segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A criança livre é a semente do malfeitor


Bethany Thompson lutou contra um câncer no cérebro quando tinha apenas 3 anos de idade, e sobreviveu. A cirurgia que retirou o tumor foi um sucesso, mas deixou uma pequena sequela em seu rosto: a boca ficou levemente repuxada para a direita. Isso foi suficiente para ela se tornar alvo de comentários maldosos de outras crianças na escola. Bethany, 11 anos de idade, sofria bullying implacável na escola, até que chegou a um ponto em que não suportou mais e tirou a própria vida com um tiro. (1)
Caso semelhante ocorreu no Colégio Holy Angels Catholic Academy, em Nova York, Estados Unidos. Aí estudava Daniel Fitzpatrick, um aluno de 13 anos, que estava sofrendo bullying. Resultado: Daniel acabou se suicidando. Deixou uma carta de despedida e dentre outros bramidos de dor moral escreveu: “Eu desisto”! Disse ainda que os seus colegas da escola o atormentavam há muito tempo e a direção do colégio não fazia nada a respeito, mesmo após ele e os seus pais terem feito uma reclamação formal. A resposta do Holy Angels teria sido “Calma, tudo vai ficar bem. É só uma fase, vai passar”.
Como esquecermos a chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, em que meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. O assassino Wellington Menezes de Oliveira, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra os alunos que o incomodavam. Numa fita gravada, Wellington alegou ter sofrido bullying anos antes, na mesma escola; neste caso houve uma reação violentíssima.
O bullying é uma epidemia psicossocial e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade.
Os fatos, chocantes e tristes, trazem dois alertas a todos os pais e mães: o primeiro deles é estar atento às mudanças de comportamento dos filhos e buscar ajuda profissional sempre que necessário. O segundo alerta é falar com o filho sobre o respeito às diferenças. Ensinar sobre diversidade e tolerância. Essas lições, quando assimiladas desde cedo, formam pessoas mais empáticas e sensíveis à dor do outro – além, é claro, de evitar comportamentos agressivos como o bullying.
Urge estabelecer limites aos nossos filhos. Desde os primeiros anos, devemos ensiná-los a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.
Crianças criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal-acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.
Por isso mesmo, importa ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois a infância é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. A criança livre é a semente do malfeitor. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo.

Pensemos nisso!

Jorge Hessen


Referência:

(1) Disponível em http://revistacrescer.globo.com/Curiosidades/noticia/2016/11/menina-de-11-anos-que-sobreviveu-cancer-no-cerebro-se-mata-por-sofrer-bullying-na-escola.html acessado em 24/11/2017.

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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Somos viajantes do Universo


No capítulo XI do livro terceiro, "Das Leis Morais", de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, o mestre de Lyon, através da Espiritualidade de Luz, deixa-nos material para grande reflexão e transformação na nossa maneira íntima de ver a justiça, a começar pelo título. Vejam que é "Justiça, amor e caridade", um único título com estas três palavras, como um triângulo equilátero, em que todos os lados têm o mesmo tamanho.
Impossível é o que nos deixa claro o capítulo todo: falar de justiça sem falar de amor e caridade. Melhor ainda, aplicar leis justas sem que o legislador tenha em seu íntimo amor e caridade bem desenvolvidos.
À medida que evoluímos espiritualmente deixamos refletir em nossas atitudes nosso grau de evolução. Impossível, portanto, uma sociedade justa composta por Espíritos que ainda acham que o amor, aquele do qual fala Paulo de Tarso em sua famosa carta aos Coríntios, seja apenas uma ilusão, uma visão romântica da vida.
A maneira mais eficaz, portanto, para transformar o mundo em que vivemos, ou melhor, para darmos a nossa contribuição para a sua melhora, é, incansavelmente, trabalhar cada ponto em nós que nos afasta do amor. Não é possível melhorar nada em ninguém e, portanto, nas coletividades, pela força. 
Outro ponto importante a ser considerado por todo aquele que se diz cristão é o fato de cada um carregar em si uma bagagem espiritual que representa os milhares de reencarnações que moldaram sua personalidade. Por isso não é possível, de imediato, a ninguém, ver o mundo além deste prisma. Evolução se dá mais eficientemente com educação. Com mudanças paulatinas no Espírito imortal.
Todos queremos um mundo melhor para viver, mas não nos esqueçamos de que somos viajantes do Universo, habitantes do Cosmos, cujos mundos são solidários.
Que não fujamos da responsabilidade de contribuir para a harmonia, onde quer que estejamos. Mas sigamos confiantes de que a lei divina não falha, que cada globo tem seu governador e inúmeros Espíritos iluminados que o assistem. Para que, em nossa ânsia de querer a melhora do nosso jeito, não venhamos a nos tornar instrumentos das trevas, da ignorância.

