segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Plástica no corpo é conservada após a desencarnação?


Trata-se de dúvida recorrente dos alunos nas salas de aulas de Doutrina Espírita.
Poderá, sim, manter os benefícios da plástica, a depender, em primeiro lugar, da sua “beleza interior”.
Isso porque o exterior sempre reflete o interior, aqui na Terra e muito mais no Plano Espiritual.
A boa aparência do corpo espiritual após a desencarnação dependerá da posição espiritual do ser, do seu equilíbrio, da sua conduta aqui na Terra, enfim, da sua depuração.
A plástica realizada no corpo físico de nada valerá se o Espírito não tiver uma condição espiritual que o favoreça a assumir uma forma mais bela. Ação no Bem, responsabilidade pelos atos, consciência do dever cumprido são requisitos básicos que irão lhe garantir um períspirito, do ponto de vista espiritual, mais belo.
Os que atingem essa condição, por méritos próprios, quase sempre buscam adquirir, com o poder do seu pensamento, formas mais jovens e belas (ou outra qualquer que deseje ou se sinta bem).
Podemos “concluir que a operação plástica não muda nada. O que realmente interfere na estrutura e aparência do perispírito é a posição espiritual da alma. As ações no campo do bem ou do mal são, pois, determinantes na forma de apresentação do perispírito, entendendo-se por bem tudo aquilo que é feito em obediência à lei maior do amor universal” (2)
“No livro Carmelo por ele Mesmo, de Carmelo Grisi, recebido por Chico Xavier, temos o relato de exercícios mentais que são feitos na vida espiritual para favorecer o rejuvenescimento. No excelente livro Memórias de um Suicida, recebido por Ivonne Pereira, também há referências quanto à aparência do períspirito”. (2)
Outrossim, no Livro Libertação (1), de André Luiz, verificamos o caso de uma senhora que se apresentava muito bonita aos olhos humanos, mas que, ao afastar-se do corpo pelo sono, transfigurava-se numa mulher horrível, uma bruxa, revelando aos olhos dos Espíritos desencarnados a sua baixa condição espiritual.
A explicação para a estranha ocorrência foi clara: a referida senhora levava uma existência de futilidades, dissimulações e ações maléficas.
Vejamos um trecho do Cap. 10 do citado livro sobre o caso em tela:

“O homem e a mulher, com os seus pensamentos, atitudes, palavras e atos criam, no íntimo, a verdadeira forma espiritual a que se acolhem. Cada crime, cada queda, deixam aleijões e sulcos horrendos no campo da alma, tanto quanto cada ação generosa e cada pensamento superior acrescentam beleza e perfeição à forma perispirítica, dentro da qual a individualidade real se manifesta, mormente depois da morte do corpo denso.”

Referências:
(1) André Luiz/Chico Xavier, Libertação, cap. 10.
(2) Marlene Nobre – trechos de texto do site da Associação Médico-Espírita.

Fernando Rossit
Funcionário público, residente em São José do Rio Preto, Espírita desde 1978, trabalhador da Associação Espírita Allan Kardec, atuando como Doutrinador, Médium Psicofônico, Orador e Instrutor Cursos da Doutrina Espírita.

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sábado, 16 de dezembro de 2017

Alertas sérios de Divaldo


Nos últimos meses, em eventos diversos, Divaldo Pereira Franco tem feito algumas abordagens diretas que representam sérios alertas aos espíritas e ao movimento espírita.
Durante a 64a Semana Espírita de Vitória da Conquista (Bahia), em setembro de 2017, focalizou as influências espirituais negativas que rondam os espíritas. Entre outros fatos cita alguns excessos normativos que dificultam a prática da mediunidade, a proliferação de livros que não estão sintonizados com as obras do Codificador e a disputa pelo “poder” no interior das instituições e do movimento espírita.(1)
Em outubro de 2017, no Congresso Espírita Colombiano realizado em Bogotá (Colômbia), Divaldo desenvolveu o seminário “Desafio dos trabalhadores espíritas”. Na oportunidade, fez referência à falta de cuidados na seleção de expositores que são convidados em vários países e que disseminam práticas estranhas. Comentou também a sua não concordância e citou alguns projetos que têm sido divulgados e implementados no movimento espírita brasileiro. (2)
Durante o citado evento na Colômbia, o expositor compareceu à reunião da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional e, pessoalmente, e em nome de espíritos que foram fundadores do CEI, inclusive registrando a presença deles, apresentou um grave alerta sobre decisões relacionadas com a Entidade, o respeito aos que a dirigiram e, ao final, houve psicofonia com mensagem de Bezerra de Menezes, convidando-os para uma ação fraternal, lembrando que “Jesus Cristo é amor e o Espiritismo é caridade.”(3)
Há informações de que em atividades do CFN da FEB, em novembro de 2017, Divaldo manteve diálogo sobre problemas e riscos do movimento espírita e, atendendo a questionamento específico, opinou que deve haver esclarecimentos sobre dúvidas relacionadas com traduções de A Gênese, de Kardec.
Entendemos que as observações de Divaldo naturalmente estão fundamentadas na sua fidelidade às obras da Codificação nessa sua longa trajetória de 70 anos de ações espíritas e como profundo conhecedor do movimento espírita do Brasil e de muitos países. Divaldo Pereira Franco está apontando fatos que devem merecer reflexão, estudo e análise cuidadosa por parte dos dirigentes e lideranças espíritas.
Por oportuno, transcrevemos trecho de recente mensagem psicofônica de Bezerra de Menezes, pelo citado médium, intitulada “Vigilância e fidelidade da última hora”:

“Algo temos que fazer e o Mestre Incomparável pede-nos fidelidade da última hora. A noite desce e a treva não se faz total porque as estrelas do amor brilham no cosmo das reencarnações. Este é momento grave, filhas e filhos do coração, e vós tendes a oportunidade de O servir como dantes não lograstes. […] Mantende-vos em paz e amai, ajudando-vos uns aos outros nas suas debilidades e fraquezas, pois que são eles que precisam do vosso auxílio para também atingirem a meta.”(4)

A propósito, recordamos de antiga mensagem de Joanna de Ângelis, intitulada “Os novos obreiros do Senhor”, incluída no livro Após a Tempestade, que teve sua 1a edição no ano de 1974:

“Depois de tudo consumado, porém, conforme acentua o Mestre: ‘Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos Céus.’
Não será fácil. Nada é fácil. O fácil de hoje foi o difícil de ontem, será o complexo de amanhã. Quanto adiemos agora, aparecerá, depois, complicado, sob o acúmulo dos juros que se capitalizam ao valor não resgatado. Aclimatados à atmosfera do Evangelho, respiremos o ideal da crença… E unidos uns aos outros, entre os encarnados e com os desencarnados, sigamos. Jesus espera: avancemos!”(5)


Referências [*]:
(1) Acesso: https://www.youtube.com/watch?v=n8WB4JtN5aU;
(2) Acesso: https://www.youtube.com/watch?v=NryRJMdckXU&feature=youtu.be;
(3) Gravação em áudio divulgada em whatsapp;
(4) Acesso – Facebook de Jorge Moehlecke: https://www.facebook.com/search/top/?q=jorge%20henrique%20moehlecke;
(5) Acesso: http://grupochicoxavier.com.br/os-novos-obreiros-do-senhor/;



Ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (interino de 5/2012 a 3/2013 e efetivo de 3/2013 a 3/2015); membro da Comissão Executiva e Primeiro Secretário do Conselho Espírita Internacional; Membro do Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier.

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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A criança livre é a semente do malfeitor


Bethany Thompson lutou contra um câncer no cérebro quando tinha apenas 3 anos de idade, e sobreviveu. A cirurgia que retirou o tumor foi um sucesso, mas deixou uma pequena sequela em seu rosto: a boca ficou levemente repuxada para a direita. Isso foi suficiente para ela se tornar alvo de comentários maldosos de outras crianças na escola. Bethany, 11 anos de idade, sofria bullying implacável na escola, até que chegou a um ponto em que não suportou mais e tirou a própria vida com um tiro. (1)
Caso semelhante ocorreu no Colégio Holy Angels Catholic Academy, em Nova York, Estados Unidos. Aí estudava Daniel Fitzpatrick, um aluno de 13 anos, que estava sofrendo bullying. Resultado: Daniel acabou se suicidando. Deixou uma carta de despedida e dentre outros bramidos de dor moral escreveu: “Eu desisto”! Disse ainda que os seus colegas da escola o atormentavam há muito tempo e a direção do colégio não fazia nada a respeito, mesmo após ele e os seus pais terem feito uma reclamação formal. A resposta do Holy Angels teria sido “Calma, tudo vai ficar bem. É só uma fase, vai passar”.
Como esquecermos a chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, em que meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. O assassino Wellington Menezes de Oliveira, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra os alunos que o incomodavam. Numa fita gravada, Wellington alegou ter sofrido bullying anos antes, na mesma escola; neste caso houve uma reação violentíssima.
O bullying é uma epidemia psicossocial e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade.
Os fatos, chocantes e tristes, trazem dois alertas a todos os pais e mães: o primeiro deles é estar atento às mudanças de comportamento dos filhos e buscar ajuda profissional sempre que necessário. O segundo alerta é falar com o filho sobre o respeito às diferenças. Ensinar sobre diversidade e tolerância. Essas lições, quando assimiladas desde cedo, formam pessoas mais empáticas e sensíveis à dor do outro – além, é claro, de evitar comportamentos agressivos como o bullying.
Urge estabelecer limites aos nossos filhos. Desde os primeiros anos, devemos ensiná-los a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.
Crianças criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal-acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.
Por isso mesmo, importa ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois a infância é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. A criança livre é a semente do malfeitor. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo.

Pensemos nisso!

Jorge Hessen


Referência:

(1) Disponível em http://revistacrescer.globo.com/Curiosidades/noticia/2016/11/menina-de-11-anos-que-sobreviveu-cancer-no-cerebro-se-mata-por-sofrer-bullying-na-escola.html acessado em 24/11/2017.

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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Somos viajantes do Universo


No capítulo XI do livro terceiro, "Das Leis Morais", de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, o mestre de Lyon, através da Espiritualidade de Luz, deixa-nos material para grande reflexão e transformação na nossa maneira íntima de ver a justiça, a começar pelo título. Vejam que é "Justiça, amor e caridade", um único título com estas três palavras, como um triângulo equilátero, em que todos os lados têm o mesmo tamanho.
Impossível é o que nos deixa claro o capítulo todo: falar de justiça sem falar de amor e caridade. Melhor ainda, aplicar leis justas sem que o legislador tenha em seu íntimo amor e caridade bem desenvolvidos.
À medida que evoluímos espiritualmente deixamos refletir em nossas atitudes nosso grau de evolução. Impossível, portanto, uma sociedade justa composta por Espíritos que ainda acham que o amor, aquele do qual fala Paulo de Tarso em sua famosa carta aos Coríntios, seja apenas uma ilusão, uma visão romântica da vida.
A maneira mais eficaz, portanto, para transformar o mundo em que vivemos, ou melhor, para darmos a nossa contribuição para a sua melhora, é, incansavelmente, trabalhar cada ponto em nós que nos afasta do amor. Não é possível melhorar nada em ninguém e, portanto, nas coletividades, pela força. 
Outro ponto importante a ser considerado por todo aquele que se diz cristão é o fato de cada um carregar em si uma bagagem espiritual que representa os milhares de reencarnações que moldaram sua personalidade. Por isso não é possível, de imediato, a ninguém, ver o mundo além deste prisma. Evolução se dá mais eficientemente com educação. Com mudanças paulatinas no Espírito imortal.
Todos queremos um mundo melhor para viver, mas não nos esqueçamos de que somos viajantes do Universo, habitantes do Cosmos, cujos mundos são solidários.
Que não fujamos da responsabilidade de contribuir para a harmonia, onde quer que estejamos. Mas sigamos confiantes de que a lei divina não falha, que cada globo tem seu governador e inúmeros Espíritos iluminados que o assistem. Para que, em nossa ânsia de querer a melhora do nosso jeito, não venhamos a nos tornar instrumentos das trevas, da ignorância.

