sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DEFICIENTE MENTAL, PORQUE FUI UM?


Psicografado por:

VERA LÚCIA MARINZECK DE CARVALHO
DITADO POR DIVERSOS ESPÍRITOS

Introdução:

Alguns anos atrás, assisti a uma palestra de um médico que muito me impressionou. Ele era pai de uma menina excepcional. Dizia ele:
“Há duas maneiras de ver uma árvore.
“A primeira com os olhos de um capitalista que só visa lucros e enxerga milhares de caixas de fósforos ou folhas de papel...
“A segunda com os olhos da alma, que admira suas folhas, aprecia o perfume das flores e deleita-se à sua sombra, saboreando seus frutos...”
Foi dessa segunda maneira que aprendi com ele a encarar um excepcional, que, como a árvore, é dádiva de Deus, a própria luz materializada no milagre da vida!
E é assim que eu os vejo nestes relatos de experiências por meio de reencarnações...

DOUTOR JOSÉ ROBERTO LEITE
MÉDICO PEDIATRA E HOMEOPATA

Dedicatória
Nossa admiração e respeito aos que amam, cuidam e orientam aqueles que por algum motivo passam por uma encarnação com deficiência.

Adolfo


É com muito prazer que aproveito a oportunidade de ditar minhas experiências com a intenção de alertar a todos, principalmente meus irmãos que no momento estão encarnados.
— Dol... Dolf... — falava com dificuldade.
Não conseguia pronunciar direito as palavras, falava pouco, errado, e era assim que respondia quando alguém indagava meu nome. E sempre, ou meus pais ou minhas irmãs, respondiam por mim. Escutava-os com alegria, achava meu nome lindo.
— O nome dele é Adolfo.
Eu tentava repetir mentalmente, mas na hora de falar atrapalhava-me e só saíam pedaços.
Era o filho mais velho, depois de mim nasceram Iana e Margareth, a Gá, que muito me amou.
Pensei muito em como descrever minha última encarnação. Achei melhor fazê-lo como a senti, e depois dando algumas explicações que só entendo agora, depois de recuperado e sentindo-me sadio.
Arrastava-me pelo chão, às vezes sentia arder as palmas das mãos, pernas, mas não ligava, pois só assim ia aonde queria. E queria pouco, andar pela sala, tentar mexer no rádio. Gostava de músicas. Sabendo disso, mamãe ou Gá ligava-o para mim. Era estranho, daquela caixinha saíam vozes agradáveis. Não conseguia entender como aquilo funcionava, mas gostava. É tão estranho isso! Muitos não usufruem vários objetos sem saber o porquê de eles funcionarem’? Quando me interessei pelo rádio, achei que havia alguém escondido, depois que havia pessoas dentro da caixa. Mas, se possuiam vozes bonitas e me faziam alegrar, só podiam ser boas.
Às vezes, em raros momentos, me entristecia, conseguia ver, percebia que era diferente, mais feio, mole e que não conseguia andar e falar como os outros. “Por quê?” indagava-me. “Por que não posso? Não consigo?” Isso passava logo. Distraía-me com alguma “coisa”*. Gostava

* Adolfo usa muito a palavra “coisa” e preferimos deixá-la e colocá-la entre aspas. Cita, a cada uma delas, certas referências, particularidades. (Nota da Médium)

