quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O provisório esquecimento do passado


É muito comum que os iniciantes no estudo da Doutrina Espírita, após tomarem conhecimento da lei das reencarnações, questionem qual a razão de esquecermos o que fizemos e o que fomos nas vidas passadas. Têm a impressão de que seria muito melhor se nos lembrássemos de tudo, argumentam, adicionando ainda que, com a ciência do que fizemos poderíamos melhor nos conduzir na vida atual e aproveitar as oportunidades presentes.
Uma primeira abordagem que poderíamos fazer, bastante simplista, esclarecendo estes novos espíritas, é de que, se cremos em Deus, e Ele assim determinou, é que há nisso vantagem e sabedoria: É Lei de Deus, ponto final!
Contudo, nada impede que tentemos entender e aprofundar o tema um pouco mais, pois isto nos ajuda a construir a fé que pode encarar a razão a qualquer momento. Entretanto, de modo a não criarmos uma expectativa muito grande no aprofundamento da questão, podemos adiantar que o homem não pode, nem deve saber de tudo.
A Doutrina nos ensina que, esquecido de seu passado, o homem é mais senhor de si, tem condição de melhor conduzir a própria vida.
Esclarece ainda que, se lembrássemos de tudo, pode-se afirmar, não seria mais fácil lidar com as situações do dia a dia, muito pelo contrário, haveria perturbações nas relações sociais e mesmo dentro do ambiente familiar. Basta recordar que, frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu cercado de muitos com quem dividiu experiências no passado.
Imaginemos lembrar que tiramos a vida de um familiar; fomos o responsável pela doença ou problema mental que nosso filho agora apresenta; levamos à morte milhares de pessoas; destruímos, queimamos e conquistamos pela força; semeamos o medo e a desgraça entre os povos. Não há dúvida de que se nos recordássemos destes feitos teríamos sentimentos nada tranquilizadores de vergonha, humilhação, remorso e acentuada culpa.
Além disso, existiriam perseguições intermináveis por parte daqueles que ainda poderiam se sentir prejudicados por atos passados, lutas dificílimas se estabeleceriam, caso pudéssemos nos reconhecer inequivocamente.
Mais ainda, o processo de educação dos pais seria altamente prejudicado. Imagine se um pai ou mãe, tentando dar bons conselhos e orientações a um filho, e escutasse: “Meus pais, que história é esta de me dizerem o que fazer, alegando preocupação comigo! Ora, na vida passada vocês me abandonaram, não foi? Será que eu posso confiar em vocês nesta vida? Que garantias tenho de que o interesse de vocês agora é verdadeiro? O que mudou?”.
A recordação das afeições especiais e de momentos positivos no passado poderia também favorecer e estreitar relacionamentos particulares, o que de igual modo não é o desejado na busca da construção da família universal. E se o oposto se desse, ou seja, quando inimigos se reconhecessem dentro de uma mesma família? Haveria a ruptura imediata do grupo.
Quantas vezes nos perguntamos em tantas situações: “Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz, certamente teria feito de modo diverso”. Existe mesmo o famoso ditado que diz: “Se arrependimento matasse!”. Nada a estranhar, uma vez que é a realidade em um mundo de provas e de expiações, habitado ainda por grande maioria de Espíritos muito distantes da perfeição. Apenas os orgulhosos não reconhecem os seus desvios às leis de Deus, não admitem que já se equivocaram em muitas ocasiões. Afinal, só não se equivoca quem é perfeito, estado evolutivo que ainda não alcançamos neste mundo.
Como reagiríamos se lembrássemos dos nossos deslizes de vidas passadas com os executados na vida presente! Isso poderia levar muitos à loucura e desequilíbrios inimagináveis. O Espírito de evolução mediana, como todos nós, não consegue suportar tal pressão sobre si mesmo.
Observando, por outro lado, feitos de destaque no passado, esses poderiam também fazer surgir ou reacender o tão indesejado orgulho, bem como a vaidade, traços de personalidade nada construtivos para quem necessita de um novo começo, de uma nova vida.
Observemos que, de modo geral, na vida presente, colocamos as faltas ou deslizes e os atos que nos comunicam certa vergonha e arrependimento nos porões da consciência, alojando-os o mais fundo possível. É um mecanismo de defesa do Espírito, e o fazemos com tamanha intensidade que de ordinário o Espírito de fato se “esquece” temporariamente daquele ato infeliz. São necessárias certas técnicas para fazê-lo recordar do acontecido. Assim, tentamos fazer exatamente o que Deus faz naturalmente e sabiamente, pois quem quer lembrar-se dos erros passados e da vida presente?
A razão de afirmarmos que o esquecimento é provisório reside no fato de que nos lembraremos das nossas vidas quando estivermos desencarnados. Sabe-se, contudo, que as lembranças não se apresentarão de imediato, com todos os detalhes de inúmeras vidas, mas irão clareando na medida em que estivermos preparados para nos ver face a face com as nossas antigas personalidades.
Lembremos mais uma vez que colocamos no porão da consciência, quando encarnados, os atos e situações que nos desgostam. Na vida espiritual há processo semelhante, embora seja o perispírito como que um imenso baú de memórias, conservando o registro de todos os nossos atos. Pela bondade de Deus, quando desencarnados, não acessaremos de imediato, na lucidez da consciência, tudo o que fizemos, visto que se tal acontecesse, nos desequilibraríamos intensamente, não nos aceitando como atores e partícipes de lances infelizes que certamente protagonizamos em diversas vidas regressas.
É fato que existe a possibilidade de acessar algo do nosso passado quando estamos dormindo, pois, parcialmente liberto do corpo, o Espírito adquire certa lucidez que permite ter relances ou vislumbres de certos momentos do passado. Essas lembranças podem funcionar como avisos ao encarnado sobre certas condutas e posições que na vida presente experimenta e que não interessam no momento. Representam mais uma demonstração da bondade de Deus alertando-nos para seguir as leis morais.
É de se observar que a sociedade comumente age, em relação aos seus ex-condenados, de modo contrário à lei de Deus. É raro esquecer-se do que fez o ex-detento e, por conta disto, não se lhe dá novas oportunidades. Deus não age assim e, como o seu amor é incondicional e imensurável, como nos deseja o melhor e que conquistemos a nossa perfeição, dá-nos esta benção provisória de esquecermos o passado, possibilitando ainda a vivência de novas oportunidades, tantas quantas forem necessárias, para que de fato aprendamos o que é preciso aprender.
Se nem sempre podemos nos honrar do nosso passado, melhor é esquecê-lo temporariamente.
Todavia, chegará o tempo, e isto é certo, quando, pela força das nossas aquisições morais, da melhora ética em nossa conduta, passaremos a ter boas, excelentes lembranças do que fizemos, e nesta hora, então, será tudo alegria, felicidade. Teremos imenso prazer em recordar o que construímos de bom para nós mesmos e para o próximo. Poderemos manter as portas dos porões da consciência destrancadas, sem ferrolhos, uma vez que nada mais nos envergonhará, nada mais temeremos e nada nos incomodará. A certeza de um passado totalmente superado pelas boas obras será a nossa garantia de paz e tranquilidade interior.
Nada obstante, na nossa situação atual, mais vale esquecer que lembrar!

