quinta-feira, 18 de março de 2010

E se Chico tivesse dormido?



Chico Xavier dissera a seu benfeitor espiritual Emmanuel que estava disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus, contudo, precisava para isso do apoio da espiritualidade. 
O mentor, prestativo, respondeu a Chico que apoio não lhe faltaria desde que ele observasse três preceitos básicos: primeiro: disciplina; segundo: disciplina; terceiro: disciplina. 
Chico aquiesceu. O trabalho literário iria começar. 
Então, certa noite, Emmanuel apareceu a Chico, convidando-lhe à psicografia. 
Chico, após um dia cansativo de trabalho, respondeu ao guia: 
- Seu Emmanuel, agora estou com sono, preciso dormir, vamos deixar a psicografia para depois. 
Emmanuel respondeu-lhe: 
- Chico, o trabalho nos espera, o tempo urge, não podemos vacilar. 
Chico não deu bola, virou-se, despediu-se do guia e voltou a dormir. 
Na noite seguinte, Emmanuel aparece novamente: 
- E agora, Chico, descansado para psicografar? 
- Nada disso, Seu Emmanuel, preciso dormir. 
Sabe o que é, tive tantas dores de cabeça, estou cansado, trabalhei muito hoje, além do mais, tenho vários irmãos pequenos que necessitam de meu concurso. Vamos fazer o seguinte: apareça final de semana, aí podemos psicografar a vontade. 
Emmanuel, então, fez conforme o combinado retornando no sábado. 
- E aí, Chico, vamos começar a psicografar hoje? 
-Ah, Seu Emmanuel, hoje não vai dar não, prometi aos meus amigos que iríamos a uma festa, vou chegar cansado, tenho que dormir. Desculpe! Olha, faça o seguinte, continue a me visitar, quem sabe um dia desses, quando eu estiver mais disposto, não dá certo de encaixarmos uma mensagem... 
Acordei, era somente um sonho, ou melhor, um pesadelo! Chico Xavier não dormia quando convocado a servir. Chico Xavier não titubeara quando chamado pelo plano espiritual a colaborar na construção de um mundo melhor.
Foram mais de 400 livros psicografados, traduzidos para vários idiomas, beneficiando aqui e acolá inúmeras criaturas das mais distintas culturas. Foram infinitas noites sem dormir a serviço do Bem. 
Chico não dormiu e foi o perfeito instrumento utilizado pelo plano espiritual para espalhar paz e esperança, conforto e instrução na face da Terra, se o médium mineiro houvesse dormido, certamente os Espíritos teriam de utilizar outro ou outros instrumentos para fazer vir a lume as inesquecíveis obras de André Luiz, Emmanuel, Meimei e tantos outros que se manifestaram pela sua abençoada mão. O trabalho certamente aconteceria, contudo, sofreria algum atraso, deixando de beneficiar naquele tempo inúmeras criaturas sequiosas por consolo.
Guardadas as devidas proporções, todos sem exceção, somos convocados a dar nossa parcela de contribuição. Contudo, para que isso ocorra, temos de ficar atentos às oportunidades que surgem: 
- O amigo que nos convida a fazer o trabalho voluntário. 
- O familiar em conflito íntimo que pede nosso apoio. 
- O colega de atividade profissional que necessita de nosso auxílio. 
Todas essas situações não chegam até nosso conhecimento por acaso, ao contrário, são trazidas até nós por diligentes mentores espirituais que tem em nós o instrumento que pode fazer a diferença na vida de alguém. Contudo, há o imperativo de nossa iniciativa: se dormimos no ponto, deixando para depois o Bem que poderíamos fazer hoje, perdemos grande chance de galgar degraus na escala evolutiva. 
Por isso, forçoso nos questionar se estamos com a bússola da disciplina e da atenção a nortear o caminho, ou preferimos dormir nos colchões da indiferença. 
Chico não dormiu. E nós, estamos dormindo ou bem acordados? 
Pensemos nisso.

Wellington Balbo
wellington_plasvipel@terra.com.br

Matéria extraída do Jornal da Federação Espírita do Estado de SP      -  ( FEESP )  -  Fevereiro 2010 -  Imagem ilustrativa

