quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Fazer a nossa parte no mundo – Para os desanimados de plantão


Um grande e inspirador amigo que tive, Dr. Tomás Novelino, fundador do Educandário Pestalozzi de Franca (SP), médico e educador, sempre dizia o seguinte para pessoas que lhe vinham com pensamentos pessimistas a respeito do mundo: quem está trabalhando pelo bem, quem está fazendo a sua parte, não sente desânimo e nem vê o mundo com cores negras. 
Essa lembrança querida abre minhas reflexões nesse texto, já que os tempos de hoje se apresentam a muitos olhos com cores bastante sombrias. 
De fato, não faltam notícias tristes, sangrentas, nauseantes. E não é difícil nos deixarmos envolver por ondas de depressão e descrença, quando nos sintonizamos com todo o acervo de injustiças, problemas, crueldades, ataques à dignidade humana, depredação da natureza… e poderíamos aqui estender o quadro indefinidamente. 
No meio de tudo isso, porém, o bem existe. Mas, como dizia Gandhi: o bem anda com a velocidade de uma lesma. E poderíamos acrescentar, anda com o silêncio de uma lesma. O bem não faz alarde, porque justamente o que caracteriza o justo, o bom, o nobre, o elevado, é não querer se sobressair, não querer o poder, a publicidade e a ostentação a qualquer custo. Quem é do bem age por amor, por compaixão, por solidariedade, por idealismo e não por dinheiro, fama, poder, luxo e prazer sensorial. 
Os bons são motivados pelo bem em si e não pelo desejo de projeção do ego. É claro que as coisas nesse mundo nunca são tão puras. Às vezes vaidades se misturam a ideais nobres, ambições pessoais apequenam grandes projetos. Mas se persistimos no trilho do idealismo e da vontade sincera de servir, com o tempo, as ilusões egóicas, os mesquinhos interesses monetários vão se desmanchando diante de nossa compaixão pelas dores humanas, de nosso intenso desejo de contribuir para a mudança do mundo. 
Mas o que é trabalhar pelo bem, fazer a sua parte nesse mundo? Aquilo que Novelino dizia que poderia nos preencher por dentro de tal forma que não sentiríamos esse desânimo diante das mazelas ainda grandes da humanidade? 
Trata-se de descobrir (ou inventar, como quiserem) nosso sentido de existir, nosso projeto de vida e seguir em coerência com ele. E esse projeto, claro, precisa ter alguma meta de contribuir com algo de bom para o meio em que vivemos. Não importa o aparentemente pequeno ou claramente grande alcance do que fazemos. Importa a integridade, a força, o amor, a coerência que pomos em nossa ação. Por exemplo, a mãe de Gandhi simplesmente o educou. Uma tarefa que pode parecer corriqueira, comum. E no entanto, exerceu uma influência sobre uma alma, que exerceu influência sobre o mundo todo. Lembrei-me agora de Cora Coralina, fazendo doces a vida toda, e depois poesias tão fortes e sábias que, na velhice, ultrapassaram de muito a sua cozinha. 
Recordei de Jesus… um filho de carpinteiro, com doze amigos pobres, pescadores, quase todos analfabetos, e que mudou a face do mundo. 
Há tantos exemplos, em todas as épocas, em todos os setores, em todas as culturas, em todas as religiões (ou fora delas), que só de conhecê-los, nos sentimos vivificados e inspirados. (Aliás, por isso mesmo que criamos a série Grandes Pessoas, para as crianças, na Editora Comenius, com a ideia de trazer para as novas gerações essas inspirações).
Então, trata-se de planejar a própria vida a cada instante, no sentido de estarmos conectados com essa meta maior, que nos ultrapassa, que é contribuir para o bem da humanidade. Em cada profissão útil e digna podemos fazer isso. Em cada grupo pequeno ou grande, podemos fazer isso. Pode-se simplesmente ser um médico, mas pode-se ser um médico humano, cuidadoso, sinceramente interessado em seus pacientes, responsável, estudioso, com boa comunicação. Pode-se simplesmente ser um professor, mas pode-se ser um educador, que faz vínculo com seus alunos, que os contagia com amor e com a vontade de aprender, que se empenha pelo seu desenvolvimento integral. Pode-se simplesmente ser qualquer profissional minimamente competente, mas pode-se ser um profissional humano, que luta pela melhoria do outro e não para lhe passar a perna, que escuta os problemas dos companheiros e faz o que pode para atenuá-los, que se coloca à frente para cumprir suas tarefas com empenho e alegria e não encosta o corpo… que enfim, luta por situações de trabalho mais justas e mais satisfatórias para todos. Pode-se simplesmente ter uma família, mas pode-se ser um pai, uma mãe, um irmão, um filho, uma filha, um neto, uma neta especial, que se dedica de corpo e alma ao bem-estar físico e espiritual dos seus, que se sacrifica, que se entrega, que tem afeto pleno e equilibrado, consistente e persistente. 
Podemos assim fazer a diferença em qualquer lugar – eis o que quero dizer, desde que estejamos alinhados com nossa vocação, conectados com nossa missão existencial e coerentes com nossos projetos de vida.
E mesmo assim, podemos desanimar! 
E é para esse momentâneo desânimo dos bons, dos empenhados, dos lutadores, dos que estão fazendo a sua parte, que dedico principalmente esse texto. 
Lembro-me agora de outro grande amigo e mestre que tive, que foi Herculano Pires. Ele costumava dizer que não deveríamos ter complexo de Deus. E cito também o maravilhoso e antigo livro hindu Bhagavad Gita, que recomendava nos desapegarmos do resultado de nossas ações.
O que quer dizer isso? Quer dizer que devemos ter paciência e serenidade diante da lentidão do bem, do aprendizado nosso, dos outros, da humanidade. Estamos numa escola experimental. O erro faz parte de nossas experiências de evolução. Mas, é claro, que só a perspectiva de Deus e da eternidade é que pode nos dar essa visão serena e humilde, sabendo que o bem nos precede e nos transcende, e que fazendo nossa parte, bem feita, estaremos fazendo a justa medida que devemos fazer, sabendo que um dia, todo o resto passará.

