quarta-feira, 5 de maio de 2021

Fé, esperança e caridade


Se tivessem a fé de um grão de mostarda, transportariam montanhas. - Jesus

Tema recorrente dentro da Doutrina espírita, mas sempre vale a pena conversar um pouco mais, pois nossa evolução depende muito desses três ensinamentos.
Nas nossas preces sempre pedimos a Deus ‘dai-nos a fé’, assim ficamos aqui pensando sobre essa nossa colocação de muitas vezes pedir fé.
Fé, vem do latim, que significa firme opinião de que algo é verdade, sem a necessidade de prova ou um critério objetivo.
Esperança, um estado de espírito que acompanha a fé. Elas são amigas inseparáveis.
Fé e esperança podem ser comparadas ao Sol e à lua. A lua não tem luz própria, mas usa da luz do Sol para brilhar. Assim a esperança depende da fé para se estabelecer em nossas vidas.
A fé na doutrina espírita diferencia-se um pouco dos demais segmentos religiosos, pois ela se baseia dentro de um estudo criterioso, ou pelo menos deveria ser assim, nos dando uma esperança para dias melhores, seja na matéria ou na vida espiritual, dentro do conhecimento das imutáveis Leis de Deus e de nossas ações positivas, éticas e construtivas. Ter esperança na verdadeira justiça e não na justiça humana que em muitas vezes está adequada a interesses e épocas. Precisamos desenvolver a esperança do justo, daquele que procurou fazer de seus pensamentos, palavra e atos, provas de verdadeira caridade, trabalho e mudanças íntimas profundas.
Justamente a fé e a esperança nos fazem lembrar da frase de Chico, quando ele dizia, isso vai passar... Quando ele nos convida a ter paciência, tolerância e força de vontade, para resistir aos problemas que aparecem, pois são como tudo nessa vida, temporário.
Como alguém pode dizer que uma tormenta ou uma alegria vai passar? Porque está balizada na fé em Deus e na esperança de suas Leis. Pois a única alegria que nunca vai passar será aquela que tem como base a caridade, pois essa é a alegria de servir. Precisamos desenvolver a caridade no olhar, no falar, no pensar, nas ações e tudo aqui que venha enobrecer o homem.
Assim, dentro da fé profunda e da esperança ativa, construiremos o maior de todos os sentimentos do homem de bem, a caridade, na sua mais profunda expressão de amor e dedicação ao próximo.
Caridade, como nos ensina Paulo, é a maior de todas as virtudes do espírito; fé e esperança são sentimentos nobres que devem e precisam ser cultivados, mas a que vai calar profundamente dentro de nós é a caridade. A fé nos faz acreditar, a esperança nos leva a esperar e a Caridade nos faz agir.
Caridade também chamada de Amor. Precisamos entender que o exercício da Caridade realiza no íntimo do ser profundas mudanças que nos conduzem à fé, consequentemente à esperança, pois podemos ver os frutos dessa luta incessante.
Hoje passamos momentos difíceis, mas na época de Jesus as coisas também não eram fáceis. O nosso grande problema está na nossa necessidade de exaltar nosso ego. Muito difícil em nossas atividades, decisões e comportamento, aniquilar ou pelo menos reduzir nossas vaidades, portanto, nosso orgulho. Mas hoje muitos companheiros de jornada enfrentam grandes dores, problemas de saúde, financeiro, entre outros, e nós precisamos nessa hora realizar tudo aquilo que está ao nosso alcance e quem sabe ir mais além. Tudo segue o rumo preparado por Deus; devemos confiar, seguir e agir no caminho do bem. Por isso disse Jesus: A minha paz vos dou, a minha paz vou deixo, mas não a paz do mundo...
Lembre-se sempre que na espiritualidade temos muitos irmãos torcendo por nós e nos ajudando, por isso devemos cultivar a fé e a esperança, mas nunca a fé cega. Também vamos sempre trabalhar pela fé e com a caridade.
Precisamos sempre fazer com que as nossas ações sejam marcadas pela caridade pura. Essa Caridade estará sempre baseada na fé e na esperança que não morre jamais.

Wagner Ideali

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

O respeito pela vida.


