terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O trabalhador Espírita


As Casas Espíritas são mantidas por trabalhadores voluntários, porém, algumas observações podem ser importantes para entendermos a finalidade e importância desse trabalho.
Primeiro lembramos de que a Casa Espírita não é sua estrutura física, paredes, portas e janelas, pelo contrário, ela é o conjunto dos seus trabalhadores. Porém, numa primeira análise, podemos acreditar que a prioridade desse trabalho é a de promover a caridade aos outros e de manter o Centro Espírita e suas funções em funcionamento.
No entanto, existe uma finalidade maior no trabalho Espírita, que é a de melhorar o trabalhador.
Lemos em II João capítulo 1:8 “Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho, antes recebeis plena recompensa”.
Analisando a expressão acima, vemos que para “não perder o fruto do trabalho” é necessário “olhar para vós mesmos”, assim, antes de tudo, o trabalho Espírita tem a finalidade de edificar moralmente e espiritualmente aquele que realiza o trabalho.
Em definições práticas, os médiuns devem melhorar-se pela prática da mediunidade, assim como o aplicador de fluidoterapia, os evangelizadores, dirigentes e todos os demais devem entender que a prioridade é que nos tornemos melhores com o trabalho que abraçamos.
Lembremos que Simão Pedro trabalhou durante anos na Casa do Caminho, atendendo aos necessitados, porém hoje, a Casa do Caminho foi destruída, consumida pelo tempo e Simão Pedro edificado sobre sólidas bases morais construídas em si mesmo. 
Muitas vezes vemos os trabalhadores orgulhando-se por terem muitos anos na Casa Espírita, porém equivocam-se, esquecendo que isso é seguramente insignificante, a questão é quanto o Espiritismo nos serviu para melhoramento próprio, quanto construímos em nós os valores que ele ensina.
Certamente que o estudo sério do Espiritismo, guardando rigorosamente o que ensina Allan Kardec por meio das Obras Básicas, deixa claro que a maior alegria que deve ter o trabalhador Espírita é o avanço em vencer em si as tendências distorcidas, naturais pelo transitório estado evolutivo atual.
Outra situação quase que generalizada, é a falta de trabalhadores nos Centros Espíritas, que quase sempre possuem mais atividades e compromissos do que pessoas para realizar. Falamos que confiamos nos Espíritos, mas estamos sempre achando que faltam pessoas para as atividades empenhadas.
Será que faltam trabalhadores ou os Centros Espíritas abraçam serviços que não fazem parte de suas atividades? Lembrando que a finalidade das Casas Espíritas é muito bem definida pelos Espíritos, que são o estudo e a divulgação da mensagem libertadora que eles trazem.
Muitas vezes, para que sejam realizadas atividades assistencialistas, faltam trabalhadores para a caridade maior, que é a disseminação dos preceitos que elevam os indivíduos e a sociedade. Claro que podemos atender as necessidades materiais dos menos favorecidos, porém, isso é para as Instituições que tem muito bem estruturados os compromissos com a propagação do Espiritismo.
Vemos, em alguns casos, Centros Espíritas que destinam seus recursos e trabalhadores para atividades de assistência material, que comprometem o bom andamento da Doutrina Espírita.
Outro ponto que compromete a quantidade de trabalhadores é a resistência dos trabalhadores antigos, ou mais experientes, diante da chegada dos novos integrantes. Muitos sentem que vão “perder o lugar” e os iniciantes ficam limitados e acabam se afastando pelo desestímulo.
Claro que algumas funções pedem tempo de estudo e capacitação, mas muitas atividades podem ser repassadas aos iniciantes, afinal, os que já são Espíritas, não devem precisar de um trabalho para virem ao Centro Espírita.

Trabalhador ou não, nossa ida ao Centro deve ter como estímulo o próprio crescimento. Chegamos até a nos questionar, será que faltam trabalhadores ou falta o amadurecimento dos que já temos?