Dora Incontri

Imagem ilustrativa

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Cairbar, um comunicador por excelência


O esforço empreendido pelo notável Cairbar Schutel, em Matão, na divulgação do Espiritismo, deixou clara sua posição de grande comunicador. Tomando conhecimento dos ensinos trazidos pelo Espiritismo, o moço que viera do Rio de Janeiro e se instalara no pequeno município paulista que ele mesmo auxiliara emancipar-se politicamente, não teve dúvidas: lançou-se de corpo e alma para que tais ensinos se tornassem conhecidos e pudessem beneficiar mais e mais pessoas.
A partir da fundação de um centro espírita e de um jornal que já é centenário, sua atuação extrapolou os limites da então pequena Matão, projetando-se através das décadas para o cenário internacional, principalmente após o surgimento de sua querida RIE, fundada em 1925.
Da distribuição avulsa pelas ruas da cidade, nos trens de passageiros, na remessa a cidades vizinhas e na postagem que se ampliou gradativamente para todo o Brasil, o pequeno jornal foi um farol a despertar consciências adormecidas para a realidade da imortalidade da alma, da pluralidade da existência e da comunicabilidade dos espíritos, entre outros princípios da Doutrina Espírita.
Vale acentuar que, em 1905, quando Schutel iniciou seu apostolado, sua idade era de apenas 36 anos. Durante os próximos 33 anos, de 1905 a 1938, dedicou sua vida completamente à divulgação e à vivência do Espiritismo.
É importante destacar também o aspecto de vivência. Afinal ele foi um autêntico cristão, nunca desprezando ou ignorando quem quer que o buscasse. Jamais teve atitudes de indiferença ou discriminação quanto aos pobres e necessitados que o procuravam em busca de consolo moral ou em busca do socorro material.
Mas sua grande marca foi mesmo o de comunicador. Além dos periódicos que publicou, dos livros que escreveu, das palestras proferidas, do incentivo doutrinário distribuído, ele igualmente influenciou expressivamente toda uma geração de espíritas. Seu exemplo, seu estímulo, a notável  sequência pioneira dos programas radiofônicos (depois transformada em livro), fizeram dele um comunicador por excelência.
Há que se destacar também que, mesmo após a desencarnação, seu trabalho continua. Ditou várias mensagens, por diferentes médiuns, já foi identificado igualmente por diferentes médiuns em locais onde o assunto é divulgação espírita e, por relatos idôneos, pode-se afirmar que ele é um dos espíritos coordenadores da expansão do pensamento espírita, inclusive no âmbito internacional.
Cairbar percebeu de imediato a proposta do Espiritismo, exposta com clareza por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, obra que alcança 160 anos de publicação em 2017, pois que lançada em 18 de abril de 1857.
Fica claro perceber o alcance da comunicação espírita. Ela, a Doutrina Espírita, não é estanque, mas dinâmica. Sua própria índole cristã é comunicativa. Surgiu com a publicação de livros, projetou-se através de livros e comunicação verbal, alcançou respeito pela comunicação vivida na prática e atualmente vive a realidade de ver seus temas essenciais serem tratados abertamente pela mídia.
Ora, o trabalho iniciado pelos espíritos, percebido por Allan Kardec – que lhe organizou metodicamente os ensinos –, vitalizado pela marcante presença de Chico Xavier, mas igualmente estimulado pelo trabalho de homens da fibra de Cairbar Schutel, entre tantos anônimos ou conhecidos, do presente ou do passado, é fator que nos convida à reflexão.
Que atuação estamos tendo para continuar referido empreendimento, cujo objetivo é espiritualizar o ser humano? Exemplos não nos faltam. Entre eles, um comunicador por excelência: Cairbar de Souza Schutel (1868-1938).
Vale destacar que o livro VISÃO ESPIRITA DE UM BANDEIRANTE – PENSAMENTOS DE CAIRBAR SCHUTEL – volumes I e II, publicados pela editora O Clarim em 2005 – ano em que se comemorou o centenário de O Clarim, reúne os editorais da RIE, de 1925 a 1938, na autêntica ferramenta de comunicação de sua lucidez doutrinária e sua firmeza de caráter, que ele usou através das páginas da Revista Internacional de Espiritismo, na defesa e na divulgação das ideias espíritas. Um exemplo, sem dúvida, de comunicação espírita.

