


Meus amigos,

Hoje, abrindo ao acaso O Livro dos Espíritos, deparamo-nos com o item mil e nove, que trata das penas eternas.
Dado que o tema, ainda hoje, está presente no imaginário popular, é imprescindível passarmos em revista, para alguns novamente, para outros pela primeira vez, a imprescindível elucidação de Santo Agostinho sobre o assunto.

Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

“Interrogai o vosso bom senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às suas criaturas? Não haverá contradição em se lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o homem não lhe compreende a justiça, mas a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras’.”

A clareza do texto – o negritado é de nossa autoria – dispensa comentários.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

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sexta-feira, 28 de abril de 2023

Aproveite bem cada dia de sua existência!


Mas uma só coisa é necessária. Jesus (Lucas, 10:41.)

“Administrarás interesses vários, entretanto, não poderás controlar todos os ângulos do serviço, de vez que a maldade e a indiferença se insinuam em todas as tarefas, prejudicando o raio de ação de todos os missionários da elevação.” (Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel. Livro Vinha de Luz, cap. 3.)
Envolvidos pelos compromissos naturais da vida hodierna, em meio aos conflitos familiares, profissionais, financeiros, sociais, e até mesmo religiosos, passamos a nos preocupar quase que exclusivamente com esses problemas e passamos a sofrer antecipadamente pelo que poderá acontecer no dia de amanhã, esquecidos de desfrutar do dia de hoje que passa sem que nos demos conta.
Precisamos saber lidar com as tensões do cotidiano procurando resolver cada coisa no momento oportuno, sem nos angustiarmos com aquilo que ainda não poderá ser resolvido hoje, como se fosse possível solucionar todos os desafios que a vida nos propõe ao mesmo tempo.
Assim sendo, precisamos planejar nossos passos para equacionar de forma adequada os problemas que surgirem com muita coragem e fé na assistência Divina que está sempre ao nosso alcance, desde que acreditemos e façamos o que de nós depende.
“Descerremos as portas da alma à luz da grande compreensão e, buscando aprender com os recursos do mundo, que nos amparam em nome da Divina Providência, reajustemo-nos no amor que entende e socorre, abençoa e serve sempre, na certeza de que, refletindo em nós os Propósitos Divinos, encontraremos, desde agora, nas complexidades e nevoeiros do mundo, a preciosa trilha de acesso ao Eterno Bem.” (Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel. Livro Família, cap. A Terra – Nossa Escola.)
Procedendo dessa forma, melhor ultrapassaremos os obstáculos do presente e nos prepararemos melhor para a solução dos futuros desafios, utilizando a experiência bem planejada do dia atual. Pois se ficarmos pensando no dia de amanhã, não nos desvencilharemos da forma adequada dos problemas de hoje, os quais ficarão mal resolvidos para se somarem aos novos do dias que virão.
Urge seguir o conselho do Mestre de todos nós quando nos assegura: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” Jesus – (Mateus, 6: 34.)

Francisco Rebouças

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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Paciência


Será a paciência uma das nossas virtudes?
É possível que alguns respondamos, quase de imediato: Sou paciente... quase sempre.
Altero-me quando me tiram do sério, quando a questão é grave.
Em verdade, isso quer dizer que não somos pacientes. Somente, por vezes, temos exercido essa virtude, por alguns minutos.
Isso nos recorda a história daquele homem, que passava por séria problemática financeira.

Estava desempregado desde alguns meses e, devido a sua idade, bem como não ter especialidade profissional, estava muito difícil arranjar um novo emprego.
Há dias, ele não fazia uma refeição decente, algo que realmente lhe pudesse saciar a fome.
O desânimo foi tomando conta da sua vontade. Por isso, na manhã, que apenas se espreguiçava sobre as primeiras horas, perambulava, pelas ruas, sem destino.
Seguia de cabeça baixa, pelo que, em dado trecho do caminho, enxergou no chão o que pareceu ser uma cédula.
Correu em direção ao papel e viu que se tratava realmente de dinheiro.
Não era muito, mas, antes de recolhê-lo da calçada, olhou para todos os lados, para ver se ninguém por perto reclamava a sua posse.
Não, não havia ninguém com ares de ter perdido alguma coisa.
Tornou a olhar, pensando que, eventualmente, alguém poderia estar brincando com ele.
E pensou: É bom demais para ser verdade!
Apesar da quantia não ser expressiva, serviria para lhe amenizar a fome nesse dia.
Quase num sobressalto, ajuntou a nota, desamassando-a.
Porém, que decepção! Era apenas a metade da cédula.
Irritado, rasgou em pedacinhos o pedaço de papel, jogando-os num bueiro.
Continuou a caminhada, de mãos nos bolsos, esbravejando em pensamento.
Contudo, alguns metros adiante, para surpresa sua, encontrou a mesma nota. Era a outra metade da primeira!

* * *

Os grandes problemas da impaciência são as perdas que o impaciente sofre em decorrência de suas atitudes.
A primeira delas é, obviamente, a perda da serenidade.
Sem serenidade, não temos condições de avaliar com frieza as circunstâncias que nos envolvem, de modo que possamos enxergar as saídas e soluções possíveis.
Perdendo a serenidade, perdemos também o bom senso.
Sem ele, nos tornamos impotentes, ou apenas nos sentimos impotentes.
Paciência é respeito.
Respeito aos outros e a nós mesmos.
Verificaremos que é muito mais produtivo trabalharmos pacientemente do que nos irritarmos com o que não será modificado do dia para a noite.
Ademais, quem não sabe esperar, também não sabe usufruir!
Também não alcança o que almeja.

