quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Casa Espírita: escola, hospital e templo


O caráter filosófico da Doutrina Espírita fundamenta a fé na razão. Para crer é preciso saber. E para que servem os saberes aos quais a Doutrina Espírita nos dá acesso? Justamente para alicerçar a fé raciocinada, que pode oferecer ao homem um roteiro seguro de bem viver.
No entanto, é importante que associemos aos princípios doutrinários as nossas próprias descobertas, num processo constante de autoconhecimento e autoburilamento. Pois se apenas ouvirmos o que os outros sabem, sem aplicar as lições da Doutrina à vida, estacionaremos no círculo de luz do conhecimento alheio, sem alçar o vôo da verdadeira libertação.
Espiritismo exige estudo. E se ainda não temos no Brasil uma tradição de leitura, como se costuma dizer, cresce a importância do estudo em grupo, na Casa Espírita que, nesse sentido, é literalmente uma escola.
Porém, por mais intelectualizados sejam os conhecimentos filosóficos do Espiritismo, a Casa Espírita é uma escola de almas, e por isso não se detém apenas no saber, mas a partir dele alcança o sentir e o ser. Seu objetivo é educar o Espírito, individualidade imortal. Os conceitos e as informações que divulga são instrumentos facilitadores para a conquista do bem-estar íntimo, proporcionando uma relativa felicidade, possível de se alcançar na própria existência terrena, mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Mas o núcleo espírita, além de escola, é também chamado de hospital, idéia que nos remete a um lugar destinado a tratamento de enfermidades, para a recuperação da saúde. E o que é saúde? Pelo conceito da OMS, não é simples ausência de enfermidade, é mais. É bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista holístico, já se acrescenta a esses três aspectos mais uma instância – a espiritual, não com a marca religiosa, mas como uma potencialidade do ser.
Assim, podemos afirmar que, na Casa Espírita, tem-se o mesmo conceito, ampliado pela certeza da concretude do Espírito. Porque, se o Centro Espírita é um hospital de almas, ao orientá-las no caminho do equilíbrio, cria condições para a conquista do bem-estar psíquico, físico e, conseqüentemente, social. A medicina ali desenvolvida não trata de curas do corpo, mesmo que pela profilaxia do perdão e do despertar da consciência até nos possibilite alcançá-las, através da fé que transforma as matrizes distônicas do Espírito, responsáveis pelos transtornos orgânicos. Porém, as enfermidades da alma são o objeto principal de tratamento.
E quais seriam as grandes enfermidades da alma? Nós as conhecemos. Dentre elas o orgulho, a vaidade, o ciúme, o egoísmo, a inveja e suas máscaras.
A Doutrina Espírita nos oferece as vacinas para que possamos erradicar essas doenças, dando condições ao homem para que conquiste melhor qualidade de vida, não só na existência terrena, como no Mundo Espiritual.
Mas por que também se diz ser a Casa Espírita um templo ou uma casa de oração? A palavra templo é associada à religião, e religião, por sua vez, à igreja. No entanto, Espiritismo não é igreja, isto é, não constitui uma organização hierárquica, com pessoas ungidas para esta ou aquela função; nem se apóia em dogmas e rituais. É religião, do ponto de vista filosófico que, alicerçado na metodologia científica, aponta-nos o caminho da Moral Divina. Através do constante tratamento espiritual a que nos submetemos, na Casa Espírita, descobrimos que ao retomarmos as conexões com a nossa origem - a que chamamos Deus – restabelecemos também as conexões com nós mesmos, com os outros, e temos maiores possibilidades de alcançar o equilíbrio. Para isso é inegável a importância da prece, expressão de religiosidade, como conseqüência da filosofia e da ciência, esses pilares sobre os quais se apóia o caráter moral libertador do Espiritismo.
A Casa Espírita, em relação à prece, oferece ambiente que facilita o recolhimento. Daí, o templo.
Enfim , uma Casa Espírita é sempre um dínamo de amor em ação, caridade que liberta.

