terça-feira, 3 de março de 2015

Pães e peixes


Em uma das mais belas passagens evangélicas, na minha opinião, o chamado milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus alimenta uma multidão esfaimada a partir de uma singela porção de pães e peixes. Para além da discussão fenomenológica dessa passagem evangélica, essa ideia dadivosa e multiplicativa que se apresenta nessa mensagem do nazareno se faz presente também em outras passagens, na sentença do “pedi e obtereis”, ou ainda, na Parábola dos talentos, das moedas que se convertem em riqueza, quando não escondidas.
As lições citadas trazem uma mensagem central, frequentemente ignorada, de que a vida é um celeiro de oportunidades e bênçãos, que nos brinda com tesouros, a partir de pequenos investimentos que oferecemos. Um naco de peixe, uma côdea de pão, algumas moedas, módicos sacrifícios que a vida nos remunera com realizações, conquistas e vitórias. E nesse mar de oportunidades, temos dificuldades de identificar os caminhos, os chamados e as melhores opções de aplicação de nossos humildes, mas indispensáveis recursos.
O leitor pode achar que se trata de um excesso de otimismo, mas se olharmos as bênçãos recebidas, os acréscimos de misericórdia e tudo mais que a vida nos oferece, verá que não se trata de exagero e sim de realidade, como Jesus já nos alertava. Obviamente, não falamos de conquistas materiais, mas de avanços mais amplos, que saciam a fome da multidão, sequiosa do pão da vida, que sustenta o espírito imortal.
Essa abundância da existência, como oportunidade de crescimento, de colheita, nos faz refletir sobre o que pedimos e para onde direcionamos nosso arado nessa semeadura. Cuidado com o que pedimos, podemos conseguir! Por vezes, carreamos anos de nossa encarnação em projetos mirabolantes e colhemos destes o que plantamos. Mas por vezes esse produto não nos sacia a fome maior.
A introdução da obra “Cartas e Crônicas”, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Irmão X, lá em 1966, passados quase cinquenta anos, indica bela história atribuída ao poeta indiano Rabindranath Tagore, na qual um lavrador, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em sentido contrário, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas. Reconheceu, conduzindo aquele veículo, o Senhor do Mundo, que saiu dela e estendeu-lhe a mão a pedir-lhe esmolas. Apesar do espanto, mergulhou a mão no alforje de trigo que trazia e entregou ao Divino pedinte apenas um grão da preciosa carga. Após a partida do Todo-poderoso, o pobre homem do campo observou que curiosa claridade vinha do seu alforje poeirento e percebeu que o grânulo de trigo, do qual fizera sua dádiva, tornara à sacola, transformado em pepita de ouro luminescente.
Como o homem da história, retemos nossos tesouros e os aplicamos mal, sem perceber as pequenas solicitações divinas, a nos recompensar com a chamada parte boa. Voltando ao saber evangélico, esquecemos que Jesus nos alertou que a colheita era livre, mas que a semeadura era obrigatória. Reforçou essa visão quando indicou que onde está o nosso coração, aí está nosso tesouro. O Mestre, na atualidade de suas lições, nos deixa a lembrança que diante de uma empreitada importa saber o que queremos colher, e ainda, se esse banquete realmente saciará a nossa fome do espírito, para além dos lírios do campo.
Diante da multidão faminta que o seguia, fez do pouco o muito e todos comeram até ficarem saciados. Das diversas necessidades humanas – psicológicas, materiais, espirituais –, nós, que também avançamos na multidão que O segue, temos que ficar atentos ao pão e ao peixe que buscamos, para que essas bênçãos não se tornem maldições, fardos que arrastamos ao longo de encarnações, dominados pela ânsia da posse e pela visão imediatista da fome do mundo.
Assim, seguimos nossa caminhada rumo à luz, com um pão, um peixe, uma moeda. De tudo a vida conspirará para o nosso avanço, com o suor do trabalho e a esperança da fé. Mas importa saber para onde seguimos, em que direção e sentido, o que buscamos e em que prisma de existência. Caminhar por caminhar pode significar rumar em círculos, marcando passo na reencarnação, perdidas as oportunidades, que podem não voltar em condições tão ideais como a atual.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
http://www.oconsolador.com.br/ano8/399/marcus_braga.html
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

