quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Enquanto brilhe o Sol


Há dias em que tudo parece sombreado, sem possibilidade de luz…
Programações cuidadosas tornam-se mais difíceis de serem realizadas, esperanças sustentadas em todos momentos com alegria tornam-se mais distantes, os compromissos habituais parecem enfadonhos e inúteis, ao tempo em que uma onda de pessimismo toma conta dos nossos ideais.
Nesta quarentena longa, que se vem arrastando com vários ritmos e definições, tem havido aturdimento em muitas mentes, gerando grandes conflitos nos relacionamentos, afastando os indivíduos uns dos outros, produzindo tédio e ansiedade, assim como outros conflitos emocionais em razão da falta desse hábito de convivência.
Ideias estapafúrdias, nascidas nas fugas psicológicas da realidade, anunciam prazeres que exaurem e atentados contra a dignidade, como se fosse uma campanha bem dirigida contra a ordem, o equilíbrio e o dever, dando a impressão que essas são manifestações tabus que devem desaparecer da sociedade.
Nesse báratro perde-se o discernimento ante o que é ou não salutar, porque as filosofias existenciais e a política pervertida somente trabalham em favor dos seus interesses mesquinhos, pretendendo reduzir o seu humano contemporâneo ao indivíduo grosseiro e primitivo, por cujas experiências antropológicas transitou com êxito.
Campanhas sistemáticas muito bem urdidas trabalham contra a fé religiosa de qualquer espécie, como se isso resolvesse os graves problemas existenciais nas suas expressões mais significativas.
A educação, que deveria ser a base da construção do mundo novo, por ser o alicerce de glorificação da criatura humana, experimenta a banalização e o desprezo, porque, quanto menos educado (e disciplinado um povo), melhor para os dominadores de ocasião implantarem os seus regimes brutais e esmagadores das populações que permanecerão na miséria social e econômica.
Nada obstante, se arregimentam legiões enlouquecidas do mundo espiritual inferior que invadem o planeta ansiosas para transformar a abençoada Gaia em um núcleo de perversão, de crimes tornados legais pela desventura dos partidos políticos.
Não será esta a primeira vez que ocorrerá. Periodicamente o planeta vê-se assaltado pelas guerras e desvarios, tudo transformado em sombras e desencanto, mas subitamente raia o Sol da liberdade, dos direitos humanos, das democracias, dos valores éticos e Deus abençoa a humanidade, envolvendo-a em conquistas da beleza e da paz.
Renasça em nossos corações a esperança, porquanto todos fomos criados para a plenitude.

Divaldo Franco

Imagem ilustrativa

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Fraternidade sempre!

 

Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. (Mateus 7: 1,2)

Encontramos no dicionário da língua portuguesa, entre outras definições para a palavra fraternidade, as que seguem: Amor ou afeto em relação ao próximo; Boa convivência ou harmonia entre as pessoas, o que nos leva a deduzir que ser fraterno é antes de tudo buscar o bom convívio, a paz e a harmonia em nossas relações com o nosso próximo, no contexto em que a Soberana Sabedoria do Universo nos situou por misericórdia.
Quando alcançamos a bênção de compreender com a Doutrina Espírita que temos um passado de vidas anteriores à presente, em que nem sempre pautamos nossas relações com o nosso irmão de caminhada nos preceitos do Evangelho do nosso Mestre e Guia, que é Jesus de Nazaré, isso nos faz entender o porquê, quase sempre, nossas experiências e desafios de hoje causam-nos tantas dificuldades, dores e sofrimentos.
Mas há sempre uma porta aberta para nos libertar na busca de transformar os obstáculos de hoje em bênçãos para o amanhã com a Lei Divina do Trabalho, pela qual nos é permitido refazer em pensamentos, palavras e atos, uma imprescindível reforma íntima, pois que para isto, recursos não nos faltam em momento algum.
Preciso se faz que empreguemos os nossos melhores recursos intelectuais, morais e espirituais, movidos por uma vontade verdadeira para seguir com disciplina os exemplos daquele que é para nós “O Caminho a verdade e a Vida”, que nos impulsionaram na direção da caridade e do respeito ao nosso próximo, que conosco convive, o que nem sempre é tão simples. Somos naturalmente convidados a entender que precisamos ser os braços multiplicados do Amigo Maior da Humanidade e, nessas condições, é imprescindível nos movimentemos na execução dos nossos programas na fraternidade legítima.
Isto porque, nem todos os membros de nossa convivência social estão em condições de compreender conceitos tão fora de uso pela maioria dos indivíduos que preferem seguir os modismos ditados pelos padrões materialistas do mundo de hoje, onde os mais desrespeitosos, indecentes e atrevidos conquistam espaços e, até mesmo, a atenção e a inveja dos incautos que chegam ao cúmulo de admirar-lhes a “esperteza”.
É lastimável essa visão de tantos quanto ainda não despertaram para o fato de que a criminalidade em qualquer nível não tem outra consequência que não seja a desgraça causada pela infidelidade aos ensinamentos do Cristo que resumiu as Leis e os Profetas em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, e que mais tarde esses supostos “espertos” estarão às voltas com a realidade da Lei de Causa e Efeito, que lhes chamarão à prestação de contas, fazendo-os entender pela dor, que o crime jamais compensará.
Essa realidade está à vista de quem tiver olhos de ver as prisões lotadas desses irmãos, tolhidos em uma das maiores bênçãos que desfrutamos na vida, a liberdade de ir e vir, causada justamente pelas tais atitudes de esperteza, desrespeito etc., onde aprendem de forma dura, triste e lamentável que a honestidade, o respeito e a paz têm para todo indivíduo um valor inestimável.
O pior de tudo isso, é que não somente sofre o indivíduo encarcerado, mas também toda sua família, amigos e toda sociedade, pois, ninguém há que possa ser beneficiado em termos reais com a desgraça de um irmão em humanidade, um filho do mesmo Pai de todos nós, levado a infelicidade de uma vida de presidiário.
O espiritismo nos ensina a não julgar ninguém, entregar a Deus o justo direito do julgamento que só ELE pode avaliar com exatidão o melhor para cada filho seu. Cabe-nos orar, vibrar e a fazer ao outro o que gostaríamos que os outros nos fizessem em situações delicadas como a vida nas penitenciárias.

