sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Teu campo de luta


É preciso na vida identificar os nossos campos de luta! Esta é uma certeza que me persegue a cada dia... Dentre as diversas frentes que demandam nossos esforços, é necessário enxergar as prioridades, onde somos mais necessários, mas também onde necessitamos trabalhar, isso tudo em uma ótica, digamos assim, espiritual.
Desde a juventude somos convidados a amadurecer esse discernimento. Nossas forças vitais, nosso tempo, nossa inteligência, à feição dos talentos da parábola evangélica, necessitam ser aplicados e bem aplicados, para se reproduzirem em bênçãos sem-fim. Em um dizer empresarial, precisamos identificar nosso “business”, para sobre ele atuar.
Como um investidor atento, a vida nos pede bom senso, para sabermos o melhor local para alocar os nossos tesouros. No dizer de Kardec n’O Evangelho segundo o Espiritismo, temos que “A inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada”, destacando a necessidade pétrea de dar uso ao nosso potencial. Mas isso demanda opções...
Melhorar o mundo ou aumentar o nosso consumo? Casar ou estudar? Música ou engenharia? Nossas escolhas dizem muito sobre nós! Temos que fugir do “tanto faz” diante dessas possibilidades, construídas pela nossa caminhada evolutiva, para identificar as múltiplas micromissões que nos cabem no latifúndio da encarnação, e sobre elas nos debruçarmos.
Por vezes passamos os dias enfurnados na casa espírita, fazendo desta nosso primeiro lar, fugidios das questões da família, do trabalho, da comunidade. Como sacerdotes modernos, na nossa clausura enxergamos a religiosidade como único campo de luta possível, esquecidos de que a religiosidade deve sim se espraiar sobre as outras dimensões de nossa vida, na necessidade de sermos bons pais, bons cidadãos e bons profissionais, atuando no mundo sem ser do mundo, mas em uma visão holística da existência.
Faz-se necessário lermos os sinais, sentindo onde nossos braços se fazem necessários, ainda que esse não seja, por vezes, o caminho mais fácil ou, ainda, mais popular. Às vezes, essa senda não é clara, mas Deus nos guia, se soubermos ouvir as suas palavras entre os gritos da luta. Entender isso nos faz ver um pouco de ideal nas pequenas coisas e a grandeza de muitas coisas que realizamos.
Ao final da jornada, finda mais uma existência, nós teremos que, mais cedo ou mais tarde, fazer um balanço da nossa existência pregressa. Do que dispúnhamos, o que fizemos e o quanto avançamos. Pouco será perguntado pelas posses que amealhamos e muito nos cobraremos do nosso crescimento, construído no convívio com os nossos irmãos.
A estrada da vida é feita de escolhas, que não são imutáveis e que dizem muito de nosso passado e nosso futuro. Como Espíritos eternos, devemos olhar a aplicação de nossas energias, e, mais ainda, se nessas tarefas agimos de maneira vibrante ou se caímos no reino do “morno”, no dizer de Paulo de Tarso.
Fazendo uso da obra de ficção científica “Uma princesa de Marte”, de Edgar Rice Burroughs, publicada em 1917, na qual um capitão da guerra da secessão estadunidense, sem um rumo na vida, encontra um sentido para a sua existência no longínquo planeta vermelho, podemos aproveitá-la na conclusão desse breve artigo.
A versão filmada desse livro, lançada pelos estúdios Disney em 2012, “John Carter-Entre dois mundos”, traz na sua cena final o Capitão Carter, que antes de seu regresso para a morte, dizia ao seu sobrinho: “Adeus, Ned! Ned? Você deveria adotar uma causa, apaixonar-se, escrever um livro talvez”. Salutar conselho de quem encontrou um norte para a sua vida.
É preciso encontrar uma causa, uma frente de batalha, do “bom combate” por um mundo melhor. A religião nos fornece esse sentido para a vida, essa “razão nobre”, mas ela só tem razão de ser em uma vida sentida em sua diversidade de dimensões. Isolamentos do mundo nos afastam de nossos campos de luta, tão caros ao nosso progresso e dos que nos cercam. Cabe-nos pensar sempre o porquê de termos nascido e o que motivou a bagagem que levamos às costas.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Respeitemos o pecado original, mas ele nada tem de teologal