Rodinei Moura

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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Já que Finados chegou


A famosa e alegre cantora Clara Nunes morreu em abril de 1983, com apenas 39 anos de idade, deixando um legado musical de expressão.
Considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país, era pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore e viajou para muitos países representando a cultura do país. Conhecedora das músicas, danças e das tradições afro-brasileira, converteu-se à Umbanda e levou a cultura africana para suas canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravou canções dos compositores da Portela, sua escola do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos.
Um ano e cinco meses depois da morte brindou os familiares e amigos com mensagem de pleno equilíbrio pelas mãos do médium Chico Xavier, dando notícias de como foi recebida na vida imortal. Destaco trechos parciais da mensagem, constante do AE 1997, edição IDE:

“(…) Aquela anestesia suave que me fazia sorrir se transformou numa outra espécie de repouso que me fazia dormir. Sonhava com vocês todos e me via de regresso à infância. (…). Acordei num barco engalanado de flores, seguido de outras embarcações nas quais muitos irmãos entoavam hinos que me eram estranhos, hinos em que o amor por Iemanjá era a tônica de todas as palavras. (…) os barcos se abeiravam de certa praia encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a guarneciam. Quando o barco que me conduzia ancorou suavemente, uma entidade de grande porte se dirigiu a mim com paternal bondade e me conduziu a pisar na terra firme. Ali estavam o meu pai Manoel e a nossa mãezinha Amélia. (…)”.

A mensagem é longa e fica inviável transcrevê-la integralmente. O leitor poderá encontrá-la na íntegra na net, bastando pesquisar nessa direção.
O fato expressivo que desejamos destacar, todavia, é a grandeza da imortalidade da alma. Diante da lembrança humana dos chamados mortos – que permanecem vivos sem os condicionamentos impostos pela carcaça óssea e limitadora de nossa liberdade e visão dos verdadeiros padrões de nossa natureza imortal –, a narração de Clara Nunes convida à reflexão sobre essa palpável realidade. Desde que respeitemos a vida – sem antecipar ou buscar calculadamente com precipitação o fato biológico da morte –, aguarda-nos a felicidade.
As paisagens que encontraremos ou ambientes que nos recepcionarão são aqueles que construímos durante a vida, nas vinculações morais e sintonias que estabeleçamos. Notem os detalhes dos barcos e flores, músicas típicas e o próprio mar, são da convicção e hábitos da personagem, que surgem esplêndidos no momento de chegada… e que depois se ajustam à realidade que nos aguardam.
É que a bondade daqueles que nos protegem e amam respeitam nossas crenças e sentimentos, não interferindo nas construções que edificamos.
A imortalidade da alma é palpável, real, vibrante, confortadora. Sugiro ao leitor estudar e pesquisar sobre o assunto para vencermos ilusões e informações descabidas e construídas pela nossa falta de conhecimento ao longo da história humana, repleta de criatividade deformante ou de ameaças descabidas, esquecidos que estivemos por muito tempo esquecidos da Bondade de Deus!
Paternidade que não esquece os filhos e tudo faz pela paz e harmonia de suas criaturas, imensamente amadas. Cabe-nos entender mais o assunto, para vencermos medos, traumas ou dores que podem ser evitadas.

Orson Peter Carrara

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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Os limites da liberdade


Em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade?
Nas do eremita no deserto. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles gozará de liberdade absoluta.
(Livro dos Espíritos, questão 826, Lei de Liberdade).

Um náufrago vem ter em ilha deserta. Constrói tosca habitação e ali se instala. Desfruta de liberdade plena. Movimenta-se à vontade. Faz e desfaz, conforme lhe parece conveniente, senhor absoluto daquela porção de terra.
Tempos depois chega outro náufrago. A situação modifica-se. O primeiro experimentará limitações. A não ser que se disponha a eliminar o recém-chegado, descendo à barbárie, deverá reconhecer que seu direito de dispor da ilha esbarrará no direito do companheiro em garantir a própria sobrevivência. Terão, pois, que dividir os recursos existentes. E a liberdade de ambos diminuirá à medida que outros náufragos aparecerem.
É o que ocorre na vida comunitária, onde nossa liberdade é relativa, porquanto deve ser conciliada com a liberdade dos concidadãos. O limite de nosso direito é o direito do próximo. A inobservância desse princípio elementar gera conflitos. As implicações dessa equivalência de direitos são extensas.

