segunda-feira, 13 de junho de 2022

Como enfrentar as “culpas” e desculpas?


A percepção da “culpa” tem sido objeto de investigações e influências no amplo debate temático da Doutrina dos Espíritos e das ciências psíquicas. Sabe-se que são intermináveis e graves as consequências da conservação da “culpa” em nossa vida, podendo alcançar indescritíveis destroços emocionais, psicológicos, comportamentais e morais.
A famosa “culpa” se consubstancia numa sensação de angústia adquirida após reavaliação de um ato tido como reprovável por nós mesmos, ou seja, quando transgredimos as normas da nossa consciência moral.
Sob o ponto de vista religioso, a “culpa” advém na transgressão de algo “proibido” ou de uma norma de fé. A sanção religiosa tange para a reprimenda e condenações punitivas. A sinistra “culpa” religiosa significa um estado psicológico, existencial e subjetivo, que indica a busca de expiação de faltas ante o “sagrado” como parte da própria autoiluminação como experiência sectária. Frequentemente a religião trata a “culpa” como um sentimento imprescindível à contrição e a melhoria pessoal do infrator, pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer como “pecaminoso” o ato cometido.
Essa interpretação religiosa não se compatibiliza com as propostas espíritas, até porque a “culpa” é uma das percepções psíquicas que não se deve nutrir, por ser uma espécie de mal-estar estéril, uma inútil insatisfação íntima. Em verdade, quando nos culpamos tolhemos todo o potencial de nos manifestar com segurança perante a vida.
A “culpa” tem perigosas matrizes nas exigências de autoperfeição que nos constrange a curvar-nos diante de alguns atos equivocados. Tal estado psicoemocional provoca em nossa consciência alguns sentimentos prejudiciais tais como o autojulgamento, a autocondenação e a autopunição. Importa libertar-nos das lamentações, dos processos psicológicos de transferência da “culpa”, da autocomiseração, das condutas autopunitivas e assumirmos com calma a responsabilidade pelos nossos próprios atos.
É verdade! O comportamento autopunitivo causa gravíssimas doenças emocionais, notadamente a depressão. Atualmente a depressão é um colossal drama humano. “Eu não mereço ser feliz”, “eu não nasci para ser amado”, “ninguém gosta de mim” etc. Aqui se manifesta um comportamento autopunitivo de complicado tratamento psicológico e espiritual. Neste caso a “culpa” está punindo e aprisionando. O culpado está acomodado na queixa e na lamentação (pela “culpa”). Mais amadurecido psicologicamente poderia avançar pelo caminho do auto perdão e capacitaria abrir mais o coração para a vida.
Nas patologias depressivas, muitas vezes há muito ódio guardado no coração. Muitas vezes oscilamos entre atos que geram a artimanha do “desculpismo” e ações que determinam a “culpa”. Dependendo de como lidamos com tais desafios, a “culpa” permanece mais forte, produzindo situações que embaraçam o estado psíquico e emocional, razão pela qual não nos podemos exigir perfeição, inobstante, devemos fazer esforços contínuos de autoaperfeiçoamento, afastando do “desculpismo” que nada mais é do que uma porta de escape para a fuga das próprias obrigações.
Sim! É preciso que nos perdoemos. O autoperdão ilumina a consciência, predispondo-nos à reparação necessária a fim de realizarmos o bem àqueles a quem fizemos o mal; praticarmos a bondade em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-nos humildes se temos sido orgulhosos, amáveis se temos sido austeros, caridosos se temos sido egoístas, benignos se se temos sido perversos, laboriosos se temos sido ociosos, úteis se temos sido inúteis.
Pensemos o seguinte: nós erramos porque somos humanos ou somos humanos porque erramos? Na verdade, todos acertamos e erramos, não há pessoas perfeitas na Terra. Se fizermos as coisas certas nos regozijemos por isso, porém se erramos sigamos em frente e aprendamos com o erro, pois quando aprendemos com os erros eles se tornam o grande caminho da lição e do crescimento interior. Desta forma fica ilustrado que, se errar é humano, diluir os erros e ter resignação são as alavancas para impulsionar a vida, para prosseguir a marcha nas trilhas do bem, trabalhando e servindo, para reparar os fracassos da caminhada.