Rogério Miguez

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

As vestes da Verdade.


A pintura A Verdade saindo do poço é um quadro idealizado pelo escultor e pintor francês Jean-Léon Gérôme.
Está ligada a uma parábola do Século XIX, que narra o encontro da Verdade com a Mentira, durante um passeio.
A Mentira elogiou o dia, o sol brilhante, sem nuvens.
A Verdade concordou, salientando a beleza dos pássaros que as rodeavam, com suas plumagens variadas.
Porque o dia estivesse muito quente, a Mentira sugeriu que se refrescassem nas águas convidativas de um lago.
Ambas se despiram, deixando suas roupas à margem e mergulharam.
Porém, logo que a Verdade se distraiu, a Mentira saiu da água às pressas, vestiu a roupa da Verdade, desaparecendo a correr.
Percebendo que tinha sido enganada e que estava sem suas roupas, a Verdade saiu do lago. No entanto, se negou a vestir as roupas da Mentira.
Decidiu que não tinha do que se envergonhar, e que, mesmo sem roupa alguma, caminharia até sua casa.
Todos os que a viram, andando despida, sequer indagaram o que poderia ter acontecido, ou porque ela se apresentava assim. Houve somente críticas para a sua atitude.
Percebeu, então, que as pessoas tinham mais facilidade em aceitar uma Mentira fantasiada de Verdade, do que ela mesma, sem nenhuma vestimenta.

Essa situação se reprisa, em nossos dias, repetidas vezes. A Mentira disfarçada atrai mais pessoas e ilude aos desavisados, que a aceitam, sem nada questionar.
A sua aceitação tão rápida se deve ao fato de que, de um modo geral, damos mais importância às aparências, que nos parecem, quase sempre, muito atraentes e sedutoras.
É assim que se acrescentam itens inexistentes a fatos, que se ilustram notícias, aumentando-lhes os detalhes. Tudo para parecer mais interessante.

