terça-feira, 1 de junho de 2021

O Dever e a Paz


“Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9)

Como podemos viver em paz em meio a tantas tribulações, violência, corrupção, tragédias, conflitos de relacionamentos? São empecilhos para a tranquilidade tão almejada?
A verdade é que os problemas existem e, se continuarmos buscando a paz no ambiente externo, não vamos encontrá-la, afinal a paz legítima não significa ausência de problemas; ela provém dos nossos sentimentos e capacidade de lidar com os percalços da vida.
Nossas fragilidades e desequilíbrios íntimos são antagônicos à paz, frutos do egoísmo e do orgulho, impedindo-nos de perdoar, buscar a humildade e de compreender o próximo. Para tanto, necessário se faz um exame interno, auscultando as profundezas da alma, identificando as imperfeições que estão bloqueando o avanço do Espírito para a paz e, assim, promover a desconstrução dos nossos sentimentos egóicos.
Nesse sentido, a doutrina espírita, que amplia a mensagem do Cristo, é uma poderosa ferramenta para se obter a paz, já que nos convida a uma reflexão intensa, apresentando a chave do progresso individual através do conhecimento de si mesmo, conforme nos orienta o benfeitor espiritual Santo Agostinho na questão 919a de O Livro dos Espíritos: “ Examinai o que pudestes ter obrado primeiro contra Deus, depois contra o vosso próximo e finalmente contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.”
Exigimos a paz exterior (do mundo) mas, em nossa vida, muitas vezes somos nós os responsáveis por conflitos de relacionamentos, promovendo desarmonia e nos afastando da Lei Divina. Isso está em consonância com nossa posição de Espíritos imperfeitos, inseridos em um mundo de provas e expiações. No entanto, somos filhos de Deus, criados para o amor, todos irmãos, em diferentes níveis de maturidade psíquica. A nossa meta deve ser a fraternidade universal, aprendendo a amar o próximo e fazer a ele somente o que desejaríamos que fosse feito para nós.
Conforme ressalta a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis: “Não sejais aquele que se transforma em obstáculo ao bem, criando situações embaraçosas que se convertem em amargura noutrem.”(Vitória sobre a depressão – Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco.)
Um caminho para a paz interior proposto por Kardec através do Espírito Lázaro, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 7, capítulo XVII: “ Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de ser cumprido, porque se acha em antagonismo com as seduções e interesses do coração; suas vitórias não têm testemunho e suas derrotas não têm repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre arbítrio: o aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e o sustenta, mas permanece, frequentemente impotente, diante dos sofismas da paixão. O dever do coração, como precisá-lo? Onde começa ele? Onde se detém? O dever começa precisamente do ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos.”
Portanto, o convite amoroso para esse trabalho íntimo e para a condução dos relacionamentos encontra-se no dever, que é fonte de paz e alegria.
Importa mesmo percorrer esse caminho de desenvolvimento de virtudes, pensando, sentindo e agindo no bem. Assim, realizaremos o encontro com a paz da consciência do dever cumprido e, pacificados, encontraremos a paz do mundo.

Karina Rafaelli

Imagem ilustrativa

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