sábado, 8 de novembro de 2014

O amor é para sempre…


(Escrevi esses pensamentos, muito sentidos, há alguns anos. Pretendia publicá-los num livro, mas antes que ficarem guardados, na memória do computador, melhor partilhar com outros que, como eu, estejam amadurecendo essa que é a maior herança divina em nós: a capacidade de amar. Dediquei essas palavras na época a uma pessoa especial em minha vida e que, embora distante, continuo amando, já que o amor é para sempre…)

O amor é o oposto da indiferença. O amor nunca tanto faz, com o que o ser amado faz. Por isso se empenha sempre por um fazer de luz. 
O amor pode curar, salvar, elevar, educar, regenerar. Mas tudo a longo prazo, pois para se mostrar, atuar e agir, precisa muito ter paciência, perseverar, persistir, muitas, infinitas vezes perdoar... Tudo devagar. 
O amor desgovernado, tumultuado pelas paixões, queima os corações, provoca afastamentos, descontentamentos, dilacerações... Por isso, o amor precisa se asserenar, se suavizar, alimentando-se de eternidade! 
Mesmo o amor mais forte, mais viril, mais ativo precisa ser feminino... Cuidadoso, gentil, acolhedor, sabendo se esconder para o outro brilhar! 
O amor se muda, se adapta, se transforma, se sublima, mas nunca desiste. O amor pode estar triste, agitado, aflito, cansado com os atritos do dia a dia. Mas se for amor, nunca esfria! O amor tudo sofre - diz Paulo - e nunca se acaba. Mesmo ofegante, prossegue; mesmo ferido, perdoa! Mesmo desacreditado, insiste! E mesmo rejeitado, resiste! O amor tudo pode, tudo alcança! Força divina que nos move e nos transfigura! Mesmo ainda misturado aos cascalhos das paixões, sua fonte profunda é sempre pura! E por isso limpa com o tempo os corações! 
O amor é o único motivo, o único estímulo, o único impulso suficientemente forte, elevado e belo para nos levar à superação de nós mesmos! Por amor a quem amamos e por amor a Deus, alcançamos a transcendência! 
O amor para bem comunicar-se, precisa aprender sutilezas, precisa fazer recuos, precisa ocultar ímpetos e transfigurar angústias! Precisa calar e falar com sinceridade serena, compreensiva, derramando-se muito mais no olhar, que na palavra; muito mais nos gestos, que nas anunciações! 
O amor compreende mais que julga! Não se endurece, antes se enternece! Quer mais se doar do que receber! E o tempo todo tece o carinho, que alimenta! 
O amor sempre renova a confiança, refaz a esperança, alimenta o otimismo, porque seu horizonte é a eternidade! 
O amor é combativo, mas não agressivo! É ativo, mas pacífico! É enérgico, mas suave! 
O amor para ser saudável deve ter dignidade, autoestima. Mas para ser pleno, não pode ter orgulho nenhum! 
O amor, por amor a quem ama, busca melhorar-se todos os dias, para elevar-se em altura e grandeza, sendo sempre mais digno do ser amado! 
O amor só descansa com a perfeição, por isso está sempre à procura... Só se satisfaz com a felicidade, por isso quer sempre mais! 
O amor está sempre perto do coração amado, mesmo que este esteja trancado, mesmo que esteja distante! Está perto, nem que seja por uma prece ardente e por um pensamento constante! 
O amor quando nasce é uma flor cheia de perfumes e cor, com ilusões de primavera! Mas quando amadurece, é fruto doce, sem ornamentos, alimento perene! 
O amor, quanto mais se asserena, mais conquista; quanto mais se desapega, mais se aproxima do ser amado! 
Não há um só dia em que o amor não dedique um serviço, um pensamento, uma prece, um algo, em favor de quem ama! Mesmo à distância, mesmo oculto! 
O amor desfaz todas as tragédias, desanuvia todas as angústias, cura todos os desequilíbrios, harmoniza todas as almas... O tempo tudo refaz, regenera, reergue, sublima... Só o que sobra para sempre é o amor! 
Nada mais doce que um olhar de amor trocado, nada mais confortador que uma vibração de amor permutada. Nada mais apaziguante que uma comunhão de pensamento elevado, projetado para o infinito! 
O amor inventa sempre novos caminhos, não se conforma com obstáculos... Caminhos que chegam ao coração, caminhos que levam ao céu! 
O amor sempre encontra um ponto de equilíbrio, um consenso confortável, uma sintonia fina... E o arremate das piores situações será sempre uma costura de bom gosto! 
O amor é delicado como uma flor, forte como uma rocha, vasto como o universo! Por isso, não cabe apenas no corpo, não cabe apenas numa vida! É necessário que seja infinito! Lógico que seja eterno! 
O amor pode se melhorar, pode se elevar, se transformar, se sublimar... Perder sensualidade e ganhar asas; desfazer-se do feminino e do masculino e ser divino... O amor pode até ficar guardado por um tempo até a próxima esquina da vida... Mas se for amor, nunca termina. 
