quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Liberdade


Em filosofia, liberdade pode ser compreendida tanto negativa quanto positivamente. Sob a perspectiva negativa, denota a ausência de submissão e de servidão, já na segunda, é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Segundo o dicionário Michaelis, “liberdade é um estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. 
Poder de exercer livremente sua vontade ou condição do ser que não vive em cativeiro”. A busca da liberdade sempre foi uma constante na história da raça humana. Ela compõe o conjunto dos elementos que habitualmente se imagina sejam necessários ao bem-estar das criaturas. Parece de pouca serventia possuir alguns bens, da espécie que sejam, sem a liberdade de desfrutá-los. Para ser livre, muitas vezes o homem trilhou caminhos tortuosos. 
Para Carlos Bernardo González Pecotche (1901-1963), a liberdade é prerrogativa natural do ser humano, já que nasce livre, embora não se dê conta até o momento em que sua consciência o faz experimentar a necessidade de exercê-la como único meio de realizar suas funções primordiais da vida, e o objetivo que cada um deva atingir como ser racional e espiritual. Como princípio, assinala ao homem e lhe substancia sua posição dentro do mundo, enfim, é preciso vinculá-la muito estreitamente ao dever e à responsabilidade individual, pois estes dois termos, de um importante conteúdo moral, constituem a alavanca que move os atos humanos, preservando-se do excesso, sempre prejudicial à independência e à liberdade de quem nele incorre. 
A liberdade pode ser dita de diversas formas: liberdade do fazer; do querer; autonomia; direito ou participação política. De várias formas também ela se emprega: como arma política ou elemento doutrinal; como simples palavra ou como conceito; como ideia reguladora ou apelo à experiência. Jesus afirmou que o conhecimento da verdade nos libertaria. De fato, uma compreensão mais aprofundada das leis da vida, ao despir o homem de suas ilusões, livra-o da mesquinhez, do egoísmo e do orgulho. 
Em O avesso da liberdade, de Adauto Novaes, há um grupo de artigos dedicados ao que poderia se chamar de “transcendental: a liberdade é pensável?”, nos fazendo refletir em quais impasses, as dificuldades conceituais, os paradoxos que é preciso vencer ou enfrentar para que faça sentido o emprego dessa noção? Tudo depende do quadro conceitual em que nos movemos, por exemplo, pensar a liberdade nos quadros de uma doutrina materialista. Como pensar, sem fazer recurso de outra realidade senão a da matéria, sem recorrer ao espírito ou a qualquer outra forma de dualismo, a ação, a voluntariedade e a liberdade que lhe são próprias, se a matéria é o elemento de uma ordem natural, cujas determinações ela sofre desde o exterior? 
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, ao buscar respostas sobre a liberdade absoluta, encontra as sábias palavras afirmando que o homem não gozará de absoluta liberdade porque todos precisam uns dos outros. No convívio familiar ou social, é impossível ser totalmente livre. Os seus direitos terminam onde começam os direitos do seu próximo, pois a completa libertação possível é a das paixões, dos instintos inferiores, que tanto infelicitam a humanidade. Ao traçar as metas da vida, devemos buscar antes libertar-nos da dor e do desequilíbrio. Para tal, um padrão de conduta reto e equilibrado, marcado pelo bom senso, sempre será o melhor roteiro. No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos, pois podem reprimir-se os atos, mas a crença íntima é inacessível, exceto para Deus. 
O homem tem o livre-arbítrio de seus atos, ou seja, assim como tem a liberdade para pensar, tem igualmente a de obrar. Há, portanto, liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo. Temos o poder para imprimir na nossa existência o padrão de felicidade ou de aflição com o qual desejamos conviver. A liberdade é Lei da vida, que faz parte do concerto da harmonia universal. Somos o que de nós próprios fazemos, movimentando-nos no rumo que elegemos. A busca da felicidade é uma meta comum entre todos os seres humanos. Todos almejamos, de alguma forma, alcançá-la. Cada ser a idealiza de modo diferente dos demais. Para alguns a felicidade é ter uma família, para outros é estar sadio e sentir-se bem, ou ainda, é confundida, por alguns, com conforto material. Na realidade, sabemos que a felicidade verdadeira não é deste mundo, como nos ensinou Jesus. 
O homem só pode agir sobre o mundo que o rodeia e sobre sua própria natureza, aplicando os poderes que em si possui, por meio dos órgãos das suas diversas faculdades. O material de que hão de ser feitas estas faculdades tem que ser perfeito: sentimentos bons e generosos, uma mente dotada e educada, uma natureza espiritual pura e profunda. Devemos abrir os caminhos limpos e puros através do labirinto da vida, sem jamais consentir em desvios do propósito traçado. 
Avaliemos se nossos atos, nossas escolhas de agora, serão motivos de sofrimento ou de ventura mais adiante. Somos livres para semear o que bem nos aprouver, conscientes, no entanto, de que estaremos obrigatória e inafastavelmente vinculados à colheita de seus frutos. Saibamos ser livres dos vícios que corroem a raça humana, e utilizemos da Sabedoria para orientar-nos no caminho da vida; da Força para nos animar a sustentar em todas as dificuldades e a Beleza para adornar todas as nossas ações, nosso caráter e nosso Espírito.

Marcelo Bataglia
Balneário Camboriú, SC (Brasil)

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domingo, 27 de setembro de 2015

O que você procura indo ao centro espírita?


