sábado, 24 de janeiro de 2015

Podemos saber quais são nossos obsessores?

Inabalável, na balada


Julia é o que chamamos de uma jovem espírita. Frequenta a juventude espírita da casa “Fraternidade em nós”, ajuda na campanha do quilo[1], na evangelização infantil, procura sempre estudar a doutrina e entre desafios do vestibular, afazeres domésticos, anseios profissionais e lutas afetivas, toca a sua vida nessa complexa fase da existência encarnada. 
Com a vida atribulada, Julia ainda arruma tempo para cultivar os amigos da escola, da infância, da casa espírita, em grupos que guardam entre si poucas interseções. Julia, como toda jovem, tem uma intensa vida social, com atividades culturais, passeios ecológicos e …festas! 
Sim, a Julia adora uma festa, dançar, pular e tudo mais que compõe essa bela e alegre fase de nossa vida. Sábado à noite, é balada na certa[2]. Domingo, 9hs da manhã, Julia está lá, a postos, na salinha de evangelização, na qual figura como monitora da turma do Jardim. 
E como Julia se porta na balada? De forma inabalável! Cabeça feita, a menina sabe se divertir com responsabilidade, se posicionando, com a maturidade de quem sabe a importância da coerência entre os múltiplos papeis que desempenhamos na vida. 
Julia, temos diversas no movimento espírita, e o nosso discurso paterno/materno, esquecido de nossa juventude e temperado de medo urbano e conservadorismo, idealiza em Julia uma jovem que não existe, descontextualizada de escola, rua, grupos sociais e cobra dela uma visão postiça da juventude. 
É preciso enxergar Julia como um espírito em construção, que precisa fortalecer a sua autonomia, seu discernimento, para que seu caráter seja forjado de maneira inabalável, diante dos desafios do mundo, que não são apenas as festas, mas se materializam na idade adulta, na qual teoricamente somos “donos de nossos narizes”, nas questões do trabalho, da vida em sociedade e da gama de papéis que precisamos saber nos portar como espíritos e espíritas. 
Julia precisa saber, na lição de Emmanuel a Chico Xavier (Vide “Lindos Casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama), em relação a lugares e ambientes, não se ela pode entrar, mas sim se ela vai conseguir sair. E para isso ela precisa desenvolver sua personalidade, seu bom senso, uma convicção raciocinada que a permita distinguir o que é bom para ela, uma tarefa na qual a Doutrina Espírita será valorosa. 
Adotar uma postura de colocar Julia na redoma, de um isolamento do mundo, é tão pernicioso quanto o extremo de abandoná-la a sua sorte, sem orientação frente aos desafios. A juventude, como fase essencial do desenvolvimento do espírito, assusta os mais velhos desde a Grécia antiga, mas como etapa de autonomização, de prova do que foi ensinado, necessita que se deixe, aos poucos, o pássaro voar. 
Assim, o jovem espírita é um espírito imortal, mas tem como encarnado as peculiaridades da dimensão social, seus ritos e manifestações, a vinculação afetiva a grupos e isso tudo é muito natural, como processo de amadurecimento. A postura inabalável, na balada, se constrói com vivência e reflexão, e causa medo, é verdade mas reforça que temos que ter juízo e discernimento, no desenvolvimento do amadurecimento para transitar nas diversas situações do mundo, fugindo não do mundo, mas dos isolamentos. 

Notas do autor:
[1] Nota do autor - Campanha do quilo é uma prática habitual das mocidades espíritas, com a coleta de gêneros para campanhas da casa. Vide http://www.casadoshumildes.com/quilo.html.
[2] Balada é uma expressão atual para qualquer tipo de festa e animação. Vide http://www.priberam.pt/dlpo/balada. 


Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Será que o importante é ser feliz mesmo?


É comum ouvirmos as pessoas, sejam artistas ou pessoas comuns, dizerem para justificar seus atos de que: “o importante é ser feliz”, no entanto será isso uma realidade? Vale mesmo a felicidade a qualquer custo?
Quantas vezes ficamos em situações difíceis e constrangedoras como resultado de uma ação realizada em nome da felicidade.
Conhecendo a Doutrina Espírita essa sentença tem necessidade de revisão, afinal de contas, felicidade inconsequente ou motivada pela saciedade dos nossos instintos é porta de entrada para muitas infelicidades.
Este tipo de felicidade é tão passageira quanto superficial, mais parecemos felizes do que realmente somos. É ser feliz à maneira dos animais, como ensina a questão 777 de O Livro dos Espíritos, pois a felicidade não está na satisfação dos instintos.
Para ser feliz de verdade, muitas vezes fazemos o que não queremos, mas entendemos ser correto fazer. Felicidade é na verdade resultado, efeito de uma conduta reta e nobre. Resistimos aos impulsos primitivos que muitas vezes ainda nos cercam e nos sentimos felizes justamente por não fazer o que temos vontade. Desta forma é que entendemos que a felicidade nem sempre está imediatamente conosco, pois reflete nosso adiantamento moral e espiritual.
É fundamental analisar a questão 920 de O Livro dos Espíritos pelo esclarecimento que ela encerra: “Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?”
E a resposta expressa dilatada lucidez: “Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra”.
Na análise do conteúdo acima, fica evidente de que devemos buscar a felicidade, certamente, mas sempre pautada pelos nossos valores e tendo o aval da própria consciência que sempre coloca limites.
Na orientação do capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo que pede: “Sede Perfeitos” aprendemos que na busca da perfeição, ou pelo menos na melhora constante, está o caminho da felicidade real, pois de nada vale uma felicidade fictícia e que da mesma forma acrescenta dores.
Desta forma, o importante não é ser feliz a qualquer custo, mas buscar a felicidade obedecendo as diretrizes morais, o que significa muitas vezes, abrir mão de uma felicidade menor e imediata, por uma mais distante, mas que seja real e resultante de uma conduta enobrecida, pois é buscando a felicidade dessa forma, que se acaba sendo feliz sem buscar. 

Roosevelt Andolphato Tiago
http://rooseveltat.blogspot.com.br/2014/11/sera-que-o-importante-e-ser-feliz-mesmo.html
roosevelt@solidumeditora.com.br

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