* * *

Thomas Edison, o grande inventor, estava na tentativa de número seiscentos e sete para incandescer um filamento e conseguir inventar a lâmpada.
O seu assistente, cansado, insistiu para que ele desistisse.
Edison perseverou. O resultado, todos agradecemos: a bênção da luz elétrica.
Paciência, dessa forma, não significa passividade, indolência ou subserviência.
Paciência é a atitude inteligente de quem compreende que tudo tem seu tempo. Também que, para alcançar o que desejamos, é preciso insistir, perseverar.

Redação do Momento Espírita.

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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Felicidade e alegria


“Eu aprendi a me contentar com o que tenho.” - Paulo

Allan Kardec aborda, em todas as obras da codificação, a questão da alegria e felicidade de forma profunda e muito esclarecedora.
Segundo a nossa querida doutrina espírita, a felicidade não é um estado de plena satisfação material, mas sim uma conquista interior que se desenvolve através da evolução moral e espiritual do ser, das suas lutas interiores, das suas vivências, da troca de experiências, da prática da caridade e da consciência superior da vida.
A alegria, por sua vez, a doutrina espírita nos apresenta sendo um estado de espírito que pode ser alcançado independentemente das circunstâncias externas, e depende apenas de nós. Ela surge da conexão com a nossa essência divina, da prática do bem e da gratidão pelas bênçãos da vida. É um sentimento que transcende a felicidade momentânea e traz paz e serenidade ao coração.
Aprendemos no Espiritismo que a verdadeira felicidade só pode ser alcançada quando nos libertamos das amarras do egoísmo, da inveja e do orgulho, e passamos a viver em harmonia com as pessoas e todos os seres da natureza.
É preciso buscar o equilíbrio interior, cultivar o amor e a compaixão pelos que nos rodeiam e assumir a responsabilidade pelos nossos atos.
Essa conquista individual de felicidade e alegria é o objetivo maior da vida, pois buscamos sempre a felicidade como sendo a solução dos problemas. Eliminar todos e tudo aquilo que nos incomoda é ledo engano, visto que, em verdade, precisamos aprender a viver dentro de nós a felicidade e a alegria mesmo nos momentos difíceis, o que, sem dúvida, é uma tarefa árdua e muito difícil, mas não impossível. Vivendo o Evangelho de forma real e verdadeira, conseguiremos conquistar a felicidade e a alegria interior.
Disse Paulo certa vez: “Eu aprendi a me contentar com o que tenho”. Devemos refletir que quando disse isso ele estava preso em Roma, num calabouço úmido e sujo, e em sua volta havia apenas dor, ódio, violência sem limites.
Por que ele disse isso então? Ele já tinha consciência da verdadeira vida, ele já sabia que tudo na vida é lição, passagem e, assim, manter o bom ânimo é uma tarefa de todos nós.
Assim, devemos refletir e entender que a felicidade é um processo contínuo de evolução espiritual, que envolve aprendizado, superação e transformação. Ela não é um destino final, mas sim uma jornada que deve ser percorrida com perseverança e determinação.
Podemos concluir, então, que a alegria e a felicidade são estados de espírito que se desenvolvem a partir da nossa conexão com nossa essência divina, ou seja, com Deus nosso Pai, vivendo os ensinos do Mestre Jesus e firmando o nosso compromisso com o bem e a evolução moral.
Precisamos viver os ensinamentos do Espiritismo, para podermos encontrar a verdadeira felicidade e viver em paz e harmonia com nós mesmos e com o mundo que nos rodeia.

Wagner Ideali

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terça-feira, 28 de março de 2023

Da mocidade ao poder, da fortuna à Inteligência....


Imagine o leitor as possibilidades da Mocidade, da Fortuna, da Liberdade, do Poder, da Inteligência, do Casamento venturoso, da Saúde.... São aspirações comuns na maior parte da Humanidade, são desejos e lutas em busca desses estados. Se puderem estar aliados, então, ainda melhor, não é mesmo? É o pensamento corrente.
Todos eles, porém, requerem discernimento, bom senso na vivencia ou no uso consciente, evitando-se abusos e seduções, sob pena de grandes decepções.
Tentações variadas e mesmo avanços ou ataques da inveja e do ciúme, seduções de toda espécie rondam as proximidades desses dons. Inclua-se ainda a indisciplina que gera tantos transtornos ou discórdias que se instalam, solidão, abandonos e contatos com a ignorância e desafios outros.
Aí está o escopo do capítulo 27 – O dom esquecido, constante do livro Jesus no Lar (ed. FEB), de Neio Lúcio/Chico Xavier. A narrativa refere-se a um homem com muitos méritos e que foi pedindo esses dons, um a um, vivendo-os em plenitude e sempre encontrando decepções à sua volta, apesar dos dons....
Voltando à Corte Celeste muito desanimado, face às frustrações, indagando qual dom lhe faltara pedir. A resposta foi que faltou vivenciar a Coragem. Segundo o Mensageiro Celeste, essa grande virtude é o maior de todos os dons, pois produz entusiasmo e bom ânimo para o serviço indispensável de cada dia.
Se o homem não possui coragem para sobrepor-se aos bens e males da vida humana, de pouca utilidade são os dons temporários na experiência transitória.
Adaptação parcial, inclusive com pequenas transcrições, do capítulo citado no próprio texto.

Orson Peter Carrara

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O Problema de ignorar


“E abrindo a sua boca os ensinava.” – (Mateus, 5:2.)

