sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Insônia


A ciência já explicou até o momento do ponto de vista dela o motivo pelo qual não conseguimos dormir, isto é, termos a tão conhecida insônia que ataca grande parcela mundial. É evidente que a ciência como não admite conceitos filosóficos vai buscar em nossos órgãos físicos a causa de qualquer anomalia, afinal a maioria dos cientistas não admite a existência de um Ser Superior, até porque em muitas situações eles dizem ser o próprio deus.
Mas quem além de encarar a ciência com grande admiração e respeito e também depositar na fé suas expectativas de evolução, pois afinal somos matéria perecível, mas também somos alma/espírito, constata que em muitos casos não conseguimos dormir por questões que a ciência não nos convence. Claro que se estivermos sentido dor, uma preocupação e até efeito de algum acontecimento fora da rotina que nos acometeu ou nos envolvemos, vamos ficar sem sono, mas normalmente nestes casos, passada a origem o sono volta normalmente, isto naqueles que sempre tiveram um dormir regular.
Mas vamos supor que certa pessoa tenha um inimigo que pode vir a lhe emboscar de momento para outro. Esta, pessoa, normalmente evitará sair de casa, e se sair será sob muita tensão, e voltará tão logo possa. Acontece que do ponto de vista espiritual, estamos sempre em relação com a vida além da matéria e quando dormimos, deixamos o corpo material em repouso mantendo-se apenas na vida orgânica e saímos, já que somos espírito! Mas em razão de muitos terem inimigos de outras vidas ou inimigos que viveram aqui juntos nesta vida, mas retornaram ao plano espiritual antes, o espírito que somos a exemplo daquela pessoa que não sai de casa e/ou volta rapidamente, age da mesma maneira, preferindo ficar o mais tempo possível no estado de vigília, por medo de confrontar- e ao adormecer.
Se temos corpo que adormece e descansa, temos o espírito que não precisa descansar, mas que também pode ficar adormecido, muito bem explicado no livro de Chico Xavier, Os Mensageiros, no capítulo “os que dormem”. Então é perfeitamente compreensível que não consigamos dormir, a não ser sob efeito de drogas lícitas (medicamentos), que forçará que o organismo relaxe, e por consequência o espírito ao invés de desprender-se permanece também num estado semelhante aos que acreditam no “sono eterno”. Por isso encontramos a dificuldade de conciliar o sono. Devemos procurar o esclarecimento religioso sobre o assunto para buscar solução para esta influenciação. Que o Mestre nos ampare a todos.

Nilton Cardoso Moreira

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Decisão que vamos optar


A clareza e objetividade de Kardec impressionam, seja pela sua atualidade, seja pela lucidez com que apresenta o pensamento espírita e seus desdobramentos, nas variadas situações do cotidiano ou nas conquistas intelecto-morais que vamos alcançando pelo amadurecimento natural da própria evolução.
Frases curtas, expressões compactas, parágrafos altamente esclarecedores, raciocínios lógicos, todos embasados numa construção perfeita que une o texto, o raciocínio, o alto senso de justiça e bondade, aspectos históricos sempre envolvidos e, claro, direcionados para aspectos que construam a mentalidade humanitária e cristã, à luz da Revelação Espírita.
Isso está em toda a obra da Codificação, nas obras complementares e na Revista Espírita. Interessante porque cada pensamento, texto, frase ou raciocínio do Codificador tornam-se facilmente fonte inesgotável para abordagens verbais ou escritas, temas para estudo ou pesquisa. É realmente o fruto de um espírito genial, comprometido com as causas de progresso da Humanidade. Não é ao acaso que organizou a Revelação dos Espíritos.
Uso um exemplo simples, para indicar essa grandeza de conteúdo.
No capítulo XXVIII – Coletânea de Preces Espíritas, em O Evangelho segundo o Espiritismo, item 20 –Para pedir força de resistir a uma tentação, informa Kardec*: “(...) Devemos, ao mesmo tempo, imaginar o nosso anjo da guarda, ou Espírito protetor, que, de sua parte, combate em nós a má influência, e espera com ansiedade a decisão que vamos tomar. Nossa hesitação em fazer o mal é a voz do bom Espírito que se faz ouvir pela consciência. (...)”.
O destaque na frase foi dado pelo próprio Kardec. O tema aborda a questão dos maus pensamentos, da influência malévola de alguns Espíritos perturbados ou perturbadores e mesmo de nossas próprias más tendências, mas também da presença do anjo guardião que nos ampara e a quem podemos recorrer. Como se sabe, no capítulo em referência, Kardec apresenta comentários compactos e extraordinários a diversas situações em que a prece pode ser usada, complementando com pequenos modelos de prece para auxiliar o raciocínio na questão. Mas seus comentários pessoais são de beleza inquestionável. Inclusive, o referido item encontra-se no subtítulo Preces por si mesmo, iniciando-se com a citação dos anjos guardiães e Espíritos protetores, daí a indicação aqui constante.
Convido, portanto, o leitor, a refletir sobre o exemplo simples da transcrição constante da já citada obra básica: a da espera do Espírito protetor, com ansiedade, peladecisão que vamos tomar.
Sim, isso é abrangente, notável. Afinal, apesar da assistência que todos recebemos, continuamente, os benfeitores respeitam nossas decisões e esperam que escolhamos os caminhos do equilíbrio e do acerto. Mas respeitam, se optarmos por caminhos desastrosos, daí a ansiedade citada pelo Codificador, porque sabem que é por meio desses equívocos das decisões e opções, durante a vida, que amadurecemos e aprendemos a viver, nos relacionamentos e nas decisões próprias do cotidiano. Apesar de nos assistirem, eles aguardam os caminhos que optamos por seguir. Percebemos, com clareza, a abrangência que o assunto propicia. Convido o leitor a buscar o item em referência e estudá-lo na íntegra.
É assim a Doutrina Espírita: inesgotável nas possibilidades de aprendizado.

Orson Peter Carrara

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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Pé de barro, pé no barro


