quinta-feira, 7 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Aproveitar o tempo
Lúcio, de dez anos, estava sempre a reclamar não ter tempo
para nada. Quando a mãe lhe perguntava se tinha tarefas da escola para fazer,
ele respondia:
— Sim, mas agora não tenho tempo. Estou brincando.
Mais tarde a mãe voltava a perguntar:
— Meu filho, você já fez os deveres da escola?
— Não, mamãe. Depois eu faço; agora estou vendo televisão!
E assim ele deixava para depois tudo que era realmente importante.
Certo dia, a professora Meire mandou um recado para a casa dele, pedindo que a
mãe de Lúcio comparecesse à tarde. Surpresa, a mãe agradeceu, confirmando.
Quando Lúcio chegou, a mãe quis saber como fora a manhã
dele. O menino olhou para ela e respondeu:
— Tudo bem!
Depois do almoço, a
mãe deu uma desculpa e foi à escola.
Meire, que a esperava, levou-a até a sala dos professores e,
após se acomodarem, a professora perguntou:
— Alzira, o que está acontecendo com Lúcio? Ele não tem
feito os deveres de casa e não estuda para as provas, alegando não ter tempo.
Gostaria de saber se isso é verdade, pois é grave a situação. As notas dele
estão muito baixas!
A mãe, que ouvia de olhos arregalados, respondeu:
— Não sabia que ele estava mal assim! Quando pergunto sobre
as provas, Lúcio diz que a professora ainda não deu as notas, nem entregou o
boletim.
— Não é verdade. Procure conversar com seu filho e saber o
que está acontecendo. Estou preocupada,
Alzira!
— Diante do que me disse, eu também! Obrigada, Meire. Vou
falar com ele.
A mãe retornou a casa e encontrou o filho no computador,
distraindo-se com um jogo. Pediu que ele desligasse para poderem conversar.
— Agora não posso, mãe. Estou ocupado, não vê? Não tenho
tempo!
A mãe levou a mão na tomada e desligou o computador,
afirmando:
— Agora nós vamos conversar, meu filho.
Levou-o para a sala e sentou-se com ele. Depois quis saber:
— Lúcio, você sabe o que significa “tempo”?
— Claro que eu sei, mãe! O tempo representa nossa vida. 60
segundos formam um minuto; 60 minutos, uma hora, e 24 horas representam um dia,
e assim o mês e o ano... É isso que quer saber?
— Sim, mas vai muito além, meu filho. Perguntei de “tempo”,
como oportunidade que Deus nos concede de vivermos e podermos aprender, não
apenas na escola, mas com a própria vida; realizar coisas que nos agradem,
crescer e evoluir. Mais tarde, escolher uma profissão para ajudar a nós mesmos
e a outras pessoas. Entendeu?
— Sim, mãe, mas qual é o problema? Aonde quer chegar?
— Como você gasta seu tempo, Lúcio? — ela respondeu com
outra pergunta.
O garoto baixou a cabeça e não disse nada. Então, a mãe
considerou:
— O problema, meu filho, é que você gasta seu tempo
inutilmente! Nada faz de bom ou de instrutivo, e, por isso, tem problemas. Não
valoriza os estudos, especialmente.
— Ah, mãe, é que eu gosto de brincar, jogar, ver televisão!
— o garoto murmurou, sem levantar a cabeça.
— Eu sei, você é criança ainda! Mas não pode fazer “apenas”
isso! Tem que estudar também, filho. Teremos que prestar contas a Deus pelo
tempo que desperdiçamos. Programando seu dia com cuidado, você pode fazer de
tudo, sem se descuidar de nada.
O garoto concordou, e contou à mãe, abrindo-lhe o coração:
— É verdade, mãe. Minhas notas estão péssimas! Eu sei que
preciso estudar mais!
Depois, respirou fundo e sorriu aliviado:
— Mamãe, eu estava preocupado. Reconhecer essa verdade e
contar para você deixou-me bem melhor. Preciso mesmo programar meu dia!
Ajude-me!
— Eu o ajudo, meu filho. Pode contar comigo, mas procure
colocar tudo no papel.
Lúcio pegou uma folha, colocou seus horários dividindo as
horas. Com exceção da manhã — que era horário escolar —, e deixou um espaço
para descanso logo após o almoço; depois, o horário de tarefas e estudo. E viu
que ainda sobraria tempo, antes de escurecer, para brincar com os amigos!