* * *

Importante nos indagarmos como nos comportamos, nesse mundo em que abundam as mentiras fantasiadas de verdade.
Quantos de nós, desejosos de sermos os primeiros a dar a notícia retumbante, simplesmente repassamos a terceiros o que ouvimos, lemos, ou recebemos em nossos grupos de whatsapp.
No entanto, abraçando a verdade, consideremos que ela é como o alimento, que deve ser ingerido, sem exagero, a fim de não provocar problemas.
Ou como a água, que mata a sede, mas deve ser bebida na quantidade exata, devagar.
Por isso, a verdade não deve ser aplicada com dureza, como se fosse uma arma para destruir os outros.
É necessário tato para mostrá-la. Há muitas formas de ser apresentada, sem que maltrate os outros ou fira sentimentos, sem necessidade.
Não é tanto o que se diz, que oferece resultados positivos ou desagradáveis, mas a forma como se diz.
A verdade jamais deve ser adulterada. Também não deve ser lançada como uma bomba, destruindo corações frágeis. Dosagem certa, no momento exato.

Importante nos perguntarmos: A verdade que sabemos é realmente verdade?

Se é, a quem trará benefícios a sua divulgação?

Essa medida nos dirá, exatamente, o que devemos ou não divulgar, como e quando fazê-lo.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita

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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Enfermidade educativa...


Não gosto de ir ao médico, aliás, acredito que não é o programa predileto de ninguém, todavia, não raro as circunstâncias da vida nos empurram para a indesejada visita ao doutor. E mais por insistência familiar do que por vontade própria dia desses compareci ao consultório médico, mais precisamente ao cardiologista, haja vista o histórico familiar: os cinco irmãos de meu avô materno morreram de problemas cardíacos, meu avô também não escapou a sina e foi dessa forma que transferiu residência para o além há 20 anos. Minha mãe morreu de derrame e tenho uma tia inválida há mais de 20 anos por conta de uma trombose cerebral, ou seja, um histórico que recomenda alguns cuidados especiais ao coração, afinal, não sou mais nenhum garoto, estou com 33 anos e jamais fiz qualquer exame.
No consultório as perguntas de praxe e recebi de presente uma papelada indicando os exames a serem realizados.
Na consulta de retorno, eis a surpresa, descrita no seguinte diálogo:

Doutor: Você é hiper-tenso há muitos anos e por conta disso seu coração inchou mais de 6 cm, além do que seu colesterol está altíssimo. Você deve cuidar-se, vou indicar-lhe alguns remédios para o coração e a pressão, mas antes me responda algumas perguntas:

E prosseguiu o doutor: Você alimenta-se adequadamente com frutas e legumes?
Eu: Não, minha alimentação é a base de chocolates e salgados em virtude do corre corre diário.
Doutor: Corte salgados, frituras e deixe o chocolate apenas para o final de semana e moderadamente.

Doutor: Você irrita-se com facilidade?
Eu: Sim.
Doutor: Deixe a irritação de lado e aprenda a contar até 10 ou 1.000 se preciso for.

Doutor: Você faz exercícios regularmente?
Eu: Não, sou sedentário.
Doutor: Então comece imediatamente, uma vida sedentária colabora para o aumento da pressão arterial.

Doutor: Você trabalha muito?
Eu: Abraço inúmeras atividades.
Doutor: Deixe algumas de lado ou então irá trabalhar apenas no além, cuide um pouco mais de você, de sua saúde.

Confesso que sai do consultório atordoado com o diagnóstico e os conselhos médicos. A lista de remédios era grande: 1 para a pressão, 1 para o coração, 1 para o colesterol e 1 tranqüilizante. Meu Deus! Eu que sempre fui avesso a remédios terei de encará-los, pra mim um grande desafio a ser vencido. Mas depois da primeira impressão, coloquei-me a refletir. As enfermidades são educativas, fazem parte do processo pedagógico das criaturas ainda em processo de amadurecimento que estão neste planeta escola. As enfermidades são as apostilas necessárias para a educação de nossa postura perante a vida, não fossem elas e ficaríamos entregues eternamente aos exageros de todos os matizes, desequilibrando cada vez mais nossa conduta. De agora em diante terei de reorganizar minha vida, agindo comedidamente em todas as circunstâncias, já senti o efeito no próprio corpo físico, embora os remédios - muito fortes - estejam me fazendo algumas vezes cambalear, emagreci cerca de 6 quilos, porquanto fui obrigado a reeducar minha alimentação. Frituras e chocolates cederam lugar à legumes e frutas.
Nossa finalidade principal na Terra não é outra senão evoluir, o corre corre diário é fruto dos exageros desnecessários que imprimimos à nossa vida. Em realidade, caro leitor, compartilho com você essa experiência para que não caia na mesma armadilha do descuido com a máquina física, porquanto ela - a máquina física - necessita de cuidados para poder funcionar de forma correta, e nós precisamos de pouquíssimo para viver bem, aliás, necessitamos apenas do AAA, que resume-se da seguinte forma: Abrigo, Alimento e Amigos.
Dentro do quesito evolução estão computadas as conquistas do espírito imortal, aprender a viver é uma dessas conquistas, por isso, fundamental ter em mente que, ou aprendemos a nos equilibrar ou as enfermidades baterão a nossa porta, nos mostrando o caminho correto de proceder.
Pensemos nisso.