Roosevelt A. Tiago

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A boa morte


A morte não existe...Bem verdade...mas tem um negócio aí, um fenômeno natural, uma tal de transição que merece toda a nossa atenção! Esse breve artigo procura tratar o que significa, em termos espíritas, nos prepararmos para uma boa morte. O fato de sermos espíritas não nos credencia a uma transição tranquila, mas sim o uso desse conhecimento libertador na promoção do homem de bem que necessita renascer em nós em cada reencarnação.
Algumas igrejas católicas tem a sua denominação como “Nossa Senhora da Boa Morte” ou ainda “Nosso Senhor do Bom Fim”, resgatando a antiga preocupação do ser humano com morrer bem. Morrer bem, para a sabedoria popular, indica o morrer dormindo ou de forma imediata, rechaçando a morte lenta e com sofrimento. Na lógica espírita, de forma inversa, os ensinos dos espíritos nos dizem que o sofrimento traz a reflexão que auxilia o processo de desligamento.
A mesma igreja católica do “Bom fim” tem como um de seus sacramentos Extrema Unção, ou Unção dos Enfermos, conferido à pessoas que estão em estado grave de doença, buscando aliviá-lo e prepará-lo para a transição. Os egípcios enchiam a tumba de riquezas e alimentos para atender ao morto do outro lado. No campo da medicina, atualmente, se discute a humanização do momento do desencarne, com cuidados paliativos a enfermos já sem possibilidades terapêuticas.
Percebe-se que o fenômeno da morte é complexo e passar por ele com “sucesso” é oriundo de vários fatores, que ultrapassam aquele momento fatídico. Assim como planejamos a nossa reencarnação, com o auxílio dos amigos espirituais, a nossa vida como encarnados demanda um “Plano de morte”, o qual nos preparemos para esse momento, transcendendo as questões de herança, doações de órgãos, custas ou tipos de jazigo.
Na doutrina espírita, a discussão do bom desenlace se apresenta na literatura mediúnica, como uma relação direta com a conduta na vida encarnada, com o desapego do espírito. Como dito no livro “Obreiros da vida eterna” (André Luiz pela pena de Chico Xavier), “Morrer é mais fácil do que nascer”, desmistificando o temor pela morte, mas revelando também, a mesma obra, que grande parte de nossos sofrimentos no desencarne são derivados da decepção pelos avanços não obtidos na encarnação.
A morte, para nós espíritas, é um fenômeno natural, que não o desejamos, mas que o compreendemos, e apesar dessa compreensão, não estamos livres da perturbação natural da transição. Não temos credenciais de uma boa morte, dado que esta se vincula ao aspecto moral, como ilustrado no trecho da obra “Voltei” (Irmão Jacob na pena de Chico Xavier), que narra a volta de operoso trabalhador espírita: “Quantas vezes; julguei que morrer constituísse mera libertação, que a alma, ao se desvencilhar dos laços carnais, voejaria em plena atmosfera usando as faculdades volitivas! Entretanto, se é fácil alijar o veículo físico, é muito difícil abandonar a velha morada do mundo. Posso hoje dizer que os elos morais são muito mais fortes que os liames da carne e, se o homem não se preparou, convenientemente, para a renúncia aos hábitos antigos e comodidades dos sentidos corporais, demorar-se-á preso ao mesmo campo de luta em que a veste de carne se decompõe e desaparece. “
 Seria ilusório acharmos que a boa morte seria um privilégio nosso, por termos o conhecimento espírita! A vinculação com a conduta terrena é límpida no processo de preparação para uma boa morte! Da mesma forma, a doutrina espírita aponta a inexistência de santificações no momento da partida e indica sim o fim de um ciclo reencarnatório, no qual continuamos sendo nós mesmos, apenas concluintes de uma etapa importante e se ajustando a uma nova realidade, a vida espiritual.
Sobre essa questão, merece destaque também as palavras do espírito Emmanuel, na obra “O Consolador”, também psicografada por Chico Xavier: “A morte não prodigaliza estados miraculosos para a nossa consciência. Desencarnar é mudar de plano, como alguém que se transferisse de uma cidade para outra, aí no mundo, sem que o fato lhe altere as enfermidades ou as virtudes com a simples modificação dos aspectos exteriores. Importa observar apenas a ampliação desses aspectos, comparando-se o plano terrestre com a esfera de ação dos desencarnados.”
Inimigos continuam inimigos, nós continuamos com a nossa bagagem de imperfeições e apenas apeamos do trem, para se preparar para um novo estágio de nossa existência. Como toda transição, é complicada...Após a morte, na outra vida, nos encontraremos com nós mesmos, pois “(...) se queres conhecer o lugar que te espera, depois da morte, examina o que fazes contigo mesmo nas horas livres.”, nas palavras também de Emmanuel, na obra “Justiça Divina”:
Assim, um preparo para a boa morte não implica em negar esse fenômeno, ou ainda, colocá-lo no centro de nossas preocupações. Faz-se mister enxergá-lo como uma ocorrência inexorável da vida, uma transição de planos que já enfrentamos outras vezes e que está subordinado, estritamente, a nossa conduta terrena, na construção da reforma íntima e na superação das diferenças de nosso passado reencarnatório. 
Vivamos a nossa vida, com trabalho e alegria, amando e sendo amados, sem esquecer que um dia retornaremos a pátria espiritual, que longe de ser um céu ou um inferno, é uma nova etapa de existência, na vida que continua. Teremos a nossa transição, encontraremos os que nos precederam, e teremos uma boa morte, sorridentes, se tivemos uma boa vida, fazendo o nosso próximo sorrir.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Censuras