São muitas as interrogações que causam hesitação, surpresas e até medo do ser humano na compreensão dos percalços que podem surpreendê-lo nos caminhos da vida.
Como entender os dissabores que surgem de repente mesmo no caminho daquele que se esforça por seguir uma conduta decente e uma convivência fraterna com seus semelhantes?
Por mais se tente o estabelecimento da luz em nosso caminho, a treva se faz presente, mesmo projetando atividades na caridade para auxílio e ajuda ao próximo, a má-fé, a má vontade a malevolência surge procurando perturbar o projeto de realização, infiltrando o desânimo nos corações bem-intencionados.
A doutrina espírita nos esclarece que o homem de bem como nenhum outro desfruta de privilégio perante as Leis Divinas e dessa forma também encontrará em seu caminho muitos obstáculos e atitudes sombrias desafiando sua coragem e sua fé.
É preciso entender que sendo Filho de Deus que é soberanamente bom e justo, esses dissabores certamente têm uma finalidade útil em nossa vida. São na verdade desafios próprios de um planeta de expiações e provas como o nosso, para estimular em nós o desenvolvimento da inteligência na busca da solução mais adequada para cada situação.
O cristão sincero seguidor de Jesus, todavia, sabe que conforme as mensagens e exemplos de seu Mestre e Guia não deve perder tempo com interrogações e ansiedades descabidas, pois ELE, sendo o Justo por excelência, não teve qualquer facilidade na difusão das Leis de Deus entre nós.
Jesus já nos antecipava com suas atitudes que a ignorância é a fonte primeira do desequilíbrio do homem, evidenciando que quando alguém busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por enquanto, as benesses das virtudes que conduzimos em nosso Espírito imortal, nada mais que isto.
“Jesus, porém, traçou o programa desejável, instituindo o auxílio eficiente. Observando que os filhos do povo se aproximavam d’Ele, começou a ensinar-lhes o caminho reto, dando-nos a perceber que a obra educativa da multidão desafia os religiosos e cientistas de todos os tempos.

Quem se honra, pois, de servir a Jesus, imite-lhe o exemplo. Ajude o irmão mais próximo a dignificar a vida, a edificar-se pelo trabalho sadio e a sentir-se melhor.” (l)

Urge esqueçamos as sombras causadas pela ignorância que ainda permanece escravizando grande parte da sociedade terrestres, procurando cada discípulo de Jesus nos ensinamentos de Luz estabelecido por seu Evangelho, servir ao seu Mestre e Senhor da melhor forma possível e com os recursos que dispusermos para este nobre projeto de crescimento intelectual, moral e espiritual que nos cabe empreender.

Jesus nos guie!

Referência:
(1) Xavier, Francisco Cândido, pelo Espírito Emmanuel. Livro Vinha de Luz – FEB, cap. 17

Francisco Rebouças

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Diante do cansaço, busquemos novas forças


“Resguarda-te em Deus e persevera no trabalho que Deus te confiou. Ama sempre, fazendo pelos outros o melhor que possas realizar. Age auxiliando. Serve sem apego. E assim vencerás.” Emmanuel/Chico Xavier

Momentos existem em nossas vidas em que nos sentimos mais cansados, um pouco apáticos e desmotivados, mas tudo isso é muito natural diante da vida atribulada que levamos aqui na Terra, pois nosso planeta é um local de expiações e provas.
Como é do nosso total conhecimento, somos Espíritos eternos, vivenciando mais uma existência física, trazendo conosco a herança do passado a refletir nos dias presentes, por isso a necessidade de expiação, ou seja, a correção daquilo que não fizemos direito e que precisa de reparação. São novas oportunidade para reprisar a lição tal qual o aluno que não aproveitou o ano letivo e tenha que repeti-lo.
Já as provas decorrem da nossa necessidade de colocar em teste o aprendizado que já amealhamos. Nesse momento somos compelidos a exercitar a nossa força, determinação, perseverança e o real desejo de progresso espiritual.
Estas duas importantes e necessárias situações consomem as nossas forças físicas e mentais, fato que é totalmente compreensível. Em assim sendo, cabe a cada um de nós saber encontrar novas fontes de energia para recompor o nosso estoque que está em baixa.
A convicção de que somos criaturas eternas, que já superamos experiências difíceis em outras épocas e que potencialmente possuímos forças que ainda não descobrimos, nos faz ter certeza de que venceremos todo e qualquer desafio que surgir diante de nós.
Podemos buscar força na caridade em favor de alguém que esteja vivemos instantes de dor e sofrimento, procurando de alguma forma aliviar-lhe os padecimentos, oferecendo um remédio, uma palavra de consolo e esperança, um gesto de carinho ou um abraço de solidariedade. Essa atitude atrai as benéficas forças espirituais
Também, diante de uma mãe desprovida de alimentos para socorrer a fome dos filhinhos, a doação de uma cesta básica é atitude de emergência que promove conforto e serenidade a um coração aflito. A gratidão dessa mãe, mesmo que ela não manifesta, nos replenará de energia saudáveis.
Visitar uma instituição que assiste crianças, enquanto seus pais ou responsáveis trabalham e brincar que esses “pequenos”, que por várias horas do dia, diante da necessidade da família, fica longe do ambiente familiar, também é uma excelente fonte de forças em nosso benefício. A vibração festiva das crianças é uma excelente fonte de energias saudáveis.
O serviço voluntário, realizado de qualquer forma e em favor de causas nobres, desponta como um foco contagiante de energias positivas que eleva o nosso ânimo e equilibra as nossas emoções.
A frequência regular a templos religiosos, de acordo como as nossas convicções, contribui, sobremaneira, para acalmar a nossa mente e coração, enquanto as forças divinas atuam para aliviar nosso incômodo.
O cansaço, a apatia ou o desânimo que, em algumas circunstâncias, nos abatem é indício de que trabalhamos e todo trabalhador tem seus limites e, em algum momento, precisa de reposição de formas e energia. Tudo isso é muito natural. O que não podemos admitir é a ideia da inércia, de que não podemos prosseguir com as nossas atividades.
A criatura idealista, determinada e corajosa saberá encontrar meios de superação, que existem em abundância.
O problema não é cair, casado, o problema é ficar no chão esperando que mãos amigas venham nos levantar.
Aprofundemos a observação em nosso potencial e encontraremos forças adormecidas esperando que as despertemos.

Reflitamos.


