quinta-feira, 2 de julho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
Terrorismo de natureza mediúnica
Sutilmente vai-se popularizando uma forma lamentável de
revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber
tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter
apocalíptico.
Existe um atavismo no comportamento humano em torno do Deus
temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o
Espiritismo confirma através das suas excelentes propostas filosóficas e
ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade.
Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e
lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de
superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito
menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos
religiosos.
Durante alguns milênios o medo fez parte da divulgação do
Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem
dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão
da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas…
O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera
aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação
universal, portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que
buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente é filosofia que esclarece e
jamais apavora, explicando, através da Lei de Causa e Efeito, quem somos, de
onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e
das amarguras humanas… De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente
fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme Ele os enunciou e os viveu,
proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu
Criador, sendo de simples e fácil formulação.
Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais
das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras
quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais
hoje estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos
ameaçadores.
De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns
algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de
Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas,
regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de
Deus que vigem em toda parte.
Certamente existem personificações do Mal além das
fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim
como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático,
todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua
fixação nos painéis da mente e do comportamento.
O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes
do conhecimento exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a
respeito da vida e de como comportar-se dignamente ante as situações dolorosas.
As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando
a névoa da ignorância que ainda permanece impedindo o discernimento de muitas
pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal.
Da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao
estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando
em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches,
magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao
animismo africanista, de diversos povos e às suas superstições. No passado, em
pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos
revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação
dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam.
O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando
incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda, rico de bênçãos e de
oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis
para o êxito em todos os cometimentos.
A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos
conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais
para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem
perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação.
A simples mudança mental pra melhor proporciona ao indivíduo
a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos
saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos
que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver.
Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do
Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo
de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de
receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da
misericórdia divina.
A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de
luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e
de felicidade todos aqueles que se lhe acercam.
Jamais a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos
zombeteiros, levianos, críticos, contumazes de tudo e de todos que não anuem
com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto
moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens
sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e
enobrecidas.
Esses Espíritos burlões e pseudossábios devem ser
esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que
não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e
apavorantes com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre
existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a
que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem
facilmente…
O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto para essa
onda de revelações atemorizantes, que se espalha como um bafio pestilencial,
tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram desde o seu
surgimento a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que
Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina.
Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um
método eficaz existe para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que
é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador.
Desse modo, utilizando-se da caridade como guia, da oração
como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os
adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno
terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo
máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de os tornar felizes.
Vianna de Carvalho
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no
dia 7 de dezembro de 2009, durante o XVII Congresso Espírita Nacional, em
Calpe, Espanha. Em 09.04.2012.
Fonte: http://www.divaldofranco.com.br
Imagem ilustrativa
terça-feira, 23 de junho de 2015
Existem almas gêmeas? Sim e não
Um dos pontos polêmicos que existem nas obras espíritas é a
questão das almas gêmeas. Kardec nega terminantemente a sua existência. Léon
Denis e Emmanuel falam que as há. Sempre tive uma postura estritamente
kardecista de negar também. Mas ultimamente tenho meditado no assunto e cheguei
a algumas conclusões um pouco mais matizadas, que não podem se encerrar apenas
no sim ou no não.
Explico-me. Não, não pode haver almas gêmeas no sentido de
metades, de seres que se complementam. Isso fere um dos princípios básicos da
filosofia espírita, que enxerga com muita ênfase a individualidade (não
individualismo) do espírito. Aliás, esse e outros aspectos da visão espírita
têm um diálogo surpreendente e fecundo com as ideias de Erich Fromm. Ele também
aponta como uma necessidade evolutiva da espécie, e de cada ser humano em
particular, o processo de individuação. As relações saudáveis e plenas,
portanto, seriam para ele, aquelas em que duas pessoas inteiras, se amam, sem
complementaridade, nem submissão, nem perda da identidade de nenhuma das duas.