Ler, pensar e refletir sobre os textos de Emmanuel é sempre oportunidade renovada de aprender continuamente. A capacidade de síntese desse notável benfeitor que se utilizou das mãos abençoadas de Chico Xavier para nos orientar através de seus textos é admirável. Suas linhas compactas, seus parágrafos e textos lúcidos ensinam muito. Daí a importância de nos debruçarmos sobre seus livros para saciar a sede de conhecimento e aprender muito. Seus romances clássicos ou seus livros de mensagens que comentam o Evangelho ou os livros da Codificação são preciosos.
No livro Rumo Certo, editado pela FEB, no capítulo 49, encontramos a importante reflexão “Não censures”, de onde nos permitimos refletir sobre os ensinos ali contidos. Ao convidar a não censura, Emmanuel já traz valioso ensino no início de sua abordagem: Onde o mal apareça, retifiquemos amando, empreendendo semelhante trabalho a partir de nós mesmos.
Note o leitor que diante de mal de qualquer origem, ela pede que nos retifiquemos amando, ao invés de apenas censurar, a partir de nós mesmos e na sequencia relaciona exemplos do artista e do cirurgião que, utilizando atenção, carinho, paciência, retifica os quadros a que se dedicam ou se lhes apresentam, alcançando resultados em suas áreas específicas.
É que em tudo, como indica a sequencia do texto que sugiro ao leitor conhecer na íntegra, ele destaca a importância da paciência para se alcançar resultados. Isso porque o progresso, a luz, a felicidade nasce da construção lenta do tempo. Citando Deus com sua esperança e paciência infinitas, coloca o exemplo magnífico da semente que se transforma para gerar os frutos de sua essência, através do tempo...
Parece-nos que o objetivo maior da linda mensagem é destacar que, diante das adversidades a que estamos expostos, nunca devemos nos desesperar ou desanimar. É preciso mesmo muita paciência para transformar as ocorrências em bênçãos de aprendizado e orientação.
É que Deus está em toda parte, opera por caminhos que desconhecemos e transforma tudo em aprendizado para que amadureçamos nas experiências. Isto é amor Divino.
A experiência do próprio autor espiritual faz com que conclua a reflexão com a sabedoria que lhe é própria em linda frase: sempre que nos vejamos defrontados por dificuldades e incompreensões, saibamos servir com paciência e aprenderemos que, à frente dos problemas da vida, sejam eles quais forem, não existem razões para que venhamos a esmorecer ou desesperar.
Sim, porque Deus sempre permanece agindo através da sabedoria de suas leis e se usarmos a paciência nas dificuldades, superaremos os problemas e desafios e com uma grande vantagem: aprendemos algo mais, saímos amadurecidos. Afinal, tudo passa.
Caso você não tenha o livro em casa, poderá ler a mensagem na íntegra, pesquisando na internet: RUMO CERTO – Francisco Cândido Xavier – pelo Espírito Emmanuel. Você encontrará o livro todo e aí basta pesquisar no índice a lição 49.

Orson Peter Carrara

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Doença mental ou doença cerebral?