Fácil enunciar alguns exemplos:

Não nos é lícito, na vida comunitária, transitar de automóvel pelas ruas à velocidade acima da fixada por lei; a ninguém é permitido, em logradouro público, postar-se nu, nem ali despejar lixo ou satisfazer necessidades fisiológicas. A liberdade de movimentação é restrita. Vedado nos é invadir uma propriedade alheia ou recintos de diversão como cinema ou teatro. Mister sejamos convidados ou nos disponhamos a pagar o ingresso.
Não é conveniente nem mesmo permanecer na inércia se fisicamente aptos, porquanto não nos pertencem os bens comunitários. Alimentos, abrigo, roupas, indispensáveis ao nosso bem-estar e à própria subsistência, pertencem àqueles que os produzem. Somos chamados a produzir, também, com a força do trabalho, a fim de que, em regime de permuta, utilizando um instrumento intermediário, o dinheiro, possamos atender às nossas necessidades.
A perfeita compreensão dos deveres comunitários, que restringem a liberdade individual, é virtude rara. Por isso existem mecanismos destinados a orientar a população e conter suas indisciplinas. Há leis que definem direitos e obrigações. Há órgãos policiais para fiscalizar sua observância. Os infratores sujeitam-se às sanções legais, que podem implicar até no confinamento em prisões por tempo determinado, compatível com a natureza dos prejuízos causados a alguém ou à sociedade.
Quanto maior a expansão demográfica e a concentração urbana, mais difícil o controle da população. E há infrações que nem sempre podem ser enquadradas como delitos passíveis de punição ou nem sempre podem ser rigorosamente detectadas e corrigidas pelas autoridades.
Revelam os infratores, total desrespeito pelos patrimônios individuais e coletivos da comunidade e pelo inalienável direito comum à tranquilidade.
Todavia, estes impenitentes individualistas, ilhados numa visão egocêntrica de vida, saberão, mais cedo ou mais tarde, que nenhum prejuízo causado ao próximo ficará impune.
Se a justiça da Terra é impotente para sentenciar os infratores, a justiça do Céu o fará, inelutavelmente, confinando-os em celas de desajuste e infelicidade, na intimidade de suas consciências, impondo-lhes penosas retificações na presente existência ou em existências futuras.
Aprendemos todos, por experiência própria, que há limites em nossa liberdade de ação e que o mínimo que nos compete, em favor de nossa felicidade, é não perturbar o próximo, tanto quanto estimamos que ele não nos perturbe.

Richard Simonetti

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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Insônia


A ciência já explicou até o momento do ponto de vista dela o motivo pelo qual não conseguimos dormir, isto é, termos a tão conhecida insônia que ataca grande parcela mundial. É evidente que a ciência como não admite conceitos filosóficos vai buscar em nossos órgãos físicos a causa de qualquer anomalia, afinal a maioria dos cientistas não admite a existência de um Ser Superior, até porque em muitas situações eles dizem ser o próprio deus.
Mas quem além de encarar a ciência com grande admiração e respeito e também depositar na fé suas expectativas de evolução, pois afinal somos matéria perecível, mas também somos alma/espírito, constata que em muitos casos não conseguimos dormir por questões que a ciência não nos convence. Claro que se estivermos sentido dor, uma preocupação e até efeito de algum acontecimento fora da rotina que nos acometeu ou nos envolvemos, vamos ficar sem sono, mas normalmente nestes casos, passada a origem o sono volta normalmente, isto naqueles que sempre tiveram um dormir regular.
Mas vamos supor que certa pessoa tenha um inimigo que pode vir a lhe emboscar de momento para outro. Esta, pessoa, normalmente evitará sair de casa, e se sair será sob muita tensão, e voltará tão logo possa. Acontece que do ponto de vista espiritual, estamos sempre em relação com a vida além da matéria e quando dormimos, deixamos o corpo material em repouso mantendo-se apenas na vida orgânica e saímos, já que somos espírito! Mas em razão de muitos terem inimigos de outras vidas ou inimigos que viveram aqui juntos nesta vida, mas retornaram ao plano espiritual antes, o espírito que somos a exemplo daquela pessoa que não sai de casa e/ou volta rapidamente, age da mesma maneira, preferindo ficar o mais tempo possível no estado de vigília, por medo de confrontar- e ao adormecer.
Se temos corpo que adormece e descansa, temos o espírito que não precisa descansar, mas que também pode ficar adormecido, muito bem explicado no livro de Chico Xavier, Os Mensageiros, no capítulo “os que dormem”. Então é perfeitamente compreensível que não consigamos dormir, a não ser sob efeito de drogas lícitas (medicamentos), que forçará que o organismo relaxe, e por consequência o espírito ao invés de desprender-se permanece também num estado semelhante aos que acreditam no “sono eterno”. Por isso encontramos a dificuldade de conciliar o sono. Devemos procurar o esclarecimento religioso sobre o assunto para buscar solução para esta influenciação. Que o Mestre nos ampare a todos.