Orson Peter Carrara
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/

Imagem do livro

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O Espiritismo responde


Uma leitora de Guarani (MG) pergunta-nos por que Martins Peralva desaconselha a participação de mulheres grávidas nos trabalhos mediúnicos a partir do 3º mês de gestação.
A recomendação de Martins Peralva consta do cap. 9 do livro Estudando a Mediunidade. Segundo ele, a abstenção da gestante nos trabalhos mediúnicos objetiva preservar o reencarnante das vibrações pesadas do comunicante, atendendo a que, estando a mente do filhinho intimamente associada à da futura mãe, naturalmente se associará, também, à do Espírito, já ligada à alma do médium, consoante ele demonstra graficamente na obra citada.
Se o médium tivesse sempre a certeza de que a sua faculdade seria utilizada, exclusivamente, por Espíritos Superiores, a abstenção – asseverou o saudoso escritor – não seria necessária.
Sabemos que há espíritas que discordam da medida proposta, mas Chico Xavier transmitiu sobre o assunto idêntica recomendação.
Adelino da Silveira perguntou-lhe: - Nos embaraços mensais, a mulher pode frequentar os trabalhos mediúnicos?

Chancelada pelo Dr. Bezerra de Menezes, Chico grafou a seguinte resposta: 

“No caso de nossas irmãs as mulheres, tão somente nas ocasiões de gravidez, após o terceiro mês de gestação do nascituro, devem abster-se da ação mediúnica, podendo permanecer, porém, na equipe de serviço espiritual para receberem auxílio.” (In Passes, Desobsessão e Disciplina, por Adelino da Silveira, disponível em http://goo.gl/mDGECt /.)

Como dissemos, no meio espírita as opiniões sobre o tema variam bastante.

Eis alguns exemplos:

1) Favorável à participação da gestante na sessão: http://goo.gl/Oj2GhO
2) Contrário à participação: http://goo.gl/dAWMtS
3) Meio termo entre as posições anteriores: http://goo.gl/5rmI0a

Pessoalmente, aliamo-nos à recomendação dada por Martins Peralva e referendada pelo Dr. Bezerra de Menezes.

