quarta-feira, 4 de março de 2015
terça-feira, 3 de março de 2015
Pães e peixes
Em uma das mais belas passagens evangélicas, na minha
opinião, o chamado milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus
alimenta uma multidão esfaimada a partir de uma singela porção de pães e
peixes. Para além da discussão fenomenológica dessa passagem evangélica, essa
ideia dadivosa e multiplicativa que se apresenta nessa mensagem do nazareno se
faz presente também em outras passagens, na sentença do “pedi e obtereis”, ou
ainda, na Parábola dos talentos, das moedas que se convertem em riqueza, quando
não escondidas.
As lições citadas trazem uma mensagem central,
frequentemente ignorada, de que a vida é um celeiro de oportunidades e bênçãos,
que nos brinda com tesouros, a partir de pequenos investimentos que oferecemos.
Um naco de peixe, uma côdea de pão, algumas moedas, módicos sacrifícios que a
vida nos remunera com realizações, conquistas e vitórias. E nesse mar de
oportunidades, temos dificuldades de identificar os caminhos, os chamados e as
melhores opções de aplicação de nossos humildes, mas indispensáveis recursos.
O leitor pode achar que se trata de um excesso de otimismo,
mas se olharmos as bênçãos recebidas, os acréscimos de misericórdia e tudo mais
que a vida nos oferece, verá que não se trata de exagero e sim de realidade,
como Jesus já nos alertava. Obviamente, não falamos de conquistas materiais,
mas de avanços mais amplos, que saciam a fome da multidão, sequiosa do pão da
vida, que sustenta o espírito imortal.
Essa abundância da existência, como oportunidade de
crescimento, de colheita, nos faz refletir sobre o que pedimos e para onde
direcionamos nosso arado nessa semeadura. Cuidado com o que pedimos, podemos
conseguir! Por vezes, carreamos anos de nossa encarnação em projetos
mirabolantes e colhemos destes o que plantamos. Mas por vezes esse produto não
nos sacia a fome maior.
A introdução da obra “Cartas e Crônicas”, psicografia de
Chico Xavier, pelo Espírito Irmão X, lá em 1966, passados quase cinquenta anos,
indica bela história atribuída ao poeta indiano Rabindranath Tagore, na qual um
lavrador, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em sentido
contrário, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas. Reconheceu,
conduzindo aquele veículo, o Senhor do Mundo, que saiu dela e estendeu-lhe a
mão a pedir-lhe esmolas. Apesar do espanto, mergulhou a mão no alforje de trigo
que trazia e entregou ao Divino pedinte apenas um grão da preciosa carga. Após
a partida do Todo-poderoso, o pobre homem do campo observou que curiosa
claridade vinha do seu alforje poeirento e percebeu que o grânulo de trigo, do
qual fizera sua dádiva, tornara à sacola, transformado em pepita de ouro
luminescente.
Como o homem da história, retemos nossos tesouros e os
aplicamos mal, sem perceber as pequenas solicitações divinas, a nos recompensar
com a chamada parte boa. Voltando ao saber evangélico, esquecemos que Jesus nos
alertou que a colheita era livre, mas que a semeadura era obrigatória. Reforçou
essa visão quando indicou que onde está o nosso coração, aí está nosso tesouro.
O Mestre, na atualidade de suas lições, nos deixa a lembrança que diante de uma
empreitada importa saber o que queremos colher, e ainda, se esse banquete
realmente saciará a nossa fome do espírito, para além dos lírios do campo.
Diante da multidão faminta que o seguia, fez do pouco o
muito e todos comeram até ficarem saciados. Das diversas necessidades humanas –
psicológicas, materiais, espirituais –, nós, que também avançamos na multidão que
O segue, temos que ficar atentos ao pão e ao peixe que buscamos, para que essas
bênçãos não se tornem maldições, fardos que arrastamos ao longo de encarnações,
dominados pela ânsia da posse e pela visão imediatista da fome do mundo.