Vivemos um tempo curioso. Após a chegada do homem à lua, do telescópio Hubble ter ajudado a desvendar o espaço, de uma grande expansão de nosso conhecimento do Universo, nos decepcionamos com o que encontramos. Esperávamos algo divino, maravilhoso.
Esperávamos, na ratificação de nossa imaginação fértil, algo de civilizações intergalácticas, de descobertas de outros mundos, como um Cabral ou um Colombo moderno à busca de novas civilizações. Mas encontramos rochas e gases, e fomos buscar abrigos em teorias conspiratórias e fábulas modernas, sem ver a magnitude do que encontramos.
Da mesma forma, a profusão das comunicações; as redes nos colocaram em tempo real em contato com a natureza humana. Ponto a ponto, sem filtros, viralizamos e nos comparamos com o vizinho nas redes sociais, e vemos do que o Espírito encarnado é capaz. Mas nos decepcionamos. Quebramos as nossas expectativas com o homem que vemos no espelho. Sentimos vergonha da raça humana.
Sim, por ver não somente o mal, mas por vê-lo sendo propagado, comemorado e consumido, misturando o mundo real e a ficção, destruindo a crença no homem como centelha divina, com potencial para fazer mais e melhor nesse mundo. Por ver que desperdiçamos soluções e criamos problemas, e a despeito de toda a tecnologia, ainda padecemos da fome, da ignorância e da violência.
A decepção é o sentimento que habita bocas e corações. Uma tristeza infinda. Uma vontade de não se levantar, em um tempo curioso, de falta de fé, ainda que existam tantas religiões. De ídolos de “pé de barro”, ainda que existam tantas celebridades instantâneas. Uma falta de esperança, de concepção de um mundo melhor, abatido pela realidade que se descortina.
O Espiritismo, como doutrina libertadora, que concilia a vida eterna com a vida real, traz uma nova proposta de fé. Não somente por ser raciocinada. Não uma proposta de “pés de barro” e sim uma proposta de “pé no barro”, na qual essa decepção não se justifica. Uma proposta de mundo em transformação, pelas nossas mãos e guiado pelos nossos pés.
Sim, o Espiritismo convida-nos, Espíritos encarnados, a uma fé ativa, producente. A assumir as rédeas do mundo, para romper os determinismos da natureza humana, colocando os pés no barro e mostrando que pode ser feito diferente. Um mundo que será o que nós fizermos dele. Nós, as diversas gerações que encarnam sucessivamente no planeta.
Imagine uma mulher, um negro, um indígena no Século XVII. Ele olhava também para o mundo de baixo, sem fé. E hoje, apesar dos pesares, muita coisa mudou na relação do mundo com esses grupos. A evolução se fez e se faz. Às vezes lentamente, as vezes de forma imperceptível, mas o mundo melhora e pode melhorar. Só depende de nós.
Essa lógica que o Espiritismo traz, de deixar em nossas mãos a construção de um mundo melhor, converte essa decepção em trabalho, essa falta de fé em esforço, esse vazio em sede. Temos a ideia de reencarnação, não como um dogma de sofrimento e karma determinista, mas como uma chave libertadora do sofrimento e de promoção da fraternidade.
A pergunta 171 de “O Livro dos Espíritos” traz que “(...) a doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é (...) a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações”. Esse resgate não é somente na dimensão individual, mas também na dimensão coletiva.
A continuidade da vida permite ao homem-espírito exercitar a sua capacidade de se reinventar, de fazer diferente, de romper barreiras e construir novas pontes entre os fossos que se apresentam. E isso exige trabalho, esforço e dedicação. A fé sem obras é morta, diz o evangelho, e, nesse sentido, temos que avançar, com o pé no barro e os olhos no céu.
Pois o nosso destino está nas estrelas. Mas o momento, aqui e agora, é que ele está sendo construído.

Marcos Vinícius de Azevedo Braga

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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Um minuto com Chico Xavier


Nos anos de 1928 e 29, Chico começou a cobrir páginas e páginas com poemas. Os melhores poemas escritos por ele eram obras sem dono. O poeta negava a autoria dos versos. Eles apareciam quando o rapaz, aflito, sentia uma pressão na cabeça como se um cinto de chumbo comprimisse seu cérebro – e um peso no braço direito, como se ele se transformasse numa barra de ferro e fosse arrastado por forças poderosas.
Os textos se acumulavam anônimos e repetiam a mesma cartilha: amor, compreensão, tolerância. Os companheiros do centro liam a papelada e sugeriam a publicação. Só havia um problema. Quem assinaria as obras? Chico consultou o irmão, José Cândido, e eles decidiram pedir conselhos ao diretor do jornal espírita carioca Aurora, Inácio Bittencourt. O jornalista convenceu o rapaz de Pedro Leopoldo a colocar seu nome embaixo dos poemas. "F. Xavier" começou a aparecer em várias publicações com o consentimento dos escritores invisíveis.
Chico nunca se esqueceu de como o soneto "Nossa Senhora da Amargura" chegou às suas mãos e se espalhou pelo papel. Uma noite, ele rezava quando viu aproximar-se uma jovem reluzente. Pediu papel e lápis e começou a escrever. A aparição chorava tanto que Chico começou a se debulhar em lágrimas também.
No final das contas, ele já não sabia se os seus olhos eram os dela ou vice-versa. Muito mais tarde identificaria a dona daquelas pupilas: a poetisa Auta de Souza, do Rio Grande do Norte, que morreu em 1901, com 24 anos. Na época, ele assinou embaixo F. Xavier – e se sentiu culpado quando recebeu de um crítico português uma carta recheada de pontos de exclamação e adjetivos entusiasmados. “Recebi elogios por um trabalho que não me pertencia”, dizia ele.
Em 1931, Chico já não sentia a pressão alucinada na cabeça nem o enrijecimento doloroso no braço. Tinha aprendido a se entregar, a não criar resistência. Às vezes, um volume imaterial aparecia diante de seus olhos e era dali, daquelas páginas invisíveis, que Chico copiava os textos do outro mundo. Em outras ocasiões, escrevia como se alguém lhe ditasse as mensagens e, enquanto colocava as palavras no papel, experimentava no braço a sensação de fluidos elétricos e, no cérebro, vibrações indefiníveis. De vez em quando, esse estado atingia o auge e Chico perdia a sensação do próprio corpo. Sem medo, já podia ser o instrumento passivo dos mortos-vivos.
Um feiticeiro. Um maluco incapaz de separar o sonho da realidade. Os rumores persistiam na cidade. Um padre de Belo Horizonte fez um discurso inflamado na igreja de Pedro Leopoldo contra o Espiritismo e encerrou o sermão mandando Chico Xavier para o inferno. O rapaz, impressionado, correu para o colo invisível da mãe, contou seu drama e ouviu dela o muxoxo:

- E daí? Ele te mandou para o inferno, mas você não vai. Fique na Terra mesmo...

Poucas semanas depois, um intelectual, também de Minas, desembarcou na cidade. Chico vestiu sua melhor roupa e, com a pasta de poemas debaixo do braço, foi levado por um amigo até o forasteiro. O literato passou os olhos pelos versos, classificou tudo como "bobagem" e, com os olhos fixos no autor, encheu a boca:

– Este rapaz é uma besta.

O amigo de Chico defendeu a inteligência dele, sua dedicação aos espíritos, seu cuidado com os poemas vindos do outro mundo. O intelectual reviu seu julgamento:

– É uma besta espírita!

Chico, inconformado, buscou abrigo, mais uma vez, sob as saias de Maria João de Deus.

– Viu como eu fui insultado?

Ouviu mais um muxoxo materno:

– Não vejo insulto algum. Acho até que você foi muito honrado. Uma besta é um animal de trabalho. E é valioso e útil, a serviço do Espiritismo, quando não dá coices.

Do livro As Vidas de Chico Xavier , de Marcel Souto Maior.

Regina Stella Spagnuolo

Imagem do livro

domingo, 20 de agosto de 2017

A fé como visão


Emmanuel nos leciona que “fé representa visão [e] visão é conhecimento e capacidade de auxiliar”.