Nilton Cardoso Moreira

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Decisão que vamos optar


A clareza e objetividade de Kardec impressionam, seja pela sua atualidade, seja pela lucidez com que apresenta o pensamento espírita e seus desdobramentos, nas variadas situações do cotidiano ou nas conquistas intelecto-morais que vamos alcançando pelo amadurecimento natural da própria evolução.
Frases curtas, expressões compactas, parágrafos altamente esclarecedores, raciocínios lógicos, todos embasados numa construção perfeita que une o texto, o raciocínio, o alto senso de justiça e bondade, aspectos históricos sempre envolvidos e, claro, direcionados para aspectos que construam a mentalidade humanitária e cristã, à luz da Revelação Espírita.
Isso está em toda a obra da Codificação, nas obras complementares e na Revista Espírita. Interessante porque cada pensamento, texto, frase ou raciocínio do Codificador tornam-se facilmente fonte inesgotável para abordagens verbais ou escritas, temas para estudo ou pesquisa. É realmente o fruto de um espírito genial, comprometido com as causas de progresso da Humanidade. Não é ao acaso que organizou a Revelação dos Espíritos.
Uso um exemplo simples, para indicar essa grandeza de conteúdo.
No capítulo XXVIII – Coletânea de Preces Espíritas, em O Evangelho segundo o Espiritismo, item 20 –Para pedir força de resistir a uma tentação, informa Kardec*: “(...) Devemos, ao mesmo tempo, imaginar o nosso anjo da guarda, ou Espírito protetor, que, de sua parte, combate em nós a má influência, e espera com ansiedade a decisão que vamos tomar. Nossa hesitação em fazer o mal é a voz do bom Espírito que se faz ouvir pela consciência. (...)”.
O destaque na frase foi dado pelo próprio Kardec. O tema aborda a questão dos maus pensamentos, da influência malévola de alguns Espíritos perturbados ou perturbadores e mesmo de nossas próprias más tendências, mas também da presença do anjo guardião que nos ampara e a quem podemos recorrer. Como se sabe, no capítulo em referência, Kardec apresenta comentários compactos e extraordinários a diversas situações em que a prece pode ser usada, complementando com pequenos modelos de prece para auxiliar o raciocínio na questão. Mas seus comentários pessoais são de beleza inquestionável. Inclusive, o referido item encontra-se no subtítulo Preces por si mesmo, iniciando-se com a citação dos anjos guardiães e Espíritos protetores, daí a indicação aqui constante.
Convido, portanto, o leitor, a refletir sobre o exemplo simples da transcrição constante da já citada obra básica: a da espera do Espírito protetor, com ansiedade, peladecisão que vamos tomar.
Sim, isso é abrangente, notável. Afinal, apesar da assistência que todos recebemos, continuamente, os benfeitores respeitam nossas decisões e esperam que escolhamos os caminhos do equilíbrio e do acerto. Mas respeitam, se optarmos por caminhos desastrosos, daí a ansiedade citada pelo Codificador, porque sabem que é por meio desses equívocos das decisões e opções, durante a vida, que amadurecemos e aprendemos a viver, nos relacionamentos e nas decisões próprias do cotidiano. Apesar de nos assistirem, eles aguardam os caminhos que optamos por seguir. Percebemos, com clareza, a abrangência que o assunto propicia. Convido o leitor a buscar o item em referência e estudá-lo na íntegra.
É assim a Doutrina Espírita: inesgotável nas possibilidades de aprendizado.

Orson Peter Carrara

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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Pé de barro, pé no barro


Vivemos um tempo curioso. Após a chegada do homem à lua, do telescópio Hubble ter ajudado a desvendar o espaço, de uma grande expansão de nosso conhecimento do Universo, nos decepcionamos com o que encontramos. Esperávamos algo divino, maravilhoso.
Esperávamos, na ratificação de nossa imaginação fértil, algo de civilizações intergalácticas, de descobertas de outros mundos, como um Cabral ou um Colombo moderno à busca de novas civilizações. Mas encontramos rochas e gases, e fomos buscar abrigos em teorias conspiratórias e fábulas modernas, sem ver a magnitude do que encontramos.
Da mesma forma, a profusão das comunicações; as redes nos colocaram em tempo real em contato com a natureza humana. Ponto a ponto, sem filtros, viralizamos e nos comparamos com o vizinho nas redes sociais, e vemos do que o Espírito encarnado é capaz. Mas nos decepcionamos. Quebramos as nossas expectativas com o homem que vemos no espelho. Sentimos vergonha da raça humana.
Sim, por ver não somente o mal, mas por vê-lo sendo propagado, comemorado e consumido, misturando o mundo real e a ficção, destruindo a crença no homem como centelha divina, com potencial para fazer mais e melhor nesse mundo. Por ver que desperdiçamos soluções e criamos problemas, e a despeito de toda a tecnologia, ainda padecemos da fome, da ignorância e da violência.
A decepção é o sentimento que habita bocas e corações. Uma tristeza infinda. Uma vontade de não se levantar, em um tempo curioso, de falta de fé, ainda que existam tantas religiões. De ídolos de “pé de barro”, ainda que existam tantas celebridades instantâneas. Uma falta de esperança, de concepção de um mundo melhor, abatido pela realidade que se descortina.
O Espiritismo, como doutrina libertadora, que concilia a vida eterna com a vida real, traz uma nova proposta de fé. Não somente por ser raciocinada. Não uma proposta de “pés de barro” e sim uma proposta de “pé no barro”, na qual essa decepção não se justifica. Uma proposta de mundo em transformação, pelas nossas mãos e guiado pelos nossos pés.
Sim, o Espiritismo convida-nos, Espíritos encarnados, a uma fé ativa, producente. A assumir as rédeas do mundo, para romper os determinismos da natureza humana, colocando os pés no barro e mostrando que pode ser feito diferente. Um mundo que será o que nós fizermos dele. Nós, as diversas gerações que encarnam sucessivamente no planeta.
Imagine uma mulher, um negro, um indígena no Século XVII. Ele olhava também para o mundo de baixo, sem fé. E hoje, apesar dos pesares, muita coisa mudou na relação do mundo com esses grupos. A evolução se fez e se faz. Às vezes lentamente, as vezes de forma imperceptível, mas o mundo melhora e pode melhorar. Só depende de nós.
Essa lógica que o Espiritismo traz, de deixar em nossas mãos a construção de um mundo melhor, converte essa decepção em trabalho, essa falta de fé em esforço, esse vazio em sede. Temos a ideia de reencarnação, não como um dogma de sofrimento e karma determinista, mas como uma chave libertadora do sofrimento e de promoção da fraternidade.
A pergunta 171 de “O Livro dos Espíritos” traz que “(...) a doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é (...) a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações”. Esse resgate não é somente na dimensão individual, mas também na dimensão coletiva.
A continuidade da vida permite ao homem-espírito exercitar a sua capacidade de se reinventar, de fazer diferente, de romper barreiras e construir novas pontes entre os fossos que se apresentam. E isso exige trabalho, esforço e dedicação. A fé sem obras é morta, diz o evangelho, e, nesse sentido, temos que avançar, com o pé no barro e os olhos no céu.
Pois o nosso destino está nas estrelas. Mas o momento, aqui e agora, é que ele está sendo construído.