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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

A luz nos olhos do homem no Mundo de Regeneração


Qual é o homem terreno que pode arvorar-se sabedoria suficiente para conhecer causas e efeitos que levam um ser humano a tomar esta ou aquela atitude?
Procurar a análise justa de cada situação, no silêncio da consciência ou na conversa proveitosa e discreta, será sempre oportunidade de evolução e aprendizado.
Despender energia na frase menos feliz ou no comentário que denigre, no entanto, será via certa para a recapitulação da lição, seja pela exposição ao erro, seja pela oportunidade aberta de praticá-lo.
A cura do Espírito nunca vem fora do amor. Aquele que critica, muita vez, está aquém do criticado no caminho evolutivo, pois que se ainda não compreende, também não trilhou o caminho da experiência que irá, fatalmente, acordar seu irmão para o bem.
Cale-se a voz, portanto, que queira levantar-se para o mínimo comentário negativo. Se Deus projeta incessantemente só o bem, estar com ele significa decidir, intimamente, abrir mão do mal que se carrega nos olhos e no coração, para conseguir assim enxergar o brilho radiante e perfeito de tudo o que pulsa na criação.
Que seria da flor não fosse a terra que, em suas obscuras entranhas, faz brotar a semente?
Aos olhos do homem carnal, haverá sempre luz e sombras. Mas o homem espiritual que anseia nascer —e nascerá com pujança no Mundo de Regeneração— enxergará, em si e no próximo, apenas a luz. A que já se fez, e a que está por fazer.

Que Deus abençoe nossos esforços para fazer brilhar a própria luz.

Paz,

Um Espírito Amigo
Mensagem psicodigitada pelo médium Francisco Madureira em São Paulo no dia 4/12/2012

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domingo, 25 de dezembro de 2022

A omissão e as suas consequências espirituais


Toda criatura humana retorna à ribalta da vida material carregando em seu átrio um conjunto de metas a cumprir, isto é, fracassos e desajustes a reparar, virtudes e capacitações a desenvolver, aprendizados para aperfeiçoar o comportamento e os sentimentos, lições de vida para assimilar e situações de testemunho, que aferirão, por fim, o seu real progresso espiritual. As experiências redentoras serão mais ou menos acentuadas a depender dos seus compromissos e débitos perante as leis divinas.
Nesse sentido, cada um de nós tem a sua própria história de erros e desacertos. E por não termos alcançado a necessária elevação, tropeçamos, não raro, em nossas imperfeições e defeitos milenares.
No decorrer da vida, a maioria das pessoas tende a internalizar o dever de não praticar o mal e realizar o bem. Ocorre que, entre esses dois extremos, há um estágio intermediário representado pela omissão comportamental. Trata-se de uma postura igualmente comprometedora à evolução das criaturas, embora muito praticada, conforme atestam as evidências. Aliás, cabe destacar que muitas atrocidades foram cometidas ao longo da trajetória humana devido à omissão dos atores envolvidos. O próprio Jesus, nas horas mais pungentes do seu messianato, sentiu-a através do abandono dos seus seguidores e beneficiados.
O assunto merece profunda reflexão, já que vivemos num mundo onde a noção do bem não foi devidamente instalada não apenas por causa da prevalência do mal, mas também pela nossa omissão em sufocá-lo. Allan Kardec explorou o tema na questão 642 d’O Livro dos Espíritos ao indagar as entidades espirituais o seguinte: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal? Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem”. Notem que a neutralidade aqui em nada contribuí para o bem-estar espiritual do indivíduo claudicante.
O assunto é retomado na obra O Céu e o Inferno no trecho: “[...] Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre”. Segue daí, portanto, que a ausência de atitudes concretas na direção do bem provoca consideráveis infortúnios ao Espírito tergiversante. Assim sendo, consoante a conclusão do Codificador, “A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra — tal é a lei da Justiça divina”.
Quando olhamos a abundante imperfeição presente nas instituições, nos governos, nos ambientes de trabalho, no funcionamento das sociedades e sobretudo nas relações humanas, identificamos também que o imperativo do bem não é uma prioridade. Infelizmente, deixamos de praticá-lo em situações e contextos onde a nossa boa vontade e empatia são altamente requeridas. Não cogitamos que pequenas ações e iniciativas de nossa parte poderiam ser implementadas, o que certamente redundariam em benefícios aos nossos semelhantes. Com efeito, o nosso engajamento em fazer o bem, além de ajudar em nossa própria autoiluminação, atenua as agruras dos nossos irmãos. Desse modo, evitar a prática maléfica constitui apenas um dos nossos desafios. Mas não é suficiente à nossa evolução.
Por isso, alerta-nos com propriedade o Espírito Emmanuel, no livro Justiça Divina (psicografia de Francisco Cândido Xavier):

“Asseveras não haver praticado o mal; contudo, reflete no bem que deixaste a distância.

“Não permitas que a omissão se erija em teu caminho, por chaga irremediável.
“Imagina-te à frente do amigo necessitado a quem podes favorecer.
“Não te detenhas a examinar processos de auxílio.

“[...]

“Não percas a divina oportunidade de estender a alegria.

“[...]

“Faze, em cada minuto, o melhor que puderes.”

