sexta-feira, 15 de abril de 2011

Reflexões sobre a vida a dois


A vida a dois merece muitas reflexões, nas horas de nosso precioso tempo olhando o azul do céu e filosofando na vida. Na verdade, merecia um curso. Fazemos cursos de tantas coisas, mas não realizamos cursos para refletir e analisar a importância e as questões envolvidas em se viver com outra pessoa e dali constituir uma família. Sobre esse tema nos debruçaremos nesse texto em algumas reflexões, de forma encadeada.
A primeira questão é a pessoa com quem dividiremos a nossa caminhada. Deve ser mais igual ou mais diferente do que nós? O diferente complementa e o igual une... Penso que os dois aspectos são importantes, mas que devemos buscar o que temos de mais igual. Não nos aspectos do gosto e das vontades, que são da superfície. Devemos buscar a afinidade em fatores mais profundos, como os princípios e valores. Esses precisam se encontrar várias vezes na caminhada da vida a dois.
Outro ponto interessante é o respeito à individualidade. Termos nosso espaço é necessário! Não podemos nos sentir sufocados... Mas essa visão de respeito à individualidade por vezes se confunde com culto ao individualismo. Loteamos horários e espaços, achamos que respeitar o outro é ter o dia do futebol e o dia do chá com as amigas. É mais do que isso! É entender os projetos do outro, as visões, e fazer com que o espaço coletivo tenha espaço para cada um, inclusive os filhos.
Não podemos deixar de falar da rotina... A rotina é boa, pois as surpresas podem ser desagradáveis. A rotina nos encaminha à reclamação sistemática, às frustrações que são comuns à vida, oriundas da nossa vontade de controlar o mundo. É preciso lidar com as frustrações, convivendo com a alegria do possível e a luta pelo impossível.
Da reclamação deve surgir o diálogo resolutivo. As frustrações nos fazem lembrar que não se pode ter tudo na vida, independente se a vida é a dois ou não, e que existem conquistas individuais e coletivas. A rotina não pode ser culpada da nossa ausência de capacidade de enxergar que cada dia é um dia novo, com desafios e oportunidades.
Os desafios, essa é uma reflexão muito interessante. Não nos preparamos para a vida a dois. Pensamos apenas nos momentos idílicos ou nos assustamos de forma maniqueísta com a possibilidade do casamento. A vida tem desafios – a subsistência, a doença, a desencarnação, as ilusões – e os desafios demandam maturidade, coragem e solidariedade. Existirão dias de prosperidade, mas também dias de luta. Perceber isso é um grande sinal de maturidade.
Remete-nos essa questão que a vida a dois nos faz protagonistas, deixamos de ser adolescentes e somos agora adultos responsáveis – respondemos pela nossa vida.
Precisamos romper os liames com os nossos pais, seguir adiante, mantendo a boa relação sem dependência. Está aí mais um segredo da vida a dois! Ter uma vida a dois é ter o desejo de construir uma relação. É mais do que consumir em outro nível. É dar de si, abrir mão em torno de um novo instituto que receberá em breve novos Espíritos, dando prosseguimento ao ciclo da vida.
E às vezes é do ciclo da vida as relações terminarem. Esse processo nos demanda civilidade, respeito e, acima de tudo, uma postura cristã. Se separar é uma arte quase tão sublime quanto se unir. O respeito, o cuidado com as crianças, o atendimento aos compromissos materiais assumidos e o clima de paz devem ser situações observadas, onde a religião nos auxilia nesse processo.
Por fim, na nossa reflexão de ideias encadeadas, podemos asseverar que uma vida a dois saudável não prescinde de uma religião. A religião é que nos permite trabalhar a espiritualidade, nos relacionar com outros planos da vida sem esquecer a vida no Planeta Terra. A religião nos brinda com a profundidade dos valores e os alicerces da fé nos sustentam nos momentos difíceis, naturais da vida a dois.
Refletir sobre a vida a dois, o que ela significa, é caminho de amadurecimento.
Mais do que festas, cerimônias, imóveis e móveis, a decisão de trilhar caminhos conjuntos traz consequências para a nossa encarnação atual e para as futuras.
Consequências felizes, mas por vezes desastrosas.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito Federal (Brasil)