Imagem ilustrativa

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Ao fazer o bem, não espere facilidades


Fui assistir ao filme de Irmã Dulce e saí da sala emocionado. Que vida linda foi a dela! Mesmo fazendo o bem, encontrou adversários, opositores, aproveitadores e passou por humilhações variadas, porém ainda assim prosseguiu em sua missão.
Muitos de nós consideramos que o fato de fazer o bem facilitará as coisas.
Alguns pensam: Meu Deus, ajudo tanta gente, mas recebo provas pesadas.
É assim mesmo que funciona, não adianta nos iludirmos. Estamos em um planeta de provas e expiações, sujeitos a situações e testes dos mais variados matizes. As provas não vêm apenas para nós, mas para todos que estão encarnados em planetas na categoria de provas e expiações.
No entanto, importante lembrar que realizando o bem estaremos atraindo a nós a presença dos bons Espíritos que nos auxiliarão a vencer nossas provações. Ademais, fazer o bem, cumprir as obrigações, ser honesto, correto, íntegro, enfim, praticar o evangelho traz-nos o que há de mais precioso neste mundo: a paz de consciência.
Paz de consciência que reflete na serenidade do Espírito que sabe de suas limitações, todavia, também reconhece seus esforços por superar a si mesmo, e por isso está em paz com sua própria consciência.
Penso que o segredo é nos desapegarmos da ideia de que fazendo o bem receberemos de volta o bem. Se fazemos o bem pensando no que receberemos de volta, fica um pouco complicado, uma espécie de moeda de troca com o universo, mais ou menos do tipo assim: Faço o bem hoje porque quero receber o bem amanhã. Contudo, nossa visão ainda limitada e imediatista não sabe realmente o que é o bem para nós. Não raro a situação complicada de hoje é o degrau para a felicidade do amanhã. Eis, então que, quando o que queremos não acontece, vêm a decepção e a frase: Poxa! faço o bem, cumpro com minhas obrigações, mas só recebo pedrada da vida.
Recordo-me de um grande amigo que trabalhava comigo. Homem correto e cumpridor de seus deveres. Criatura reta, trabalhadora e servidora de Jesus. Uma época, ele estava decepcionado com a vida. Sentia-se injustiçado e não foram poucas as vezes que chorou em nossos diálogos. Afirmava: Poxa! rapaz, parece que não consigo comprar meu carro. Quero tanto, mas o financiamento nunca é aprovado pelo Banco. Estranho que meu nome é limpíssimo e minha renda corresponde. Por que está empacado, me diz?
Eu dizia: Calma, meu caro, quem sabe o futuro reserva algo melhor para você.
Ele, ao ouvir, respondia: Que nada! A vida se esqueceu de mim!
Eis, porém, que após uns 4 meses ele recebeu aumento salarial, em realidade uma polpuda comissão pela venda de um imóvel e pôde comprar o carro à vista, sem necessitar de qualquer tipo de financiamento.
Eu o parabenizei e disse: Olha só, a espera valeu a pena, meu amigo. Viu como a vida não se esqueceu de você?
O problema é que as coisas têm o seu próprio tempo, mas nós, apressados, queremos antecipar tudo.
Calma!
Nada de esperar “moleza” porque faz trabalho voluntário, ajuda os mais necessitados e coisas do gênero.
Não encontraremos facilidades em nada. E isso é bom, porque são as dificuldades que nos fazem exercitar as potencialidades do espírito.
Mesmo que nossos ideais sejam nobres, devemos esquecer facilidades.
Se tenho um objetivo, que eu o faça acontecer. Ocioso esperar do Céu, se nossas mãos estão inertes.
A propósito, se algum dia encontrarmos numa dessas esquinas do universo Kardec, Gandhi, Irmã Dulce ou Madre Tereza, perguntemos a eles se encontraram facilidades em suas trajetórias.
Provavelmente a história narre a saga desses personagens de forma menos dramática do que realmente foi.
Mas eles prosseguiram.
E nós, vamos seguir adiante ou parar?

Wellington Balbo
wellington_balbo@hotmail.com
Salvador, BA (Brasil)

Imagem ilustrativa

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Para quem não viu a matéria no Fantástico, Divaldo Franco, vale a pena assistir!