Contudo, deixamos de fazer por inúmeras razões – até por pura indiferença, ou casuísmo – coisas boas e positivas que, em muitas ocasiões, estão ao nosso alcance e não exigem nenhum grande esforço de nossa parte em realiza-las. Mais ainda: não percebemos que elas poderiam aliviar a cruz dos nossos irmãos de jornada. Desperdiçamos, devido à nossa incúria e imaturidade espiritual, oportunidades excepcionais de fazer brilhar a nossa luz através dos sublimes mecanismos da solidariedade, compaixão e boa-fé. Não cogitamos que nessas ocasiões estamos sendo efetivamente testados pela providência divina. Não lembramos – muito menos deduzimos - que concordamos em assumir e executar tarefas benéficas em prol dos outros. No entanto, diante da oportunidade sagrada normalmente fracassamos. Lamentavelmente, o comportamento omisso continua causando consideráveis aflições em nosso mundo.
O Espírito Joanna de Ângelis, na obra Celeiro de Bênçãos (psicografia de Divaldo Pereira Franco), faz observações contundentes a respeito. Por exemplo, a elevada entidade afirma que “A omissão, no entanto, é responsável pelo desmoronamento de ideais enobrecedores com que a Humanidade sempre foi contemplada, porquanto estimula a desordem, no silêncio conivente; açula a ira, pela morbidez que dissemina; favorece a fuga dos dubitativos que se resolvem pela atitude mais fácil. Omissão, é, também, ausência de firmeza de caráter, covardia moral”.
Para ela ainda, “O cristão omisso é alguém em vias de decomposição emocional, que está em processo de morte sem o perceber. Desse modo, constrói sempre e convictamente o bem em toda parte, comunicando entusiasmo e otimismo, descobrindo, por fim, que o contágio do amor e da esperança...”
Por outro lado, é comum nos queixarmos dos problemas e obstáculos que surgem desafortunadamente em nosso caminho. São experiências – perfeitamente evitáveis, em muitos casos - sofríveis que adicionam mais transtorno às nossas vidas. Sendo essa a realidade, meditemos se, de nossa parte, também nós contribuímos para isso devido à nossa omissão e silêncio diante das coisas erradas. Vivendo num mundo onde a imperfeição tudo abarca, podemos, pelo menos em nossa esfera de ação, averiguar se o comportamento omisso ainda nos inspira. Com efeito, chegar no plano espiritual carregando tal passivo só nos fará mal.

Anselmo Ferreira Vasconcelos

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sábado, 17 de dezembro de 2022

Emergência espiritual


Vivemos na Terra uma grave emergência espiritual.
As conquistas do conhecimento nos fizeram chegar até o instante em que se percebe, claramente, que inteligência sem moralidade produz apenas o caos.
Das simplórias cavernas até as casas inteligentes de milhões de dólares;
Dos primeiros meios de transporte aquático usando canoas de madeira até os atuais trens de levitação magnética; desde os primeiros cálculos da astronomia até a visão potente do telescópio James Webb, tudo mudou.
Estamos muito mais avançados do que nossos ancestrais. Gabamo-nos de ter explorado o planeta e seus recursos de forma tão eficaz.
No entanto, temos que nos perguntar:
Será que tudo isso nos fez melhores? Será que tudo isso nos deu uma melhor compreensão do nobre, do justo e do bom, conforme a proposta de Platão?
Será que não nos perdemos, nos encantando com acessórios, deixando bastante de lado o que seria o principal?
A proposta cristã é muito clara: Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça e todas essas outras coisas vos serão acrescentadas.
Jesus propunha a busca da essência divina em todos nós, propunha a lei do amor como regente maior dos pensamentos, sentimentos e atos do homem.
Todas as outras coisas, que são menores, que dizem respeito à vida material, à sobrevivência do corpo, essas nos seriam acrescentadas.
Não estava propondo a inércia, nem negando o valor do trabalho, mas simplesmente estabelecendo hierarquia de valores.
E o que aconteceria se invertêssemos essa hierarquia? Se deixássemos a busca do reino de Deus de lado ou para as horas vagas ou, ainda, para quando der?
Bem... Nem precisamos descrever quais as consequências, pois as vivemos nesse instante de emergência espiritual.
Estamos imersos em um sentimento de vazio existencial, de desamparo, de falta de objetivos que nos preencham a alma de verdade.
Não é tarde, porém, para mudar.
Muitos já encontraram essa via segura e estão se reconstruindo.
Agora é a nossa vez.
O que temos feito pela construção do reino de Deus em nós? Quais as nossas primeiras iniciativas dentro da Lei Maior do Amor?
Temos a razão como instrumento calibrado, o conhecimento das eras como manual de instruções e o exemplo de Jesus como guia.
O que temos feito ou podemos fazer em nossos dias para educar as nossas emoções?
O que podemos fazer pelo bem comum em nossa família e em nossa sociedade?
Já conseguimos nos perceber como parte da cura de uma sociedade doente? Ou ainda estamos entre os pacientes em atendimento?
Talvez estejamos nos dois lados. Hora aqui, ora ali.
Muito natural, compreensível. Importante é começar, importante é persistir. É não perder o foco.
Perguntemo-nos, todas as manhãs: O que podemos fazer de nobre, justo e bom, neste dia?
Nos versos de uma prece sincera e feita com regularidade, peçamos sempre ajuda: que possamos ser um instrumento da paz, da cordialidade, do entendimento ao nosso redor.
É assim que iremos atender a emergência espiritual e que sairemos todos vencedores.
Comecemos hoje.

Redação do Momento Espírita.

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Que fraqueza é esta, afinal?