Rodinei Moura

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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Já que Finados chegou


A famosa e alegre cantora Clara Nunes morreu em abril de 1983, com apenas 39 anos de idade, deixando um legado musical de expressão.
Considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país, era pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore e viajou para muitos países representando a cultura do país. Conhecedora das músicas, danças e das tradições afro-brasileira, converteu-se à Umbanda e levou a cultura africana para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravou canções dos compositores da Portela, sua escola do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos.
Um ano e cinco meses depois da morte brindou os familiares e amigos com mensagem de pleno equilíbrio pelas mãos do médium Chico Xavier, dando notícias de como foi recebida na vida imortal. Destaco trechos parciais da mensagem, constante do AE 1997, edição IDE:

“(…) Aquela anestesia suave que me fazia sorrir se transformou numa outra espécie de repouso que me fazia dormir. Sonhava com vocês todos e me via de regresso à infância. (…). Acordei num barco engalanado de flores, seguido de outras embarcações nas quais muitos irmãos entoavam hinos que me eram estranhos, hinos em que o amor por Iemanjá era a tônica de todas as palavras. (…) os barcos se abeiravam de certa praia encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a guarneciam. Quando o barco que me conduzia ancorou suavemente, uma entidade de grande porte se dirigiu a mim com paternal bondade e me conduziu a pisar na terra firme. Ali estavam o meu pai Manoel e a nossa mãezinha Amélia. (…)”.

A mensagem é longa e fica inviável transcrevê-la integralmente. O leitor poderá encontrá-la na íntegra na net, bastando pesquisar nessa direção.
O fato expressivo que desejamos destacar, todavia, é a grandeza da imortalidade da alma. Diante da lembrança humana dos chamados mortos – que permanecem vivos sem os condicionamentos impostos pela carcaça óssea e limitadora de nossa liberdade e visão dos verdadeiros padrões de nossa natureza imortal –, a narração de Clara Nunes convida à reflexão sobre essa palpável realidade. Desde que respeitemos a vida – sem antecipar ou buscar calculadamente com precipitação o fato biológico da morte –, aguarda-nos a felicidade.
As paisagens que encontraremos ou ambientes que nos recepcionarão são aqueles que construímos durante a vida, nas vinculações morais e sintonias que estabeleçamos. Notem os detalhes dos barcos e flores, músicas típicas e o próprio mar, são da convicção e hábitos da personagem, que surgem esplêndidos no momento de chegada… e que depois se ajustam à realidade que nos aguardam.
É que a bondade daqueles que nos protegem e amam respeitam nossas crenças e sentimentos, não interferindo nas construções que edificamos.
A imortalidade da alma é palpável, real, vibrante, confortadora. Sugiro ao leitor estudar e pesquisar sobre o assunto para vencermos ilusões e informações descabidas e construídas pela nossa falta de conhecimento ao longo da história humana, repleta de criatividade deformante ou de ameaças descabidas, esquecidos que estivemos por muito tempo esquecidos da Bondade de Deus!
Paternidade que não esquece os filhos e tudo faz pela paz e harmonia de suas criaturas, imensamente amadas. Cabe-nos entender mais o assunto, para vencermos medos, traumas ou dores que podem ser evitadas.

Orson Peter Carrara

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