Nossa fé, portanto, comporta-se de duas maneiras: dentro de uma introspecção entre quatro paredes, onde nos conectamos com nossa Divindade e Lhe votamos louvores, súplicas e agradecimentos; e aquela em que agimos perante nossas próprias necessidades e as dos que nos rodeiam.
Ambas possuem seu devido valor e a sua hora! Podemos dizer também que a segunda afirma a primeira.
O Benfeitor, entretanto, nos dará a entender que precisamos enxergar os fatos que nos rodeiam, compreendê-los e reunirmos em nós a capacidade do auxílio; e isso é a fé como visão. De forma nenhuma Emmanuel desconsiderará a introspecção, mas dá-nos o entendimento – ou ratifica – que nossa fé sem a obra do auxílio poderá ser vã.
Pitágoras afirmaria que “filosofia é a crítica do conhecimento.” Não desejaremos – nem poderemos – estar filosofando perante as necessidades dos que nos cercam, mas, para exercitarmos nossa fé, também o conhecimento nos dará maior capacidade de auxílio.
Convém lembrar-nos que nem Jesus, nem os apóstolos e nem seus discípulos mais abnegados se comportaram de forma estática: lutaram, serviram esofreram pela causa do Mestre; percorriam, numa época de locomoção rudimentar, longas distâncias; para termos uma ideia, mais de 150 km separam Cafarnaum de Jerusalém. Percorrendo tais distâncias, eles interagiam com doentes do corpo e do Espírito, exercendo sua fé travestida de misericórdia. Esses homens confraternizavam entre si e se reuniam em orações. É possível que na Casa de Pedro, às margens do lago de Genezaré, haja se realizado o primeiro Evangelho no Lar.
Se eles nos deram tal roteiro, será natural que nossa fé se evidencie na prática das ajudas efetivas.

*

Se por um lado a introspecção, reflexão e oração são nosso lubrificante sutil, nossos sentimentos, raciocínios, braços, mãos, pernas e pés são as sagradas alavancas que irão validar a fé que dizemos possuir. 

(Sintonia: Fonte viva, Cap. 69, Firmeza e Constância, ditado por Emmanuel a Chico Xavier, 1ª edição da FEB) – (Primavera de 2016.)

Cláudio Viana Silveira
cvs1909@hotmail.com
http://www.oconsolador.com.br/ano10/501/ca1.html
Pelotas, RS (Brasil)

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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Os primeiros lugares


Contou-nos uma pessoa, que foi trabalhar algum tempo num país europeu e que várias vezes identificou marcantes diferenças entre as atitudes deles e as nossas.
A forma de resolver problemas, a maneira de conduzir-se perante determinadas dificuldades no ambiente de trabalho etc.
Nas suas observações, percebeu que tinham alguns comportamentos muito próprios e incomuns entre nós.
Em verdade, ela jamais imaginara que com eles aprenderia uma extraordinária lição. Algo que a faria admirá-los e seguir-lhes o exemplo.
No seu primeiro dia de trabalho, um colega da empresa a veio apanhar em casa e eles seguiram, juntos, no carro dele.
Ao chegarem, ele entrou no estacionamento, uma área ampla para mais de duzentos carros.
Como haviam chegado cedo, poucos veículos estavam estacionados, entretanto, o rapaz deixou o seu carro parado logo na entrada, próximo ao portão.
Assim, ambos tiveram que caminhar um trecho considerável, até chegarem efetivamente à porta da empresa.
No segundo dia, o fato se repetiu. Eles tornaram a chegar cedo e, novamente, o carro foi deixado próximo da entrada do estacionamento.
Outra vez tiveram que atravessar todo o extenso pátio até chegarem ao escritório.
No terceiro dia, bastante intrigada, ela não se conteve e perguntou ao colega:
Por que você deixa o carro tão distante, quando há tantas vagas disponíveis? Por que não escolhe uma vaga mais próxima do acesso ao nosso local de trabalho?
A resposta foi franca e rápida:
O motivo é muito simples. Nós chegamos cedo e temos tempo para andar, sem perigo de nos atrasarmos. Alguns dos nossos colegas chegam quase em cima da hora e se tiverem que andar um trecho longo, correm o risco de se atrasarem.
Assim, é bom que encontrem vagas bem mais próximas, ganhando tempo.

* * *

O gesto pode ser qualificado de companheirismo, coleguismo. Não importa. O que tem verdadeira importância é a consciência de colaboração.
Ela recordou que, algumas vezes, em estacionamentos, no Brasil, vira vagas para deficientes sendo utilizadas por pessoas não deficientes.
Só por serem mais próximas, ou mais cômodas.
Recordou dos bancos reservados a idosos, gestantes em nossos transportes coletivos e utilizados por jovens e crianças, sem preocupação alguma.
Lembrou de poltronas de teatros e outros locais de espetáculos tomadas quase de assalto, pelos mais ágeis, em detrimento de pessoas com certas dificuldades de locomoção.
Pensou em tantas coisas. Reflexionou. Ponderou...

* * *

E nós? Como agimos em nossas andanças pelas vias do mundo? Somos dos que buscamos sempre os lugares mais privilegiados, sem pensar nos outros?
Alguma vez pensamos em nos acomodar nas cadeiras do centro do salão, quando vamos a uma conferência, pensando que os que chegarem em cima da hora, ocuparão as pontas, com maior facilidade?
Pensamos, em alguma oportunidade, em ceder a nossa vez no caixa do supermercado a uma mãe com criança ou alguém que expresse a sua necessidade de sair com mais rapidez?
Pensemos nisso. Mesmo porque, há pouco mais de dois milênios, um rei que se fez carpinteiro, ensinou sabiamente:
Quando fordes convidados a um banquete, não vos assenteis nos primeiros lugares...
O ensino vale para cada dia e situação das nossas vidas.

Jornal Mundo Maior

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terça-feira, 25 de julho de 2017

O sopro curador


“Sim, meu amigo – respondeu Alfredo, atenciosamente -, o sopro curador, mesmo na Terra, é sublime privilégio do homem. No entanto, quando encarnados, demoramo-nos muitíssimo a tomar posse dos grandes tesouros que nos pertencem. Comumente, vivemos por lá, perdendo tempo com a Fantasia, acreditando em futilidades ou alimentando desconfianças. Quem pudesse compreender, entre as formas terrestres, toda a extensão deste assunto, poderia criar no mundo os mais eficientes processos soroterápicos… Como o passe, que pode ser movimentado pelo maior número de pessoas, com benefícios apreciáveis, também o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. Entretanto, precisamos acrescentar que, em qualquer tempo e situação, o esforço individual é imprescindível. Toda a realização nobre requer apoio sério. O bem divino, para manifestar-se sem ação, exige boa vontade humana. Nossos técnicos do assunto não se formaram de pronto. Exercitaram-se longamente, adquiriram experiências a preço alto. Em tudo há uma ciência de começar.”

Esse trecho do livro “Os Mensageiros”, do Espírito André Luiz pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, está no capítulo “O Sopro” e constitui esclarecimentos dados pelo orientador Alfredo a André Luiz que iniciava seu trabalho de auxílio nas atividades de assistência aos círculos carnais e que nos fazem refletir sobre o esforço do mundo espiritual em intuir-nos o bem, para que nós, os encarnados, não percamos tempo precioso com nossas imperfeições e infantilidades. Todo auxílio nos é dado a todo instante, basta sentirmos e fazermos o esforço de movimentarmos as nossas energias na ação do bem, saindo da inércia, como que movimentando a água estagnada.
André Luiz ficou muito impressionado com o tal do sopro curador e nós, leitores, mais ainda. Assim como a escovação diária e o fio dental preservam o nosso hálito bucal, as nossas ações e pensamentos poderão ser “perfumados” se decidirmos estar e agir no bem, esforçando-nos em nossa melhora, vigiando os pensamentos, o que demanda somente boa vontade e esforço.