Marcos Vinícius de Azevedo Braga

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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Um minuto com Chico Xavier


Nos anos de 1928 e 29, Chico começou a cobrir páginas e páginas com poemas. Os melhores poemas escritos por ele eram obras sem dono. O poeta negava a autoria dos versos. Eles apareciam quando o rapaz, aflito, sentia uma pressão na cabeça como se um cinto de chumbo comprimisse seu cérebro – e um peso no braço direito, como se ele se transformasse numa barra de ferro e fosse arrastado por forças poderosas.
Os textos se acumulavam anônimos e repetiam a mesma cartilha: amor, compreensão, tolerância. Os companheiros do centro liam a papelada e sugeriam a publicação. Só havia um problema. Quem assinaria as obras? Chico consultou o irmão, José Cândido, e eles decidiram pedir conselhos ao diretor do jornal espírita carioca Aurora, Inácio Bittencourt. O jornalista convenceu o rapaz de Pedro Leopoldo a colocar seu nome embaixo dos poemas. "F. Xavier" começou a aparecer em várias publicações com o consentimento dos escritores invisíveis.
Chico nunca se esqueceu de como o soneto "Nossa Senhora da Amargura" chegou às suas mãos e se espalhou pelo papel. Uma noite, ele rezava quando viu aproximar-se uma jovem reluzente. Pediu papel e lápis e começou a escrever. A aparição chorava tanto que Chico começou a se debulhar em lágrimas também.
No final das contas, ele já não sabia se os seus olhos eram os dela ou vice-versa. Muito mais tarde identificaria a dona daquelas pupilas: a poetisa Auta de Souza, do Rio Grande do Norte, que morreu em 1901, com 24 anos. Na época, ele assinou embaixo F. Xavier – e se sentiu culpado quando recebeu de um crítico português uma carta recheada de pontos de exclamação e adjetivos entusiasmados. “Recebi elogios por um trabalho que não me pertencia”, dizia ele.
Em 1931, Chico já não sentia a pressão alucinada na cabeça nem o enrijecimento doloroso no braço. Tinha aprendido a se entregar, a não criar resistência. Às vezes, um volume imaterial aparecia diante de seus olhos e era dali, daquelas páginas invisíveis, que Chico copiava os textos do outro mundo. Em outras ocasiões, escrevia como se alguém lhe ditasse as mensagens e, enquanto colocava as palavras no papel, experimentava no braço a sensação de fluidos elétricos e, no cérebro, vibrações indefiníveis. De vez em quando, esse estado atingia o auge e Chico perdia a sensação do próprio corpo. Sem medo, já podia ser o instrumento passivo dos mortos-vivos.
Um feiticeiro. Um maluco incapaz de separar o sonho da realidade. Os rumores persistiam na cidade. Um padre de Belo Horizonte fez um discurso inflamado na igreja de Pedro Leopoldo contra o Espiritismo e encerrou o sermão mandando Chico Xavier para o inferno. O rapaz, impressionado, correu para o colo invisível da mãe, contou seu drama e ouviu dela o muxoxo:

- E daí? Ele te mandou para o inferno, mas você não vai. Fique na Terra mesmo...

Poucas semanas depois, um intelectual, também de Minas, desembarcou na cidade. Chico vestiu sua melhor roupa e, com a pasta de poemas debaixo do braço, foi levado por um amigo até o forasteiro. O literato passou os olhos pelos versos, classificou tudo como "bobagem" e, com os olhos fixos no autor, encheu a boca:

– Este rapaz é uma besta.

O amigo de Chico defendeu a inteligência dele, sua dedicação aos espíritos, seu cuidado com os poemas vindos do outro mundo. O intelectual reviu seu julgamento:

– É uma besta espírita!

Chico, inconformado, buscou abrigo, mais uma vez, sob as saias de Maria João de Deus.

– Viu como eu fui insultado?

Ouviu mais um muxoxo materno:

– Não vejo insulto algum. Acho até que você foi muito honrado. Uma besta é um animal de trabalho. E é valioso e útil, a serviço do Espiritismo, quando não dá coices.

Do livro As Vidas de Chico Xavier , de Marcel Souto Maior.

Regina Stella Spagnuolo

Imagem do livro

domingo, 20 de agosto de 2017

A fé como visão


Emmanuel nos leciona que “fé representa visão [e] visão é conhecimento e capacidade de auxiliar”.