Nesse sentido, portanto, e talvez seja esse o que Kardec entende, não há almas
gêmeas - duas metades que se procuram na eternidade e que se encontram e não
podem estar uma sem a outra. Isso significaria que há uma falta a ser
preenchida, uma lacuna no ser, que não pode ser inteiro, sem outro ser. De
fato, essa ideia revela um aspecto de romantismo exarcebado e místico e que se distancia
da racionalidade (que vem desde a Grécia e perpassa a cultura judaico-cristã -
raízes em que o espiritismo se mantém). A razão anda junto com o princípio da
identidade. A razão define, individua, afirma a identidade dos seres. Sócrates
e Platão, que têm ideias reencarnacionistas e visão de mundo bastante
espiritualista, foram os primeiros a definir o conceito do ser, aliás como alma
independente do corpo. As teorias panteístas, por exemplo, são bem menos
racionais e quebram com a lógica da identidade, lógica que é socrática,
platônica e artistotélica. Que é cristã e que é espírita. Quando Fromm segue
por essa linha, também se ancora nessa tradição. Aliás, ele revive os clássicos
da filosofia. A psicologia ocidental, com todas as suas práticas terapêuticas,
está igualmente radicada no princípio da singularidade de cada um.
Então, em que sentido poderíamos entender, se é que há esse
sentido, a existência de almas gêmeas? Eu diria que num sentido a posteriori e
não a priori. Ou seja, não há almas que foram criadas pela metade e estão à
procura de sua outra metade. Mas há almas que seguiram tanto tempo juntas, em
milênios de convivência, cumplicidade, amor (mesmo passando por momentos de
distanciamento e conflito naturais em seres imperfeitos), que se identificam
mais plenamente uma com a outra do que com outros seres amados. Intimidade,
construção conjunta e até quedas e desvios e retornos em sintonia, que
proporcionam uma sintonia fina, maior e mais profunda do que com outros seres
também afins.
E agora outra questão: essas almas "gêmeas" no
sentido amplo da palavra, tiveram relacionamentos sexuais, no sentido terreno?
Podem ter tido, mas não só. Aliás, uma constante que tenho observado em
reuniões mediúnicas, em que se manifesta junto a espíritos renitentes, aquela
alma que é capaz de os tocar, e que geralmente foram espíritos, que já passaram
por diversas condições de relacionamento nos séculos. Já foram esposos, irmãos,
pai, mãe, filho, filha… de modo que o amor parece assumir todas as dimensões possíveis
e ao mesmo tempo transcender o amor carnal, porque esse nível de sintonia está
além do exercício da sexualidade terrena.
Outra pergunta ainda: casais que vemos no mundo são almas
gêmeas? Rarissimamente, acredito. Porque se forem, têm uma sintonia muito
grande. Alguém pode ser casado com alguém, com amor e compromisso, com as
dificuldades naturais de uma convivência mútua e com felicidade relativa, mas a
alma mais afim pode vir na forma de um filho, por exemplo, ou nem estar
encarnada.
Pode ser ainda que nem todos tenham almas gêmeas, mesmo
nesse sentido amplo, porque pode ser construção de alguns espíritos, resultado
de algumas experiências específicas. O universo é livre e as almas vão
evoluindo no amor, através de múltiplas vivências.
Na sociedade contemporânea, a descartabilidade das relações,
a ênfase no prazer carnal e a rara busca de identificações mais profundas de
alma para alma, acaba por deixar as pessoas mais solitárias e mais sedentas de
um amor verdadeiro. Isso pode muitas vezes obstruir o fluxo do amor num sentido
mais profundo, pode impedir que vejamos nossas almas gêmeas (aquelas que mais
se identificam essencialmente conosco, porque se estamos vivendo na superfície,
estamos longe de nós mesmos também) ou pode também bloquear a comunicação
mental e emocional com possíveis almas gêmeas nossas que estejam em outros
pontos do universo e que mandam vibratoriamente seu amor por nós.
