O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu capítulo V,
fala-nos, entre outros assuntos, do verdadeiro sacrifício aos olhos de Deus.
Capítulo interessante e atual, dado que a vida nos exige sacrifícios e por
vezes buscamos estes, sem saber bem o porquê.
Em um primeiro momento, apresenta-se a questão de se é
possível reduzir o rigor das provas, dado que estas são instrumentos de nossa
evolução. A conclusão é simples, dados que a Lei é de amor e, sim, podemos e
devemos abreviar a dor de nosso próximo, abreviar as suas provas
voluntariamente, pois esse amor nos impulsiona a ser melhores e a evolução se
faz em conjunto, nesse nosso planetinha azul.
Ao contrário da visão do Carma adotada em algumas religiões,
não devemos deixar nossos irmãos sofrerem para “pagar”, pois a divindade quer
que nós aprendamos a amar e não que soframos indistintamente, como um Deus
sádico, a exemplo do Olimpo greco-romano.
A dor deve nos empurrar para o amor, e o amor pode sim
colaborar para reduzir a dor, na busca da luz, em um contexto de
interdependência, de Espíritos encarnados em um planeta de provas e expiações,
na luta da evolução.
De forma simétrica, apresenta-se a questão: é possível então
aumentar as suas provas voluntariamente? Ou seja, posso aumentar a minha dor e
assim evoluir mais rápido?
O evangelho é claro nesse ponto... e o bom senso também!
Produzir dor por produzir pouco contribui com a instauração do reino dos céus
em nossos corações. Em muitas facetas se apresenta esse sacrifício voluntário,
em roupagens modernas que escondem sentimentos adversos.
As práticas de se prometer coisas para a divindade em troca
de bênçãos, como nos sacrifícios muito famosos em festas religiosas, nas
famosas promessas, ilustram bem esse sentimento de imolação, como passagem para
a felicidade. São os terroristas que esperam o reino de cachoeiras de mel...
Uma forma de sacrifício egoísta e de barganha!
Têm-se ainda, de forma reprovável, práticas nesse sentido,
adotadas por vezes por celebridades, no campo da automutilação. Com cortes e
marcas, as dores corporais buscam substituir sofrimentos emocionais, em uma
punição de si mesmo, prima da comiseração, em uma mescla de carência, culpa e
remorso. Uma forma de sacrifício focado em si, na troca de suas dores
sentimentais por dores corporais.
Esses exemplos atuais nos mostram que o nosso sacrifício
ainda está atrelado a uma ideia de egoísmo. O disposto n’O Evangelho segundo o
Espiritismo indica que o aumento da dor sem reverter para o benefício coletivo
é sim egoísmo, e que as provações voluntárias somente têm valor quando
agregarem bem ao próximo.
O sacrifício, o acréscimo de sofrimento por escolha, só têm
valor aos olhos de Deus quando significam doação para o bem geral. E, para
isso, na maioria das vezes, necessitamos de dores muito menores do que
imaginamos!
Devemos ficar atentos às motivações que se escondem por
detrás dos grandes espetáculos de dor e sofrimento, enxergando o valor do
pequeno esforço cotidiano que produz o bem, sem pompa e cerimônia, sem heróis
de papel.
Deus nos criou para aprendermos a amar... Para rompermos as
nossas imperfeições, por vezes somos impulsionados pelo aguilhão da dor, para a
senda da evolução. Mas o grande sacrifício se impõe na conduta reta no
cotidiano, por vezes longe de holofotes e luzes...
O fim da evolução é o amor, força divina por excelência, que
nos faz mais próximos do homem que queremos ser, nos faz melhores nas batalhas
de cada dia e, para isso, precisamos entender a função da dor no contexto da
justiça divina e do aperfeiçoamento do Espírito.
Sacrifícios só trazem benefícios se forem direcionados ao nosso
próximo... A doutrina dos Espíritos é clara em nos explicar esse mecanismo, do
primado do amor! Não busquemos evolução onde pode morar a estagnação!
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Imagem ilustrativa
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