quarta-feira, 29 de julho de 2015

João Pedro


Esse novo amigo tem apenas 5 anos. Um garoto inteligente, afetuoso, que corre a me abraçar onde me vê. Tocou-me o coração. Foi conosco, acompanhado pelos pais, a Guaxupé (MG), num evento de grande porte – onde havia 700 pessoas –, participando ativamente das atividades dedicadas às crianças. Foi num fim de semana, fomos no sábado e voltamos no domingo.            
Minha participação no evento foi proferir palestra no encerramento. O tema era dedicado ao afeto, ao cuidado que devemos ter uns com os outros, na vivência do respeito e no esforço da fraternidade, onde se inclui naturalmente o amor e o carinho às crianças, para que se sintam amadas, respeitadas e acolhidas. Aliás, já se sabe, que a maioria dos casos de desequilíbrios sociais na vida adulta é resultante de uma infância desprezada ou vivida sem amor dos pais ou responsáveis adultos pela criança. Isso é normalmente constatado em terapias, onde traumas, medos e angústias tem sua origem na infância, repetindo, na maioria dos casos.              
Antes da minha vez de assumir a tribuna para iniciar a palestra, tive um insight e pedi autorização aos pais, sem nada combinar com o garoto e pedi aos pais nada dissessem a ele.              
Iniciei a abordagem, desenvolvi a temática durante uns 25 minutos e, ao final, após todas as considerações, que julguei viáveis e oportunas pertinentes ao tema, citei que um novo amigo já estava entre nós e chamei-o pelo nome: João Pedro, venha ao palco!              
Agachei-me, abri os braços chamando-o para o abraço de dois velhos amigos. Ele veio correndo pelo palco, na presença do imenso público, e lançou-se aos meus braços, com a espontaneidade e alegria que é própria das crianças, que é característica peculiar da pureza de coração.              
Levantei-o nos braços, levei-o até o microfone, colocando-o de pé sobre a cadeira para alcançar o pedestal e fiz rápidas perguntas que ele respondeu com graça, fazendo a emoção do público. Que cena comovente! A espontaneidade de uma criança, onde o coração ainda não se impregnou da malícia, do melindre, da desconfiança ou do preconceito.              
Abraçamo-nos com alegria. Encerrei a fala para dizer que na pureza infantil está, sem dúvida, a chave da felicidade humana, o segredo para sairmos de nossas neuroses e vencermos os quadros deprimentes da vida adulta perturbada pelas neuroses que vamos acumulando.              
Não é por outra razão que afirmou o Mestre da Humanidade: deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus.              
Sim, é o reino da humildade interior, da alegria espontânea, do comportamento puro de quem confia e não se deixa contaminar por preconceitos ou pensamentos e posturas pré-concebidas que tantas vezes nos permitimos adotar.              
É que o afeto é capaz de construir a felicidade, dentro e fora de casa, em qualquer lugar. Tratemos de valorizar essa grande virtude de nos tratarmos com docilidade, com respeito, com fraternidade. Maridos e esposa, tratemos nosso cônjuge com carinho e atenção, são eles os companheiros que a vida nos deu para essa caminhada de aprendizado.              
Abracemos os filhos, abramos o coração aos amigos, sejamos mais afáveis uns com os outros, construamos a fraternidade.              
Sejamos como João Pedro: espontâneos, puros de coração. Ele é uma criança, mas todos nós podemos nos esforçar para esse comportamento.    

Parabéns aos pais! Meu abraço ao menino querido.

Orson Peter Carrara

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Violência e Paz


O mundo está perigoso, diz-se à boca cheia. Cada vez há mais violência, não só entre povos como também entre grupos de interesses e familiares. Haverá solução para este drama social que nos consome?

1 - Um estudo revela que, de 162 países, apenas 11 não estão em guerra no mundo hoje. Não em guerra aberta declarada, mas envoltos nas guerras regionais e locais, de um modo ou de outro.

2 - Este ano, em Portugal (país pacífico), já foram mortas 27 mulheres (até 28 de Novembro de 2014), vítimas de violência doméstica.

3 - Curiosamente não se consegue encontrar um número definido de organizações que estão empenhadas na paz do mundo. Impossível conseguir contabilizar os atos de paz levados a cabo, diariamente, no mundo inteiro.

Figuremos dois pescadores, na pesca a linha, numa praia. Um diz que o mar é perigoso, pois tem peixes-aranha, tubarões, tsunâmis; as pessoas morrem afogadas, há naufrágios. O outro refuta os argumentos, dizendo por sua vez que o mar serve para pescar, fazer caça submarina, surf, bodyboard, andar de barco, nadar etc.

Qual dos dois tem razão, sendo o mar neutro?

Obviamente, tudo se desdobra no campo do mero ponto de vista, na maneira como analisamos as situações. 
Os órgãos de comunicação social de hoje têm sede de escândalos, de “sangue” de notícias que firam a sensibilidade, pensando assim estarem a prestar um bom serviço à comunidade. Esta, por sua vez, intoxica-se mentalmente com o mal alheio, como se isso alimentasse a sua sede inconsciente de sobrevivência. 
Jesus de Nazaré aconselhava, sabiamente, “amai o próximo como a vós mesmos”, numa notável lei de sabedoria para uma convivência pacífica e evolutiva na sociedade. 
O problema é que não amamos o próximo (isto é, não fazemos ao próximo o que desejaríamos para nós) porque também não nos amamos (não temos sentimentos, pensamentos e atitudes que nos façam bem). 
Escolhemos o melhor peixe, a melhor carne para que o corpo físico não adoeça (corpo que irá morrer), e intoxicamo-nos com todo o lixo mental que encontramos (sendo o Espírito imortal). 
São os paradoxos do ser humano, numa sociedade que perdeu o Norte de Deus e que tem de reaprender a amar-se e a amar, para poder ser feliz. 
A violência e a paz são estados de alma, que cada um pode escolher amplificar e esparzir pelo mundo afora. 
A violência e a paz, mais do que atos exteriores, são estados de alma que cada um carrega de acordo com as suas escolhas íntimas. 
Há que alimentar as atitudes pacíficas e transmutar as tendências violentas. Para isso, urge nos educarmos, aprender e ensinar as nossas crianças, em busca de um dever melhor. 
“Fora da caridade não há salvação” é um lema da doutrina espírita que projecta para hoje essa paz que todos buscamos e que tão pouco fazemos para que se torne realidade. 
Fica o convite: a partir de hoje, treinarmos, diariamente, a nossa mente em busca da paz, questionando que sentimentos temos tido, que pensamentos alimentamos, que tipo de conversas tivemos, que filmes e programas televisivos vimos, que gênero de livros lemos, e o que fizemos pela paz em nós, na família, na comunidade e no mundo…

José Lucas
Óbidos, Portugal 

Imagem ilustrativa