O amor está sempre conectado com o ser amado. Lê seu olhar, percebe sua alma, capta seu coração. O amor é lúcido, desperto, vidente. Não para controlar, tomar posse, mas para estar ao lado, estar dentro, estar em ressonância. A postos para proteger, servir, ajudar e se ofertar. 
O amor se entrega inteiro, confia, se abre. Mas sem deixar de ser reto nos princípios, elevado nos propósitos, correto na ação. 
Podem surgir desavenças, o amor as supera! Podem se erguer ofensas, o amor as perdoa! Podem se formar mágoas, o amor as desfaz! Para o amor, qualquer sombra é tempestade passageira e a bonança volta sempre a brilhar! 
Não há dor que o amor não cure! Não há mal que o amor não desmanche! Não há escuridão que o amor não ilumine! Não há queda que o amor não restaure! E seu único aliado é o tempo. Por isso, o amor é infinitamente paciente. 
O amor tem que tornar melhor quem ama e quem é amado. Se não torna (ou se torna pior) não é ainda amor. 
O amor pode se sentir impotente, rejeitado, diante de um coração trancado, ensimesmado numa concha de solidão! Mas então, o amor tem sempre que continuar amando, aguardando brechas de entrada, uma estrada, um clarão... E pouco a pouco se abre o outro coração! 
O amor pleno sereno, inteiro, é aquele que percebe cada sutil necessidade, cada mensagem calada, cada aceno do ser amado. Percebe, compreende e age. Mas é preciso caminhar muitos séculos juntos, é preciso se desfazer de muitos egos para que o amor seja assim. 
Quando o amor está presente, nenhum dia passa inútil e cada problema revela uma lição! 
Quando não é compreendido, o amor compreende mil vezes, até que o outro alcance a compreensão! 
O amor nada faz de banal, não fica na superfície, não age com leviandade. Por isso desmancha o mal e lida com a verdade. Por isso não é mesmice e com energia e meiguice se lança na eternidade! 
Nem tudo o que sabe, o amor fala, porque não faz falta. Nem tudo o que faz o amor fala, porque não se exalta. Nem tudo o que dói o amor fala, sem mágoa incauta. E quando o amor cala, sua luz brilha mais alta! 
Amar, amar, amar é a única maneira de ir se esquecendo de si! E quando se esquece completamente, o amor encontra Deus! 
O amor ensina, sem ofuscar e aprende, com gratidão! 
Quando se está possuído de amor, os pés andam mais leves, o coração alado e o ar mais rarefeito. Mesmo que às vezes, pesem a caminhada, o coração e o ar, logo tudo se desanuvia e o céu claro logo de novo se anuncia! 
Entender como o outro expressa amor e saber fazer chegar ao outro o nosso amor é alcançar o milagre da comunicação. 
O amor não precisa ter medo de amar mesmo que o outro não ame, mesmo que o outro ame menos. O amor não precisa ter medo de amar o diferente, o oposto, o desaprovado, o endurecido... Pois o amor transpõe qualquer barreira e um dia alcançará a plena comunhão! 
O amor saberá tornar a franqueza tão doce, que não fira... Saberá usar a crítica com tanto acolhimento que não afaste... O amor não faltará jamais à verdade mas não há de buscar seus interesses e não a vestirá como arma, sendo-lhe ao invés uma túnica sutil! 
O amor não se deixa aprisionar pela rotina seca do cotidiano! Ao invés, resgata a flor, a poesia, o sorriso e o toque suave das mãos! 
Quantos espinhos o amor precisa colher na terra, por breves momentos de sintonia plena! Mas sempre esperando a certeza de uma eternidade de comunhão! 
Quando o amor é muito grande e se vê no inferno, não desiste, resiste, insiste, mesmo triste! E de salto em salto (porque se sabe eterno) se faz fraterno e afinal se dilata tanto, regado a pranto, que se alcança materno! 
Quando o amor nasce materno, doce, sem nuvens, já nasce eterno, mas não evita a luta, a labuta... Então precisa apenas secar o pranto, aceitar as penas e de alma enxuta, persistir para sempre, como anjo sem desencanto! 
O amor restaura pacientemente o que se quebrou. Dá asas aos que se arrastam, fazendo de vermes borboletas, fazendo de homens, anjos.
O amor não se agasta, não se gasta, nunca se afasta e só doar-se já lhe basta. 
A colheita do amor é farta, exuberante, ensolarada. Alimenta e conforta. Quando vem, falta nada. Apenas um pleno bem escancara a porta. 
Quando não se cobra, o amor dá de sobra. Quando não se apega, o amor transborda pleno, doce e sereno. Quando se respeita e nenhum ciúme à espreita e quando se entrega inteiro, sem medidas, floresce singelo, campestre, como margaridas.
Amar sem posse é amar mais. Amar melhor. Amar em paz. Amar sem desejo de nada, recebendo o que se deseja, de mão sobeja.

Dora Incontri 

Imagem ilustrativa