Segundo a doutrina do pecado original, da metáfora de Adão e Eva, toda a humanidade o herdou. 
Mas o que existe é a lei inexorável de causa e efeito ou cármica, presente nas escrituras sagradas de todas as religiões. Ela é chamada também de lei da colheita da semeadura, semeadura essa que é fruto do livre-arbítrio ou da nossa vontade, e cuja colheita é obrigatória. Semeando-se o bem, colhe-se o bem. Semeando-se o mal, colhe-se o mal. “Na mesma medida com que medirdes, sereis medidos.” (Mateus 7: 2). “Quem com a espada mata, pela espada seja morto.” (Apocalipse 13: 10).
A doutrina do pecado original é contrária à Bíblia. Aliás, é por isso que ela virou dogma. E, na Idade Média, quem negasse um dogma, morria na fogueira.
 E vamos a mais dois exemplos bíblicos que deixam mais claro  esse assunto. “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.” (Ezequiel 18: 20). “Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais: cada qual será morto por seu pecado.” (Deuteronômio 24: 16).
Mas o batismo de água instituído por João Batista era de arrependimento, e não para lavar o pecado original!  Ademais, por que quem é batizado sofre? E o próprio Batista desfez-se desse batismo com água (Mateus 3: 11). Também Paulo disse que Cristo não o enviou para batizar. (1 Coríntios 1: 17).  O batismo importante, segundo o Batista, é o de fogo (prova de fogo) ou do Espírito, com a conversão (“metanoia”), ou mudança total de vida. (Mateus 3: 11).
É estranho, pois, que os teólogos cristãos antigos criaram a doutrina do pecado original, e mais estranho ainda é que os de hoje a apoiam, já que ela, como vimos, é totalmente contrária à Bíblia, à lógica e ao bom senso! Provavelmente, foi para incentivar a prática rendosa do batismo das crianças, pois dizem que ele lava o pecado original. 
Pelo estudo teologal, ficamos conhecendo a perfeição infinita de Deus. Como, pois, os teólogos podem atribuir a Ele esse erro de justiça divina e universal de causa e efeito? E, se Adão e Eva são uma metáfora, como se poderia tirar dela uma doutrina verdadeira? Se o fosse realmente, ela nos daria a impressão de que a justiça de Deus seria mais imperfeita do que a dos homens!
Mas na verdade, o pecado original, com o qual nascemos, são as nossas faltas cometidas em reencarnações passadas, ainda não resgatadas, e que têm que o ser, pois ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo. (Mateus 5: 26).
 De fato, se a causa do sofrimento fosse mesmo o tal pecado original, ele deveria ser igual para todos, mas uns sofrem mais, e é exatamente porque eles têm mais carma de sofrimento!

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.
Na TV Mundo Maior, por parabólica e www.tvmundomaior.com.br, o programa “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas: presenca@tvmundomaior.com.br  E recomendo, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo o filme contra o aborto, elogiado por Divaldo Franco: “Blood Money – Aborto Legalizado”, em estreia no Brasil.

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Por que sou tão infeliz?


O fim de ano acentua a tristeza e a melancolia em muitas pessoas, nas recordações de perdas variadas coincidentes com o período em outras épocas ou com a saudade dolorida de um ser querido que já partiu. Ou mesmo nas frustrações e decepções que se acumulam sob variadas formas. 
À costumeira pergunta que explode no coração deprimido, que se desencantou ou busca razões para entender a própria vida, permito-me transcrever pequeno trecho, ainda que parcial, em treze itens:

1 – “(...) a felicidade se encontra onde cada qual coloca o coração (...)”;
2 – “(...) se você situa as aspirações no prazer fugidiço, no ouro mentiroso e nas paixões que ardem e se apagam breve, a sua ausência produz a desdita (...)”;
3 – “(...) se pensa em paz de consciência, retidão moral e dever corretamente cumprido, como metas de dignidade e honradez, a ventura se estabelecerá no coração tranquilo (...)”;
4 – “(...) Quem deseja usufruir sem merecer, receber sem dar, colher sem haver semeado é obrigado a furtar e converter-se em indigno beneficiário da vida, que lhe impõe recomeços difíceis (...)”;
5 – “(...) Todos podemos conseguir a felicidade se soubermos e quisermos bem conduzir nossas aspirações (...)”;
6 – “(...) Muitos desejariam um pomar referto, um jardim de messes. Por não consegui-los, desalentam-se, esquecidos de que também poderiam tornar-se um arbusto verde ao caminho pedregoso, adornando a estrada adusta (...)”;
7 – “(...) Felicidade é o bem que fazemos, não o gozo que fruímos (...)”;
8 – “(...) A felicidade não resulta do que se tem e do que se frui, mas do que se é e do que se faz (...)”;
9 – “(...) Não nos queixemos! A reclamação reflete insatisfação pelo que temos, a traduzir a revolta de que nos consideramos defraudados e, em consequência, injustiçados por Deus (...)”;
10 – “(...) Cada um recebe, não como julga merecer, (...), mas de acordo com o que nos seja melhor para o bem estar real (...)”;
11 – “(...) Não se lamente mais e saia do egoísmo vexatório, insatisfeito, fator de sua inquietação, aprendendo a descortinar belezas e esperanças (...)”;
12 – “(...) se fecharmos a janela, campeiam as sombras neste recinto. Se as abrirmos, reinará a claridade (...)”;
13 – “(...) A forma como se encontrarem as janelas das nossas intenções espirituais, morais e mentais, dirá do que preferimos: luz ou sombra, alegria ou dissabor (...)”.

Os itens transcritos estão no capítulo 19 do livro Tramas do Destino, de Manoel Philomeno de Miranda, por Divaldo Pereira Franco. Eles fazem parte da longa e notável resposta à pergunta de um dos personagens da bela história. Abstenho-me de resumir a história para não tornar longa a presente abordagem, indicando o excelente livro ao leitor. O leitor encontrará com facilidade referida obra, que foi lançada em 1981 e possivelmente deve estar disponível na net, pois não cheguei a pesquisar esse detalhe.
Notará o leitor que cada item é material de farta reflexão. Pensando nos abatidos pela melancolia e agora, diante do ano novo, sempre é tempo de renovar os pensamentos e alterar os modelos de comportamento. Se algo não vai bem, isso indica necessidade de mudança. O extraordinário capítulo é fonte de ampla orientação e motivação extensa para a alegria de viver, com gratidão e disposição para agir corretamente. Esforcemo-nos, pois, pelas mudanças que se fazem essenciais.

Orson Peter Carrara

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