de observar mamãe, era tão bonita, meiga e boa. Ela movia as pernas com facilidade, andava, eu queria tanto fazer igual! Até tentava, caía e chorava, às vezes porque doía algo ou então por não conseguir imitá-la. Não pensava muito. Era estranho, as idéias vinham rápidas, e como vinham, iam.
Quando sentia fome, fazia sinal com a mão, sabia onde estavam os alimentos. Logo me traziam. Davam-me na boca. Gostava, sentia uma sensação agradável. Preferia o mingau amarelo, era mais saboroso, e eu comia tudo. Ria...
Não gostava de ficar molhado e às vezes sujava e sentia cheiro desagradável. Demorei a entender que era eu quem fazia aquilo. Mamãe foi me explicando, mostrando, e consegui entender que podia pedir para fazê-lo e assim não me molhar ou sujar. Mas, infelizmente, às vezes não conseguia pedir e fazia na roupa, ficando incomodado.
Logo que desencarnei essas lembranças me deixavam triste. Hoje, anos depois, entendendo o porquê de tudo, vejo, narro como se fosse um filme não apenas visto, mas sentido. Sou grato ao Pai Maior pela oportunidade do recomeço, da reencarnação, aos meus pais, às minhas irmãs e principalmente à doce e meiga Gá, por ter cuidado de mim com tanto carinho. Como narrarei depois, meu pai e eu estivemos juntos em outras encarnações. Mamãe não, nos conhecemos nesta, esse espírito bondoso me acolheu com amor e dedicação. Iana e eu somos velhos conhecidos, ela me incentivou ao erro, nesta me quis bem, mas tenta aprender, luta com suas imperfeições, esteve junto a mim, porém distante. Margareth, a irmã que realmente esteve ao meu lado me ajudando, me quis muito, não éramos conhecidos, mas bastou esta encarnação para nos tornarmos realmente amigos, ela aprendeu a amar.

 
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CONDUTA ESPÍRITA



Psicografado por:

WALDO VIEIRA

Ditado pelo Espírito de:

ANDRÉ LUIZ


Abraçando o Espiritismo, pedes, a cada passo, orientação para as atitudes que a vida te solicita.
Pensando nisso, André Luiz traçou as normas que constituem este epítome de conduta.
Não encontramos aqui páginas jactanciosas com a presunção de ensinar diretrizes de bom-tom, mas simples conjunto de lembretes para uso pessoal, no caminho da experiência, à feição de roteiro de nossa lógica doutrinária.
Certa feita, disse o Divino Mestre: “Quem me segue, siga-me”, e, noutra circunstância, afirmou: “Quem me segue não anda em trevas.”
Reconhecemos, assim, que não basta admirar o Cristo e divulgar-lhe os preceitos. É imprescindível acompanhá-lo para que estejamos na bênção da luz.
Para isso, é imperioso lhe busquemos a lição pura e viva.
De igual modo acontece na Doutrina Espírita que lhe revive o apostolado de redenção.
Quem procure servi-la, deve atender-lhe as indicações. E quem assim proceda, em parte alguma sofrerá dúvidas e sombra.
Assim, ler este livro equivale a ouvir um companheiro fiel ao bom senso. E se o bom senso ajuda a discernir, quem aprende a discernir sabe sempre como deve fazer.


EMMANUEL

Uberaba, 17 de janeiro de 1960.

 
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Livro Cirurgia Moral



Psicografado por:

João Nunes Maia

Pelo Espírito de Lancellin  
 
 
Esta obra é um pequeno concerto na música da tua mente. Cirurgia Moral  é um apoio vertido dos planos superiores em favor de todos nós que procuramos a auto-educação espiritual através de conceitos que nos ajudem a viver em qualquer estado em que nos encontremos.
Afeiçoamo-nos ao livro nobre por ser ele um celeiro de luz capaz de ajudar as almas no grande empenho de iluminar o nosso caminho. O livro é uma porta para o país da compreensão e a vontade é a chave. Toda a civilização se assenta no livro, que guarda com carinho as mais variadas experiências urdidas pelo progresso. Se sempre falamos que a natureza é o grande livro de Deus, na verdade te dizemos que os pergaminhos do mundo são ensaios constantes para refletir neles as mesmas leis naturais do Criador.
Saudemos o livro, principalmente aquele cunhado no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, representando a bandeira de luz com que os ventos dos céus indicam os caminhos certos para os desbravadores, na descoberta de novas terras no universo do coração. A conjunção das nossas idéias obedece aos nossos sentimentos. Estes, aprimorados, nos levam à grandiosidade da harmonia interna, fator indispensável para a paz da consciência.
Lê com interesse e examina com atenção todas estas páginas grafadas pelo nosso companheiro em Cristo, Lancellin, que escreve usando a inteligência como demonstram as letras, que se enfileiram em plena harmonia de assuntos sem esquecer a força dos sentimentos enriquecidos nos valores espirituais, onde Jesus é o Sol que nos aquece a todos.
Todos os que nos empenhamos na difusão dos conceitos iluminados do Mestre firmamos compromissos com a espiritualidade maior. Em tudo o que escrevemos está presente a atmosfera cristã, perfumando e orientando todas as nossas atitudes. E essa é, na verdade, a nossa maior alegria, a alegria de andar de mãos dadas com o Cristo, como nos esforçar em todos os momentos para que Ele acorde dentro de nós e repita as mesmas palavras que dizia aos Seus discípulos: A Paz seja convosco!
Este livro pode, a princípio, não te fazer bem. Se este for o caso, não esmoreças, pois não há imposição alguma nestes conceitos. É um convite afetuoso ao teu coração. É uma obra cheia de sugestões espirituais, para que mudes de vida, mudando os pensamentos, na ordem e na seqüência do Amor. Não sejas violento contigo mesmo. A brandura é norma do homem inteligente e à persistência no Bem é aquisição do companheiro milenar nas hostes da harmonia universal.
O irmão que está lendo esta obra desconhece a engenhosidade que se processou para a sua escrita. As transmissões espirituais têm uma variedade semelhante à da existência das coisas da própria natureza. Somos muitos que nos reunimos neste ideal de escrever, usando os canais mediúnicos em louvor de tudo o que falou o nosso Divino Preceptor de todos os tempos: Jesus.
Falanges e mais falanges de espíritos do Senhor estão cuidando de toda a seara da Terra, levando o Evangelho, sob variadas formas, às criaturas, para que ninguém diga que não o conheceu.
Cientifica-te de que a verdade bate à tua porta. Abre, meu filho, o coração, e deixa a luz invadir o teu mundo interno e brilha também com ela.
Estamos próximos a provações indizíveis, impostas aos corações, para que eles se abram ao Bem. O amor nasce nos contrastes da natureza. A experiência nos demonstra que as claridades aparecem das fricções dos corpos. Também das lutas entre as idéias do Bem e do Mal surge a compreensão.
Cirurgia Moral mostrar-te-á uma luta mais elevada, ajudando-te a expulsar os pensamentos negativos e as idéias inferiores, que são teus maiores inimigos no grande campo de batalha que é a tua mente. Se resistires até o fim neste ideal de melhorares a ti mesmo, receberás o prêmio da vitória, por teres vencido a ti mesmo e conquistado a tranqüilidade da consciência.

Salve Deus e Jesus, e salve o leitor que compreendeu este pequeno esforço do nosso irmão

em Jesus, Lancellin !


MIRAMEZ

Página recebida pelo médium João Nunes Maia.
Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 1983.
 
   

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Reencarnação - Processo educativo


Livro de:

Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes

FUNDAÇÃO LAR HARMONIA




A pedido da Fundação Lar Harmonia revi alguns capítulos deste modesto trabalho para a impressão da segunda edição corrigindo alguns erros verificados na primeira. Decidi por não ampliar o material, já que se trata de uma iniciação ao estudo da reencarnação, sem a pretensão de ser nada mais que isto. Dois anos se passaram desde o início em que nos motivamos a escrever sobre o tema e ele continua a merecer a atenção do público em geral, embora ainda muito pouco estudado, principalmente nas academias, o que nos priva de experimentar as conseqüências práticas de importante conhecimento. Quando a reencarnação alcançar, de forma mais intensiva, o estudo e as pesquisas nas universidades, a sociedade ganhará com sua aplicação no cotidiano das pessoas.
A compreensão da natureza humana será ampliada a partir da visão reencarnacionista. A psicologia será radicalmente contaminada pela perspectiva palingenética, permitindo ao profissional que a utilize penetrar na essência do que é o ser humano.
A compreensão da história do homem a partir do paradigma da reencarnação, terá novo alcance visto que se estenderá para além do material, do físico, do que é percebido pelos cinco sentidos. Os fatos históricos poderão ser percebidos como repetições exercidas pelos seus antigos protagonistas que retornaram. Paulatinamente estamos assistindo, a cada momento, malgrado o pensamento científico ortodoxo, a inserção da idéia da reencarnação no consciente e inconsciente coletivos da humanidade. Tudo parece estar conspirando a favor da percepção crescente do espiritual como sentido real do universo.
O século XX que parecia ser o da imagem e do movimento para fora da Terra, torna-se cada vez mais o do espírito e do movimento para o interior do próprio homem.
Certamente que a percepção da reencarnação não é o fator que possibilita tal transformação, mas ela é uma das condições que propiciam ao homem perceber-se nessa imensa complexidade que é sua própria natureza. A crescente necessidade de autoexplicar-se decorre da falência de suas próprias teorias a respeito de si mesmo. Qualquer paradigma inadequado gerará um desequilíbrio no sistema auto-regulador, que mantém o psiquismo humano. Essa desarmonia provoca um vazio a ser preenchido por algo que seja verdadeiro e pleno.
A reencarnação não é dogma ou crença à mercê de explicações pseudo-científicas. Não há o que temer quanto a sua investigação meticulosa e séria. Se é uma verdade (como de fato é) acabar-se-á revelando-se quando os homens tiverem olhos de ver. Notáveis homens de ciência demonstraram sua realidade, da mesma forma que Galileu que, pela lógica irretorquível dos fatos, provou o sistema heliocêntrico. Somos, e seremos por muito tempo, seres reencarnados a despeito dos dogmas religiosos que teimam em querer submeter a verdade às tradições equivocadas de sistemas ultrapassados.
Convido o leitor a não permanecer apenas na leitura deste livro indo buscar na bibliografia do final outras informações sobre o tema cuja importância para sua vida será maior do que imagina.


Adenáuer Novaes
Salvador, primavera de 1997


Disponibilizo todo o livro para download:     REENCARNAÇÃO

sábado, 21 de novembro de 2009

Livro Libertação



Psicografado por:

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

DITADO PELO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ


Ante as portas livres


Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhecimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos prazerosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.
No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.
Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicilio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fêz o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:

— “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?”

Optou pela mudança.

Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...
Em breve, alcançou grande rio e fêz inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, Instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De Inicio, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que sômente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações? Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porqüanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo liquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma Insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.
Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqüalos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, absten¬do-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.

Ninguém acreditou nele.

Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles ünicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:

— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa! ..

Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nivel. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...

O esforço de André Luis, buscando acender luz nas trevas, é semelhante à missão do peixinho vermelho.

Encantado com as descobertas do caminho infinito, realizadas depois de muitos conflitos no sofrimento, volve aos recôncavos da Crosta Terrestre, anunciando aos antigos companheiros que, além dos cubículos em que se movimentam, resplandece outra vida, mais intensa e mais bela, exigindo, porém, acurado aprimoramento individual para a travessia da estreita passagem de acesso às claridades da sublimação.

Fala, informa, prepara, esclarece ...

Há, contudo, muitos peixes humanos que sorriem e passam, entre a mordacidade e a Indiferença, procurando locas passageiras ou pleiteando larvas temporárias.
Esperam um paraíso gratuito com milagrosos deslumbramentos depois da morte do corpo.
Mas, sem André Luiz e sem nós, humildes servidores de boa vontade, para todos os caminheiros da vida humana pronunciou o Pastor Divino as indeléveis palavras: — “A cada um será dado de acordo com as suas obras.”



EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1949.




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