quarta-feira, 17 de março de 2010

SOLIDARIEDADE E DEPRESSÃO




A tecnologia que trouxe tanto conforto não tem se mostrado capaz por si só de dar às pessoas a tão sonhada felicidade. E vemos, no dia-a-dia, crescer de maneira espantosa o número de pessoas deprimidas, enchendo-se de remédios para uma doença da alma e não do corpo. 
Um mal que se não for tratado a tempo vai levar a civilização ao fundo do poço, cujo remédio está na alegria de viver. Alegria esta que não pode ser encontrada somente no conforto material, mas, acima de tudo, na vida digna que inclui também este conforto. 
E a solidariedade é uma palavra que tem um papel importantíssimo nesta batalha travada pelo ser humano contra si mesmo. Estamos solitários em meio a uma multidão de seis bilhões de pessoas. 
Não temos tempo para o próximo mais próximo, como nossos filhos, nossos irmãos, cônjuges, pais. Estes sofrem calados ao nosso lado e não somos capazes de identificar isto. 
Acabamos presos dentro de nosso ego, buscando cada vez mais conquistar um espaço no mundo, para nos firmarmos diante do que a sociedade quer de nós. 
Deixamos de lado questões imprescindíveis para o despertar da felicidade do ser: o que a vida quer de nós? Por que nascemos em conjunto? De onde viemos e para onde vamos? 
Deixamos de lado nossa capacidade de sermos solidários por medo. Medo de nos machucarem e traírem nossa confiança, por egoísmo muitas vezes. E continuamos marchando sozinhos, buscando uma felicidade que só poderíamos encontrar coletivamente. Mas que, paradoxalmente, não está no outro, está em nós. Ou melhor, reside, sim, no que nós podemos fazer pelo outro, na maneira de encarar a vida. 
Fazer o bem é o remédio da alma. 
Fazer o bem é ajudar a si próprio a não cair numa vida sem sentido, num vazio que a experiência já comprovou que não pode ser preenchido por bens materiais. Um buraco que só pode ser tapado por uma vida digna, cujo objetivo principal é ser útil, pelo simples prazer de sê-lo. 


Rodinei Moura 
rodimoura@uol.com.br

Matéria extraída do Jornal da Federação Espírita do Estado de SP  -   ( FEESP ) - Fevereiro 2010 - Imagem ilustrativa

segunda-feira, 15 de março de 2010

A PEDRA E O JOIO


Livro de:
J. HERCULANO PIRES



A PEDRA 

O símbolo da pedra de toque é usado neste livro para representar a Codificação do Espiritismo. Qualquer novidade que apareça no meio doutrinário pode revelar a sua legitimidade ou a sua falsidade num simples toque dos seus princípios com os da doutrina codificada. Na crítica aprofundada que faz da Teoria Corpuscular do Espírito oferece um modelo seguro de análise a que devem ser submetidas todas as inovações propostas. De posse desse modelo os estudiosos terão um roteiro eficiente para sua orientação no uso do bom senso e da razão crítica. 
A palavra crítica é aqui usada no sentido clássico de avaliação de uma obra ou de uma teoria, e não no sentido popular de censura ou maledicência. A crítica como avaliação é indispensável ao desenvolvimento da cultura, ao aprimoramento da inteligência. Sem a justa apreciação de livros e doutrinas estamos sujeitos a enganos que nos levarão a situações desastrosas. Há doutrinas apresentadas com roupagem literária e científica enganadora. Precisamos despi-las para chegar à verdade que, segundo a tradição, só pode ser conhecida em sua nudez. 

O JOIO 

O joio é uma excelente de gramínea que nasce no meio do trigo, prejudicando a seara. No Evangelho ele aparece como símbolo de doutrinas errôneas. O autor utilizou dessa imagem para caracterizar as pretensas renovações doutrinárias que surgem no meio espírita. Passa em revista as que mais se destacam no momento, advertindo o leitor contra os perigos que apresentam, e aprofunda a sua crítica, de maneira minuciosa e severa, ao tratar da que lhe parece mais representativa. 
Seu objetivo é mostrar a necessidade de encarar-se o Espiritismo como uma doutrina apoiada em métodos seguros de pesquisa e interpretação da realidade, que não pode ser tratada com leviandade. 
Oferece ao leitor uma exposição do método de Kardec, até hoje praticamente não analisado, e chama a atenção dos estudiosos para a importância de conhecerem esse método, a fim de não se deixarem enganar pelo joio e poderem examinar de maneira eficaz as novidades que surgem no meio doutrinário. 
Um pequeno livro de grande o profundo conteúdo, indispensável a todos os que desejam evitar confusões no estudo da doutrina. 

 Disponibilizo todo o livro para download:   A Pedra e o Joio

quinta-feira, 11 de março de 2010

Riquezas


“Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem e onde os ladrões os desenterram e roubam.”      ( Matheus 6:19 ) 



Os bens materiais são necessários à sobrevivência na Terra e atendem ao bem estar de nossa família. Não são condenados por Deus, como alguns querem interpretar as palavras de Jesus. 
As riquezas, quando administradas com sabedoria, impulsionam o progresso material, gerando novas fontes de trabalho, proporcionando melhores condições de vida para as criaturas. São também um fator de progresso intelectual e de crescimento espiritual se direcionadas para o desenvolvimento das ciências, das letras e das artes e, se ensejarem aos seus depositários o exercício do bem e da solidariedade em proveito da Humanidade. 
Buscando a essência do ensinamento, entendemos que Jesus desautoriza o acúmulo de riquezas em benefício próprio, fazendo delas a razão da existência. 
Escravizados à fortuna, estaremos obstruindo os canais da benevolência com a ferrugem do egoísmo, seremos corroídos pela traça da indiferença para com o nosso próximo, sofreremos o ataque de pessoas más e invejosas que intentam roubar-nos, assediadas por Espíritos malsãos, que se comprazern com o nosso desassossego. 
Jesus aprofundou-se em suas considerações ao declarar que onde está o tesouro, aí também está o coração de quem a ele se apega. Advertiu-nos, outrossim, quanto à necessidade de ajuntarmos bens espirituais no céu, onde a traça e a ferrugem não os consomem e aonde os ladrões não têm acesso. 
O Espiritismo adota a simplicidade e a humildade dos primeiros cristãos como apanágio de sua Doutrina; ensina-nos a multiplicar os "talentos" do Senhor, exaltando o amor e exercendo a caridade, nos moldes preconizados pelo apóstolo Paulo; aponta-nos o roteiro de luz indicado pelo Mestre, que é a renúncia às posses transitórias e aos títulos honoríficos. 
Abençoada é a Doutrina dos Espíritos, que faz reviver o puro cristianismo pregado e exemplificado por Jesus. 