Jorge Hessen

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segunda-feira, 30 de maio de 2022

Muitos pedem e não recebem


Com a sabedoria que lhe é peculiar, Emmanuel está sempre nos surpreendendo. Referindo-se a Thiago 4:3: “Pedi e não recebeis, porque pedis mal (...)”, cita as rogativas irrefletidas como as facilidades econômicas, as posições de evidência ou as expressões de poder e autoridade. Em outros casos, comenta, pedimos cessação das lutas purificadoras, as providências descabidas, entre outros pedidos que não levam em conta as necessidades que todos trazemos. Em muitos casos, como comenta, se atendidos, alguns pedidos deslocariam o equilíbrio.
É então que traz a referência de Thiago: “(...) muitos pedem e não recebem, porque pedem mal (...)”. E acrescenta que tais pedintes, por não serem atendidos, partem para acusações e revoltas, abandonando inclusive as preces, esquecendo-se de que o não atendimento é misericórdia de Deus.
No último parágrafo, no entanto, ele conclui: Tais anulações de pedidos não pensados “Impedem que os pedintes vagabundos sejam criminosos, auxiliando-os a preservar a paz de seu próprio futuro”. É que muitos pedidos comprometem o futuro, já que nem sempre temos o panorama completo. Não se assuste com o uso da expressão pedintes vagabundos. A palavra vagabundo significa aquele que perambula sem destino e não tem o sentido pejorativo que normalmente utilizamos.
Estamos sempre aprendendo com Emmanuel. Reflitamos no que pedimos. Podemos estar sendo incoerentes, inconvenientes e, pior, comprometendo nosso futuro. A lição em referência tem o título de Más rogativas e está no livro Trilha de Luz (edição IDE).

Orson Peter Carrara

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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Destino


O que é o destino? Esta palavra tão complexa e ambígua que registra a existência de um ser. Há quem diga que seu destino é muito cruel. Outro diz que está satisfeito! Porém, existem mais pessoas reclamando do que alegando serem felizes. Mas por que é tão inconstante e desigual esse tal destino?
O dicionário o descreve como uma sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade, sorte, fortuna, aquilo que acontecerá a alguém, futuro, fim ou objeto para que se reserve ou designe alguma coisa, aplicação, emprego, lugar onde se dirige alguém ou algo, direção.
A verdade é universal e não está com uma só pessoa. Cada um está em seu estágio de evolução, portanto, somos desiguais.
Como parte integrante do universo, um dia, viemos para o Planeta Terra portando bagagem que, na maioria das vezes, ostenta resquícios de imperfeição, a mais provável, já que estamos num mundo de provas e expiações.
Independente de um fator ou de outro aqui estamos para evoluir, mas pode ocorrer de ficarmos estacionados, sem progresso, por conta de nosso comportamento ocioso ou atitudes reprováveis pela justiça, pela razão, ou ainda, de fatores alheios a nossa vontade, que passam despercebidos aos nossos órgãos sensitivos. E isso vai moldando nosso “destino”.
Todos nós temos vontades e desejos que impulsionam nossa vida para melhor ou pior, e dependendo de nossas preferências, inclusive, pelos prazeres efêmeros, iniciam-se os vícios, dentre eles: da gula, do fumo, das drogas, do sexo em demasia, dos jogos de azar e muitos outros. Às vezes, não damos importância e nem percebemos que eles estão prejudicando nossa saúde, família, conduta social, moral, dentre outras áreas em nossa atual encarnação e posteriores. Certamente, serão meios que vão dar forma ao destino, onde os pensamentos, desejos e ações misturam-se, ofuscando os caminhos da perfeição.
Na natureza tudo se transforma, inclusive, catastroficamente, surgindo mudanças inesperadas que acabam influenciando nossas vidas e, seja como for, teremos que administrá-las. Queiramos ou não, precisamos viver e conviver sempre atentos aos fatos e decisões que tomamos, porque o tempo não para, é a ordem dos acontecimentos, uma sequência de fatos, cujos resultados que colhemos vão alterando o nosso destino, conforme nossas opções.
Em suma, o destino será igual e proporcional as nossas escolhas, ações e decisões, tomadas em todas as existências. E Jesus, com sua máxima “A cada um, segundo suas obras”, foi enfático com tal ensinamento, alertando-nos sobre a construção do nosso destino.