Em O Livro dos Espíritos a melhora interior de cada um de nós está na questão 909: “O homem poderia sempre vencer as suas más tendências pelos seus próprios esforços? – Sim, e às vezes com pouco esforço; o que lhe falta é a vontade. Ah, como são poucos os que se esforçam!”. 

Vivemos, atualmente, uma era em que o sentir e ouvir mais o coração são ações essenciais para a nossa mudança interna. Todavia, não podemos mais, simplesmente, termos consciência de nossas falhas e ficar numa posição cômoda de contemplação. Não. Precisamos tentar fazer melhor, ser melhor. Ser mais paciencioso, mais misericordioso, menos crítico e mais tolerante. Só que tudo isso exige um esforço que nos parece hercúleo, mas, na realidade, temos tal visão, dada nossa falta da iniciativa e de coragem em dar o primeiro passo.
Urge que nos libertemos de rotinas egocêntricas, dando espaço, por exemplo, para caridades simples como a palavra amiga resultante do ouvir o outro com sincera atenção e respeito, ou para estar de corpo e alma presentes com a família reunida, conversando, esquecendo um pouco os nossos lixos mentais, ou o celular que nos “exige” a atenção a todo instante. Dediquemos um tempinho de sobra ao trabalho voluntário, sem desculpas de que iremos perder a liberdade ou de que não queremos compromissos. Somente dessa forma criaremos uma sintonia sutil com os Bons Espíritos.
Comecemos por pequenas e simples ações com aqueles próximos de nós. Por exemplo: só por agora, pelo menos, vou respeitar a irritação do meu esposo/a, filho/a, não reagindo. Quem sabe ele/a só precisa desabafar a raiva, nem era para nos magoar? Esses minutinhos de tolerância e misericórdia podem tornar-se rotina se nos esforçarmos em repeti-los. Por que não?
São Francisco nos falou, há muito tempo, que é compreendendo que se é compreendido, que é dando que se recebe e que é amando que se é amado, que é ajudando que seremos ajudados, sem o interesse de receber, mas por vontade de ver o outro feliz. A satisfação e paz proporcionadas pela caridade são insubstituíveis, nada se compara a isso. Alguma coisa que faltava parece preencher o nosso ser e podemos dizer com toda a propriedade: “É isso que me faltava, é isso que quero repetir na minha vida.” Quando chegamos a este ponto, teremos mais chance de sintonizarmo-nos com espíritos, por exemplo, como os técnicos do sopro, pois eles esperam sempre por nós.
Ainda nesse mesmo capítulo de “Os Mensageiros”, é esclarecido que esses técnicos “São servidores respeitáveis pelas realizações que atingiram, ganham remunerações de vulto e gozam de enorme acatamento, mas, para isso, precisam conservar a pureza da boca e a santidade nas intenções”. Então, porque não nos empenharmos, assim como eles, em fazer o melhor que pudermos a cada instante? Principalmente, naqueles momentos em que temos dificuldade em orar e aguardar com um pouco mais de paciência para que o nosso amigo tempo e a ação dos bons espíritos possam colaborar conosco, fazendo-nos contar pelo menos até dez antes de manchar o nosso hálito com palavras rudes, provindas de impulsos insensatos.
Tenhamos consciência que, devagarinho, estamos andando a caminho de nossa regeneração. Algumas luzinhas modestas já estão acendendo em nosso querido planeta Terra e nos sentimos aliviados porque sabemos que Jesus está no leme desta nave e também sabemos que o bem contamina. Com o esforço de cada um de nós, abriremos juntos, de mãos dadas, mais caminhos de luz, formados pela soma de nossas humildes chaminhas, pertinho umas das outras, propagando-se a pequeninos passos, porém firmes e resolutos.
Agradeçamos ao Mestre, a Deus, a existência destes técnicos do sopro a nos curar e a nos inspirar.

Maria Lúcia Garbini

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

Imagem do livro mencionado

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Ter e ser.


É um desafio muito difícil, dizia aquela senhora de cabelos nevados pelo tempo, falando do convívio entre pessoas com diferentes objetivos de vida.
Comentava que quando se casara, imaginou que seria fácil fazer o companheiro ver o mundo com outros olhos.
Porém, a realidade na sucessão dos dias, foi mostrando que as mudanças somente acontecem quando as pessoas querem.
Ela fora professora e se entregava, de coração, ao trabalho voluntário, auxiliando os demais a enfrentar a vida com alegria.
Seu companheiro, no entanto, era comerciante e seu sonho era a autorrealização no campo das finanças.
Para ele, todos deveriam lutar pelas conquistas materiais para favorecer a vida na velhice.
Por isso, cobrava dela mais colaboração na conquista de bens que pudessem constituir riqueza.
Passados anos, idosa, ela lhe disse que desejaria cursar uma faculdade. Era seu sonho.
Dele recebeu somente críticas pela sua maneira de encarar a vida como se fosse uma fantasia.
Será que ela não percebia que estava próxima da idade de morrer? Para que criar ilusões?
Ela silenciou, com o coração retalhado.
Mais tarde, com os ânimos amenizados, ela lhe disse que a diferença de visão entre eles, era somente de uma letra.
E explicou: Você sempre lutou por ter mais. Mais dinheiro, mais propriedades, mais títulos. Quanto a mim, o meu sonho era e continua sendo somente ser. Ser melhor, intelectual e moralmente.

* * *

Nesta vida, presos à realidade material, quase todos ficamos aturdidos e nos enamoramos pelas posses terrenas.
A busca que nos encanta é a do poder.
Lutamos incansavelmente, nos jogando na tarefa de possuir tudo o que nos possa destacar.
O poder do dinheiro nos faz sentir uma falsa superioridade junto aos demais, porque podemos adquirir o que quisermos.
Dizem os sábios que quando desejarmos conhecer profundamente um indivíduo basta lhe conferirmos qualquer poder.
São ilusões materiais que cegam e nos apresentam esse suposto ar de superioridade.
Jesus, que conhecia profundamente as almas humanas, alertou-nos a respeito das posses que deveríamos acumular.
Seus ensinamentos visavam as riquezas espirituais, as únicas que, depois de conquistadas, nada, nem ninguém, nos poderá retirar.
Disse-nos dos talentos que devemos trabalhar em nós, a fim de nos enriquecermos intimamente.
Naturalmente, enquanto na Terra, necessitamos buscar meios honestos de ganharmos o pão de cada dia, garantindo-nos o sustento.
Porém, como somos estrangeiros, passando uma temporada na Terra, não podemos nos descuidar da bagagem que levaremos ao retornar à casa verdadeira, que nos aguarda.
Essa bagagem é constituída do conhecimento que adquirirmos, dos sentimentos que burilarmos e do bem que fizermos.
Somos Espíritos imortais em busca de luz.
Somente o amor e a sabedoria têm o poder de nos conferir enriquecimento definitivo.
Saibamos optar pelo caminho que nos faça brilhar interiormente, irradiando luz ao nosso redor.
E, então, simplesmente, sejamos felizes.