Rita Côre

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terça-feira, 6 de setembro de 2022

O bom e o bonzinho


Desde que o mundo é mundo o ser humano tem um objetivo. Alguns tentam conquistar, porém, como é complicado conseguir o equilíbrio acabam por submergir nos exageros.
E o grande objetivo é: ser bom. A maioria das pessoas prefere ser bonzinho, o que venhamos e convenhamos é bem diferente do que ser bom.
Ser bom requer esforço, superação, perseverança, dedicação...
Ser bonzinho requer apenas omissão. Sim, porque o bonzinho nunca diz não, não discorda de ninguém mesmo quando sabe que tem razão, agrada a tudo e a todos, não tem senso crítico e por ai vai.
O bonzinho além de tudo é prepotente e não sabe, porque se julga humilde, mas em realidade ele quer ser unanimidade, quer ser apreciado por todos e busca os elogios incessantemente, em suma, não consegue conviver com críticas, com opiniões contrárias, com diferenças, por isso veste a bondade superficial como um escafandro que lhe protege da verdade.
Nossa sociedade infelizmente está impregnada de bonzinhos; políticos bonzinhos com promessas eleitoreiras para agradar a população, profissionais bonzinhos que preferem não debater, dialogar e até discordar do superior, professores bonzinhos que deixam alunos assinar a lista e se mandar da sala de aula, religiosos bonzinhos que dizem justamente o que os fieis querem ouvir apenas para agradá-los sem se preocupar com a verdade. Mas o pior de tudo é quando os bonzinhos são os pais.
Ser pai ou mãe bonzinho e boazinha é apenas dizer sim ao filho, não repreendê-lo, não orientá-lo, não contrariá-lo. Um perigo!
Talvez seja esse o motivo de mais de 15% de nossas crianças estarem com obesidade infantil, os pais são bonzinhos demais, fazem tudo que o filho quer. E ainda por bondade dos pais nossas crianças passam mais de 5 horas à frente da televisão e distante dos livros.
Por bondade dos pais nossas crianças vivem abarrotadas de brinquedos e carentes de carinho, e por bondade dos pais nossas crianças assistem à programações inúteis que nada acrescentarão a seu desenvolvimento. Tudo culpa do querer ser bonzinho ou boazinha.
Pais bonzinhos acreditam que o filho pode tudo, julgam que seus pupilos são santos e melhores que o filho do vizinho, criam então mini ditadores e depois não sabem como impor limites.
Iremos progredir como nação, como sociedade, quando aprendermos de fato o significado do que é ser bom. O que é ser um bom pai? O que é ser um bom filho? O que é ser um bom profissional, um bom religioso, um bom político?
O que é realmente caridade e por qual razão é ela a salvação de nosso mundo?
São questões que podemos começar a nos perguntar para chegarmos de fato a um consenso de como agir sem descambar aos exageros.
Dizer não mas saber como dizer, discordar mas saber como discordar, impor limites mas saber como impor, orientar mas saber também ouvir são pontos importantes para quem quer alcançar o objetivo de ser Bom e não apenas bonzinho.
Porque ser bom requer trabalho, labuta íntima e humildade para reconhecer que o gosto por ser unanimidade pode por tudo a perder.
Ser bom é dizer não quando preciso, é admoestar quando necessário, é impor limites e ensinar disciplina. Ser bom é discordar com educação.
Ser bonzinho é omissão, ser Bom é ação.
Cabe-nos decidir onde queremos nos encaixar:
Ser bom ou bonzinho?

Wellington Balbo

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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Alegrias tristes


“Sofre hoje o que te falta, adquirindo a paz para amanhã, ao invés de adquirir estranha conquista para agora, que te amargará os dias do porvir.” Joanna de Ângelis

Por paradoxal que possa parecer à primeira vista, existem alegrias tristes… Ajaezadas pelas guirlandas das ilusões e ouropéis, costumam essas “alegrias” prender-nos em calvários de dores inenarráveis.
André Luiz recomenda o exame cuidadoso de nossas alegrias, pois só é verdadeira aquela que também continua sendo alegria mais tarde.

Allan Kardec assevera : (2)

“(…) para que cada qual trabalhe na sua purificação, reprima as más tendências e domine as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas compreender. Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus”.