Quanto mais vivermos com lucidez espiritual,
autoconhecimento, em sintonia com nossa essência divina, mais saberemos
distinguir (e portanto não querer) relações de superfície, apenas baseadas em
paixões e impulsos primários, e mais saberemos encontrar a pérola de nossas
almas. E se ela não estiver por aqui, poderemos ter relacionamentos também
amorosos, verdadeiros e responsáveis, mas sempre teremos uma nostalgia oculta
da falta de alguém.
Dora Incontri
http://wp.me/p1Bz2Z-8M
sábado, 20 de junho de 2015
Uma falsa noção de humildade
Trago aos leitores
página preciosa do estudioso Deolindo Amorim (1906 – 1984), que foi jornalista,
sociólogo, publicitário e escritor, nascido na Bahia. Pelo oportunismo do
texto, bem adequado aos dias que vivemos, onde muitos nos escondemos em
diferentes máscaras e diante da crise moral que se abate sobre o país, sempre é
bom refletir sobre essas questões. Peço ao leitor atenta leitura, embora a
transcrição abaixo seja parcial:
“(...) Muita gente
pensa que ser humilde é não ter personalidade. O próprio Cristo, que foi o
Cristo, o bom, o justo por excelência, não abriu mão de Suas ideias, não recuou
diante das dificuldades... Se Ele não tivesse personalidade, naturalmente
ficaria acomodado à situação e não teria suportado o que suportou em defesa do
ideal que O iluminava. No entender de muitas pessoas, o que, aliás, está muito
errado, ser humilde é dizer amém a tudo, é ficar bem com todos, ainda que tenha
de sacrificar as mais fortes razões da consciência. Não foi isto o que o Cristo
ensinou. Nem foi isto o que Ele praticou.
Veja-se bem que o Evangelho reprova o procedimento dos que,
calculadamente, ocultam os seus pensamentos, isto é, não dizem o que pensam nem
o que sentem, porque preferem agir na sombra! Tanto é certo que o Cristo
valorizava a personalidade, que ele mesmo disse, e de modo direto, que a
criatura deve ser quente ou fria; ninguém deve ser morno. Que significa isto?
Significa ter personalidade, no mais alto sentido humano e espiritual. Ficar
morno é ficar indeciso, de caso pensado, é não se definir de propósito, para
tirar algum partido próximo ou remoto. Isto, porém, não é procedimento
compatível com a ética cristã. Não tenho receio das pessoas que tomam atitudes
francas, para um lado ou para outro; mas tenho muito cuidado com os que ficam
mornos, pois foi para estes que o Cristo chamou a atenção de Seus seguidores.
Se o Cristo disse que o nosso falar deve ser
sim-sim-não-não, é claro que, com isto, reconheceu que o homem deve ter
personalidade. Vejo e ouço, constantemente, citar-se o Evangelho, mas também
noto que muita gente ainda não compreendeu o sentido de certas máximas
fundamentais do Evangelho. Vou dar um exemplo disto: quando alguém toma
atitude, porque tem personalidade, e não está conformado com isto ou aquilo,
logo se diz que é um antifraternista, que é um demolidor, etc. Pouco falta para
se chamar o companheiro de um herético ou pecador público, simplesmente porque
é sincero, é idealista, e diz o que pensa.
É preciso que se compreenda a situação de cada um de nós, em
face da responsabilidade própria. Tomar uma atitude contra qualquer coisa venha
de onde vier, não quer dizer que se pretenda destruir seja o que for. É agir
sinceramente, de acordo com a consciência. Já é tempo de se acabar com a
suposição ou com o sofisma de que, para praticar a humildade, é necessário
curvar-se a tudo ou abdicar do direito de pensar e falar abertamente. Há, entre
nós, uma noção muito falsa de humildade, para encobrir muita coisa ruim.”.
Coincidência ou não, o texto foi publicado em 1964 e
parece-nos precisa ser republicado novamente, face à excessiva valorização de
valores transitórios, com desprezo aos valores reais e morais, aqueles que
permanecem.
Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/
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