Feliz, ele mostrou a folha para a mãe, que aprovou.
— Muito bem, meu filho! Agora você só precisa obedecer a
essa programação.
— Pode ter certeza, mamãe. Não quero que o Pai do Céu me
cobre pelo tempo que desperdicei aqui na Terra. Vou fazer preces pedindo a
Jesus que me ajude a ser mais organizado. Tenho certeza de que vou conseguir!
Alguns meses depois, as notas de Lúcio estavam bem melhores
e mostrou o boletim para a mãe, com satisfação.
— Você está indo bem e, certamente, tem tido muita ajuda de
Jesus! Parabéns, meu filho! Estou orgulhosa de você. Mostrou que tem vontade:
decidiu mudar e manteve sua decisão.
— E sobra tempo para tudo, mamãe!
Meimei
(Recebida por Célia X. de Camargo, em 9/06/2014.)
Enviado por: Célia Xavier de Camargo
cxcamargo@uol.com.br
Rolândia-PR
Rolândia-PR
segunda-feira, 28 de julho de 2014
A inclusão das crianças especiais não é uma utopia
O conhecido estudioso e psicopedagogo espírita fala sobre a questão da inclusão das crianças especiais nas instituições espíritas
Marcos Paterra (foto), radicado em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, é psicopedagogo, palestrante e articulista espírita, membro da AME/PB. Na presente entrevista ele nos fala como vê a questão da inclusão das crianças especiais nas instituições espíritas.
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Nas instituições espíritas percebemos que poucos centros se adequam na estrutura física e menos ainda têm pessoas com conhecimento para lidar com as diversas e complexas formas de deficiências. A inclusão, tanto nas instituições espíritas ou mesmo nas escolas, é para alguns uma utopia, pois embora algumas instituições se adequem para algumas deficiências instalando rampas, banheiros apropriados, a falta de conhecimento dentre os que ali estão torna a estadia de crianças ou mesmo adultos um tanto comprometida.
Vejo instituições que fundam associações ou fundações paralelas para tratamento de crianças especiais, ou de doenças crônicas ou mesmo para deficientes físicos. Isso é muito bom, mas restringe a elas a inclusão, além do que tem fins específicos para determinado tratamento. E as outras instituições onde no bairro há uma família com um filho autista, ou deficiente auditivo, ou Down? Tem que excluir seu filho ou se deslocar para uma instituição que o aceite ou possa integrá-lo?
O senhor então considera a inclusão uma utopia?
Não. Mas... A inclusão se baseia em vários conceitos, dentre eles posso frisar três, em que é necessário que a criança:
1. Seja uma pessoa que se encontra dentro de um grupo, no sentido de dele fazer parte.
2. Que tenha amigos e relações sociais significativas com iguais, ou sinta que participa na vida social, contribuindo com alguma coisa.
3. Por fim que seja tratada com igualdade, carinho e respeito como a pessoa única que é.
Resumindo, ela tem que ser inserida de modo a sentir bem-estar pessoal e social. Fica evidente que a inclusão sem esses conceitos não assegura inclusão social. Se as instituições não pensarem e agirem baseadas nesses conceitos, as mudanças estruturais para deficientes não terão usuários com deficiência.
Qual sua opinião quanto à inclusão nas escolas de evangelização espíritas?
Um dos grandes desafios das instituições espíritas, atualmente, é saber lidar com a criança que apresente alguma deficiência. Em seu despreparo o centro espírita pode desencadear mais problemas ainda, e até mesmo agravar os já existentes, reforçando nessa criança o autoconceito negativo, a desmotivação, o desinteresse e outros mecanismos de defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressividade, que utiliza para justificar a sua incompetência diante da aprendizagem, acreditando-se incapaz de internalizar novos conhecimentos. Acredito que seja necessária a construção do Projeto Pedagógico moldado às novas condições, e também identificar e intervir junto às dificuldades que esses alunos incluídos possuem ou tendem a possuir nessa nova perspectiva de ensino.
Que consequências você vislumbra para o processo de evangelização infantil e juvenil advindas da carência de uma visão inclusiva nessa atividade no movimento espírita atual?