Uma visão espírita


O entendimento dos transtornos “mentais” passa pela compreensão do mecanismo de reparação dos desatinos pretéritos e atuais, através da lei de causa e efeito.(1)
Ao retornar à dimensão física, a Individualidade reencarnante traz, em seu perispírito, marcas cármicas constituídas por vibrações desarmônicas, relacionadas a débitos e culpas, adquiridos em vivências anteriores. Essas marcas energéticas, em virtude de sua natureza cármica, irão plasmar, em seu corpo físico, regiões de fragilidade. Essas regiões encontram-se mais suscetíveis ao desenvolvimento de enfermidades que, em última análise, estarão relacionadas ao carma a que está vinculada a Individualidade. Obviamente, o surgimento dessas enfermidades depende também da conduta atual do Espírito domiciliado no plano físico. 
Vejamos um exemplo: determinado Espírito comprometeu-se, em existências passadas, com o abuso de bebidas alcoólicas e cometeu falhas morais em virtude desse vício. Ele poderá reencarnar então com marcas nas áreas do perispírito que são responsáveis pela vitalização do aparelho digestivo. Essas marcas estarão criando uma predisposição ao aparecimento de enfermidades, como a gastrite crônica ou disfunções hepáticas. Assim, o Espírito reencarna com “pontos fracos” em seu perispírito, que determinam os órgãos que estarão mais predispostos a adoecer. Se o Espírito vai enfermar, ou não, isso dependerá, naturalmente, do estilo de vida e da conduta moral que adotar enquanto encarnado. 
Conceito equivalente pode ser aplicado à gênese dos transtornos “mentais”, pois o cérebro é um órgão como outro qualquer. Assim, se no passado, o Espírito adquiriu débitos em virtude do mau uso de seus atributos intelecto-morais, pode criar marcas cármicas em seu perispírito na região correspondente ao cérebro. Ao reencarnar, trará consigo tendências a desequilíbrios químicos em seus neurotransmissores cerebrais. Se esse desequilíbrio neuroquímico se verificar, a Individualidade reencarnada poderá vir a padecer de enfermidades ditas “mentais”, como a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo, as fobias, a esquizofrenia etc. Tais doenças nada mais são do que doenças do cérebro. Não se tratam de doenças da mente ou do Espírito, embora sua causa seja espiritual. Se o transtorno dito “mental” estivesse radicado no Espírito, não se verificariam respostas favoráveis aos psicofármacos (medicamentos que agem reorganizando a química do cérebro). Essa é a prova de que tais doenças estão, de fato, no cérebro, apesar da ciência atual ainda não ter recursos para perscrutar as sutis alterações que ocorrem na intimidade das células nervosas e em seus trilhões de conexões.
Ao examinar as origens da loucura, em O Livro dos Espíritos, item 375-a, Kardec reproduz o pensamento dos Benfeitores espirituais: é sempre o corpo, e não o Espírito que está desorganizado. 
Entretanto, apesar das ditas doenças “mentais” serem, em verdade, doenças cerebrais, isso não significa que tudo se reduz ao cérebro. Pelo contrário, é o Espírito - com suas vibrações desarmônicas - que cria o desequilíbrio no cérebro, por intermédio do perispírito. Desta maneira, o Espírito não seria a sede das doenças ditas mentais, mas seria, sim, sua causa. 
Importante ressaltar que, também na gênese das enfermidades “mentais”, a conduta moral do Espírito reencarnado, suas escolhas e atitudes, seu papel perante o outro e a vida têm indiscutível valor. Inserido, muitas vezes, em situações conflituosas, como relacionamentos desprazerosos, carência afetiva, problemas vocacionais, doenças incapacitantes, situações humilhantes ou derrocada econômica, o Espírito que não se habilita à superação das provas citadas coloca-se em situação psíquica desfavorável, que pode contribuir para o desiderato infeliz da enfermidade “mental”. 
Outras vezes, a situação cármica é tão grave que tais doenças já se manifestam independentemente do concurso de fatores ambientais. 

Apresentamos abaixo um modelo que sintetiza nossas ideias:


Espírito com predisposições mórbidas específicas 




 Construção psíquica de um estado de ânimo negativo 
(revolta, aflição, ódio, medo, culpa, insatisfação etc.)  



   
Desarmonização da química cerebral
(redução de serotonina e noradrenalina, por ex. na depressão; aumento de dopamina, por ex.  na esquizofrenia.)  



   
Manifestação da doença “mental”
(depressão, mania, psicoses etc.)  



   
 Medicamentos e outras medidas terapêuticas reorganizam a química do cérebro

  

    
Recuperação plena ou parcial do equilíbrio cerebral 

  

   
Condição psíquica da entidade reencarnada define seu prognóstico futuro


(1) Colaborou neste artigo: Carlos Alberto Mourão Júnior que, tal como Ricardo Baesso de Oliveira, é médico radicado na cidade de Juiz de Fora (MG).

Ricardo Baesso de Oliveira
Juiz de Fora, MG (Brasil)

Imagem ilustrativa