Entrevistei a psicóloga clínica Cláudia Gelernter, de
Vinhedo-SP, sobre a severidade do remorso, uma das causas das angústias
humanas. A entrevista, na íntegra, ainda está inédita, mas seleciono trechos de
duas das respostas:
7 - Que caso marcante gostaria de transmitir aos leitores?
Certa vez, uma avó me procurou, sofrendo a perda de sua
netinha, que desencarnou na piscina de sua casa, então com dois anos de idade.
O caso já era grave por si só, mas ainda mais complexo porque foi ela quem
esqueceu o portão da grade de proteção da área da piscina aberto. Como aliviar
aquela dor? Palavras raramente fazem algum sentido nestes casos, então foi
preciso permitir que a dor viesse com toda a sua intensidade a fim de aliviar o
represamento da angustia daquela pobre senhora. Depois, sentindo-se amparada,
acolhida, pôde falar sobre o seu remorso, sobre a vontade de se auto punir,
pelo erro cometido. Já não conseguia mais dormir, não queria se alimentar e
pensava em suicídio, constantemente. Fizemos diversos testes de realidade, a
fim de demonstrarmos, em conjunto, que o ato não fora intencional, mas que
aconteceu por esquecimento. Outro teste servia para resgatarmos a questão de
sua vontade, pois autopunir-se não traria a neta de volta ao convívio
familiar. Depois de alguns meses, já melhor em seus sintomas, surgiu um
presente que jamais esquecerei. Uma daquelas dádivas que Deus nos permite
experimentar, a fim de mostrar sua Misericórdia infinita para conosco. Ela
conseguiu receber uma mensagem psicografada em Uberaba, com 47 páginas, na qual
a menina contava que ela não tivera culpa alguma neste caso, pois estava
previsto o desencarne e que a neta nada sentira ao cair na água, pois sua alma
“saltou” para o colo de Maria Dolores, enquanto que o corpo se jogara na piscina,
já sem vida. Recordo-me que a carta continha dados confiáveis, que só ela e
poucos parentes conheciam, como, por exemplo, o nome de uma tia que desencarnou
muitos anos antes e que estava ajudando a cuidar dela, no Mundo Espiritual.
Surgiu, então, uma nova vida para aquela senhora, com um novo sol a brilhar,
mais forte e iluminado ainda: estava provado para ela tanto a questão da
imortalidade da alma como a possibilidade de um reencontro, no tempo certo.
8 - Como podemos ajudar alguém em gradativo processo de
autopunição por remorsos ou sentimento de culpa?
Escutando a dor do nosso próximo, amorosamente, sem
julgamentos nem distrações. Doando nosso tempo, nossa alma, nossas preces em
seu favor. E, acima de tudo, demonstrando que estar no mundo engloba erros e
acertos, dores e alegrias, tropeços e reerguimentos. Se desejamos mudar o que
fizemos, é imperioso saber que não o conseguiremos pelas vias do remorso, mas
através do amor que passarmos a irradiar no mundo.
Agora, nem sempre as pessoas possuem as ferramentas
necessárias para darem conta desta difícil demanda. Recordemos que muitos pais
encucam em seus filhos o remorso como estratégia [equivocada] de educação.
Entendamos as diferenças entre todos e sigamos apoiando os que sofrem, em
qualquer situação, inclusive aqueles que se encontram presos nas difíceis redes
da autopunição. (...).
Orson Peter Carrara
Imagem ilustrativa
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