Felindo Elízio Duarte Campelo

Matéria Extraída do Jornal da Federação Espírita do Estado de SP  -    ( FEESP )  -  Fevereiro 2010 - Imagem ilustrativa

quarta-feira, 10 de março de 2010

VIDA BOA



Um homem, numa tarde calorenta, lavrava a terra, para plantar batatas. Em dado momento, cansado, suarento, limpou o suor da fronte com as costas da mão e começou a lamentar consigo mesmo: - Que vida dura esta! Batalhando aqui o dia todo, suportando o sol e a chuva, para auferir parcas rendas! E quando o produto, tão trabalhosamente obtido, chega à banca dos feirantes, as donas-de-casa escolhem exigentemente cada fruto, desprezando os menos atraentes, sem fazer idéia do quanto custou produzi-los... 
E, desolado, arrematou: há, até, um dizer, quando se quer livrar de uma pessoa aborrecida - "Ah, vá plantar batatas!" Eu nem a isso posso ser mandado, porque já estou plantando... 
Nisso, distendeu a vista pelo asfalto próximo e viu um ônibus deslizando suavemente na pista; comentou com os seus botões: - Vida boa é a de motorista de ônibus: trabalha sentado, à sombra, viajando, vendo paisagens!... 
O que ele não sabia é que, naquele exato instante, o motorista do ônibus ia conjecturando, tristemente: - Que vida sacrificada! Há quantos anos vivo de lá pra cá, de cá pra lá, sem parada, suportando a rigidez das escalas e a chatice de passageiros problemáticos; passo a vida praticamente fora de casa, sem poder acompanhar o crescimento dos filhos e desfrutar o conforto doméstico. Além de tudo, corro permanente risco de vida e de ser despedido se ocorrer algum acidente!... 
Olhou distraidamente pela janela do veículo e viu um automóvel de passeio que o ultrapassava com facilidade. -Vida boa é a desse empresário que vai ali, naquele carrão, balbuciou, acrescentando: despreocupado, dono do seu tempo, sem ter que dar satisfação a ninguém, com dinheiro suficiente para ter o que deseja e ir aonde quer!... 
Não imaginava, porém, que, naquele justo momento, o homem de negócios ia matutando amargamente, em seu automóvel: - Não agüento mais esta vida! Trabalho 14 horas por dia, corro sem parar da matriz para a filial, da filial para casa, administro interesses da empresa, dos empregados, da família; todos vêm a mim só para buscar  e exigir alguma coisa e ainda sou tido como ambicioso e folgado! A esposa reclama da ausência, os filhos acham que o dinheiro caí do céu... as flutuações de mercado, as pressões do fisco, os juros altos dos financiamentos!... 
Olhou para o alto, através do pára-brisa, e viu um avião a jato singrando os céus, deixando aquele rastilho de fumaça e ponderou de si para consigo: - Vida boa é a do piloto desse jato que aili vai! Voando lá no silêncio das alturas, distante das agruras terrenas, desfrutando o status de uma profissão respeitável, com o salário garantido ao fim do mês, sem ter que se preocupar com os problemas da empresa a que serve, atendido gentilmente em cada aeroporto!... 
Mas o de que ele não fazia idéia é que, nessa mesma hora, o piloto do jato, lá em cima, em sua cabina, divagava, meditativo: - Até quando suportarei esta vida? - Voando sempre de um lado para outro, em meio a esta parafernália de instrumentos, transportando esses turistas e empresários metidos a bobos, sujeito a horários e normas rígidas, tendo que confiar em mecânicos nem sempre atentos, sem liberdade para dispor do tempo desejável em cada cidade! 
Dirigiu o olhar casualmente para baixo e viu um homenzinho lá no chão, arando a terra para plantar batatas e afirmou, convicto: -Quer saber de uma coisa? Vida boa mesmo é a daquele lavrador que ali está: não tem que se preocupar com essas máquinas e planos de vôo complexos, vive no chão firme, em sua vidinha simples, realizando o mais legítimo trabalho do homem, o de lavrar a terra para extrair dela o alimento!... 
Aí o círculo se fechou. É... vida boa, é uma questão de perspectiva.

Lauro F. Carvalho
(Inspirado em relato ouvido de um pregador)

Matéria extraída do Jornal da Federação Espírita do Estado de SP       - ( FEESP ) - Fevereiro de 2010 - Imagem ilustrativa