Enfrentamos um paradigma cultural que vem dos conceitos eugenistas, em que o que é diferente ou deficiente deve ser “excluído”. Assistimos no decorrer dos últimos anos às tentativas maciças de liberar o aborto, a eutanásia e, é claro, também minar as tentativas de inclusão. Sob esse prisma é necessário criar processos de ensino onde a visão inclusivista seja acrescida, ou teremos espíritas elitizados e moldados a formas arcaicas do conhecimento. Entendo que a própria palavra “Evangelizar” é espalhar a “boa nova” e, portanto, vamos fazer isso aprofundando-nos em uma visão inclusivista, no grande amor de Jesus por todos, sem distinção de sexo ou deficiências. E vou mais além, na evangelização juvenil que abre precedentes para o ESE e o ESDE, deve-se já instigar os jovens à leitura de obras de J. Herculano Pires, Ernesto Bozzano, Bezerra de Menezes, Adenauer de Novaes, e tantos outros que fazem também parte da história do Espiritismo e abordam assuntos pertinentes sobre diversos tópicos, dentre eles as deficiências. E dentro do ESDE seria imprescindível também ter esse incentivo. A doutrina espírita, maravilhosa que é, abre precedentes para a crítica e a autocrítica, e para responder às dúvidas inerentes a essas críticas é necessário ampliar as fontes do saber.
Se nós, que pregamos a caridade e tencionamos o entendimento do ser, não abrirmos precedentes para a inclusão dentro de nossas instituições, e é claro na evangelização, estaremos caindo na hipocrisia da falsa moralidade e criando seres eugênicos.
Você diria que crianças com alguma síndrome, como o autista por exemplo, sofrem algum tipo de obsessão ?
Conforme Bezerra de Menezes na obra Loucura e Obsessão, psicografada por Divaldo Franco, o Autismo, como também todos os processos de limitações e doenças psíquicas ou mentais, é um resgate para Espíritos que em suas encarnações passadas tiveram "poder" de influência, decisão, liderança, ideológico ou coisas assim e que não utilizaram aquele "dom" em um objetivo útil ao próximo, abusando de sua influência e muitas vezes se aproveitando de tudo o que podia fazer para ganho próprio. O psicólogo espírita Adenáuer de Novais na obra “Reencarnação: processo educativo” nos diz: “Há crianças que rejeitam tão fortemente a encarnação atual, aos membros de sua família, ao ambiente em que retornaram, que se alheiam da realidade. Experimentam uma rejeição muito grande à atual encarnação. O Espírito prefere permanecer vinculado ao passado, a algo distante e remoto que, de alguma forma, lhe recompensa. Esses casos podem levar ao autismo. [...]”.
Em resumo, além da auto-obsessão, essas “crianças que apresentam síndromes” também atraem inimigos do passado que as obsidiam.
Gostaríamos de agradecer sua disposição em nos conceder esta entrevista e pedir suas considerações finais.
Eu que agradeço, e gostaria de aproveitar e enfatizar que a “inclusão” não se restringe aos portadores de deficiência, mas também envolve as diversidades étnicas, a opção sexual e as diferenças sociais ou religiosas. Devemos lembrar que, segundo aprendemos no Espiritismo, o corpo nada mais é que uma carcaça para que o Espírito possa habitar e evoluir. Sob essa ótica somos todos Espíritos... Portanto, todos IRMÃOS!
Devo também lembrar que os Centros Espíritas ajudam e orientam nas questões espirituais, todavia se o frequentador/evangelizando necessita de cuidados médicos ou fazer uso de remédios, não podemos nem devemos interferir. Nosso tratamento é baseado na fluidoterapia e na orientação, mas não descartamos o auxílio carnal dos médicos.
Para finalizar cito a frase de Kardec em “A Gênese” (pág. 31): “na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade”. Muito obrigado.
De: Marcos Paterra
Enviado por: Marcus Vinícius de Azevedo Braga
marcusbragaprofessor@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) |
quinta-feira, 24 de julho de 2014
A reencarnação foi ensinada por Papas e está no Decálogo
A reencarnação pertencia ao cristianismo primitivo. Só no Concílio Ecumênico de Constantinopla (553) é que foi condenada. Aliás, foi condenada a preexistência bíblica do espírito, que ensina que o espírito já existe quando acontece a concepção do feto. “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações.” (Jeremias 1: 5). Não existe reencarnação sem a preexistência. E se entendeu que ela foi também condenada.