O respeito pela vida abrange o sentimento de alta consideração por tudo quanto existe.
Não apenas se detém na pessoa, mas em todas as expressões da natureza.
Quando não existe essa manifestação, os valores éticos se enfraquecem e todos os anseios superiores perdem a significação.
A criatura humana, impulsionada por ilusões da conquista do sucesso aparente, tem se esquecido disso, sem se dar conta da gravidade de tal atitude.
O egoísmo tem controlado os sentimentos, impondo o seu interesse, em detrimento de todos os valores mais dignos.
Os membros da sociedade têm sido separados lamentavelmente, dividindo-se em classes medidas pelos recursos sociais, econômicos, porém, nunca os morais.
Surge, então, um inevitável abismo entre os seres. Reações de animosidade se convertem em ódios tolos, abrindo campo para as batalhas da violência doméstica e urbana.
Quando mais intensos, se apresentam como atos de terrorismo e guerras odientas.
Alguns acreditam que, possuindo dinheiro e desfrutando de projeção política ou social, serão capazes de conseguir afeição e companheirismo. Amargo engano.
Afeto e amizade não se compram, nem tampouco se impõem. Alguns se deixam seduzir por esses recursos transitórios.
Iludem-se pensando que a criatura pode ser identificada pelo que possui e não pelo que realmente é.
Todas essas fantasias, no entanto, são passageiras, porque as riquezas trocam de mãos rapidamente.
A beleza e o poder não enfeitam as mesmas faces por longos anos.
Tocadas pela brisa do tempo, elas desaparecem a olhos vistos, e cedem lugar à verdadeira essência dos seres.
Ninguém consegue ser feliz individualmente no deserto que cria para si mesmo ou numa ilha isolada da convivência social.
Tentando ignorar essa verdade, muitos se valem de subterfúgios infelizes. Buscam no álcool, nas drogas químicas, na baixeza emocional e sexual, a fuga da solidão e do desconforto em que vivem.
Esse é outro equívoco que conduz a tragédias ainda mais dolorosas. A vida só se faz digna e próspera, quando se estrutura na pedra fundamental do respeito.
O respeito pela vida eleva o padrão de conduta, dignificando aqueles a quem é direcionado e elevando moralmente quem assim se comporta.
A honestidade, por sua vez, indispensável no sucesso dos relacionamentos humanos, proporciona confiança e bem-estar aos seres.

* * *

Elaboremos uma lista de desafios íntimos que nos possam conduzir a situações embaraçosas.
Trabalhemos item a item, cada dia, experimentando as alegrias que decorrem do respeito pela vida.
Redescobriremos o amor e a satisfação de repartir e de compartilhar os júbilos com o próximo.
Constataremos o resultado decorrente da renovação íntima que nos dispomos realizar.
Respeitando a vida, passaremos a ser respeitados e estimados por todas as expressões dela própria.
Notaremos em nós mesmos a indescritível satisfação de estar em paz com a própria consciência.
Lembremos: a vida é sublime concessão de Deus, que não pode ser desconsiderada, por quem quer que seja.

Redação do Momento Espírita.

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sexta-feira, 2 de abril de 2021

A navalha de Occam


É fácil escrever difícil. Basta colocar no papel as ideias que surgem no bestunto, ainda que, não raro, desandem em destemperos mentais.
Difícil é escrever fácil. Exige demorada e árdua elaboração para tornar a leitura elegante, atraente e objetiva, sem impor prodígios de concentração e entendimento.
Trata-se de uma gentileza que todo autor esclarecido deve ao leitor que se dispõe a examinar suas criações. O texto que exige cuidadosa interpretação é mais charada do que literatura. Fica por conta da capacidade de quem lê, no empenho em orientar-se por labirintos tortuosos, fruto dos devaneios do autor.
Jesus dizia que a verdade está ao alcance dos simples.
Os doutos e entendidos costumam sofrer uma intoxicação intelectual que oblitera o bom senso e os leva a imaginar que tortuosidade e complexidade são sinônimos de cultura e saber.
A propósito vale lembrar Guilherme de Occam (1285-1349), notável teólogo e filósofo inglês (nascido em Occam, nos arredores de Londres). Ingressou bem jovem na ordem franciscana. Estudou e lecionou na gloriosa universidade de Oxford.
Inteligente e lúcido estimava a simplicidade na exposição de suas ideias. Complexidades ou conjecturas, apenas se absolutamente necessárias.
Adotou um princípio que ficaria conhecido como a navalha de Occam, definindo o empenho em retirar de um pensamento ou de uma tese acessórios e complicações desnecessários, louvando-se no bom senso.
Se a aplicássemos em textos herméticos e obscuros dos filósofos que fazem a história das contradições do pensamento humano, seria uma “carnificina”. Pouco sobraria.

***

Nem sempre Occam conseguiu usar sua navalha.
Aconteceu particularmente em relação à existência de Deus, assunto que preferia não abordar. Não a negava, mas considerava que, devido à transcendência do tema, seria impossível conjeturar sobre o Criador sem recorrer a argumentos complexos, de difícil entendimento.
Os Espíritos que orientaram a codificação da Doutrina Espírita ensinaram diferente. Dotados de notável capacidade de síntese, própria da sabedoria autêntica, demonstraram que é possível passar a navalha de Occam em lucubrações complexas e reduzir a argumentação em favor da existência de Deus à sua expressão mais singela.
Isso acontece na questão número quatro, em O Livro dos Espíritos.

Pergunta Kardec:

Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

Resposta:

Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.

Comenta Kardec:

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Simplíssimo! Se o Universo é um efeito inteligente, tão superior ao nosso entendimento que seus segredos são inabordáveis, forçosamente tem um autor infinitamente inteligente – Deus.
A partir dessa ideia o difícil é provar que Deus não existe. Teríamos que explicar o efeito sem causa, a criação sem um Criador.
Quaisquer argumentos em favor desta tese ingrata seriam facilmente eliminados pelo próprio Occam, usando a navalha do bom senso.