Ao observar o vai e vem de pessoas pelas dependências dos centros espíritas aos quais visitava, colocava minha mente para trabalhar e imaginava: Qual seria, realmente, o anseio desta pessoa ao procurar o centro espírita?
Será tão somente a busca pela cura do mal ou o problema que a aflige? Será que o objetivo é por encontrar uma razão para viver? Será a curiosidade por notícias dos afetos que já partiram deste mundo?
Perguntas e mais perguntas borbulhavam em minha mente. Para responder as minhas indagações só havia um caminho: questionar os frequentadores de diversos centros espíritas e em diversas regiões o que buscavam ao chegar ao centro espírita.
Então, pedi a um grupo de indivíduos, cerca de 150, que escrevessem num papel o que buscavam ao chegar ao centro espírita. Em realidade o questionamento foi:
Ao adentrar um recinto religioso, o que você procura?
A maioria das pessoas cravou em ACOLHIMENTO.
Contrariando meu pensamento, nada daquilo que se passava em minha mente refletia a realidade. O que mais queriam não era contato com o Além, nem a cura para os males, mas, sim, sentirem-se acolhidas, queridas, amadas.
O ser humano tem sede de ser acolhido, bem tratado. Quando chegamos num local em que a ninguém conhecemos, queremos apenas alguém que nos acolha.
Quando vamos à escola pela primeira vez, queremos alguém que nos receba. Quando a idade avança, nossa vontade é de ser acolhido nas limitações ou dificuldades. Seja na criança, jovem ou idoso, o sentimento de ser acolhido é sempre um carinho na alma.
Pode parecer pouca coisa, todavia, uma simples pergunta, como “Posso servi-lo?”, exerce no outro a ideia de importância, de pertencimento, participação. Mostra que estamos de alguma forma acolhendo, recebendo, preocupando-nos com suas necessidades.

Outro dia um amigo comentou:

“Gosto demais da maneira como a maioria dos evangélicos recebem as pessoas que chegam à igreja. Eles, definitivamente, são excelência quando o tema é ACOLHIMENTO”.
Eis, portanto, um bom questionamento para nós, espíritas, realizarmos dentro de nosso coração e, claro, em nossas Casas:Estamos acolhendo as pessoas? Estamos recebendo-as com carinho e cordialidade?
Estamos fazendo a parte que nos compete que é acolher aqueles que chegam ao centro espírita?
Pensemos nisso.´

Wellington Balbo
Salvador, BA (Brasil)

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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quando a Bíblia se refere à palavra 'Espírito', é de um desencarnado


Os anti-espíritas baseiam-se na proibição de Moisés (não de Deus) de contato com os espíritos (Deuteronômio 18), porque os judeus faziam comércio e chantagem com a mediunidade, além de haver entre eles muita ignorância sobre ela.
Por que esses anti-espíritas não mandam matar a pedradas seus filhos adolescentes rebeldes contumazes, pois é também das leis mosaicas? (Deuteronômio 21: 21). Por que não fazem a circuncisão? Por que consomem carne suína? E por que eles querem obedecer rigorosamente apenas à proibição mosaica da comunicação com os espíritos? Ademais, essa própria proibição prova que existe mesmo essa comunicação? Sim, pois Moisés não era doido para proibir uma coisa inexistente! E na Transfiguração no monte Tabor, Jesus presidiu a uma verdadeira sessão espírita, pois Ele comunicou-se com os espíritos de Moisés e Elias. E dessa sessão espírita participaram também os médiuns ostensivos Pedro, Tiago e João, que sempre eram convidados por Jesus para participarem com Ele dos seus feitos mediúnicos.
Vejamos um exemplo, que já apareceu em outras matérias minhas, mas que o repito para os leitores novos, para que se previnam contra as interpretações erradas de textos bíblicos por parte de seus líderes religiosos, com a intenção de esconderem os fatos espíritas bíblicos: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 João 4: 1 e 2).  As profecias são feitas por espíritos. Daí Paulo ter-nos ensinado que os "espíritos" dos profetas são subordinados aos profetas (1 Coríntios 14: 32), que, hoje, são chamados de médiuns. É claríssimo que João se refere a espíritos. Se ele falasse de pessoas (profetas), ele diria: Examinai os profetas, para saberdes se suas profecias são verdadeiras ou falsas. Mas não, ele se refere a espíritos desencarnados manifestantes, que, às vezes, são denominados de fantasmas. Onde está nesse texto que espíritos nele significam pessoas (profetas)? Se ele cair no vestibular para interpretação, e o vestibulando interpretar a palavra espíritos como sendo as pessoas (profetas), sem dúvida que ele vai ser desclassificado no vestibular. E observe-se que Heldade e Medade recebiam espíritos e profetizavam. (Números 11: 24 a 30).
E a prova de que o texto de 1 João 4: 1 fala mesmo de espíritos e não de pessoas levou a Assembleia de Deus a adulterá-lo totalmente, não mencionando sequer a palavra espíritos: “Mui queridos amigos, não creiam em tudo que vocês ouvem, só porque alguém diz que é uma mensagem de Deus: examinem primeiro, para ver se realmente é. Porque há muitos falsos mestres por aí.” (“A Grande Descoberta” -  Novo Testamento). E estão fazendo outras falsificações deste texto bíblico espírita.
Realmente, não só um autor bíblico, mas qualquer outro, quando usa a palavra espírito, está referindo-se a um espírito desencarnado. Para que se entenda que se trate de pessoa, é necessário que isso esteja claro. Um exemplo: Joaquim é um espírito aventureiro. Aqui se entende, claramente, que se trata da pessoa chamada Joaquim, pois está expressa essa ideia na frase, o que não ocorre com a passagem joanina citada, que se refere mesmo, claramente, a espíritos!
E não foi Kardec, “o bom senso encarnado”, mas foram essa e outras passagens bíblicas que me levaram ao espiritismo!

José Reis Chaves
www.facebook.com/jreischaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

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