PRISÃO

“Mentalizemos a criatura recolhida à prisão para relacionar-lhes os aflitivos problemas.
Quase sempre chora sem lágrimas sob o azorrague do remorso a zurzir-lhe o espírito, arrependendo-se, tardiamente, da culpa que poderia ter evitado a preço de complacência.
Dia e noite, o relógio assinala-lhe os instantes amargos que se acumulam em cristalizações de angústia que, frequentemente, raiam no desespero.
Padece doloroso banimento social, em compulsória distância daqueles que mais ama….”(1)

Francisco Rebouças

Referência:
Xavier, Francisco Cândido, pelo espírito Emmanuel. Livro: Alvorada do Reino – Cap. 20 Prisão.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Nascer de novo


Existe um pensamento predominante entre os educadores de que as crianças são como uma tábua rasa ou folha em branco e que a relação com o meio constrói as estruturas de pensamento e do ser da criança. Nos relacionamentos sociais, no que a criança vivencia, está a base de seu caráter. Na revista Nova Escola[1] encontramos o eixo basilar deste pensamento. Ele provém do pensador inglês John Locke. No artigo de Márcio Ferrari, escrito na referida revista, ele descreve: “um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tábula rasa, expressão latina análoga à ideia de uma tela em branco”.
São possíveis várias linhas de pensamento sobre esta posição filosófica. Contudo, enfocaremos a criança como um ser humano que está em uma jornada de aprendizado através de um novo nascimento. Jesus nos ensina sobre este nascer de novo no encontro com Nicodemos. Respeitosamente, Nicodemos pergunta a Jesus: “...que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus?” Jesus com seu poder de síntese, nos oferece esta profunda frase como resposta: “Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo”.[2]
É uma referência clara à reencarnação, porém, nós temos no íntimo que a reencarnação é real? Ou a reencarnação é uma ideia sem grande importância para os dias atuais? Reflitamos! Quem nos alerta sobre a importância da reencarnação é Jesus. Nascer de novo está como condição para encontrar o reino de Deus.
Podem nos pairar algumas dúvidas: Como existem outras vidas, se não me lembro nada? Não há comprovação sobre isso: se já reencarnamos. Esta pode ser uma resposta racional quando pensamos em vidas sucessivas. Em contraponto a estas dúvidas, existem diversos estudos, livros sobre lembranças de outras vidas, mas mesmo assim as questões podem persistir e a reencarnação não se tornar algo concreto que se possa observar sua veracidade no cotidiano. Assim, no íntimo podem surgir dúvidas sobre outras existências, mesmo para os espíritas, que podem minimizar a importância do processo reencarnatório para evoluirmos.
Será que os espíritas, de certa forma ainda estão como Nicodemos? Um fariseu de bom coração, inteligente, mas ainda sem conseguir compreender a lei do nascer e renascer. Jesus respondeu para Nicodemos assim, ante sua dúvida: “Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis se vos falar das coisas celestiais?”[3]
O saber sobre as múltiplas vidas é pôr em prática no íntimo e nas ações exteriores a compreensão da lei reencarnatória. Para tanto, é importante empreender o nosso melhor no ambiente humano que nascemos. O berço é o melhor lugar, ele molda-se às necessidades da evolução do Espírito.
“De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós, quando na reencarnação, honrá-lo com trabalho digno de restauração, melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele fomos trazidos ou atraídos, segundo os problemas da regeneração ou da mordomia de que carecemos na recomposição de nosso destino, perante o futuro.” (Emmanuel/F. C. Xavier: Pensamento e Vida. Cap. 11, p. 49. 19ª edição, FEB.)
A morada na Terra foi o lugar que escolhemos pela lei da sintonia, seja esta por sentimentos bons, ruins ou até pela nossa feição psicológica. O que temos no interior do ser se exterioriza a todo momento e atraímos aqueles com mesmo padrão vibrátil; é a parte psicológica a influenciar o renascimento. Emmanuel nos explica com propriedade:

“A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglutinação dos Espíritos que se afinam nas mes­mas atividades e inclinações.
Um grande artista ou um herói preemi­nente podem nascer em esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a ma­nifestação do gênio pacientemente elaborado no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco trabalho criativo. Todavia, na senda habitual, o templo doméstico reúne aqueles que se retratam uns nos outros.” (Emmanuel/F. C. Xavier: Pensamento e Vida. Cap. 12, p. 52. 19ª edição, FEB.)

A nossa vida, como um todo, está entrelaçada de renascimentos. Não temos ideia de quanto o Espírito aferiu de aprendizado nas oportunidades do nascer novamente. Portanto, não temos tempo a perder, viver bem é harmonizar-se com o criador no trabalho diário de fraternidade e compreensão.
Por outro lado, não seria importante sabermos o passado reencarnatório, para bem encaminharmos o que fazemos no hoje? A título de reflexão, imaginemos que nesse instante, todas as lembranças, sentimentos bons, ruins, ações boas, destrutivas, que cometemos, surgissem na nossa tela mental. Como seria? Aguentaríamos equilibrar tantas informações a embaraçar o discernimento? Acredito que não teríamos maturidade para compreender se toda a estrada que percorremos nos diversos renascimentos brotasse toda de uma vez. Não conseguiríamos equilíbrio com o turbilhão de ideias, remorsos, perdas, acertos, ganâncias, encontros, desencontros a pulularem na mente. Não lembrar concretamente certos fatos também é imperioso para não trazermos o erro do passado para interferir no presente. Prejudicaria o propósito reencarnatório de harmonização.
O esquecimento é uma forma de permanecermos mais centrados, em harmonia interior com os propósitos de reajuste. Deus é sábio. Portanto, não somos uma tábua em branco, uma folha de papel para se escrever. O ser humano é muito mais complexo, temos uma verdadeira biblioteca no interior da mente. Muitas vidas e muitos aprendizados.
Por outro olhar, o renascer não acontece somente em uma nova vida. Quantos momentos passamos em que a estrada muda, se transforma em grandes desafios existenciais. Um trauma, uma dor profunda, afastamentos, encontros, reencontros, muitas vezes significam mudanças tão impactantes que poderemos dizer, metaforicamente, que foi um nascer de novo. Quem poderá dizer que não foi um renascer para Saulo encontrar Jesus no caminho de Damasco? Ele caiu vergado, cego, pela força poderosa do amor de Jesus. A proposta de renovação do mestre do amor ainda nos ofusca? Para Saulo, Jesus ofereceu a compreensão de Ananias que, com afeto, retirou a crosta dos seus olhos, fazendo-o ver novamente. Quem sabe, para nós, Jesus tenha ofertado o Espiritismo a nos banhar os olhos, para nos fazer enxergar as potencialidades de transformação que possuímos?

Nota da Redação:

O texto acima foi contemplado no concurso A Doutrina Explica – 2020-2021, promovido pelo Jornal Brasília Espírita (www.atualpa.org.br), com o objetivo de sensibilizar para a leitura, o uso da biblioteca espírita e levar a conhecer alguma metodologia de pesquisa para apoiar o estudo doutrinário, além de incentivar os participantes para o potencial de racionalização e explicação da realidade social e espiritual pela Doutrina Espírita.

[1] Revista Nova Escola - 01 de Outubro de 2008 – ou pelo site:
[2] Humberto de Campos/Fco. C. Xavier: Boa Nova. Cap. 14, p. 115. 3ª edição, FEB.
[3] Novo Testamento - S. João, 3:12

Gustavo Henrique de Lucena

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