Richard Simonetti

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sexta-feira, 19 de março de 2021

A essência da verdadeira beleza


Lucinha saiu de seu quarto correndo e adentrou-se ao banheiro onde ficou por horas em frente ao espelho. Iria se encontrar com o seu crush1 e queria impressioná-lo.
Além do encontro marcado, precisava também aproveitar o momento para tirar novos selfies2. Afinal, toda aquela atividade de maquiagem, cabelo, limpeza de pele, entre outras, precisava ser compartilhado em suas redes sociais. Da forma como estava linda, certamente ganharia alguns likes3 de seus amigos e seguidores.
Concluída toda aquela etapa, pegou o celular e começou a navegar pelas redes sociais. “Se estou linda e maravilhosa, como estarão meus close friends4 agora?” – pensou antes de publicar as suas fotos.
A primeira imagem que viu foi de uma amiga de “olhos claros e pele de maçã”, descrevendo-a assim, com uma admiração indignada. “Que inveja” – pensou – “ela arrasou”, concluiu.
Deslizando o indicador na tela do telefone, chegou ao perfil de outra amiga de uma “beleza negra incrível e um corpo todo malhado” – e já com o humor alterado, exclamou em voz alta, acrescentando: -“assim não dá!”.
Por último, abriu outro perfil e viu três amigas juntas, preparadas para uma festa; “cada uma mais deslumbrante que a outra. Chega!” – exclamou mais uma vez, totalmente aborrecida com as comparações infelizes enxertadas pela percepção míope de si mesma.
Do entusiasmo explosivo à depressão abrupta, olhou novamente para o espelho e disse: – “Nossa, estou horrível! Não vou mais a lugar algum!” Batendo a porta do banheiro se enfurnou no quarto de onde só voltou a sair no dia seguinte.

* * *

Em um mundo onde as redes sociais ganharam um espaço significativo na mente de muitos, temas como a beleza, a riqueza e a ostentação, entre tantos, parecem catalisar uma corrida desenfreada entre aqueles que comungam com esses valores.
Atendo-se ao primeiro, a beleza, rostos esculpidos em maquiagens e adornos se equilibram em corpos em movimento cuja dinâmica, muitas vezes, transcende o limite entre o normal e o amoral, levando a derrocadas exposições desnecessárias do íntimo humano.
No emaranhado de imagens da internet que transitam da simples naturalidade até a vaidade e o orgulho, pode-se então levantar a questão de onde está a essência da verdadeira beleza.
Evoluindo por séculos, o ser humano vem perdendo aos poucos a rudeza dos traços, a animalidade da expressão e a crueza do olhar (1) percebidas em registros preservados que datam do alvorecer de nossa humanidade.
Deixando para trás instintos ríspidos e avançando em valores morais mais depurados, o homem vem refletindo em seu corpo material, como envoltório externo, a evolução do espírito após diversas encarnações, tornando-se uma criatura cada vez mais harmoniosa em seus traços físicos.
Considerando que em nosso plano terrestre convivemos com diversos níveis de espíritos que vão desde a condição de irmãos menos favorecidos na senda do bem até aqueles mais evoluídos dentro de uma faixa pertinente ao nosso mundo de expiações e provas, encontramos aqui uma diversidade de faces que nos envolvem ainda em ares que vão do assombro à graça.
Neste contexto, cada um, em sua individualidade, ostenta uma beleza própria do ser, independente da perspectiva e do modelo social adotado. Alguns, mesmo detentores de curvas menos harmônicas em seus rostos e corpos, transmitem um carisma, uma beleza e um magnetismo inexplicáveis. Outros, mesmo levando consigo desenhos, teoricamente, perfeitos, exalam uma repulsa sem razão, possuindo apenas uma beleza plástica (1).
Uma vez aceitas estas argumentações, firmadas na razão e na lei do progresso, conclui-se que a essência da verdadeira beleza está na pureza da alma. Quanto mais o ser humano se eleva em suas condições morais, tanto maior será a beleza angélica (1) refletida em seu corpo físico.
Logo, ainda em nossa condição de aprendizes dos valores morais do Evangelho deixado por Jesus, busquemos no amor e na caridade refletir a beleza sublime dos anjos de luz em nossos atos e ações. Esta é, de fato, a essência da verdadeira beleza que devemos perceber no próximo e em nós mesmos.

Referências Bibliográficas:

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Teoria da Beleza. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2016. 2 ed.

Notas do Autor:

Termos usualmente empregado pelo público jovem foi transcrito no texto, quais sejam:

1 indica uma paquera, um namoro, um flerte;

2 foto tirada de si mesmo;

3 indica que uma postagem em uma rede social foi apreciada; e

4 do inglês, usado em rede sociais para indicar amigos próximos.


Márcio Martins da Silva Costa

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