Wellington Balbo

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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Estejamos atentos


A jornada humana tem por meta nos conduzir, pouco a pouco, ao patamar evolutivo da perfeição relativa, quando, junto ao Pai, continuaremos a contribuir usando todo o aprendizado acumulado ao longo de muitas existências. Seremos auxiliares na manutenção da ordem do Universo, sempre sob a direção do Criador.
O método determinado por Deus para nos conduzir à perfeição possível, ocorre através das experiências acumuladas por meio de muitas existências – a lei da reencarnação -, e, durante estes períodos em que estamos encarnados em um mundo qualquer, somos submetidos sistematicamente a provas, contudo, quando não as aproveitamos, sendo derrotados destas verificações, em função de nossas escolhas, podemos causar prejuízos aos semelhantes e a nós mesmos, que se traduzem por expiações.
E, tudo indica: os Espíritos por hora vinculados à Terra, possuem várias etapas expiatórias a cumprir em função de um passado não tão nobre.
Sendo assim, os acidentes morais e materiais, de toda ordem, devem ser esperados por todos, regularmente, alguns Espíritos mais afetados do que outros, mas, geralmente, não há quem escape destes percalços, representando inacabadas e novas provas, ou expiações originadas em existências anteriores, se não fosse assim, o mundo não seria ainda de provas e expiações.
Até os missionários, experimentam verificações e, como ainda não são perfeitos, podem também passar por provas e pequenas expiações, necessárias para depurar os débitos remanescentes.
Contudo, estas dificuldades jamais visam a nossa punição, apenas a nossa evolução, são elementos educativos indispensáveis para alcançar a meta final.
Então, caso a nossa jornada esteja caminhando sem nenhum conflito íntimo, nenhuma dificuldade de monta, sem nenhuma apreensão financeira, boa saúde, relacionamentos afetivos sem crises, tudo aparentemente caminhando bem, é preciso aguçar a percepção, pois há algo errado, alguma coisa não está correta, é um típico sinal de atenção.
Todavia, isto não parece um absurdo? Então, eu tenho que desejar problemas, mais sofrimentos, adicionais dificuldades, para me sentir tranquilo interiormente!?
Na realidade, não é assim, pois ninguém gosta de sofrer, e a proposta do Criador, certamente, não é esta, mas em orbes de resgates, como o nosso ainda se caracteriza, tenhamos a certeza de que, se não estivermos envolvidos em nenhum drama moral, é sinal de que não iremos progredir, pois somos testados durante as dificuldades, uma vida sem desafios é uma existência quase perdida.
São estes reveses que nos preparam para novas conquistas, nos capacitam para outras nobres empreitadas, fortalecem a nossa resistência íntima, proporcionam ocasiões para os tão necessários testemunhos de fé e resignação, testam a nossa paciência e disciplina.
Recordemos que o próprio Allan Kardec se viu arruinado financeiramente e, diga-se, não por sua responsabilidade, contudo, não se deixou abalar, superou esta significante dificuldade.
Contudo, os mais rebeldes, se revoltam contra estas indispensáveis verificações, se encastelando, irritadiços, em seus mundos íntimos, com condutas que em nada os auxiliam, agravando, desta forma, seus quadros expiatórios, que surgirão inapelavelmente no futuro, quando forem convocados à novas reencarnações, uma vez que, dívida não paga indica saldo devedor à economia moral do Planeta.
Sejam quais forem os dramas morais enfrentados, armemo-nos com as armas da esperança, da pacificação e da mansuetude. A revolta em nada facilitará estas passageiras etapas de aprendizado. Munamo-nos da fé, mas da fé lastreada no raciocínio e compreensão dos mecanismos divinos de evolução, de modo a enfrentar estes momentos difíceis com determinação e aproveitamento, sem cruzar os braços a espera de um milagre que nunca virá.
E mais, por hora, em função de nossa miopia espiritual, ainda cremos que estes infortúnios são injustos, ou, quem sabe exagerados, desproporcionais, contudo, nestas particulares horas de aflição, lembremos de um dos principais atributos da Divindade: a infinita bondade e justiça e, convictos de que Ele só nos deseja o bem, pacifiquemo-nos e prossigamos, hoje e sempre.