Astolfo O. de Oliveira Filho
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Imagem do livro

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Um cristão verdadeiro age contra sua tendência normal do ego


No nível atual de nossa evolução espiritual, é difícil alguém ser um cristão verdadeiro, já que a nossa tendência normal é de satisfazermos aos interesses individuais e materiais de nosso ego. Daí Jesus ter-nos aconselhado que devemos buscar primeiramente as coisas do Reino de Deus, ou seja, as que dizem respeito à evolução do nosso eu superior (Mateus 6: 33) através da prática do amor. E Ele reforça esse ensino dizendo que se alguém quiser ser seu discípulo, deve renunciar-se a si mesmo, pegar sua cruz e segui-lo. A cruz a ser pega é o nosso carma de sofrimento. E, realmente, temos que pagar os nossos pecados até o último centavo (Mateus 16: 24; e 5: 26).
O cristianismo, com exceção do Espiritismo, ao contrário das religiões orientais, tem dado pouca importância a essas duas grandes verdades evangélicas. Mas, com razão, diz um antigo provérbio: “Lux ex oriente” (“A luz vem do Oriente”). E o cristianismo tem-se preocupado muito, também, com a adoração de Deus e pouco com a nossa reforma íntima. Vale a boa intenção dos teólogos. Mas Deus mesmo não dá muita importância a isso, pois Ele é imutável e totalmente independente de nós, sendo o mesmo ontem, hoje e sempre. A adoração a Deus não deixa de ser um ato de demonstração de nosso amor para com Ele. Mas nós é que nos beneficiamos com ela! E, segundo o que Jesus nos deu a entender, no seu diálogo com a Samaritana, à beira do Poço de Jacó (João 4: 23), Deus quer ser adorado em Espírito e verdade, o que nos leva a crer que a verdadeira adoração a Deus não é bem com cerimônias e rituais pomposos, mas reservadamente. Ademais, o meigo Galileu ensinou que se uma pessoa estiver no altar fazendo oferendas a Deus, mas se lembrar de que não está bem com alguém, ela deve interromper sua oferenda a Deus e ir reconciliar-se primeiro com seu desafeto, e então, somente depois disso, ela pode voltar ao altar para continuar as suas oferendas a Deus. (São Mateus 5: 23 e 24). Isso nos demonstra que estarmos bem com todas as pessoas é mais importante do que fazermos oferendas a Deus. E é mais importante exatamente porque, como já foi dito, Deus não precisa de nossas adorações e ofertas, mas nós precisamos estar reconciliados com todas as pessoas que, sem exceção, devemos amar, mesmo que sejam nossas inimigas! (São Mateus 5: 44). E, confirmando esse seu amor incondicional para com todos, Jesus disse que não veio para ser servido, mas para servir! Aliás, João nos ensina também que quem disser que ama a Deus, mas odeia seu inimigo, é mentiroso. (1 João 4: 20).
Realmente, para sermos cristãos verdadeiros, temos que combater sempre as mazelas dos vícios materiais de nosso ego, indo, pois, na contra mão do que é normal nas pessoas, isto é,  revidar as ofensas feitas contra nós, o que levou Paulo a dizer: a palavra da cruz é loucura para o mundo! (1 Coríntios 1: 18).
E vamos a dois exemplos, um evangélico (Lucas 6: 29) e o outro de santa Teresa de Calcutá, canonizada pelo Papa Francisco em 4-9-2016, exemplos esses que nos ensinam grandes verdades cristãs que, infelizmente, são realmente rejeitadas pela tendência normal de nosso ego: “Ao que tirar tua capa, deixe levar também a túnica”; e “As mãos que servem são mais importantes do que os lábios que oram”, sim, porque orar é mais fácil do que servir!

PS: “Presença Espírita na Bíblia”, com este colunista: www.tvmundomaior.com.br e parabólica digital.

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

Imagem ilustrativa

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Um minuto com Chico Xavier


O Chico é um ser emocionante, eis a expressão que melhor traduz a sua personalidade. Situa-se ele para muito além da dimensão que possa conceber.
Muito haverá que se falar de Chico, no futuro, além do que agora se fala. Casos sobre ele e relacionados com ele multiplicar-se-ão quase ao infinito. Muitos há ignotos e, desses muitos, alguns vêm à tona de quando em vez.
O narrado em frente é um deles. E, dada a pureza e simplicidade de linguagem da principal protagonista, Maria Helena Falcão dos Santos, advogada e esposa de meu prezado colega magistrado, Clodoaldo Moreira dos Santos, ora na inatividade, transcrevo-o "ipisis litteris":

"Há dezesseis anos, mais precisamente no dia 13/04/1975, sofri o maior golpe da minha vida.