Jornal Mundo Maior

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quarta-feira, 12 de julho de 2017

A navalha de Occam


É fácil escrever difícil. Basta colocar no papel as ideias que surgem no bestunto, ainda que, não raro, desandem em destemperos mentais.
Difícil é escrever fácil. Exige demorada e árdua elaboração para tornar a leitura elegante, atraente e objetiva, sem impor prodígios de concentração e entendimento.
Trata-se de uma gentileza que todo autor esclarecido deve ao leitor que se dispõe a examinar suas criações. O texto que exige cuidadosa interpretação é mais charada do que literatura. Fica por conta da capacidade de quem lê, no empenho em orientar-se por labirintos tortuosos, fruto dos devaneios do autor.
Jesus dizia que a verdade está ao alcance dos simples.
Os doutos e entendidos costumam sofrer uma intoxicação intelectual que oblitera o bom senso e os leva a imaginar que tortuosidade e complexidade são sinônimos de cultura e saber.
A propósito vale lembrar Guilherme de Occam (1285-1349), notável teólogo e filósofo inglês (nascido em Occam, nos arredores de Londres). Ingressou bem jovem na ordem franciscana. Estudou e lecionou na gloriosa universidade de Oxford.
Inteligente e lúcido estimava a simplicidade na exposição de suas ideias. Complexidades ou conjecturas, apenas se absolutamente necessárias.
Adotou um princípio que ficaria conhecido como a navalha de Occam, definindo o empenho em retirar de um pensamento ou de uma tese acessórios e complicações desnecessários, louvando-se no bom senso.
Se a aplicássemos em textos herméticos e obscuros dos filósofos que fazem a história das contradições do pensamento humano, seria uma “carnificina”. Pouco sobraria.

***

Nem sempre Occam conseguiu usar sua navalha.
Aconteceu particularmente em relação à existência de Deus, assunto que preferia não abordar. Não a negava, mas considerava que, devido à transcendência do tema, seria impossível conjeturar sobre o Criador sem recorrer a argumentos complexos, de difícil entendimento.
Os Espíritos que orientaram a codificação da Doutrina Espírita ensinaram diferente. Dotados de notável capacidade de síntese, própria da sabedoria autêntica, demonstraram que é possível passar a navalha de Occam em lucubrações complexas e reduzir a argumentação em favor da existência de Deus à sua expressão mais singela.
Isso acontece na questão número quatro, em O Livro dos Espíritos.

Pergunta Kardec:

Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

Resposta:

Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.

Comenta Kardec:

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Simplíssimo! Se o Universo é um efeito inteligente, tão superior ao nosso entendimento que seus segredos são inabordáveis, forçosamente tem um autor infinitamente inteligente – Deus.
A partir dessa ideia o difícil é provar que Deus não existe. Teríamos que explicar o efeito sem causa, a criação sem um Criador.
Quaisquer argumentos em favor desta tese ingrata seriam facilmente eliminados pelo próprio Occam, usando a navalha do bom senso.



De Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935. De família espírita, participa do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, tem mais de cinquenta obras publicadas.

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sexta-feira, 7 de julho de 2017

Um leão por dia


Conta-se que um experiente caçador se encontrava em caça, quando uma situação inusitada se deu.
Seguindo a pista de um leão, apartou-se do seu grupo de caçadores e embrenhando-se na vegetação acabou por alcançar uma pequena clareira na qual, coincidentemente, o leão também adentrou, porém, em posição diametralmente oposta à sua.
Sozinho diante do grande felino, que vinha ao seu encontro, verificou que tinha somente um projétil disponível para tentar abater o animal.
Em um átimo de tempo, experiente que era, e diante do perigo iminente, decidiu pela prece nos seguintes termos:

– Senhor Deus, diante desta situação, que Você acompanha, peço que, se Você está do meu lado, ajude-me a acertar o animal com o único projétil que tenho, mas, se Você está do lado do leão, ajude-o a me matar com um único golpe, para que eu não sofra. Porém, se Você não está nem do meu lado, e nem do lado do leão, sente-se aqui perto, porque assim Você assistirá a uma luta jamais vista por estas redondezas.

*

Em nosso dia a dia nos envolvemos em muitas situações, consciente e inconscientemente, que nos pedem controle emocional e discernimento para o melhor proveito ao nosso espírito imortal.
A estória acima nos remete à realidade de nossas vidas, que nem sempre permite o prazer da vitória, segundo o entendimento humano, mas, ao contrário, muitas vezes nos impõe contrariedade e sofrimento, cabendo a nós a escolha de como vamos nos comportar diante da realidade dos fatos.
Qualquer que seja o retorno dado pela vida, tem o Espírito a possibilidade de tirar proveito para seu crescimento íntimo, sem as ilusões que alimentam o orgulho e a vaidade, quando o retorno é bom, e sem desculpismos, acusações ou inconformação, quando o retorno é motivo de dor e sofrimento.
Popularmente se diz, nos dias corridos e atribulados de hoje, que é preciso matar um leão por dia para se manter e prosperar diante da vida, o que significa estar disposto ao enfrentamento daquilo que há de vir. Como tudo o que ocorre em nossas vidas está concorde com a Lei de Deus, que é de Justiça e Amor, estamos sempre diante da possibilidade de crescimento, com a inércia, o desânimo e a fuga correndo por nossa conta.
Desta forma sempre será possível travar a “boa luta contra os leões” que se apresentam aos nossos espíritos, como se propôs aquele caçador que, consciente das possibilidades múltiplas, escolhe agir corajosamente sem se deixar levar pela aparente impossibilidade da vitória.
É fazer a nossa parte, porque o resto é com a vida.
Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

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quinta-feira, 29 de junho de 2017

O terrível obsessor


Fares, próspero comerciante, aguardava com ansiedade o término dos trabalhos mediúnicos em sala íntima, junto ao salão de reuniões públicas, no Centro Espírita. Desejava orientação para um problema que o afligia. Algo aparentemen­te simples, até ridículo para quem o apreciasse, mas terrível para ele que o enfrentava: uma dificul­dade no fechamento diário de sua próspera loja.
Dificuldade não era o termo exato. Diria melhor, batalha. Uma batalha contra o impulso de repetir intermináveis cuidados e verificações, rela­cionados com as instalações elétricas, o cofre, as janelas e a porta de entrada.
Esta última era o tormento maior. Parecia dotada de magnetismo. Por maior fosse seu empenho em afastar-se, era inexoravelmente atraí­do, levado a testar repetidamente se estava tranca­da. Pressionava para cima, como se fosse erguê-la, experimentando a resistência da fechadura central. Observava o cadeado embaixo, manualmente, porque não confiava no testemunho de seus olhos.
Ensaiando resolução, virava as costas e da­va alguns passos em retirada. Frustrava-se logo, porquanto a dúvida se instalava de imediato, tra­zendo-o a novas verificações. Repetia aquele bailado irracional múltiplas vezes, disfarçan­do para que ninguém percebesse seu comporta­mento desatinado.
Quando finalmente convencido de que tudo estava bem, já no estacionamento em tra­vessa próxima, ressurgia a infame dúvida: “Será que tranquei o cofre?”
Então se danava, forçado a rever a verificação, confrontando pela enésima vez a malfadada porta, a esquentar os miolos.
Confiava na ajuda espiri­tual. O médium encarregado do receituário era co­nhecido por suas virtudes como instrumento dos Espíritos em favor de pessoas atribuladas.
Encerrada a reunião, ouviu chamarem por seu nome. Levantou-se e foi ao encontro do aten­dente, que lhe entregou a esperada orientação. Em letra firme e alongada estava registrado:

Diagnóstico: Auto-obsessão.