Nossa fé, portanto, comporta-se de duas maneiras: dentro de uma introspecção entre quatro paredes, onde nos conectamos com nossa Divindade e Lhe votamos louvores, súplicas e agradecimentos; e aquela em que agimos perante nossas próprias necessidades e as dos que nos rodeiam.
Ambas possuem seu devido valor e a sua hora! Podemos dizer também que a segunda afirma a primeira.
O Benfeitor, entretanto, nos dará a entender que precisamos enxergar os fatos que nos rodeiam, compreendê-los e reunirmos em nós a capacidade do auxílio; e isso é a fé como visão. De forma nenhuma Emmanuel desconsiderará a introspecção, mas dá-nos o entendimento – ou ratifica – que nossa fé sem a obra do auxílio poderá ser vã.
Pitágoras afirmaria que “filosofia é a crítica do conhecimento.” Não desejaremos – nem poderemos – estar filosofando perante as necessidades dos que nos cercam, mas, para exercitarmos nossa fé, também o conhecimento nos dará maior capacidade de auxílio.
Convém lembrar-nos que nem Jesus, nem os apóstolos e nem seus discípulos mais abnegados se comportaram de forma estática: lutaram, serviram esofreram pela causa do Mestre; percorriam, numa época de locomoção rudimentar, longas distâncias; para termos uma ideia, mais de 150 km separam Cafarnaum de Jerusalém. Percorrendo tais distâncias, eles interagiam com doentes do corpo e do Espírito, exercendo sua fé travestida de misericórdia. Esses homens confraternizavam entre si e se reuniam em orações. É possível que na Casa de Pedro, às margens do lago de Genezaré, haja se realizado o primeiro Evangelho no Lar.
Se eles nos deram tal roteiro, será natural que nossa fé se evidencie na prática das ajudas efetivas.

*

Se por um lado a introspecção, reflexão e oração são nosso lubrificante sutil, nossos sentimentos, raciocínios, braços, mãos, pernas e pés são as sagradas alavancas que irão validar a fé que dizemos possuir. 

(Sintonia: Fonte viva, Cap. 69, Firmeza e Constância, ditado por Emmanuel a Chico Xavier, 1ª edição da FEB) – (Primavera de 2016.)

Cláudio Viana Silveira
cvs1909@hotmail.com
http://www.oconsolador.com.br/ano10/501/ca1.html
Pelotas, RS (Brasil)

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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Os primeiros lugares


Contou-nos uma pessoa, que foi trabalhar algum tempo num país europeu e que várias vezes identificou marcantes diferenças entre as atitudes deles e as nossas.
A forma de resolver problemas, a maneira de conduzir-se perante determinadas dificuldades no ambiente de trabalho etc.
Nas suas observações, percebeu que tinham alguns comportamentos muito próprios e incomuns entre nós.
Em verdade, ela jamais imaginara que com eles aprenderia uma extraordinária lição. Algo que a faria admirá-los e seguir-lhes o exemplo.
No seu primeiro dia de trabalho, um colega da empresa a veio apanhar em casa e eles seguiram, juntos, no carro dele.
Ao chegarem, ele entrou no estacionamento, uma área ampla para mais de duzentos carros.
Como haviam chegado cedo, poucos veículos estavam estacionados, entretanto, o rapaz deixou o seu carro parado logo na entrada, próximo ao portão.
Assim, ambos tiveram que caminhar um trecho considerável, até chegarem efetivamente à porta da empresa.
No segundo dia, o fato se repetiu. Eles tornaram a chegar cedo e, novamente, o carro foi deixado próximo da entrada do estacionamento.
Outra vez tiveram que atravessar todo o extenso pátio até chegarem ao escritório.
No terceiro dia, bastante intrigada, ela não se conteve e perguntou ao colega:
Por que você deixa o carro tão distante, quando há tantas vagas disponíveis? Por que não escolhe uma vaga mais próxima do acesso ao nosso local de trabalho?
A resposta foi franca e rápida:
O motivo é muito simples. Nós chegamos cedo e temos tempo para andar, sem perigo de nos atrasarmos. Alguns dos nossos colegas chegam quase em cima da hora e se tiverem que andar um trecho longo, correm o risco de se atrasarem.
Assim, é bom que encontrem vagas bem mais próximas, ganhando tempo.

* * *

O gesto pode ser qualificado de companheirismo, coleguismo. Não importa. O que tem verdadeira importância é a consciência de colaboração.
Ela recordou que, algumas vezes, em estacionamentos, no Brasil, vira vagas para deficientes sendo utilizadas por pessoas não deficientes.
Só por serem mais próximas, ou mais cômodas.
Recordou dos bancos reservados a idosos, gestantes em nossos transportes coletivos e utilizados por jovens e crianças, sem preocupação alguma.
Lembrou de poltronas de teatros e outros locais de espetáculos tomadas quase de assalto, pelos mais ágeis, em detrimento de pessoas com certas dificuldades de locomoção.
Pensou em tantas coisas. Reflexionou. Ponderou...

* * *

E nós? Como agimos em nossas andanças pelas vias do mundo? Somos dos que buscamos sempre os lugares mais privilegiados, sem pensar nos outros?
Alguma vez pensamos em nos acomodar nas cadeiras do centro do salão, quando vamos a uma conferência, pensando que os que chegarem em cima da hora, ocuparão as pontas, com maior facilidade?
Pensamos, em alguma oportunidade, em ceder a nossa vez no caixa do supermercado a uma mãe com criança ou alguém que expresse a sua necessidade de sair com mais rapidez?
Pensemos nisso. Mesmo porque, há pouco mais de dois milênios, um rei que se fez carpinteiro, ensinou sabiamente:
Quando fordes convidados a um banquete, não vos assenteis nos primeiros lugares...
O ensino vale para cada dia e situação das nossas vidas.