Há em O Livro dos Espíritos uma questão, a de número 932, muito utilizada por cronistas e palestrantes espíritas em seus trabalhos. Nela, os Espíritos Superiores dizem a Allan Kardec que a influência dos maus sobre os bons se dá pela fraqueza destes últimos. E que quando estes quiserem, assumirão a preponderância.
Que fraqueza é esta a que se referem os Espíritos? Fraqueza moral, evidentemente. Mas por que fraqueza moral se são bons? São bons, mas são tímidos, dizem os Espíritos. E que timidez é esta, dos bons? No meu ponto de vista, é a da convicção sem ação.
Basta apenas querer para assumir a preponderância sobre os maus? Me parece que o “querer” dos Espíritos tem a ver com atitude. É inegável que é preciso contar com o tempo, com a sucessão das gerações, com ideias renovadoras que chegam para substituir velhas concepções, e assim ver o mal perder a influência, mas enquanto isso vai acontecendo, como deveremos agir?
É possível implementar a supremacia do bem sobre o mal só com as convicções bem intencionadas? Parece que não. Para os Espíritos – eu entendo assim – é preciso misturar vontade e ação. Nada se concretiza sem essa mistura.
A moral espírita é formidável. Mas ela não tem sentido se não gerar ações propositivas nas relações humanas. Não basta estar no mundo só para si mesmo. Viver o amor solidário, defender a justiça e agir com caridade, são fundamentos da vida social pacificada e fraterna.
O respeitado ativista indiano Mohandas Gandhi disse sobre uma das mais belas passagens do ensino cristão: “Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade e só se salvasse O sermão da montanha, nada estaria perdido”.
Certamente se poderia dizer o mesmo com relação ao Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos: As Leis Morais. Trata-se de um precioso estudo em doze capítulos, com perguntas, respostas e comentários, realizado por Allan Kardec e os Espíritos.
É um documento sociológico e ético que “pode abranger todas as circunstâncias da vida” *, contemplando os direitos naturais do homem na Terra, bem como os deveres de uns para com os outros, balizados pela mais pura moral conhecida.
Caso não houvesse outra fonte onde beber conhecimento moral/espiritual, esse Livro Terceiro, As Leis Morais, atenderia plenamente à necessidade do homem em buscar conhecer-se a si mesmo, amar o próximo e louvar a Deus e à vida.
A exemplo do Cristo, o homem bom e destemido, deverá aplicar esses princípios nas relações mais cotidianas e verá, sem espanto, o mal ir perdendo seu poder de influência no mundo.

*Questão 648, A lei divina ou natural, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

Cláudio Bueno da Silva

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Brilhe vossa luz


Corre, incessantemente, o caudaloso rio da vida…
Iniciam-se viagens longas, embarca-se e desembarca-se, entre esperanças renovadas e prantos de despedida.
Viajores partem, viajores tornam.
Como é difícil atingir o porto de renovação!
Quase sempre, a imprevidência e a inquietude precipitam-se nas profundezas sombrias!…
Para vencer a jornada laboriosa, é preciso aprender com Alguém que foi o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ele não era conquistador e fundou o maior de todos os domínios, não era geógrafo e descortinou os sublimes continentes da imortalidade, não era legislador e iluminou os códigos do mundo, não era filósofo e resolveu os enigmas da alma, não era juiz e ensinou a justiça com misericórdia, não era teólogo e revelou a fé viva, não era sacerdote e fez o sermão inesquecível, não era diplomata e trouxe a fórmula da paz, não era médico e limpou leprosos, restaurou a visão dos cegos e levantou paralíticos do corpo e do espírito, não era cirurgião e extirpou a chaga da animalidade primitiva, não era sociólogo e estabeleceu a solidariedade humana, não era cientista e foi o sábio dos sábios, não era escritor e deixou ao Planeta o maior dos Livros, não era advogado e defendeu a causa da Humanidade inteira, não era engenheiro e traçou caminhos imperecíveis, não era economista e ensinou a distribuição dos bens da vida a cada um por suas obras, não era guerreiro e continua conquistando as almas há quase vinte séculos, não era químico e transformou a lama das paixões em ouro da espiritualidade superior, não era físico e edificou o equilíbrio da Terra, não era astrônomo e desvendou os mundos novos da imensidade, enriquecendo de luz o porvir humano, não era escultor e modelou corações, convertendo-os em poemas vivos de bondade e esperança.
Ele foi o Mestre, o Salvador, o Companheiro, o Amigo Certo, humilde na manjedoura, devotado no amor aos infelizes, sublime em todas as lições, forte, otimista e fiel ao Supremo Senhor até a cruz.
Bem aventurados os seus discípulos sinceros, que se transformam em servidores do mundo por amor ao seu amor!
Valiosa é a experiência do homem, bela é a ciência da Terra, nobre é a filosofia religiosa que ilumina os conhecimentos terrestres, admiráveis é a indústria das nações, vigorosa é a inteligência das criaturas; maravilhosos são os sistemas políticos dos povos mais cultos, entretanto, sem Cristo, a grandeza humana pode não passar de relâmpago dentro da noite espessa.
“Brilhe a vossa luz”, disse o Mestre Inesquecível.
Acenda cada aprendiz do Evangelho a lâmpada do coração.
Não importa seja essa lâmpada pequenina.
A humilde chama da vela distante é irmã da claridade radiosa da estrela.
É indispensável, porém, que toda a luz do Senhor permaneça brilhando em nossa jornada sobre abismos, até a vitória final no porto da grande libertação.

Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz

Livro: Apostilas da Vida

Francisco Rebouças

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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Quando um não quer, dois não brigam


Durante o embarque de passageiros em rodoviária de uma conhecida cidade brasileira, presenciamos um fato no interior do ônibus que nos chamou a atenção.
Um senhor, aparentemente de meia idade, adentrou o veículo e assumiu, depois de conferir, a poltrona indicada em seu bilhete. Passados alguns minutos, um outro senhor, com idade aparente bem mais avançada, procurando o lugar correspondente ao seu bilhete, parou diante do primeiro e lhe disse:

– Essa poltrona – a da janela – é minha.

De forma pacífica o interpelado respondeu:

– Não, esta poltrona é minha e está de acordo com meu bilhete. Que número consta no seu bilhete?
– Vinte e Seis.
– Então, a do senhor é a do corredor. Estou no lugar certo.
– Não, retrucou de maneira ríspida. Eu pedi e comprei na janela.
– Então houve engano no guichê de vendas, mas não tem problema, não vamos brigar por isso, o senhor pode ficar com o meu lugar. Há outros lugares vazios no ônibus, e me mudarei para um deles.

Não satisfeito, e não querendo “dar o braço a torcer”, aquele senhor ainda insistiu que a poltrona lhe pertencia porque havia solicitado na janela, mas o interpelado, imperturbável, acabou por fechar o assunto dizendo:

– Meu senhor, não há motivos para brigarmos, o senhor deveria resolver o problema no guichê, mas como o ônibus já está em trânsito, pode ficar com a janela que viajo em outro assento.