Assim, seguimos nossa caminhada rumo à luz, com um pão, um
peixe, uma moeda. De tudo a vida conspirará para o nosso avanço, com o suor do
trabalho e a esperança da fé. Mas importa saber para onde seguimos, em que
direção e sentido, o que buscamos e em que prisma de existência. Caminhar por
caminhar pode significar rumar em círculos, marcando passo na reencarnação,
perdidas as oportunidades, que podem não voltar em condições tão ideais como a
atual.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
http://www.oconsolador.com.br/ano8/399/marcus_braga.html
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Imagem ilustrativa
domingo, 1 de março de 2015
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Ao fazer o bem, não espere facilidades
Fui assistir ao filme de Irmã Dulce e saí da sala
emocionado. Que vida linda foi a dela! Mesmo fazendo o bem, encontrou
adversários, opositores, aproveitadores e passou por humilhações variadas,
porém ainda assim prosseguiu em sua missão.
Muitos de nós consideramos que o fato de fazer o bem
facilitará as coisas.
Alguns pensam: Meu Deus, ajudo tanta gente, mas recebo
provas pesadas.
É assim mesmo que funciona, não adianta nos iludirmos.
Estamos em um planeta de provas e expiações, sujeitos a situações e testes dos
mais variados matizes. As provas não vêm apenas para nós, mas para todos que
estão encarnados em planetas na categoria de provas e expiações.
No entanto, importante lembrar que realizando o bem
estaremos atraindo a nós a presença dos bons Espíritos que nos auxiliarão a
vencer nossas provações. Ademais, fazer o bem, cumprir as obrigações, ser
honesto, correto, íntegro, enfim, praticar o evangelho traz-nos o que há de
mais precioso neste mundo: a paz de consciência.
Paz de consciência que reflete na serenidade do Espírito que
sabe de suas limitações, todavia, também reconhece seus esforços por superar a
si mesmo, e por isso está em paz com sua própria consciência.
Penso que o segredo é nos desapegarmos da ideia de que
fazendo o bem receberemos de volta o bem. Se fazemos o bem pensando no que
receberemos de volta, fica um pouco complicado, uma espécie de moeda de troca
com o universo, mais ou menos do tipo assim: Faço o bem hoje porque quero
receber o bem amanhã. Contudo, nossa visão ainda limitada e imediatista não
sabe realmente o que é o bem para nós. Não raro a situação complicada de hoje é
o degrau para a felicidade do amanhã. Eis, então que, quando o que queremos não
acontece, vêm a decepção e a frase: Poxa! faço o bem, cumpro com minhas
obrigações, mas só recebo pedrada da vida.
Recordo-me de um grande amigo que trabalhava comigo. Homem
correto e cumpridor de seus deveres. Criatura reta, trabalhadora e servidora de
Jesus. Uma época, ele estava decepcionado com a vida. Sentia-se injustiçado e
não foram poucas as vezes que chorou em nossos diálogos. Afirmava: Poxa! rapaz,
parece que não consigo comprar meu carro. Quero tanto, mas o financiamento
nunca é aprovado pelo Banco. Estranho que meu nome é limpíssimo e minha renda
corresponde. Por que está empacado, me diz?
Eu dizia: Calma, meu caro, quem sabe o futuro reserva algo
melhor para você.
Ele, ao ouvir, respondia: Que nada! A vida se esqueceu de
mim!
Eis, porém, que após uns 4 meses ele recebeu aumento
salarial, em realidade uma polpuda comissão pela venda de um imóvel e pôde
comprar o carro à vista, sem necessitar de qualquer tipo de financiamento.
Eu o parabenizei e disse: Olha só, a espera valeu a pena,
meu amigo. Viu como a vida não se esqueceu de você?
O problema é que as coisas têm o seu próprio tempo, mas nós,
apressados, queremos antecipar tudo.
Calma!
Nada de esperar “moleza” porque faz trabalho voluntário,
ajuda os mais necessitados e coisas do gênero.
Não encontraremos facilidades em nada. E isso é bom, porque
são as dificuldades que nos fazem exercitar as potencialidades do espírito.
Mesmo que nossos ideais sejam nobres, devemos esquecer
facilidades.
Se tenho um objetivo, que eu o faça acontecer. Ocioso
esperar do Céu, se nossas mãos estão inertes.
A propósito, se algum dia encontrarmos numa dessas esquinas
do universo Kardec, Gandhi, Irmã Dulce ou Madre Tereza, perguntemos a eles se
encontraram facilidades em suas trajetórias.
Provavelmente a história narre a saga desses personagens de
forma menos dramática do que realmente foi.
Mas eles prosseguiram.
E nós, vamos seguir adiante ou parar?
Wellington Balbo
wellington_balbo@hotmail.com
Salvador,
BA (Brasil)
Imagem ilustrativa
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