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Questões nº 258 a 273.

João Gubolin

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Não escolha a profissão de seu filho.


Interessante e oportuna a matéria veiculada no Jornal da Cidade do dia 14 de setembro sobre os jovens e as dúvidas sobre a profissão a seguir.
A reportagem locomoveu-me aos tempos de adolescente quando afirmava a todos categoricamente o ideal de ser jogador de futebol. Ao ouvirem minha sentença, muita gente dizia: Ótimo, dá muito dinheiro!
Depois de avançar as fases da vida presenciei o crescimento de alguns primos. Minhas tias, mães desses garotos diziam: Estude, meu filho, para ser médico, pois dá um bom dinheiro!
Mais adiante me deparei com amigos que instruíam os filhos a serem engenheiros. Um deles chegou ao cúmulo de sugerir ao seu pupilo, que ansiava ganhar seu pão diário nas salas de aula, que não se aventurasse a ser professor. Professor? - questionava o colega para logo em seguida bater o seu martelo - Professor ganha pouco, meu filho, deixe essa bobagem de lado, você deve estudar para ser promotor.
Santo capitalismo misturado a intromissão na vida alheia!
Entre a vocação e o desejo do jovem em muitos casos há o dedo dos outros a xeretar em suas decisões. Você deve ser médico, engenheiro, arquiteto, jornalista...
Muitos pais infelizmente querem se realizar nas escolhas dos filhos, esquecendo-se de respeitar suas vocações, aptidões e necessidades.
Podem influenciar negativamente a escolha dos filhos com esse comportamento inadequado e deseducado.
E a cabeça do adolescente fervilha entre as opiniões dos pais e amigos e seu desejo, o que acarreta uma pressão ainda maior no momento crucial de escolher o futuro a trilhar. Recordo-me ainda de garoto que queria ser bailarino. O pai, sujeito com dificuldades em aceitar a opção alheia, esbravejava: Balé é coisa de... Deixa pra lá, é bom não terminar aqui a frase do machista incorrigível.
Fico a pensar:
Onde, então, fica a vocação? Onde fica a nossa realização pessoal que se traduz no objetivo de seguir a profissão sonhada, que nos traz prazer e que nos realizará como seres humanos? Será que importa apenas o status e as moedas que determinada profissão proporcionará?
Portanto, a abordagem não se dirige aos jovens, mas, sim, aos seus pais no intuito de fazer com que reflitam em suas atitudes diante das escolhas de seus filhos. Nem sempre o que nos parece bom o será para o outro. Nesses casos vale sempre lembrar que nossos filhos têm vontade própria e merecem respeito e consideração.
Se queremos, de fato, contribuir para dirimir as dúvidas de nossos filhos no campo profissional a seguir, é importante apoiarmos e oferecermos as ferramentas necessárias para que façam a escolha correta, sejam felizes e possam beneficiar a sociedade com o exercício da vocação que trazem em seu íntimo.
Uma pátria próspera se faz com indivíduos que exercem suas atividades com amor e prazer. Portanto, respeitemos a escolha dos jovens colocando-nos no papel de coadjuvantes e não atores principais, afinal, a vida é deles e cabe a eles decidir os caminhos a percorrer. 

Pensemos nisso.

Wellington Balbo

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