Parecendo oferecer-nos paradoxos, Delfina de Girardin declara : (3)

“infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro…
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! As provações, credoras impiedosas vos espreitam o repouso ilusório, para vos imergir de súbito na agonia verdadeira da infelicidade, daquela que surpreende a Alma amolentada, pela indiferença e pelo egoísmo”.

Alerta-nos Joanna de Ângelis: (1)

“(…) não te facultes a fixação das ideias que te turbem a lucidez, que te alegrem-entristecendo, dando-te e retirando-te o prazer e ameaçando a tua estrutura emocional, disfarçada nas promessas de prazeres que não fruirás, e, mesmo que os logres, passarão, deixando-te varado de dor, fulminado pelo desencanto ou esmagado pelo arrependimento”.

Conta-nos Erasto (4), discípulo de Paulo, que Santo Agostinho, quando entregue aos maiores excessos, sentiu em sua alma aquela singular vibração que o fez voltar a si e compreender que a felicidade estava alhures, que não nos prazeres enervantes e fugitivos; tornando-se, desde então, um dos mais fortes sustentáculos do Evangelho.

Conclui o Mestre Lionês : (5)

“(…) a humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perdem-se na imensidade. Grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; proletários e potentados são da mesma estatura, e é lamentável que criaturas a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão.

A importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura”.


Referências Bibliográficas:

(1) FRANCO, Divaldo. Vigilância. 2.ed.2002, Salvador: LEAL, cap. 17;
(2) KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.Rio de Janeiro: FEB, 2002, 2ª parte – Capítulo I, item 14;
(3) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. V, item 24;
(4) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2003, cap. I, item 11;
(5) Idem ibidem cap. II, item 5.

Rogério Coelho

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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Desejável paixão


O senhor Felício esteve num programa de televisão em que eram entrevistadas pessoas idosas, convidadas a falar sobre a velhice.
Tinha oitenta e cinco anos. Aparentava sessenta, espirituoso, bem disposto, dono de uma incrível jovialidade.

— Nunca me senti velho — dizia.
— E o corpo? — perguntou o entrevistador.
— Já não tem a mesma vitalidade; não raro, há grilos de saúde, o que é natural. Trata-se de uma máquina.
— Vai se desgastando…
— Exatamente, mas o motor está ótimo, nos dois sentidos: bombeia, incansável e eficientemente o sangue, levando o oxigênio a todas as províncias do corpo sem ratear, e me mantém permanentemente enamorado de encantadora donzela.
— O senhor, na sua idade, apaixonado por uma jovem?! — admirou-se o entrevistador.
— Sim, meu filho. Apaixonadíssimo!
— E podemos conhecer essa pessoa maravilhosa, que faz seu encanto?
— Claro, claro, mesmo porque todos devem fazer o mesmo, em favor de uma existência feliz.

Sorridente, o senhor Felício explicou:

— Sou apaixonado pela vida. Adoro viver. Intimamente sinto-me eterno jovem. Nunca experimentei o peso dos anos ou a angústia de envelhecer. Cada dia é uma aventura que aproveito integralmente.
— Qual a fórmula mágica para essa perene juventude emocional, essa esfuziante alegria? Nossos telespectadores vão adorar sua orientação.
— Elementar, meu filho. Toda manhã, ao fazer a barba, converso comigo mesmo ao espelho e afirmo: “Felício, você tem duas alternativas neste dia: ser feliz ou infeliz. A escolha é sua”.
— Escolhe ser feliz?
— Evidente! Seria um tolo se não o fizesse. Afinal, a opção é sempre nossa.

E ante o maravilhado entrevistador:

— Simples, não?