Bem, ficamos a pensar, quantas e quantas situações como essa se apresentam na vida de relação dos seres humanos, incluindo nós outros, e quantos conseguem manter o equilíbrio emocional com o orgulho sob controle, sem descambar para o bate-boca e para reações agressivas.
O comportamento daquele que tinha razão, na ocorrência acima descrita, foi exemplo de comportamento cristão e uma lição para todos nós que estudamos o Evangelho do Senhor Jesus.
Era espírita? Não o sabemos, mas ficou patente que ele, na prática, atende, perfeitamente, o que preconizou Jesus quando nos orientou:

E se alguém quiser processar-te e tirar-te a túnica, deixa que leve também a capa. (Mateus 5:40)

Assim, se alguém te forçar a andar uma milha, vai com ele duas. (Mateus 5:41)

Dá a quem te pedir e não te desvies de quem deseja que lhe emprestes algo. (Mateus 5:42)

Se a casa for digna, que a vossa paz repouse sobre ela; se, todavia, não for digna, que a paz retorne para vós. (Mateus 10:13)

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O provisório esquecimento do passado


É muito comum que os iniciantes no estudo da Doutrina Espírita, após tomarem conhecimento da lei das reencarnações, questionem qual a razão de esquecermos o que fizemos e o que fomos nas vidas passadas. Têm a impressão de que seria muito melhor se nos lembrássemos de tudo, argumentam, adicionando ainda que, com a ciência do que fizemos poderíamos melhor nos conduzir na vida atual e aproveitar as oportunidades presentes.
Uma primeira abordagem que poderíamos fazer, bastante simplista, esclarecendo estes novos espíritas, é de que, se cremos em Deus, e Ele assim determinou, é que há nisso vantagem e sabedoria: É Lei de Deus, ponto final!
Contudo, nada impede que tentemos entender e aprofundar o tema um pouco mais, pois isto nos ajuda a construir a fé que pode encarar a razão a qualquer momento. Entretanto, de modo a não criarmos uma expectativa muito grande no aprofundamento da questão, podemos adiantar que o homem não pode, nem deve saber de tudo.
A Doutrina nos ensina que, esquecido de seu passado, o homem é mais senhor de si, tem condição de melhor conduzir a própria vida.
Esclarece ainda que, se lembrássemos de tudo, pode-se afirmar, não seria mais fácil lidar com as situações do dia a dia, muito pelo contrário, haveria perturbações nas relações sociais e mesmo dentro do ambiente familiar. Basta recordar que, frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu cercado de muitos com quem dividiu experiências no passado.
Imaginemos lembrar que tiramos a vida de um familiar; fomos o responsável pela doença ou problema mental que nosso filho agora apresenta; levamos à morte milhares de pessoas; destruímos, queimamos e conquistamos pela força; semeamos o medo e a desgraça entre os povos. Não há dúvida de que se nos recordássemos destes feitos teríamos sentimentos nada tranquilizadores de vergonha, humilhação, remorso e acentuada culpa.
Além disso, existiriam perseguições intermináveis por parte daqueles que ainda poderiam se sentir prejudicados por atos passados, lutas dificílimas se estabeleceriam, caso pudéssemos nos reconhecer inequivocamente.
Mais ainda, o processo de educação dos pais seria altamente prejudicado. Imagine se um pai ou mãe, tentando dar bons conselhos e orientações a um filho, e escutasse: “Meus pais, que história é esta de me dizerem o que fazer, alegando preocupação comigo! Ora, na vida passada vocês me abandonaram, não foi? Será que eu posso confiar em vocês nesta vida? Que garantias tenho de que o interesse de vocês agora é verdadeiro? O que mudou?”.
A recordação das afeições especiais e de momentos positivos no passado poderia também favorecer e estreitar relacionamentos particulares, o que de igual modo não é o desejado na busca da construção da família universal. E se o oposto se desse, ou seja, quando inimigos se reconhecessem dentro de uma mesma família? Haveria a ruptura imediata do grupo.
Quantas vezes nos perguntamos em tantas situações: “Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz, certamente teria feito de modo diverso”. Existe mesmo o famoso ditado que diz: “Se arrependimento matasse!”. Nada a estranhar, uma vez que é a realidade em um mundo de provas e de expiações, habitado ainda por grande maioria de Espíritos muito distantes da perfeição. Apenas os orgulhosos não reconhecem os seus desvios às leis de Deus, não admitem que já se equivocaram em muitas ocasiões. Afinal, só não se equivoca quem é perfeito, estado evolutivo que ainda não alcançamos neste mundo.
Como reagiríamos se lembrássemos dos nossos deslizes de vidas passadas com os executados na vida presente! Isso poderia levar muitos à loucura e desequilíbrios inimagináveis. O Espírito de evolução mediana, como todos nós, não consegue suportar tal pressão sobre si mesmo.
Observando, por outro lado, feitos de destaque no passado, esses poderiam também fazer surgir ou reacender o tão indesejado orgulho, bem como a vaidade, traços de personalidade nada construtivos para quem necessita de um novo começo, de uma nova vida.
Observemos que, de modo geral, na vida presente, colocamos as faltas ou deslizes e os atos que nos comunicam certa vergonha e arrependimento nos porões da consciência, alojando-os o mais fundo possível. É um mecanismo de defesa do Espírito, e o fazemos com tamanha intensidade que de ordinário o Espírito de fato se “esquece” temporariamente daquele ato infeliz. São necessárias certas técnicas para fazê-lo recordar do acontecido. Assim, tentamos fazer exatamente o que Deus faz naturalmente e sabiamente, pois quem quer lembrar-se dos erros passados e da vida presente?
A razão de afirmarmos que o esquecimento é provisório reside no fato de que nos lembraremos das nossas vidas quando estivermos desencarnados. Sabe-se, contudo, que as lembranças não se apresentarão de imediato, com todos os detalhes de inúmeras vidas, mas irão clareando na medida em que estivermos preparados para nos ver face a face com as nossas antigas personalidades.
Lembremos mais uma vez que colocamos no porão da consciência, quando encarnados, os atos e situações que nos desgostam. Na vida espiritual há processo semelhante, embora seja o perispírito como que um imenso baú de memórias, conservando o registro de todos os nossos atos. Pela bondade de Deus, quando desencarnados, não acessaremos de imediato, na lucidez da consciência, tudo o que fizemos, visto que se tal acontecesse, nos desequilibraríamos intensamente, não nos aceitando como atores e partícipes de lances infelizes que certamente protagonizamos em diversas vidas regressas.
É fato que existe a possibilidade de acessar algo do nosso passado quando estamos dormindo, pois, parcialmente liberto do corpo, o Espírito adquire certa lucidez que permite ter relances ou vislumbres de certos momentos do passado. Essas lembranças podem funcionar como avisos ao encarnado sobre certas condutas e posições que na vida presente experimenta e que não interessam no momento. Representam mais uma demonstração da bondade de Deus alertando-nos para seguir as leis morais.
É de se observar que a sociedade comumente age, em relação aos seus ex-condenados, de modo contrário à lei de Deus. É raro esquecer-se do que fez o ex-detento e, por conta disto, não se lhe dá novas oportunidades. Deus não age assim e, como o seu amor é incondicional e imensurável, como nos deseja o melhor e que conquistemos a nossa perfeição, dá-nos esta benção provisória de esquecermos o passado, possibilitando ainda a vivência de novas oportunidades, tantas quantas forem necessárias, para que de fato aprendamos o que é preciso aprender.
Se nem sempre podemos nos honrar do nosso passado, melhor é esquecê-lo temporariamente.
Todavia, chegará o tempo, e isto é certo, quando, pela força das nossas aquisições morais, da melhora ética em nossa conduta, passaremos a ter boas, excelentes lembranças do que fizemos, e nesta hora, então, será tudo alegria, felicidade. Teremos imenso prazer em recordar o que construímos de bom para nós mesmos e para o próximo. Poderemos manter as portas dos porões da consciência destrancadas, sem ferrolhos, uma vez que nada mais nos envergonhará, nada mais temeremos e nada nos incomodará. A certeza de um passado totalmente superado pelas boas obras será a nossa garantia de paz e tranquilidade interior.
Nada obstante, na nossa situação atual, mais vale esquecer que lembrar!