Os papas Eugênio IV
(papa de 1431 a 1447) e Nicolau V (papa de 1447 a 1455) apoiaram o seu ensino
pelo sábio cardeal italiano de Cusa (1401 a 1464). (Meu livro “A Reencarnação
na Bíblia e na Ciência”, 8ª Edição, página 172, Ed. EBM, SP). Também o Papa são
Gregório Magno (papa de 590 a 604) a defendeu. (Idem e “Patologia Latina V. 76,
Col. 1.100, Homilia 7, “In Evangelio”, citação de Carlos Torres Pastorino, “Sabedoria
do Evangelho”, volume 4, página 120). Para ele, João Batista é reencarnação de
Elias (Malaquias 3: 1; e 4: 5; Mateus 11: 14; e Mateus 17: 13). E ele diz que o
Batista nega ser Elias (João 1: 21), mas Jesus afirma que seu Precursor é Elias
e que já tinha vindo e o haviam degolado. (Mateus 17: 12). Para esse papa, foi
como pessoa (personalidade particular de cada reencarnação do espírito) que o
Batista negou ser Elias. De fato, geralmente, não nos lembramos das vidas
passadas (Jó 8: 9). E continua o Papa
Gregório: É como espírito ou individualidade (a personalidade geral da
Psicologia Transpessoal de hoje), que animava sua pessoa, que João era o Elias
que viveu no tempo do Rei Acab, no século IX antes de Cristo. (Papa são
Gregório Magno, Homilia 7, Patologia Latina, Volume 76, Col. 1100, citação de
Pastorino, em “Sabedoria do Evangelho, Volume 3, página 21).
E o Decálogo (Os
Dez Mandamentos) trazem: “...sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais
nos filhos, “na” terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem...” (Êxodo
20: 5; e 34:7), ou seja, nos netos e bisnetos, quando o avô e o bisavô,
geralmente, já se desencarnaram, e então o espírito do avó ou do bisavó já pode
voltar reencarnando num neto ou bisneto, pagando ele próprio os seus pecados
cometidos no passado. Realmente, os espíritos reencarnam muito nos seus
familiares e descendentes. Mas os tradutores dogmáticos falsificaram a Bíblia.
E, no lugar da preposição “em” mais o artigo feminino a (na), puseram a “até”,
ridicularizando, assim, a justiça divina, pois fazem os espíritos pagarem
pecados de outros. Tenho a tradução correta de João de Almeida de 1937, com
“na”. Mas, posteriormente, como o espiritismo cresceu muito e pôs em destaque
essa preposição (no hebraico “al”), a qual lembra a reencarnação, os
tradutores falsificaram a tradução.
A “American Bible
Society”, a tradução para o Esperanto do Dr. Zemenhof (“en la tria kaj kvara
generacio”) e a Vulgata Latina de são Jerônimo
(“in tertiam et in quartam generationem”) são fiéis à preposição
hebraica “al” (sobre), que significa também em.
Devemos respeitar
o cristianismo dogmático dos teólogos, mas o verdadeiro é o bíblico
reencarnacionista!
José Reis Chaves
Escritor, prof. de português pela PUC-Minas, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo na Bíblia, radialista, palestrante no Brasil e exterior, estudou para padre Redentorista.
jreischaves@gmail.com
Tel/Fax (31) 3373-6870.
Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.
Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br
Seicho-No-Ie, “Seminário da Luz”, em 8-6-2014. Orientadora: Preletora da Sede Internacional, Marie Murakami. Local: Chevrolet Hall, Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, das 10h00 às 16h30. Contato: (31) 3411-7411.
Notícias do Movimento Espírita: : http://ismaelgobbo.blogspot.com.
Imagem ilustrativa
sábado, 19 de julho de 2014
A conspiração do silêncio em torno do Espiritismo
Mesa inter-religiosa no V Congresso Brasileiro de Pedagogia
Espírita e II Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade, promovido
pela Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (abril de 2014)
Resolvi escrever no meu blog esse desabafo porque é
necessário pelo menos que aqui, num terreno meu, e livre, eu possa dizer tudo o
que penso e me seja garantida uma escuta honesta.