Jornal Mundo Maior

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terça-feira, 25 de julho de 2017

O sopro curador


“Sim, meu amigo – respondeu Alfredo, atenciosamente -, o sopro curador, mesmo na Terra, é sublime privilégio do homem. No entanto, quando encarnados, demoramo-nos muitíssimo a tomar posse dos grandes tesouros que nos pertencem. Comumente, vivemos por lá, perdendo tempo com a Fantasia, acreditando em futilidades ou alimentando desconfianças. Quem pudesse compreender, entre as formas terrestres, toda a extensão deste assunto, poderia criar no mundo os mais eficientes processos soroterápicos… Como o passe, que pode ser movimentado pelo maior número de pessoas, com benefícios apreciáveis, também o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. Entretanto, precisamos acrescentar que, em qualquer tempo e situação, o esforço individual é imprescindível. Toda a realização nobre requer apoio sério. O bem divino, para manifestar-se sem ação, exige boa vontade humana. Nossos técnicos do assunto não se formaram de pronto. Exercitaram-se longamente, adquiriram experiências a preço alto. Em tudo há uma ciência de começar.”

Esse trecho do livro “Os Mensageiros”, do Espírito André Luiz pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, está no capítulo “O Sopro” e constitui esclarecimentos dados pelo orientador Alfredo a André Luiz que iniciava seu trabalho de auxílio nas atividades de assistência aos círculos carnais e que nos fazem refletir sobre o esforço do mundo espiritual em intuir-nos o bem, para que nós, os encarnados, não percamos tempo precioso com nossas imperfeições e infantilidades. Todo auxílio nos é dado a todo instante, basta sentirmos e fazermos o esforço de movimentarmos as nossas energias na ação do bem, saindo da inércia, como que movimentando a água estagnada.
André Luiz ficou muito impressionado com o tal do sopro curador e nós, leitores, mais ainda. Assim como a escovação diária e o fio dental preservam o nosso hálito bucal, as nossas ações e pensamentos poderão ser “perfumados” se decidirmos estar e agir no bem, esforçando-nos em nossa melhora, vigiando os pensamentos, o que demanda somente boa vontade e esforço.

Em O Livro dos Espíritos a melhora interior de cada um de nós está na questão 909: “O homem poderia sempre vencer as suas más tendências pelos seus próprios esforços? – Sim, e às vezes com pouco esforço; o que lhe falta é a vontade. Ah, como são poucos os que se esforçam!”. 

Vivemos, atualmente, uma era em que o sentir e ouvir mais o coração são ações essenciais para a nossa mudança interna. Todavia, não podemos mais, simplesmente, termos consciência de nossas falhas e ficar numa posição cômoda de contemplação. Não. Precisamos tentar fazer melhor, ser melhor. Ser mais paciencioso, mais misericordioso, menos crítico e mais tolerante. Só que tudo isso exige um esforço que nos parece hercúleo, mas, na realidade, temos tal visão, dada nossa falta da iniciativa e de coragem em dar o primeiro passo.
Urge que nos libertemos de rotinas egocêntricas, dando espaço, por exemplo, para caridades simples como a palavra amiga resultante do ouvir o outro com sincera atenção e respeito, ou para estar de corpo e alma presentes com a família reunida, conversando, esquecendo um pouco os nossos lixos mentais, ou o celular que nos “exige” a atenção a todo instante. Dediquemos um tempinho de sobra ao trabalho voluntário, sem desculpas de que iremos perder a liberdade ou de que não queremos compromissos. Somente dessa forma criaremos uma sintonia sutil com os Bons Espíritos.
Comecemos por pequenas e simples ações com aqueles próximos de nós. Por exemplo: só por agora, pelo menos, vou respeitar a irritação do meu esposo/a, filho/a, não reagindo. Quem sabe ele/a só precisa desabafar a raiva, nem era para nos magoar? Esses minutinhos de tolerância e misericórdia podem tornar-se rotina se nos esforçarmos em repeti-los. Por que não?
São Francisco nos falou, há muito tempo, que é compreendendo que se é compreendido, que é dando que se recebe e que é amando que se é amado, que é ajudando que seremos ajudados, sem o interesse de receber, mas por vontade de ver o outro feliz. A satisfação e paz proporcionadas pela caridade são insubstituíveis, nada se compara a isso. Alguma coisa que faltava parece preencher o nosso ser e podemos dizer com toda a propriedade: “É isso que me faltava, é isso que quero repetir na minha vida.” Quando chegamos a este ponto, teremos mais chance de sintonizarmo-nos com espíritos, por exemplo, como os técnicos do sopro, pois eles esperam sempre por nós.
Ainda nesse mesmo capítulo de “Os Mensageiros”, é esclarecido que esses técnicos “São servidores respeitáveis pelas realizações que atingiram, ganham remunerações de vulto e gozam de enorme acatamento, mas, para isso, precisam conservar a pureza da boca e a santidade nas intenções”. Então, porque não nos empenharmos, assim como eles, em fazer o melhor que pudermos a cada instante? Principalmente, naqueles momentos em que temos dificuldade em orar e aguardar com um pouco mais de paciência para que o nosso amigo tempo e a ação dos bons espíritos possam colaborar conosco, fazendo-nos contar pelo menos até dez antes de manchar o nosso hálito com palavras rudes, provindas de impulsos insensatos.
Tenhamos consciência que, devagarinho, estamos andando a caminho de nossa regeneração. Algumas luzinhas modestas já estão acendendo em nosso querido planeta Terra e nos sentimos aliviados porque sabemos que Jesus está no leme desta nave e também sabemos que o bem contamina. Com o esforço de cada um de nós, abriremos juntos, de mãos dadas, mais caminhos de luz, formados pela soma de nossas humildes chaminhas, pertinho umas das outras, propagando-se a pequeninos passos, porém firmes e resolutos.
Agradeçamos ao Mestre, a Deus, a existência destes técnicos do sopro a nos curar e a nos inspirar.

Maria Lúcia Garbini

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

Imagem do livro mencionado