Imagem ilustrativa

sábado, 9 de abril de 2011

A teologia dos cristãos primitivos era mitológica


As tradições religiosas e mitológicas dos países circunvizinhos da Palestina estão presentes no Judaísmo, que os transmitiu para o cristianismo. Aliás, todos os primeiros cristãos, inclusive Jesus, eram judeus. Assim, muitos teólogos cristãos antigos colocaram em suas elucubrações teológicas idéias mitológicas. E é estranho que a teologia cristã do Terceiro Milênio ainda esteja mesclada de mitologia!
A palavra base da mitologia é mito, sinônimo de fábula e de mentira. Mitomania é mania de mentir. E a mitologia tornou-se importante nos trabalhos eruditos modernos como subsídio da ciência da história das religiões. Mas questões religiosas mitológicas não devem ser interpretadas literalmente. A própria Bíblia, que recebeu também influências mitológicas, tem muitos textos que não podem ser interpretados literalmente.
Nas Escrituras Sagradas, nós espíritos humanos encarnados e desencarnados somos chamados de filhos de Deus e, também, de deuses (Salmo 82, 6; são João 10,34; e 1 Samuel 28,13). E Jesus, é óbvio, é também Filho de Deus e Deus, mas relativo. Sim, Jesus e todos nós somos deuses relativos, pois Deus absoluto é só um (1 Timóteo 2,5), o que é Pai e Mãe de todos nós. Porém, por Jesus ser um Filho especialíssimo de Deus e por influência da mitologia, os teólogos O transformaram em outro Deus absoluto. E, também, por influência da mitologia, ao divinizarem Jesus, criaram até mãe para Deus (“Teotokos”). Mas Maria é apenas Mãe de Jesus (“Cristotokos”). É até blasfêmia falar que Deus tem mãe! E, exatamente, porque Jesus tem mãe, Maria Santíssima, Mãe da Humanidade, Ele não é Deus absoluto.
O Verbo era Deus (relativo, porque foi criado ou gerado) e estava com Deus (absoluto, incriado ou ingerado). Jesus Cristo, o Enviado de Deus, é um Filho especial de Deus, o Pai, o único Ser Incontingente de são Tomás de Aquino, e para os espíritas a Causa Primária de todas as coisas e Inteligência Suprema (Pergunta Nº 1 do “O Livro dos Espíritos”, de Kardec). Há uma grande diferença entre Jesus e nós. Mas entre Ele e Deus há um abismo, como já o dizia Ário, o grande teólogo não mitológico do alvorecer do cristianismo. É que a superioridade de Deus sobre Jesus é infinita. “O Pai é maior do que eu” (João 14,28).
Quando Jesus disse esta frase: “O que ligares na Terra está ligado nos céus”, ela não foi só para os apóstolos, mas também, para todos os seus discípulos daquela época e de todos os tempos. Igualmente, aquela conhecida frase de perdoar pecados vale para todos nós. Realmente, não só os apóstolos e o clero, mas todos nós podemos e até devemos perdoar sempre ou setenta vezes sete aos que nos ofendem, o que fica ligado nos céus, como nos ensina também a lei de causa e efeito ou cármica. No caso de que essas referências de Jesus fossem mesmo apenas para as autoridades religiosas sucessoras dos seus apóstolos, por que essa exclusividade não está explícita na Bíblia? Isso mais me parece uma pretensão inconsciente, oriunda não só da mitologia, mas também e, principalmente, do ego ou egoísmo dos nossos irmãos eclesiásticos e teólogos antigos, medievais, modernos e contemporâneos.
E é por isso e outras coisas mais que o cristianismo sempre esteve dividido e está também, atualmente, sendo preterido por outras religiões, quando não pelo materialismo!

Esta coluna, de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar colunas. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Imagem ilustrativa