***

O Senhor Felício é dessas raras pessoas conscientes de que a felicidade não é uma estação na viagem da existência humana. Felicidade é uma maneira de viajar.
E não está subordinada à satisfação de nossos desejos, diante da Vida, mas ao desejo de descobrir o que ela espera de nós. A propósito desse tema tão caro a todos nós, alguns pensamentos interessantes:

Os homens que procuram a felicidade são como bêbedos que não conseguem encontrar a própria casa, mas sabem que tem uma. (Voltaire)

Dá-se com a felicidade o que se dá com os relógios: os menos complicados são os que enguiçam menos. (Chamfort)

Encher a hora – isso é que é a felicidade. (Emerson)

Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. (Érico Veríssimo)

Por último, o notável poema, Velho Tema, de Vicente de Carvalho, que nos oferece a mais perfeita explicação sobre a escassez de felicidade entre os homens:

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Richard Simonetti

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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Os pais, os jovens, as drogas...


Uma das grandes preocupações do mundo contemporâneo é pertinente as drogas, ou, melhor dizendo, o envolvimento dos jovens, nossos filhos, com elas. E quando o fato ocorre em uma família não raro os pais perguntam-se: Onde foi que eu errei? E mil dúvidas perambulam pela cabeça de toda a família em busca de uma alternativa para a resolução de tão intrincado desafio. E fica outra pergunta: O que eu poderia ter feito para que isso não acontecesse?
Obviamente que não há uma receita para isto, porquanto os filhos são criaturas dotadas de livre arbítrio, e também não podemos e nem temos condições de vigiá-los 24 horas por dia para que não se envolvam com o mundo dos entorpecentes. E o que fazer? O ideal é sempre antecipar. Dialogar muito com os filhos, interagir, participar de suas vidas e procurar identificar suas tendências. Enfim, aproximar-se do filho, um contato de alma para alma. Esta é, aliás, uma das grandes missões da paternidade ou maternidade. Orientar é a missão. Mas apenas o diálogo resolve, perguntarão alguns? Obvio que não daremos para tão complicada situação uma resposta simplista, de modo a fazer pensar que apenas dialogando iremos livrar nossos filhos das drogas. Todavia, consideremos que o diálogo e a participação na vida desses jovens é fundamental para aproximá-los de nós, abrindo caminhos para que nossos ensinamentos sejam melhor assimilados por eles. Vale ainda destacar que muitos jovens adentram o universo do álcool, por exemplo, bebericando aos 10, 11 anos nos copos de familiares que permitem que tal coisa ocorra. Os familiares dizem apenas: "Sim, você pode tomar um gole de meu copo!" Não há a conversa, apenas a permissividade. Tudo pode, tudo vale! E a criança, de natureza curiosa, quer mesmo experimentar. Mas, como fica se essa criança tornar-se um adulto viciado? Muitos casos assim, de jovens bebericando em copos de familiares acabam dando enorme dor de cabeça não apenas aos pais, mas, à toda sociedade. Observemos. Ora, se sabemos que essas crianças ou jovens podem aderir ás drogas, sejam elas dos tipos que forem, como podemos permitir que convivam desde idade infantil com o álcool que, diga-se de passagem, não deixa de ser uma droga? Deixo para sugestão ao leitor interessante experiência narrada por um amigo. Diz ele: "Tenho dois filhos um menino de 12 e uma menina de 14 anos e todos os domingos realizamos a reunião da família. Nessas conversas domingueiras estamos nos conhecendo mais, eu a eles; eles a mim. Você perguntará: Mas o que isso tem a ver com o tema drogas? Respondo que tem tudo a ver, porquanto - segundo meu amigo - essas reuniões estão desdobrando-se de forma tão agradável que, naturalmente, entra-se na abordagem de diversos assuntos da atualidade, tais como: sexo, drogas, consumismo e por ai vai... "Estamos tendo - diz ele - a oportunidade do diálogo. Estamos nos conhecendo melhor. Abrimos as portas de nossa relação para o diálogo. Pode ser que um deles envolva-se com drogas ou coisas ilícitas, todavia estamos pela ferramenta do diálogo mais próximos uns dos outros".
Que tal experimentarmos a sugestão do amigo? Ao invés de ficarmos aos domingos assistindo aquela velha lenga lenga televisiva dedicarmos um espaço para a família, aproximando-nos assim dos nossos filhos. Pode ser um caminho para que eles fiquem cada vez mais longe das drogas.

Wellington Balbo

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