Tratamento: Passe e oração. Ler Mateus, 6:19-21.

Fares estava perplexo. Já ouvira alguém se re­ferir à auto-obsessão como um processo em que o indivíduo alimenta ideias infelizes que o pertur­bam, colhendo sofrimentos voluntários, desneces­sários e inúteis, algo como morder a própria língua ou bater a cabeça na parede.
Chegando ao lar, buscou um exemplar de O Novo testamento. No trecho recomendado, leu:

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam. Mas, ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem e onde ladrões não escavam nem roubam. Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Impressionado, Fares considerou que talvez fosse melhor empenhar o coração em favor de ri­quezas mais consistentes, conforme a recomenda­ção de Jesus.

* * *

Quando nos envolvemos demasiadamente com o imediatismo terrestre, nossa mente passa a funcionar em circuito fechado, gerando dúvidas e angústias que crescem rapida­mente em nosso íntimo, como massa levedada.
Em tal situação, antes de cogitarmos da existência de supostos obsessores, melhor faríamos combatendo a auto-obsessão, no esforço por arejar nossa vida interior com ideias nobres e ideais santificantes, cuidando das “coisas do Céu”, para que as “coisas da Terra” não nos sufoquem.

Richard Simonetti

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935. De família espírita, participa do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, tem mais de cinquenta obras publicadas.

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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Os perigosos caminhos da pressa!


Tenhamos bastante cuidado e toda prudência necessária para evitarmos o estado de ansiedade que, volta e meia, nos toma de surpresa causando um mal-estar que nos incomoda e entristece por muito tempo. Inicia-se de forma bem sutil e quando despertamos já estamos contaminados por uma inquietação que nos causa grande preocupação com alguma coisa que nem sempre se concretiza, mas que nos causa enormes prejuízos emocionais.
Essa inquietação pode até mesmo nos levar a processos doentios de angústia e medo. E acontece, porque, como seres imperfeitos que ainda não adquirimos a devida paciência para esperar o momento adequado para a realização das coisas que almejamos realizar, apressadamente, atiramo-nos na busca da solução precipitada de algo que demanda, normalmente, muito tempo e trabalho.
É necessário que aprendamos a observar os exemplos que a “mãe natureza” nos fornece a cada instante quando nos permitimos perceber, mostrando-nos que o fruto não surge sem que a árvore esteja devidamente pronta e na época certa de sua estação; que o dia não chega antes que a madrugada se vá; que a noite não surge sem que o Astro-Rei tenha iluminado todo o dia. Em vão será todo o esforço mal direcionado e todo trabalho que não se apoie na disciplina do respeito ao tempo necessário para sua concretização, porque tudo tem seu tempo de realização, conforme diz a sabedoria popular “a pressa é inimiga da perfeição”.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, em seu Capítulo V, temos instruções que muito nos aclaram sobre o assunto, conforme segue:

“Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes. Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai, pacientemente, o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos a vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra. François de Genève. (Bordéus.)”

Urge que nos empenhemos, com esmero, disciplina e confiança, no trabalho de elaboração de todo o nosso cometimento seja no âmbito familiar, profissional, religioso ou outro qualquer que esteja sobre nossa responsabilidade, mas que saibamos aguardar o devido tempo de espera, necessário para a realização adequada de nosso objetivo, que chegará na hora certa. Respeitemos o tempo adequado para colheita, pois bem sabemos que mesmo que os frutos surjam, ainda se faz, imprescindível, que respeitemos a época necessária para a colheita na hora mais adequada, sem precipitações que nos causariam perda da safra de nossa preciosa semeadura.
Observemos ainda que, embora todo o nosso trabalho e dedicação no cuidado para com a lavoura, pode acontecer que não colhamos os resultados que esperávamos, em vista dos inúmeros imprevistos que poderão acontecer entre a semeadura e a colheita, nosso estado de ansiedade não será capaz de alterar o resultado final da colheita, visto que tudo é concessão Divina que poderá muito bem achar que não é a hora de conquistarmos tal ou qual coisa e, dessa forma, precisamos ter calma, equilíbrio e paciência para aceitarmos os desígnios superiores em relação às nossas construções hodiernas, respeitando as determinações da Lei Maior.
Em O Livro dos Espíritos encontramos as sábias instruções dadas pelos Imortais da Vida Maior, em resposta ao questionamento feito por Allan Kardec sobre o assunto conforme segue:

As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?

“Não; já dissemos: são provas impostas por Deus, ou que vós mesmos escolhestes como Espíritos, antes de encarnardes, para expiação das faltas cometidas em outra existência, porque jamais fica impune a infração das leis de Deus e, sobretudo, da lei de justiça. Se não for punida nesta existência, sê-lo-á, necessariamente, noutra. Eis porque um que vos parece justo, muitas vezes sofre. É a punição do seu passado.”

Jesus nos guie e nos guarde no propósito de sublimação que desejamos empreender desde já.

Referências:
(1) Kardec, Allan – E.S.E. Capítulo V, item 25; e
(2) Kardec, Allan – Livro dos Espíritos – Questão 984.


Francisco Rebouças

Pós-Graduado em Administração de Recursos Humanos, Professor, Escritor, Articulista de diversos veículos de divulgação espírita no Brasil, Expositor Espírita, criador do programa: "O Espiritismo Ensina".

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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Alimento da alma


Em primoroso capítulo do livro Nosso Lar, o Benfeitor desencarnado André Luiz considera o amor como o alimento da alma. Discorrendo a respeito do tema, o Espírito mostra que o ser espiritual necessita do contato com pessoas simpáticas para trocar com essas pessoas energias de afeto, fundamentais ao seu bem-estar e ao seu equilíbrio biopsico-socio-espiritual.
Uma lei natural, que tem a sua explicação no próprio magnetismo, faz com que as pessoas afins se aproximem, formando grupos de relação. Sem a troca de afeto, o indivíduo adoece e pode vir a desencarnar.
Não raramente, identificamos casais muito unidos, que envelhecem de forma afetuosa e que a desencarnação de um deles leva, misteriosamente, a enfermidade e desencarnação do outro, sem explicação técnica plausível.
Curiosamente, a ciência oficial começa a descobrir essa lei. A mais importante revista de medicina do mundo (N Eng/Med) acaba de publicar um estudo que confirma cientificamente esse princípio. 
O estudo mostrou que nossa saúde depende intimamente da saúde das pessoas que convivem conosco. Muitos cônjuges, anteriormente sadios, adoeceram após o falecimento do parceiro.
Pesquisas realizadas anteriormente mostraram que pessoas que vão ao médico com acompanhantes têm mais chance de melhora clínica e enfermos hospitalizados saem mais cedo do hospital se recebem um número maior de visitas. Outros estudos mostraram que as pessoas casadas vivem mais e adoecem menos que as solteiras e que jovens que convivem bem com os pais, mantendo com eles uma relação de cordialidade, serão velhinhos muito mais saudáveis do que os outros jovens.
É sempre atual a recomendação de Jesus: Cuide do seu próximo como da pupila de seus olhos.
O que fazemos de bom, útil ou generoso para as pessoas de nossa relação retorna pra nós, de uma forma ou de outra.