Rogério Miguez

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

As vestes da Verdade.


A pintura A Verdade saindo do poço é um quadro idealizado pelo escultor e pintor francês Jean-Léon Gérôme.
Está ligada a uma parábola do Século XIX, que narra o encontro da Verdade com a Mentira, durante um passeio.
A Mentira elogiou o dia, o sol brilhante, sem nuvens.
A Verdade concordou, salientando a beleza dos pássaros que as rodeavam, com suas plumagens variadas.
Porque o dia estivesse muito quente, a Mentira sugeriu que se refrescassem nas águas convidativas de um lago.
Ambas se despiram, deixando suas roupas à margem e mergulharam.
Porém, logo que a Verdade se distraiu, a Mentira saiu da água às pressas, vestiu a roupa da Verdade, desaparecendo a correr.
Percebendo que tinha sido enganada e que estava sem suas roupas, a Verdade saiu do lago. No entanto, se negou a vestir as roupas da Mentira.
Decidiu que não tinha do que se envergonhar, e que, mesmo sem roupa alguma, caminharia até sua casa.
Todos os que a viram, andando despida, sequer indagaram o que poderia ter acontecido, ou porque ela se apresentava assim. Houve somente críticas para a sua atitude.
Percebeu, então, que as pessoas tinham mais facilidade em aceitar uma Mentira fantasiada de Verdade, do que ela mesma, sem nenhuma vestimenta.

Essa situação se reprisa, em nossos dias, repetidas vezes. A Mentira disfarçada atrai mais pessoas e ilude aos desavisados, que a aceitam, sem nada questionar.
A sua aceitação tão rápida se deve ao fato de que, de um modo geral, damos mais importância às aparências, que nos parecem, quase sempre, muito atraentes e sedutoras.
É assim que se acrescentam itens inexistentes a fatos, que se ilustram notícias, aumentando-lhes os detalhes. Tudo para parecer mais interessante.

* * *

Importante nos indagarmos como nos comportamos, nesse mundo em que abundam as mentiras fantasiadas de verdade.
Quantos de nós, desejosos de sermos os primeiros a dar a notícia retumbante, simplesmente repassamos a terceiros o que ouvimos, lemos, ou recebemos em nossos grupos de whatsapp.
No entanto, abraçando a verdade, consideremos que ela é como o alimento, que deve ser ingerido, sem exagero, a fim de não provocar problemas.
Ou como a água, que mata a sede, mas deve ser bebida na quantidade exata, devagar.
Por isso, a verdade não deve ser aplicada com dureza, como se fosse uma arma para destruir os outros.
É necessário tato para mostrá-la. Há muitas formas de ser apresentada, sem que maltrate os outros ou fira sentimentos, sem necessidade.
Não é tanto o que se diz, que oferece resultados positivos ou desagradáveis, mas a forma como se diz.
A verdade jamais deve ser adulterada. Também não deve ser lançada como uma bomba, destruindo corações frágeis. Dosagem certa, no momento exato.

Importante nos perguntarmos: A verdade que sabemos é realmente verdade?

Se é, a quem trará benefícios a sua divulgação?

Essa medida nos dirá, exatamente, o que devemos ou não divulgar, como e quando fazê-lo.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita

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