Dor e Confiança - Allan Filho

domingo, 20 de março de 2011

Predição do futuro causa polêmica em meio acadêmico


Causou furor na Imprensa pátria (Portal G1-11.01.2011; Correio Braziliense-31.12.2010) o anúncio da aprovação para publicação do artigo do Professor Emérito da Universidade de Cornell-EUA, Daryl J. Bem, na renomada Revista científica “The Journal of personality and social psychology”, da Universidade do Colorado-EUA, versando sobre a possibilidade do ser humano prever o seu futuro.
A prevista publicação foi objeto de polêmica, pois o assunto da Percepção Extrassensorial (PES), onde se vincula o assunto da presciência, pertence ao rol dos assuntos “tabu” no meio acadêmico, não sendo a primeira vez que estudos dessa natureza em universidades causam rebuliço nos periódicos, inclusive no Brasil, como no recente caso do “Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais” da Universidade de Brasília.
A laicidade natural da ciência (e assim deve ser) não impede que os diversos assuntos do mundo, inclusive os religiosos, sejam por ela estudados. A antropologia se ocupa das relações do homem com a religião, estudando esta como fenômeno. O que nos impede de estudar os fenômenos associados à prática religiosa?
Pois foi isso que o pesquisador estadunidense fez. Utilizando-se de testes de memória baseados em metodologia científica, verificou que os participantes da pesquisa eram mais propensos a lembrar de objetos e palavras que lhes seriam apresentados posteriormente, como se eles pudessem sentir o que viria depois.
Despido de preconceitos e imbuído no espírito científico, a experiência do Dr. Bem teve a presciência por seres humanos como objeto de pesquisa, rompendo mais uma vez a barreira que vem desde os tomistas, separando objetos da ciência e da religião, como se tratassem de mundos distintos e que não tivessem zonas de confluência.
No que tange a pesquisa em si, os resultados não negaram a presciência, mas tampouco não conseguiram comprová-la de forma patente e inquestionável. Mas, como pesquisa, teve o mérito de despertar na comunidade acadêmica, ainda que em meio à polêmica, a importância de estudos científicos sobre esses e outros assuntos, como a experiência de quase-morte (EQM), a regressão de memória e as curas espirituais.
Ainda que as religiões tenham suas interpretações sobre essas questões, fundamentadas nos seus patamares filosóficos, e o Espiritismo não se furta nesse ponto; o aspecto científico dessas questões traz à tona fatos que enriquecem as nossas discussões e fortalecem ou alteram paradigmas, inclusive os espíritas.
A ciência não pode corroborar com o preconceito. A questão é que, quando um pesquisador toma como objeto esses assuntos, é taxado de falta de neutralidade, de pseudociência e até de misticismo. Ora, a ciência nos serve para revelar a essência das coisas do mundo. Se os fenômenos são relatados, percebidos, noticiados; então são dignos de estudos, ainda que não comunguemos das explicações dadas pelas religiões. Quantas falsas verdades caíram por terra na história da ciência?
A teoria da presciência - Tratando do objeto da pesquisa, temos que a discussão da possibilidade de se prever o futuro é ladeada por outras duas discussões inseparáveis: a natureza do tempo e o livre-arbítrio. O primeiro assunto foi pauta dos físicos, inclusive Albert Einstein, na sua teoria da relatividade, que rompeu paradigmas sobre o caráter absoluto do tempo. Já transitou o tema pela filosofia e pela psicologia também.
O assunto do livre-arbítrio ocupou os filósofos e naturalmente teve assento nos círculos religiosos, sendo objeto hoje dos campos da psicologia, matemática, sociologia e da comunicação social. Disputa com o determinismo um espaço entre extremos, de um mundo pré-definido e a liberdade total do ser humano. Cabe aí a discussão da justiça, pois como ser imputado do que não lhe coube liberdade?
A nossa visão do tempo e da capacidade do ser humano, nessa dimensão, compor o seu destino, é o ponto crucial da questão da presciência. Se entendermos que o ser humano goza de liberdade para construir o seu destino, diante dos desafios que lhe são apresentados, podemos entender a teoria da presciência como uma visualização das provas e percalços previstos, em determinadas situações.
Emmanuel, na obra “O Consolador”, na psicografia de Chico Xavier, apresenta que:

– Há o determinismo e o livre-arbítrio, ao mesmo tempo, na existência humana?

Determinismo e livre-arbítrio coexistem na vida, entrosando-se na estrada dos destinos, para a elevação e redenção dos homens.
O primeiro é absoluto nas mais baixas camadas evolutivas e o segundo amplia-se com os valores da educação e da experiência. Acresce observar que sobre ambos pairam as determinações divinas, baseadas na lei do amor, sagrada e única, da qual a profecia foi sempre o mais eloquente testemunho.
De forma a estabelecer uma relação de coexistência entre esses dois extremos.
Indica também que a liberdade é coirmã da autonomia, como conquista gradual no campo da luta, inerente ao espírito, subordinando a nossa capacidade de andar e escolher a nossa maturidade, como cocriadores.
Nesse sentido, reforça a teoria da presciência de Kardec prescrita em “A gênese”, que compara a predição ao homem alto que da montanha vê todo o caminho. Ver o caminho não é dizer, necessariamente, o caminho que percorreremos.
Hermínio de Miranda, no seu livro “A memória e o tempo”, apresenta que existem dois ou mais níveis de apreensão consciente de diversas dimensões, simultaneamente, e que pessoas teriam essa capacidade. O ilustre pesquisador espírita, afinado com o que fala hoje o Prof. Bem, indica que o homem possui a facilidade de prever o planejado, pela apreensão de aspectos dimensionais que implicam na inflexão do tecido temporal, por mecanismos inacessíveis ainda a nós.
Estudos recentes no campo da Terapia de Vidas Passadas indicam o fenômeno da progressão, ou seja, a projeção de fatos e eventos que ainda irão ocorrer, com vários casos relatados. Isso não implica o fim do livre-arbítrio, que o futuro está demarcado, e sim que a nossa vida segue planejamentos, flexíveis. Esses estudos ratificam a ideia de Kardec, no sentido da manutenção do nosso livre-arbítrio, mas indica a existência de planejamentos. A obra de André Luiz, Missionários da luz, fala claramente desse planejamento, quando.
Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:

- Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmoide?
Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física. Trata-se, porém, de escolha dele.
E narra posteriormente a bela passagem da encarnação de Segismundo, subordinando esse planejamento à lógica da busca do crescimento espiritual.
Mostra André que o futuro é construído a partir da realidade que se apresenta, reforçando a máxima que “o homem propõe e Deus dispõe”.
Em breves palavras, nas limitações desse artigo, vemos que a questão da presciência ainda traz em si muitas dúvidas e a colaboração da comunidade científica, como ousou o Prof. Bem, é bem-vinda, em um fenômeno cotidiano e presente em todas as religiões.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito Federal (Brasil)


Imagem ilustrativa