Tinha verdadeira adoração por minha mãe. Nossa afinidade era muito grande. Na manhã daquele dia fatídico, estava eu fazendo a mamadeira para o meu filho caçula, quando o neto mais velho de minha inesquecível mãe e que com ela morava chegou em minha casa gritando: ‘Tia, a vovó está morrendo!’
Sem acreditar, pois à tarde do dia anterior ela tinha passado comigo e estava bem, corri até a sua casa, que era perto da minha, e a encontrei já sem fala, deitada em sua cama. Peguei-a nos braços e, chegando ao alpendre da casa, pedi a um vizinho, que ia passando de carro, que, pelo amor de Deus, nos levasse ao Hospital Santa Helena.
No banco de trás do carro eu sentia que todo o mundo desabava sobre mim. Minha santa mãe, com seus lindos olhos azuis, me fitava com todo o carinho que lhe era peculiar. 
Eu, em desespero, passava a mão em sua cabeça e rezava. De repente, ela estremeceu e aquela luz tão forte, que emanava de seus lindos olhos azul, desapareceu. Os olhos ficaram opacos, sem vida. 
Minha adorada mãe tinha acabado de desencarnar em meus braços. Entrei em desespero e nada mais fiz conscientemente disseram-me, depois, que, na hora do sepultamento, tiveram que me tirar a força de cima do caixão. 
Sofri demais. Não conseguia tirar da minha mente seus olhos opacos, sem brilho que tanto os embelezava.
Com o passar dos anos, lendo muitas obras espíritas e cuidando de meu amado pai que, depois de três anos de sofrimento no leito, também retornou ao Além, pude ter outra visão do mundo, das pessoas, da morte. Porém, persistia em mim a lembrança sofrida dos olhos sem vida de minha mãe.
Acalentava o sonho de um dia ver o médium Chico Xavier. Há seis anos, dez depois do desenlace de minha adorada mãe, fui surpreendida com o telefonema de uma amiga, dizendo que o Chico estava em Goiânia e que estaria na Colônia Santa Marta, às 13 horas. Fiquei muito feliz e pensei: hoje vou realizar o meu sonho de vê-lo! Pelo menos de longe!... 
Troquei rapidamente de roupa e, ao sair de casa, senti um desejo incontrolável de pegar uma florzinha do pé de manacá que minha mãe adorava e havia plantado para mim. Peguei a florzinha e, fechando-a na mão, dirigi-me para a Colônia. 
Ao ver Chico Xavier passar por mim, fui invadida por forte emoção e senti um desejo muito grande de falar com ele. Vi que ele se sentou em uma cadeira e as pessoas, que eram muitas, formavam fila para cumprimentá-lo. Entrei na fila. Sentia a florzinha na minha mão, que eu conservava fechada, e algo me dizia que continuasse assim. O Chico estendia a mão e cumprimentava um a um.
Quando chegou a minha vez, para meu espanto, ele, cabisbaixo, estendeu a mão para mim, só que com a palma virada para cima, como à espera que fosse colocado algo. Eu, imediatamente, sem saber por que, coloquei em sua mão a florzinha de manacá, que só eu sabia estar fechada em minha mão. Ele, ainda com a cabeça baixa, abriu o paletó e guardou-a no bolso interno do mesmo. Só aí levantou a cabeça e me encarou. Sentia eu uma grande emoção. Meu rosto estava banhado pelas lágrimas. Queria dizer alguma coisa, mas não conseguia.

Ele, então, me disse:

– ‘Minha filha, os olhos dela brilham mais que a água marinha mais pura que possa existir neste planeta’. 

E olhava para o meu lado, como se visse alguém. Eu, que já estava totalmente embargada pela emoção, entendi que ele estava vendo minha adorada mãe, ali, ao meu lado, mais viva do que nunca e que os olhos opacos e sem vida, cuja lembrança tanto me doía e fazia sofrer, não existiam. 
Dominada por intensa emoção, afastei-me daquele santo homem, sem dizer uma palavra, mas com a certeza de que minha mãe estava muito bem e que seus belos olhos azuis brilhavam ainda mais que antes.”

Depoimento de Weimar M. de Oliveira, em artigo publicado na Folha Espírita de maio/2002.

José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil)

Fonte:http://www.oconsolador.com.br/ano9/439/umminutocomchico.html