Rogério Miguez

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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Casa Espírita: escola, hospital e templo


O caráter filosófico da Doutrina Espírita fundamenta a fé na razão. Para crer é preciso saber. E para que servem os saberes aos quais a Doutrina Espírita nos dá acesso? Justamente para alicerçar a fé raciocinada, que pode oferecer ao homem um roteiro seguro de bem viver.
No entanto, é importante que associemos aos princípios doutrinários as nossas próprias descobertas, num processo constante de autoconhecimento e autoburilamento. Pois se apenas ouvirmos o que os outros sabem, sem aplicar as lições da Doutrina à vida, estacionaremos no círculo de luz do conhecimento alheio, sem alçar o vôo da verdadeira libertação.
Espiritismo exige estudo. E se ainda não temos no Brasil uma tradição de leitura, como se costuma dizer, cresce a importância do estudo em grupo, na Casa Espírita que, nesse sentido, é literalmente uma escola.
Porém, por mais intelectualizados sejam os conhecimentos filosóficos do Espiritismo, a Casa Espírita é uma escola de almas, e por isso não se detém apenas no saber, mas a partir dele alcança o sentir e o ser. Seu objetivo é educar o Espírito, individualidade imortal. Os conceitos e as informações que divulga são instrumentos facilitadores para a conquista do bem-estar íntimo, proporcionando uma relativa felicidade, possível de se alcançar na própria existência terrena, mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Mas o núcleo espírita, além de escola, é também chamado de hospital, idéia que nos remete a um lugar destinado a tratamento de enfermidades, para a recuperação da saúde. E o que é saúde? Pelo conceito da OMS, não é simples ausência de enfermidade, é mais. É bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista holístico, já se acrescenta a esses três aspectos mais uma instância – a espiritual, não com a marca religiosa, mas como uma potencialidade do ser.
Assim, podemos afirmar que, na Casa Espírita, tem-se o mesmo conceito, ampliado pela certeza da concretude do Espírito. Porque, se o Centro Espírita é um hospital de almas, ao orientá-las no caminho do equilíbrio, cria condições para a conquista do bem-estar psíquico, físico e, conseqüentemente, social. A medicina ali desenvolvida não trata de curas do corpo, mesmo que pela profilaxia do perdão e do despertar da consciência até nos possibilite alcançá-las, através da fé que transforma as matrizes distônicas do Espírito, responsáveis pelos transtornos orgânicos. Porém, as enfermidades da alma são o objeto principal de tratamento.
E quais seriam as grandes enfermidades da alma? Nós as conhecemos. Dentre elas o orgulho, a vaidade, o ciúme, o egoísmo, a inveja e suas máscaras.
A Doutrina Espírita nos oferece as vacinas para que possamos erradicar essas doenças, dando condições ao homem para que conquiste melhor qualidade de vida, não só na existência terrena, como no Mundo Espiritual.
Mas por que também se diz ser a Casa Espírita um templo ou uma casa de oração? A palavra templo é associada à religião, e religião, por sua vez, à igreja. No entanto, Espiritismo não é igreja, isto é, não constitui uma organização hierárquica, com pessoas ungidas para esta ou aquela função; nem se apóia em dogmas e rituais. É religião, do ponto de vista filosófico que, alicerçado na metodologia científica, aponta-nos o caminho da Moral Divina. Através do constante tratamento espiritual a que nos submetemos, na Casa Espírita, descobrimos que ao retomarmos as conexões com a nossa origem - a que chamamos Deus – restabelecemos também as conexões com nós mesmos, com os outros, e temos maiores possibilidades de alcançar o equilíbrio. Para isso é inegável a importância da prece, expressão de religiosidade, como conseqüência da filosofia e da ciência, esses pilares sobre os quais se apóia o caráter moral libertador do Espiritismo.
A Casa Espírita, em relação à prece, oferece ambiente que facilita o recolhimento. Daí, o templo.
Enfim , uma Casa Espírita é sempre um dínamo de amor em ação, caridade que liberta.

Rita Côre

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