Há uma conspiração do silêncio de 150 anos em torno do
Espiritismo e eu, como militante da ideia emancipadora da Pedagogia Espírita, sofro na
pele diariamente esse silenciamento em forma de censura, de boicote, de
patrulhamento ideológico, de que aliás, os próprios espíritas, muitas vezes
fazem parte, por medo, covardia e por falta de entendimento do que o
Espiritismo representa.
Kardec foi banido da cultura do século XIX, juntamente com
todos os que o sucederam em pesquisas sérias a respeito dos fenômenos
espíritas, como Crookes, Geley, Lodge, Zöllner, Lombroso, Conan Doyle e tantos
outros. Se estes continuam a ser respeitados nos domínios do conhecimento
cientifico em que se destacaram – as biografias, os artigos científicos, as
divulgações de seus nomes omitem sutilmente que eles tenham se envolvido com
esse modismo ultrapassado do século XIX e início do século XX.
Claro, se entendermos o Espiritismo como mais uma religião,
piegas, retrógrada, desatualizada em relação aos avanços do pensamento
contemporâneo, enfim uma idéia ultrapassada do século XIX, não há como não
manter um desprezo em relação a essa corrente de pensamento, a Kardec e a tudo
o que vem com o qualificativo de espírita. E quando se silenciam os cientistas
que pesquisaram e os pensadores que filosofaram é o que vai ficar mesmo do
Espiritismo. Porque é verdade que o movimento espírita no Brasil muitas vezes
apresenta exatamente esse perfil, movido por um mercado editorial altamente
comercial, que publica majoritariamente hoje livrinhos de auto-ajuda e romances
sem nenhuma consistência literária ou filosófica.
Então, para as pessoas que guardam essa imagem do
Espiritismo, não adianta eu falar que fiz minha tese sobre Pedagogia Espírita
na USP, patrocinada pelo CNPQ; não adianta explicar que temos uma proposta de
inter-religiosidade; não adianta fazer 5 magníficos congressos brasileiros de
Pedagogia Espírita e dois inesquecíveis congressos internacionais de Educação e
Espiritualidade, colocando a Pedagogia Espírita em pé de igualdade com outras
pedagogias, em diálogo com elas, como a Waldorf, a de Paulo Freire, a de Montessori,
a anarquista e tantas outras, que foram representadas nesses congressos!
Não adianta um trabalho sacrificial de 10 anos de ABPE e 16
de Editora Comenius justamente tentando resgatar o próprio Espiritismo como uma
proposta cultural, como uma espiritualidade universalista, como um pensamento
progressista e atual, filosófica e cientificamente consistente!
O que acontece? Tivemos eu e o Alessandro Cesar Bigheto um
livro de Filosofia para o ensino médio avaliado duas vezes por ineletctualóides
patrulheiros de uma universidade pública, para entrar como livro a ser adotado
pelo governo para as escolas públicas. E qual a primeira objeção feita ao livro
(o que dá para perceber que o restante é procura de pelo em ovo!)? É que em 400
páginas, mencionamos uma vez o nome de Kardec, como um pensador do século XIX.
Mas mencionamos também Dalai Lama, Leonardo Boff, Confúcio, Lao Tsé, Madre
Teresa de Calcutá – porque o livro é interdisciplinar e plural e pretende
dialogar com várias árias e correntes. Mas como mencionamos uma vez Kardec, é
proselitista! E estamos fora do programa do governo.
Essa postura vem de fora, dos não-espíritas, acadêmicos, que
vivem em seus feudos dogmáticos (marxistas, freudianos, lacanianos,
piagetianos……) que sentem um absoluto desprezo pelo pensamento espírita e nem
sequer se dão ao trabalho de pesquisar e ver que existem intelectuais dignos
que defendem essa corrente. Podem aceitar um Leonardo Boff, que nunca deixou de
ser católico. Mas torcem o nariz para um Herculano Pires ou uma Dora Incontri.
Eu já presenciei uma banca da Unicamp brigar na minha frente
se eu deveria ser aceita ou não num concurso de professores, pelo fato de eu
ter como um dos meus objetos de pesquisa o Espiritismo. E eu já era doutora e
pós-doutora pela USP. Claro que não passei no concurso. Mas claro que, como em
todo processo de discriminação, seja com negros, mulheres, homossexuais, a
coisa é velada. Se forem indagados, os examinadores dirão que havia melhores
candidatos, etc.