Ricardo Baesso de Oliveira 
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)

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terça-feira, 6 de junho de 2017

Bons hábitos


"A moral é a regra do bem proceder..."
As pessoas que têm moral são as que procedem bem, ou seja, tem hábitos positivos. Agir moralmente é ter atitudes que promovam o bem geral.
Moral, desta forma, está relacionada à ação, ou seja, aos hábitos adquiridos.
Podemos melhorar moralmente e, para isso, não existe outro caminho senão o que passa pela aquisição de bons hábitos.
A razão tem papel fundamental nesse processo, pois, antes de adquirirmos hábitos morais sadios, precisamos usar bem o intelecto. É ele que vai nos dar consciência do que é certo e do que é errado nas diversas situações que vivemos.

James Hunter e os hábitos morais

O autor do best-seller O Monge e o executivo trabalha com uma linha muito interessante. Propõe que hábitos morais podem ser adquiridos com treinamento e muito esforço. Para tanto precisamos, necessariamente, passar por algumas etapas.

1. Inconsciente e sem hábito

Antes de ter o hábito adquirido a pessoa não sabe que necessita tê-lo.
É preciso saber o que deve ser mudado, o que deve ser conquistado e por quê, para que haja um esforço na aquisição do hábito.
Dessa forma, todos passamos por essa etapa de não saber o que precisamos mudar. Somos ignorantes em relação aos novos hábitos. É como a criança que ainda não foi orientada que deve escovar seus dentes sozinha.

2. Consciente e sem o hábito

Chega um momento em que alguém nos informa, ou tomamos conhecimento através de livros, palestras ou experiências de vida, da necessidade de termos hábitos morais sadios.
É aí que passamos a ter conhecimentos teóricos sobre a importância desses hábitos. Ainda não agimos, mas temos o conhecimento intelectual. Somos semelhantes às crianças que ouviram da mãe a importância da higiene bucal e as instruções de como escovar corretamente os dentes.

3. Consciente com o hábito

Após a tomada de consciência do que deve ser feito e do como deve ser feito, passamos a treinar os hábitos morais sadios.
Após um bom período de repetições e esforços, já agimos com mais naturalidade. Sabemos como agir e nos esforçamos para isso.
Nossos esforços são recompensados com as ações boas. As situações problema surgem e o intelecto já aciona a pessoa na tomada de decisões.
Seguindo o exemplo da criança, estamos numa fase onde além de saber como escovar os dentes e da importância desse hábito, despertamos pela manhã e nos lembramos de que devemos realizar a escovação e nos dirigimos à pia, procurando de forma consciente a escova e o creme dental.

4. Inconsciente e com o hábito

Essa é a fase onde sabemos o que precisamos fazer, mas não necessitamos lembrar a cada situação. Agimos de forma correta nas situações onde devemos fazer o melhor.
Não precisamos recorrer à memória ou a teorias. Passamos a agir naturalmente, de forma espontânea, pois já temos o hábito adquirido.
O menino já escova os dentes de forma automática. Pensa em outras coisas, sem precisar repassar as instruções da mãe no que diz respeito ao sentido da escovada... se de baixo para cima ou de cima para baixo. Simplesmente faz.
É uma espécie de segunda natureza. O hábito está adquirido.

Treino, treino e treino

Mesmo que muitos digam: "falar é fácil, o negócio é fazer", é bom nos desafiarmos a adquirir bons hábitos.
O mundo se tornará um lugar melhor para viver, na medida em que nos melhorarmos moralmente.
Precisamos agir corretamente, pensando no bem das pessoas a nossa volta.
E nada melhor do que o esforço real, que o treinamento constante, para adquirirmos novos valores, novas capacidades.
São esforços pequenos e diários que certamente valerão a pena.

Cristian Macedo
Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil)

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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Distúrbios Psicológicos


Dez milhões de pessoas, em todo mundo, consomem substâncias psicotrópicas para minimizar tensões nervosas, fobias e insônias, entre outras. Uns cem milhões usam tranquilizantes, como lexotan, lorax, anafranil, benzodiazepina, para tratamento dos sintomas psicopatológicos como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e estresse.
Há momentos de inquietudes e de instabilidades emotivas nos múltiplos setores da sociedade, em que existem de 15 a 30 milhões de pessoas com transtornos mentais, neuroses e índices acentuados de demência, como a epilepsia e vários outros transtornos psicóticos.
Para a Psiquiatria, os desacertos psíquicos originam de fatores físicos. Já a Psicologia, especialmente a Psicanálise, considera-os como reflexos de traumas adquiridos na experiência da vida, “incrustados” no inconsciente. A Neurologia aponta-os como alteração da sincronia genética, interferindo na estrutura dos neurônios.
A despeito da ação efetiva dos psicofármacos, acreditamos que eles funcionam como paliativos nos momentos críticos das disfunções psíquicas, até porque, os elementos geradores dessas patologias, a rigor, não se encontram nos neurônios do cérebro, porém, na estrutura funcional do perispírito.
André Luiz explica que “um lago de águas agitadas não reflete a luz da estrela que jaz no firmamento”. Pura realidade! Existem pessoas neuróticas que trabalham com tanta voracidade, aprisionadas pela ganância pelo dinheiro, numa escala sem precedentes. Sem método, sem descanso e sem tempo para a família. Tais pessoas chegam ao paroxismo da desertificação dos sentimentos, numa lamentável opacidade espiritual.
Estarrece-nos a sofreguidão da busca do sexo em que são remetidos os escravos da luxúria nos pântanos da indigência moral, como reflexo da ociosidade. Outros se mantêm numa exagerada genuflexão, sucumbindo na afasia.
Diante dos ventos das adversidades e dos apelos conflituosos, em face das competições humanas, devemos conectar o “plugue” da fraternidade, nela, desfrutarmos o prêmio de uma vida saudável.
O matemático e psicólogo Pedro Ouspensky, discípulo do notável George Gurdieff, sugeriu, nesse contexto, uma revisão das propostas das escolas psicológicas, da Psicologia mecanicista, da Psicologia aplicada, do Behaviorismo e das demais escolas psicológicas sedimentadas no pensamento psicoanalítico de Sigmund Freud. Escudada pela retórica eterna da mensagem da libido, deveriam essas escolas psicológicas ceder espaço à busca da psicologia do homem como um todo, do ser integral, sem que esse seja visto, somente, como um animal movido à sexualidade.
A psicologia tradicional com suas teses reducionistas, não pode continuar confundindo a psiquê com os atributos intelectivos, porém, deve entronizar os preceitos da Psicologia transpessoal, que explica e disseca o homem integral – a personalidade, a individualidade – estuda-os numa simbiose harmônica. Uma individualidade eterna, que transita em múltiplas etapas, através das imperiosas leis da reencarnação.
À Doutrina dos Espíritos está reservada a tarefa de alargar os horizontes das pesquisas psíquicas, contribuindo para a solução dos enigmas que atormentam a consciência, projetando luz nas questões desafiadoras do ser, do destino e da dor. Os processos psicopatológicos são frutos das nossas ações e decorrem da má utilização do livre-arbítrio. O Evangelho estabelece, como medida básica, a ética do amor e da caridade, para a conquista da íntima harmonia psíquica.
Portanto, com a prática dos Códigos legados pelo “Príncipe da Paz“, a Terra com seus processos provacionais e expiatórios representará magnífica escola de crescimento individual, em cujas lições purificadoras encontraremos a cura definitiva da maior chaga dos sentimentos humanos: o Egoísmo.