E quando vamos divulgar nossos eventos? Já o tema de
espiritualidade encontra resistência! Mas se sabem que a Associação Brasileira
de Pedagogia Espírita que está promovendo um evento, mesmo que não tenha nada a
ver com o Espiritismo, qualquer divulgação nos meios de comunicação nos é
vedada. Mas não ocorre o mesmo se há um evento na PUC (que é católica) ou na
Universidade Mackenzie (que é presbiteriana).
Para esse patrulhamento ideológico, para que os espíritas
não tenham uma voz na sociedade – digo uma voz consistente e respeitada, no
pensamento acadêmico, nos meios de comunicação e não aparecer com idéias
chinfrins que nem espíritas são, como crianças índigo em novela da Globo –
unem-se ateus, marxistas, evangélicos, católicos… todos excluem o espiritismo e
se negam terminantemente a nos dar uma voz.
Mas o pior não é isso! Os próprios espíritas assumem esse
papel, de calar outros espíritas que estejam trabalhando para marcar um espaço
de atuação do Espiritismo na sociedade, a partir de uma visão progressista,
plugada no mundo.
Quando entrei com minha tese sobre Pedagogia Espírita na
USP, depois de 5 anos de tentativas, quem me ajudou foi um católico e uma
judia. Professores titulares espíritas, a quem eu havia pedido para serem meus
orientadores, fugiram da raia. Felizmente, honrei a confiança com que esses
professores me ajudaram e minha pesquisa foi financiada pelo CNPq, tendo todos
os relatórios aprovados, sem nenhum reparo. Não estou dizendo isso para me
gabar, mas apenas para pontuar que o trabalho tinha respaldo e coerência.
Veja-se outra experiência nossa: pessoas amigas, espíritas,
que freqüentam nossos eventos, e nos elogiam e usam nossos materiais, promovem
eventos grandes e pequenos de educação e não nos convidam. Outros fazem
projetos, diálogos, reportagens, que contam com nosso apoio, e não nos
mencionam.
E o que eu já tive de ouvir de inúmeras pessoas, inclusive
próximas, amigas, parceiras, que me aconselharam a não usar o nome espírita na
Pedagogia que propomos! Então, em vez de vencer o preconceito e quebrar o
boicote, devemos ceder? Esconder a nossa identidade? Ou estão os próprios
espíritas convencidos de que o Espiritismo é um discurso atrasado, um
positivismo do século XIX ou uma ingenuidade filosófica?
É claro que todo esse silenciamento e esse boicote têm conseqüências
práticas muito óbvias: a dificuldade de nos mantermos financeiramente e
levarmos adiante a proposta. Hoje, mata-se uma idéia, deixando-a a míngua de
recursos financeiros. E a conspiração do
silêncio tem essa função.
Será que estamos falando grego, perguntou uma querida amiga
minha? Será que não dá para entender que estamos falando a partir de um lugar?
O lugar é o Espiritismo compreendido como um projeto cultural, filosófico e
sobretudo pedagógico, que tem direito à cidadania acadêmica, que tem
representatividade social para aparecer na mídia, que tem consistência teórica
para dialogar com outras correntes de idéias! Que a Pedagogia Espírita caminha
em diálogo com as pedagogias mais avançadas da atualidade (quem promoveu um
congresso para mostrar isso fomos nós mesmos, mas os que participaram e
gostaram e se beneficiaram dessa participação, nem sempre reconhecem nosso
valor)! Não dá para notar que não queremos doutrinar ninguém no Espiritismo,
tanto que em nossos congressos falam pessoas de todas as religiões, budistas, islâmicas,
judeus, afro-brasileiros e também marxistas e ateus?… Quem tem essa postura
plural em nossa sociedade? As universidades não têm! As religiões não têm. E
nós temos e não somos respeitados e valorizados por isso! Obviamente que há
pessoas e grupos que reconhecem isso e nos apóiam! Não quero parecer ingrata
com esses. Mas o boicote é grande.
Enfim, desabafo aqui, apenas para desabafar, porque o
silêncio provavelmente deve continuar. Por isso, grito: Temos o direito de ser,
de existir e de marcar um território de influência na sociedade.
Dora Incontri
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