Jorge Hessen
http://www.agendaespiritabrasil.com.br/2017/05/29/disturbios-psicologicos/

Servidor Publico Federal, residente em Brasília, palestrante, escritor, articulista em diversos jornais e sites, com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Imortal, Revista Internacional do Espiritismo, entre outros e além de Conselheiro da Revista Eletrônica O Consolador.

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terça-feira, 23 de maio de 2017

Cuidado com sua língua… e o teclado também…


Vivemos atualmente tempos de julgamentos dos mais severos. Dirão alguns que já fomos piores, já julgamos mais e com mais severidade, o que quer dizer: estamos melhorando.
Penso, todavia, que a ideia de que já fomos piores faz-nos marcar passo na senda evolutiva porque é um convite a acomodação. Ora, se estamos melhores hoje não há razão para preocupações ou esforço para melhorar ainda mais.
Estamos melhores e isto é o que importa.
Contudo, não é bem assim…
Mas, vamos em frente…
Com o avanço da tecnologia e a chegada das redes sociais na vida do cidadão as opiniões sobre os mais diversos assuntos deixaram o local restrito dos churrascos em família para ganharem o mundo.
Hoje todo mundo sabe de tudo. Se o Juca do Brasil gosta de azul o Ronaldovski da Rússia sabe disto.
Se o príncipe do Castelo Rintintim almoçou caviar o Josué da Albânia está sabendo.
Atualmente poucos são os homens discretos neste mundo que conseguem não opinar sobre tudo, ou, então, não postar uma selfie quando está no restaurante com a família.
E, naturalmente, além das opiniões os julgamentos também são proferidos na mesma velocidade e intensidade.
Hoje todos colocaram a toga a julgar o comportamento alheio sem qualquer constrangimento. A pretexto de liberdade de expressão sentenças são dadas e reputações execradas. Interessante notar: a maioria dos que se arvoram a juízes denominam-se cristãos.
Esquecem, provavelmente, a máxima expressada por Jesus há dois mil anos e anotada por Mateus:

Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2).

Allan Kardec vai no mesmo tom de Jesus ao estabelecer a escala espírita e informar que apenas os Espíritos prudentes, isto já na terceira classe, é que podem fornecer um julgamento mais preciso dos homens e das coisas.
Quando estudamos o tema – Escala Espírita – compreendemos que ainda somos Espíritos que pertencem a categoria de imperfeitos. Logo, nossos julgamentos não tem base sólida, porquanto ainda estamos muito apegados aos preconceitos da Terra e, além disto, falta-nos capacidade intelectual e distanciamento emocional para julgar os homens e as coisas.

Vale reflexão:

Quantas vezes nos equivocamos em relação às pessoas?
Quantas vezes já nos pegamos tendo de reconhecer nossa precipitação ao afirmar que fulano é assim ou assado?
As lições de Jesus sobre o julgamento e o trabalho de Kardec na escala espírita são importantes para darem um norte de nossa real condição e, assim, não nos comprometermos pela língua ou o teclado.
Aliás, se antes o homem tinha de tomar cuidado com sua língua, hoje também deve fazer o mesmo com seu teclado.
Coisas da evolução, coisas da evolução…

Wellington Balbo

Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).

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terça-feira, 16 de maio de 2017

Da liberdade do 21 de abril


A vida permitiu-nos renascer no Brasil, a querida Pátria que nos acolhe. A história do país, na colonização, nos embates para a construção da democracia e mesmo nos gigantescos desafios da atualidade – onde se incluem a violência e o tráfico, o contraste entre os interesses de variadas ordens e a corrupção, entre outros itens dispensáveis de serem citados –, também apresenta os benefícios de um povo aberto, feliz, descontraído, ardente na fé e na disposição.
É nosso querido Brasil, gigantesco em proporções geográficas e na diversidade que se apresenta em todos os aspectos! Bendita pátria!
Por outro lado, o país acolheu a Doutrina Espírita como nenhum o fez. Das sementes germinadas em solo francês, foi aqui que a grande árvore do conhecimento se fez gigante como o próprio país continental. E nós temos a felicidade de conhecer essa Doutrina maravilhosa que inspira ações de caridade – em toda a extensão da palavra –, convivência fraterna e amiga por toda parte. Apesar das dificuldades e limitações humanas que são nossas, individuais e coletivas, ele, o Espiritismo, espalhou e espalha seus frutos pelas mentes e corações que o buscam ou são beneficiados por sua imensa luz.
Estamos no mesmo país que recebeu o cognome de Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, justa e coerente adjetivação para um povo ameno, solidário, apesar das lutas próprias de nossa condição humana. É aqui que as variadas expressões religiosas se manifestam para conduzir mentes e corações; é também nessa terra querida onde nasceram ou renasceram almas que conhecemos sob os abençoados nomes de Irmã Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, Divaldo Franco, Dr. March, Dr. Bezerra de Menezes, entre tantos outros ilustres filhos que lhe dignificam o nome, sendo impossível citar todos e mesmo especificá-los por área, tamanha a variedade e quantidade de benfeitores que aqui vieram e ainda aqui vivem.
O dia 21 de abril lembra liberdade, desde os tempos escolares. Isso lembra responsabilidade, comprometimento e ética. Afinal, temos um compromisso com nosso país, com a coletividade brasileira. Qualquer cidadão está comprometido com a segurança, com os valores do país, com a obrigação moral da retidão e da gratidão, que se estendem por ações em favor do bem comum. É o dever! Não apenas um dever cívico, mas o dever moral para conosco mesmo e para com o próximo, como indica o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Aliás, lembrando a Codificação Espírita, há que se ater às Leis Divinas, didaticamente, apresentadas pelo Codificador em O Livro dos Espíritos. Leis que se baseiam no amor, diga-se de passagem, mas, igualmente, são justas e misericordiosas.
Por tudo isso, a reflexão sobre nosso papel de brasileiros perante a Pátria Brasileira inclui-se, igualmente, no dever, ainda que apenas por gratidão pelo país que nos acolhe, garantindo-nos a paz desse foco irradiador de trabalho e fé que é o Brasil. Tamanho compromisso dispensa corrupção, egoísmo e tolas vaidades. Pede-nos, isso sim, trabalho e dignidade, exatamente, pelo alto compromisso que todos temos com a vida e o seu significado.
Repare o leitor atento que, quando ouvimos o Hino Nacional, a emoção nos envolve completamente. É o sentimento de compromisso com a missão da Pátria que integramos. O renascimento no país não é obra do acaso. Indica comprometimento e programação, sabiamente, elaborada. Saibamos respeitar e cumprir o que antes prometemos.
O Brasil tem grande papel a exercer junto à Humanidade. Filhos dignos, espíritos preparados e nobres estão sempre presentes como autênticos faróis a conduzir a coletividade. Sejamos daqueles que honram nossa condição humana e brasileira! Exemplos não nos faltam.
Por gratidão, ao menos, ao querido e grandioso Brasil! Lembremo-nos: o planeta construído por Jesus teve na mente e planejamento do Mestre da Humanidade a inclusão desse país incomparável, onde germinam as doces brisas do Evangelho.
Seria bom nesse momento de imenso desafio no país, que ouvíssemos novamente letra e música dos fabulosos Hinos da Independência ou da Proclamação da República, para nos deixarmos tocar pela emoção de sermos brasileiros.

Orson Peter Carrara

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